Enviado especial ao Vaticano
Quando Barbara, de 61 anos, saiu do interior da Basílica de São Pedro, no Vaticano, ao final da manhã desta terça-feira, não conseguiu encontrar as palavras certas para contar ao Observador o que tinha acabado de viver. “Não consigo”, admitiu. “Porque é cá dentro. É muito grande, muito forte, muito importante.” Natural de Legnica, na Polónia, Barbara já tinha passado por uma experiência semelhante em 2005, quando esteve em Roma para velar o corpo do seu compatriota João Paulo II. Desta vez, no velório do Papa emérito Bento XVI, que morreu no último sábado aos 95 anos de idade, passou pelo “mesmo sentimento” de quem perdeu “um irmão”. Mas há uma diferença: desta vez, não se trata apenas de mais um funeral de um Papa. É um funeral que ficará para a história como o ponto final da era dos dois papas a viver no Vaticano — ou como o ponto de partida para uma nova era em que a ideia de um “papa reformado”, que coexiste com o seu sucessor, deixará de ser assim tão exótica.
Algumas horas mais tarde, o Observador haveria de testemunhar o mesmo assombramento de entrar na maior igreja do mundo por estes dias. A enorme basílica a partir da qual o Papa comanda os destinos da Igreja Católica está despida e sem distrações. À entrada, a Pietà, de Michelangelo, uma das mais célebres esculturas do mundo, esconde-se atrás de umas discretas cortinas brancas, bem como o altar comemorativo de São João Paulo II.
Ao contrário do que acontece em dias normais, os visitantes não vagueiam sem destino pelo interior da basílica, apreciando as múltiplas obras de arte que ali vivem. Pelo contrário: no corredor central, duas extensas vedações de madeira delimitam o percurso que conduz os peregrinos desde a porta de entrada até ao corpo de Bento XVI, guardado em permanência por dois elementos da Guarda Suíça, a guarda pessoal do Papa. Há milhares de pessoas na fila, que se estende em torno da Praça de São Pedro, embora todos os visitantes com que o Observador falou esta terça-feira tenham garantido que demoraram menos de uma hora na visita, desde os controlos de segurança até à saída. Até à manhã de terça-feira, segundo as contas do Vaticano, mais de 100 mil pessoas já tinham passado por ali.
Dentro da basílica, apesar dos milhares de peregrinos em circulação permanente em torno do corpo descoberto de Bento XVI, o silêncio só é ocasionalmente cortado pelo som do terço que se reza numa das capelas. O ambiente é pesado, fúnebre. Não é apenas um Papa que vai ser enterrado: é toda uma era. Acabou esta semana um período de quase dez anos em que, dentro dos muros do Vaticano, viveram dois Papas, dois homens de branco, dois chefes da Igreja. Um em funções, outro já aposentado — um “avô sábio”, nas palavras do Papa Francisco. Mas poderá começar, também esta semana, uma nova era para a Igreja: uma em que o cargo de Papa deixa de ser exercido, por regra, até à morte; uma em que há espaço para que um Papa se reforme quando deixa de ter condições para conduzir a Igreja; uma em que o pontífice convive naturalmente com o antecessor (ou antecessores). E, com a morte de Bento XVI, também se abriu uma nova porta: para muitos católicos, começou esta semana a contagem decrescente para a renúncia do próprio Papa Francisco, que nas últimas semanas já revelou ter uma carta de resignação pronta a apresentar no caso de sentir que deixou de ter condições para o cargo.
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Quando saiu da Basílica de São Pedro, Barbara trazia justamente essa ideia na mente. “É verdade”, responde, quando questionada sobre se vê neste momento histórico uma mudança de era para a Igreja. Sobre uma possível renúncia de Francisco nos próximos tempos, a peregrina polaca prefere deixar os prognósticos nas mãos de Deus, mas reconhece que, além das diferenças entre os dois papas, também são de assinalar as diferenças dos tempos. “É um novo mundo, agora”, diz, reforçando que, com Francisco, embora as ideias sejam as mesmas, o “estilo” é diferente. E, com grande probabilidade, esse estilo far-se-á notar com maior destaque a partir de agora.
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Seguindo a tradição dos papas, o corpo de Bento XVI está por estes dias em câmara ardente na Basílica de São Pedro, cátedra que ocupou durante quase oito anos, entre 2005 e 2013, para que todos os que o desejarem possam prestar-lhe uma última homenagem antes do funeral, agendado para a manhã da próxima quinta-feira. Vestido com as tradicionais vestes vermelhas e com a mitra papal (mas sem o pálio, símbolo da sua jurisdição, uma vez que morreu como Papa emérito), o corpo de Bento XVI está descoberto e pode ser visto por todos os fiéis que se aproximem do altar da basílica, para onde foi transportado na manhã de segunda-feira.
Antes, o corpo de Bento XVI tinha sido velado no Mosteiro Mater Ecclesiae, o lugar no interior dos jardins do Vaticano onde o Papa emérito viveu em recolhimento desde a renúncia, em 2013. A morte de Bento XVI, na manhã do último dia de 2022, não terá apanhado muitos católicos de surpresa: na quarta-feira anterior, durante a audiência pública semanal, o Papa Francisco tinha pedido aos católicos de todo o mundo uma oração especial pelo Papa emérito Bento XVI, que aos 95 anos estava “muito doente”. Nos dias seguintes, o Vaticano foi fazendo breves comunicados que confirmavam o estado crítico do antigo Papa e que não deixavam margem para duvidar de que o fim da vida de Joseph Ratzinger estava próximo.
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A notícia viria a confirmar-se às 9h34 de sábado, 31 de dezembro. Foi essa a hora a que Bento XVI morreu, no Mosteiro Mater Ecclesiae, a escassas centenas de metros da Basílica de São Pedro e da casa onde vive o Papa Francisco. Antes de o corpo de Bento XVI ter sido transportado para a Basílica de São Pedro, para o grande velório de três dias com honras de Estado, os restos mortais foram velados por um grupo restrito de pessoas dentro da capela do Mosteiro Mater Ecclesiae — a capela onde Bento XVI celebrou a missa todos os dias durante os últimos dez anos e que considerava o seu “laboratório”.
Entre os que estiveram na capela de Bento XVI a velar o seu corpo durante o fim de semana esteve Jorge Oliveira, um diácono português a viver em Roma para concluir o seu doutoramento em Teologia Moral e que espera ser ordenado padre em maio deste ano. Ao Observador, Jorge Oliveira, que é membro do Opus Dei e estuda na Universidade de Santa Cruz, descreveu o ambiente de “recolhimento” que viveu naquela capela, com capacidade para 30 pessoas, mas também os diálogos que manteve com o secretário pessoal de Bento XVI, o arcebispo alemão Georg Gänswein.
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Com 39 anos de idade, Jorge Oliveira assume que teve uma “vocação tardia”, depois de uma licenciatura em Engenharia Civil e de um mestrado em Gestão e de uma vida profissional na engenharia e na banca. Mudou-se para Roma pela primeira vez em 2011, nos últimos anos de Bento XVI, e assistiu bem de perto à renúncia do alemão e à eleição do argentino que lhe sucedeu. Agora, de novo em Roma para concluir os estudos teológicos, o diácono voltou a testemunhar presencialmente um novo momento de grande agitação em Roma.
“No seminário onde eu vivo, recebemos essas notícias com alguma apreensão. Também com aquele carinho de quem está a receber notícias de um pai, de uma pessoa que faz parte da família, muito próxima, e que nos está a deixar”, explica ao Observador, numa esplanada a poucos metros da Praça de São Pedro. “Honestamente, eu pensava que ia durar mais tempo, que ia ser um processo que se ia arrastar no tempo.”
O discurso do Papa Francisco, na quarta-feira passada, fez soar os alarmes em Roma, conta Jorge Oliveira, descrevendo como, subitamente, a cidade começou a preparar-se para a despedida de um Papa. “Um Papa, para Roma, é uma pessoa muito importante. Os romanos são muito orgulhosos de ter cá o Papa, ainda que fosse o Papa emérito, e têm uma relação de grande proximidade com Bento XVI”, explica o diácono.
“Pelas palavras do Papa Francisco, pela maneira com que não se davam grandes sinais de melhora, de estabilidade ou de instabilidade da saúde dele, temíamos este desenlace. E de facto Deus acabou por chamá-lo no dia 31 de dezembro”, relata o português. “Na sexta e no sábado, ou seja, no dia antes e no dia da sua morte, notou-se que houve muita gente a vir cá rezar na Praça de São Pedro. Houve pessoas que organizaram terços para rezar por Zoom pelo Papa Bento XVI, houve correntes de oração, que acho que é uma coisa muito bonita, em várias línguas. Houve missas oferecidas, houve também uma missa que foi celebrada aqui em Roma a pedir pela saúde do Papa Bento XVI. Mas viu-se também mais movimento. As pessoas vinham cá perto do Vaticano, havia mais filas. Eu circulo habitualmente nos transportes públicos e notava que era tudo mais difícil. Às vezes até fiz os meus percursos a pé, porque havia mais movimento”, acrescenta. “Notava-se um certo acelerar do movimento da cidade.”
O movimento intensificou-se depois da notícia da morte de Bento XVI e, durante todo o fim de semana, houve grande afluência ao Vaticano, descreve Jorge Oliveira.
Na manhã de domingo, 24 horas depois da morte do Papa emérito, o diácono português estava nas proximidades do Vaticano para um encontro com uma família amiga e, depois desse encontro, decidiu dirigir-se à Praça de São Pedro. “Foi um ato assim um bocado irrefletido, porque estava muito trânsito. Aliás, eu estive mesmo para deixar de vir cá porque estava muito trânsito. Um percurso de carro que habitualmente demora 15 minutos, demorei 45 minutos a fazê-lo, porque havia muita gente a querer vir cá rezar”, lembra.
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A decisão de ir viria a revelar-se providencial. “Quando cheguei cá, estive na Praça a rezar e recebi um[a mensagem de] WhatsApp de um colega de doutoramento americano, que me disse que o mosteiro onde vive o Papa Bento XVI, dentro do Vaticano, Mater Ecclesiae, estava aberto para que as pessoas possam ir lá rezar. Bastava entrar pela porta onde se acede à Aula Paulo VI e era possível aceder”, conta Jorge Oliveira. “Eu pensei que aquilo era tudo demasiado mágico e demasiado fácil, mas de facto foi isso que aconteceu.”
As portas do mosteiro tinham-se, de facto, aberto — mas a informação oficial era a de que o velório oficial seria apenas na Basílica de São Pedro, pelo que foram poucos os que se dirigiram ao mosteiro. “O corpo, que está atualmente na Basílica de São Pedro, no dia anterior, nesse domingo, estava em câmara ardente na sua capela privada. Na casa onde ele morreu, onde ele celebrava missa e onde fazia a sua oração. O seu secretário pessoal dizia que aquele era o seu laboratório. Ou seja, onde ele trabalhava, nos últimos dez anos”, explica Jorge Oliveira.
O Mosteiro Mater Ecclesiae fica numa das zonas mais elevadas dos jardins do Vaticano, perto das antenas de emissão da Rádio Vaticana, facto em que o diácono português não consegue evitar ver um simbolismo: Bento XVI passou os últimos dez anos a emitir “ondas de oração e de carinho” para a Igreja, mesmo não se mostrando ao mundo, preferindo ficar no seu eremitério no alto do monte, tal como Deus, que “está próximo de nós, mas que é invisível”.
Quando lá chegou, Jorge Oliveira entrou num velório “especial”, onde estavam cerca de 30 pessoas, não só padres e freiras, mas também “algumas pessoas que trabalhavam no Vaticano, alguns intelectuais, um representante da Comunidade Judaica, duas ou três famílias”.
“Era um ambiente sereno, de muita paz e muita oração”, descreve o diácono. “Entrámos na casa do Papa emérito, ele quer-nos receber em sua casa. Acho que também tem uma dimensão muito profunda. É uma pessoa que não tinha nada a esconder, até nisso.” Jorge Oliveira ficou impressionado com o ambiente de oração que encontrou, mas ficou sobretudo espantado com a simplicidade do lugar: “Quando entrei na capela, Bento XVI estava vestido de vermelho, mas com uns paramentos muito simples. Chamou-me muito a atenção um presépio do lado direito e uma árvore de Natal do lado esquerdo. Não parece um velório, parece uma sala de estar. Mas aquela era a sala de estar de Bento XVI. Era onde ele estava.”
O diácono português já conhecia Georg Gänswein, o famoso secretário pessoal de Bento XVI, que é professor na sua universidade — mas nada o preparara para a abordagem de Gänswein quando o viu entrar no velório.
“Ele perguntou-me: ‘Como é que vai a tua tese?’ E olhou para Bento XVI nesse momento. E eu pensei: ‘Bento XVI está-me a pedir que a minha tese seja também um esforço para juntar uma gota no oceano intelectual de Bento XVI.’ De que maneira é que a minha tese, sobre economia e a doutrina social da Igreja, de que maneira é que aquilo que eu estou a escrever pode ser também um esforço por levar Deus ao meio do mundo, à economia”, revela Jorge Oliveira. “Não estava à espera de que ele me falasse da tese e do meu trabalho. Mas guardo isso também como um pormenor muito pessoal.”
No fim de uma era inédita, “o que fazemos com os gatos?”
Dentro da pequena capela do Mosteiro Mater Ecclesiae, o velório mais restrito de Bento XVI ficou marcado pelas muitas conversas de Georg Gänswein com os vários visitantes. “Houve um casal, ele alemão, ela italiana, que estava com filhos de 14 e 15 anos, que lhe perguntaram: ‘E agora, o que fazemos com os gatos?’ Era um casal que tinha oferecido uns gatos a Bento XVI, que era uma pessoa que gostava muito de gatos”, conta Jorge Oliveira. “O D. Georg Gänswein disse: ‘Cá ficaremos para cuidar bem deles.’ Eu acho que isto tem várias leituras, mas no fundo acho que vão tratar bem dos gatos.”
Os quase dez anos que Bento XVI passou no Mosteiro Mater Ecclesiae como Papa emérito foram inéditos na história da Igreja Católica. Em primeiro lugar, porque é preciso recuar 600 anos para encontrar outro caso de renúncia papal — e não existe qualquer precedente de uma abdicação voluntária de um Papa que sentiu não ter condições para continuar a liderar a Igreja Católica. É muito provável que a renúncia histórica de Bento XVI em 2013 fique para a posteridade como o seu grande legado: aquela decisão de dar um passo atrás, evitar envelhecer em público até se tornar evidente que já não estava em condições de exercer o cargo (como sucedera nos últimos anos de João Paulo II) e admitir que já não era o homem ideal para as funções tornou-o num símbolo de coragem e humildade, mas também de renovação do próprio papado — cuja dimensão humana, por oposição a uma conceção do Papa como super-homem, sai destacada.
Essa renovação poderá ganhar contornos formais caso o Papa Francisco avance para a regulamentação formal do lugar de Papa emérito, ou de bispo emérito de Roma — algo que Francisco não faria enquanto Bento XVI fosse vivo, mas que poderá fazer agora —, abrindo as portas a um futuro em que os papas se reformam ao atingir determinada idade e podem continuar a viver na reforma até ao final da vida. A regulamentação desse posto acabaria com a tradicional sequência funeral-conclave e transformaria radicalmente o papado. E o primeiro a beneficiar desse novo estatuto poderá ser o próprio Francisco.
“Penso que a entrevista do Papa Francisco ao jornal espanhol ABC recentemente pode dar algumas luzes. Isto é, o Papa atual, de facto, admite resignar. Ele tem uma carta para o fazer se tal o justificar do ponto de vista médico. Não estranharia que isso pudesse acontecer”, diz o diácono Jorge Oliveira. “Acho que Roma conviveu muito bem com estes dois papas. Eles eram pessoas muito próximas. Impressionou-me, no outro dia, ter de passar pela casa de Francisco para chegar à casa de Bento XVI. Isso era uma coisa que de facto marca. Acho que há uma perfeita continuidade entre os dois.”
“Lembro-me de que o princípio do pontificado do Papa Francisco foi um documento chamado Lumen Fidei, um documento que eu sugiro, que é muitíssimo bom. A primeira coisa que o Papa Francisco fez foi dizer que este documento foi escrito a quatro mãos. No fundo, com material que Bento XVI já tinha refletido e com a sua visão também”, recorda Jorge Oliveira. “Acho que isto é a continuidade perfeita. Se a Igreja fosse uma empresa, se fosse uma instituição de outro carácter, quem chega de novo quer limpar um bocadinho o passado, quer impor o seu estilo. O Papa Francisco não o fez e sempre teve um são convívio com Bento XVI. E esse convívio abre-nos a porta para que no futuro isto possa voltar a acontecer.”
Quem também não ficará surpreendido com uma futura abdicação do Papa Francisco é o padre Henry Longwul Dabang, de 43 anos, natural da Nigéria. Atualmente em Roma para estudar Liderança e Gestão na Universidade Gregoriana, o sacerdote conversou com o Observador depois de ter visitado o corpo de Bento XVI na Basílica de São Pedro, ao final da manhã.
“A Igreja é um trabalho em progresso. Todas as eras vêm, todas as eras vão. Toda a gente tem alguma coisa a acrescentar”, considera o sacerdote nigeriano. “Neste momento de discernimento da Igreja, o espírito fala de várias maneiras diferentes.”
“Não ficaria surpreendido. Todas as coisas são possíveis”, diz o padre Dabang, perante a possibilidade de Francisco renunciar. “Outra era há de vir depois desta e a Igreja há de continuar na mesma. A Igreja acontece em fases diferentes, mas ainda assim há um só espírito e um só Deus.”
O sacerdote saiu da Basílica de São Pedro após quase duas horas lá dentro, durante as quais aproveitou para também concelebrar uma missa: “Penso que a Igreja está num dos seus momentos mais baixos, porque um dos seus pilares desapareceu. Ainda assim, penso que o ambiente lá dentro é de força, é encorajador. É uma atmosfera de oração, muito calma e muito serena. O silêncio total. As orações continuam, as missas continuam, e as pessoas têm muito tempo para acompanhar o Papa. Penso que é muito motivador e inspirador ver que, até na morte, as pessoas podem rezar.”
Na quinta-feira, o padre nigeriano espera ter a possibilidade de participar na celebração do funeral de Bento XVI. “Mal posso esperar”, diz, classificando o momento como histórico e salientando que pretende levar a experiência para a sua paróquia de origem. “É algo não só para contar à minha paróquia, mas também para que eles possam fazer parte desta celebração.”
Henry Longwul Dabang não tem dúvidas: com o desaparecimento de Bento XVI, a Igreja Católica “vai continuar a ser a mesma Igreja”, mesmo que entre numa “fase diferente”. “Independentemente de quem vier ou de quem for, a Igreja vai continuar a ser a Igreja. Algumas coisas podem mudar, como sinal dos tempos, mas não acredito que vá haver uma viragem completa, uma nova ideologia, uma missão diferente. Vai continuar a ser a mesma missão, a salvação das almas e a propagação do Evangelho”, sublinha.
Um dos aspetos que mais provavelmente vão mudar prende-se com a humanidade do Papa: ficou claro, com a decisão inédita de Bento XVI, que o Papa também é um humano que, a dada altura, pode sentir que já não tem capacidade para a função. O Papa Francisco já deixou pistas de que lhe poderá seguir o exemplo. A relação entre dois papas vivos, que por ser inédita foi até ficcionada no cinema com o filme “Dois Papas” (Netflix), poderá tornar-se numa realidade rotineira, tal como presidentes convivem com os antecessores e como, já na Igreja, os bispos e os cardeais convivem com os bispos eméritos das suas dioceses. Nesse aspeto, Bento XVI transformou a Igreja e deixou mais do que gatos para serem cuidados: os próximos meses, os primeiros do Papa Francisco sem Bento XVI na sombra, serão determinantes para saber se a Igreja Católica vai cuidar bem dos gatos de Ratzinger.