Os golos com o Bayern Munique, o Atl. Madrid e a Juventus na Liga dos Campeões colocaram Cristiano Ronaldo naquele patamar que alguém um dia decidiu chamar de Olimpo. Ele é uma máquina: de fazer golos, de fazer dinheiro, de fazer notícias. Mais felizes, como o nascimento dos gémeos Mateo e Eva, menos felizes, como a acusação de fuga ao fisco da autoridade tributária espanhola. De uma forma ou de outra, o madeirense é uma marca que faz gravitar o mundo à volta dele – o mundo do futebol, o mundo da publicidade, o mundo dos media. Mas consegue ter os pés bem assentes no seu mundo, ciente de que os números serão eternos mas a carreira um dia chegará ao fim. Seja esse fim em Madrid, em Manchester, em Paris ou em qualquer outro sítio. Como se percebeu pelas notícias desta semana, o futuro é uma incógnita.
Muitas coisas mudaram entre aquele miúdo de dentes tortos e farripas rebeldes na cabelo que deixou a Madeira aos 12 anos e o homem de figura cuidada e cabedal de fazer inveja. Mas há um ponto que não mudou. Nem vai mudar. Porque foi isso que o foi mudando ao longo do tempo: a veia competitiva, a força mental, aquela vontade de chegar ao final de um treino, de um jogo ou de uma prova como o melhor. Seja numa simples brincadeira de ténis de mesa ou de matraquilhos, seja num Europeu ou numa Liga dos Campeões. E a seguir a uma vitória há algo mais para ganhar.
É arriscado dizer-se que o percurso de Cristiano Ronaldo entrou na reta final. Aos 32 anos, ele está aí para as curvas. E quando se escreve que bateu todos os recordes, lá encontramos mais um registo, mais uma marca, mais uma barreira que conseguiu superar sem que ninguém se apercebesse. Nem nós, nem os adversários. O avançado é uma máquina de calcular em permanente funcionamento e sem a tecla de subtração: soma títulos, multiplica recordes, divide-se entre conquistas individuais e coletivas. Mas há mais. E quer mais. E falta ainda um ano e meio para lá chegar. Um ano e meio que começa agora na Rússia, em plena Taça das Confederações.
Qual é a importância da Taça das Confederações?
A Taça das Confederações não é propriamente aquela prova com que todos os jogadores sonham. É uma competição, mundial, que ganha o seu espaço em termos desportivos entre críticas pela própria calendarização, com muitos dos convocados a chegarem com quase 50 ou mais encontros oficiais nas pernas. E é uma competição onde praticamente não se treina: joga-se, descansa-se, recupera-se e, 72 horas depois, aquele período que os estudos apontam para a completa reabilitação física de um jogador de alta competição. É uma competição com a cara de Ronaldo.
Em público, e em privado, o capitão nunca esqueceu a quase “obsessão” que tinha de conquistar uma grande prova pela Seleção. E ainda agora, quando comemorava uma dobradinha pelo Real Madrid que não acontecia há algumas décadas, lá estava ele com a bandeira de Portugal às costas, orgulhoso das suas origens. É ali, naquele espaço, naquele balneário, que Ronaldo se sente como gosta: venerado pelos adeptos, respeitado pelos companheiros, líder de um grupo que, se calhar quando menos se acreditava, conquistou aquele título que falhava há tantos anos.
Ganhar ou não a Taça das Confederações terá uma influência quase nula na mais do que provável atribuição da Bola de Ouro ao madeirense. A quinta, igualando Messi. Mas é mais um troféu, mais um título. E é mais um desafio por alcançar de Ronaldo, que andou a gerir a condição física de uma forma tão meticulosa que chega num grande momento à Rússia. A próxima prova decorrerá apenas em 2021, quando tiver 36 anos. E Portugal, para lá ir, teria de ser campeão do Mundo ou da Europa. Não é fácil. Por isso, e para o número 7, tem de ser agora.
Continuar a subir na lista dos melhores de sempre nas seleções
Em termos pessoais, e depois dos dois golos apontados em Riga frente à Letónia, Cristiano Ronaldo ocupa o nono lugar entre os melhores marcadores de sempre nas seleções. E sejamos sinceros: o primeiro lugar é quase impossível, se é que isso existe para o avançado, face aos 109 golos que o mítico avançado iraniano Ali Daei apontou.
Três golos na Taça das Confederações permitem desde logo ultrapassar o trio que está mais próximo: Bashar Abdullah (Kuwait), Kunishige Kamamoto (Japão) e Sándor Kocsis (Hungria) têm todos 75, face aos 73 do dianteiro português. Quatro golos dão a possibilidade de entrar no top-5 dos maiores de sempre, em igualdade com o brasileiro Pelé, considerado por muitos um dos melhores jogadores de futebol de sempre.
Mas o caminho de Cristiano Ronaldo pela seleção não se esgota na Rússia e é bem provável que possa mesmo apanhar os nomes que se seguem ao líder Ali Daei: Ferenc Puskas (Hungria e Espanha, 84), Godfrey Chitalu (Zâmbia, 79) e Hussein Saeed (Iraque, 78). Alguém duvida que o avançado português ainda vai fazer pelo menos 11 golos por Portugal até retirar-se? Provavelmente, não. E assim chegará mais acima neste elevador da glória.
Haverá uma quinta Champions a empurrar para a sexta Bola de Ouro?
Qualquer que seja o resultado na Taça das Confederações, é muito provável que o início da época 2017/18 tenha “menos Ronaldo”. Ou melhor, muito Ronaldo a abrir, uma curva descendente até ao final do ano e o reaparecimento com maior evidência em 2018, um pouco à semelhança do que tem acontecido nas últimas temporadas. Quer fique em Madrid, quer mude mesmo de ares, como nesta altura parece pretender.
Caso fique em Espanha, logo no dia 8 de agosto o Real Madrid defrontará o Manchester United de José Mourinho na Macedónia, a contar para a Supertaça Europeia. Logo a seguir, nos dias 12 e 15, é a vez do duelo com o Barcelona a duas mãos na Supertaça de Espanha. Depois, arranca a Liga e, mais tarde, em setembro, a Liga dos Campeões.
“Objetivo depois desta Champions? Ganhar outra vez a Champions para o ano!”, atirou Cristiano Ronaldo após a vitória por 4-1 frente à Juventus. E porquê? Porque, caso ganhe de novo a Liga dos Campeões em 2018, o português igualará nomes como Di Stéfano e Zárraga com cinco triunfos na prova, apenas atrás do ex-merengue Francisco Gesto. Em paralelo, passaria a ser o único jogador ainda no ativo com cinco vitórias na maior competição europeia.
Caso mude mesmo de ares, haverá sempre aquele período normal de adaptação, depois de um período de férias que será mais longo do que os respetivos companheiros devido à participação na Taça das Confederações. Se regressasse a Manchester para jogar no United, essa fase não chegaria a existir, dando a José Mourinho a possibilidade de lutar verdadeiramente pela Premier League; se fosse para o PSG, aí sim, tudo seria diferente: uma nova cidade, um novo clube, uma nova equipa, um novo campeonato com outra forma de jogar etc. E para a China? Bem, aí seriam tantas as diferenças que nem vale a pena por ora abordar essa possibilidade nesta altura…
O último grande desafio na Seleção: o Mundial de 2018
Em Inglaterra e em Espanha, Cristiano Ronaldo já ganhou tudo o que havia para ganhar. Em termos individuais, “idem idem, aspas aspas”. Por Portugal , conquistou um Campeonato da Europa e pode agora levantar a Taça das Confederações, onde participa pela primeira vez. Não é difícil perceber o que falta: o Mundial de seleções.
Com 33 anos, é muito provável que o avançado ainda faça, pelo menos, mais um Europeu. Mas já ganhou uma vez, não será a mesma coisa. O Campeonato do Mundo, que aos poucos começa a não ser tanto um Campeonato da Europa com Brasil e Argentina, junta os melhores dos melhores. Um deles é Ronaldo. O outro é Messi.
Pode gostar-se ou não, pode questionar-se até se é legítimo que assim seja, mas a Bola de Ouro passa sempre pelos dois. Para se ter maior noção desse fenómeno, basta recordar que, desde 2008, Ronaldo e Messi terminaram nas duas primeiras posições do troféu à exceção de 2010, quando Iniesta e Xavi ficaram atrás do argentino. E também nesta luta o Campeonato do Mundo poderá ajudar a desempatar, embora os anos recentes mostrem que a Liga dos Campeões acaba por ter um maior peso na decisão final do galardão do que propriamente Europeus e Mundiais.
No final de 2018 (embora o prémio seja apenas entregue em janeiro de 2019), Cristiano Ronaldo poderá ter mais duas Bolas de Ouro, passando para seis e sendo o melhor; poderá alcançar mais uma Champions, passando para cinco e sendo o atleta no ativo com mais troféus na prova; e poderá capitanear Portugal ao triunfo na Taça das Confederações e no Campeonato do Mundo, algo que apenas a França atingiu (Mundial 1998, Europeu 2000 e Confederações 2001). Este é o cenário perfeito. Quase impossível, até. Mas, para o português, já se percebeu que existe um constante desafio ao que parece impossível. Falta um ano e meio mas começa agora, na Rússia. E não se sabe ao certo em que paragens irá ao certo decorrer.