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O ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte, durante a sua audição na Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, na Assembleia da República, em Lisboa, 19 de Junho de 2024. RODRIGO ANTUNES/LUSA
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No PSD, dá-se como certa a candidatura de Pedro Duarte, ministro dos Assuntos Parlamentares, ao Porto

RODRIGO ANTUNES/LUSA

No PSD, dá-se como certa a candidatura de Pedro Duarte, ministro dos Assuntos Parlamentares, ao Porto

RODRIGO ANTUNES/LUSA

Direita entra em guerra aberta pela sucessão de Rui Moreira

Movimento independente antecipou-se e decidiu anunciar candidatura própria, obrigando o CDS, que sempre apoiou Moreira, a desvincular-se. Acusado de postura suicida, PSD continua a querer Pedro Duarte

Era uma colisão anunciada. No Porto, o movimento independente criado por Rui Moreira e os sociais-democratas, com a preciosa ajuda do CDS, romperam de vez e dificilmente vão conseguir chegar a entendimento em torno de uma plataforma comum capaz de enfrentar o socialista Manuel Pizarro pelo controlo da Câmara Municipal nas próximas autárquicas. Nos bastidores, trocam-se acusações e lamenta-se a falta de sentido estratégico de parte a parte. E mesmo perante o risco evidente que uma fragmentação de candidaturas à direita pode representar para aquele espaço político, ninguém parece com vontade ou disponível para ceder.

Este fim de semana ficou marcado pelo episódio mais público de uma guerra discreta que se vai travando há meses no circuito do poder do Porto. Num primeiro momento, o movimento que nasceu com Moreira fez circular um comunicado onde se dizia que a plataforma não abdicava de apresentar uma candidatura independente à sucessão do autarca. No mesmo dia, elementos do CDS que integram esse mesmo movimento enviaram um segundo comunicado onde esclareciam que em momento algum aprovaram (muito menos por aclamação) a ideia de ter um independente a liderar essa investida.

Uns e outros vão-se movendo por interesses conflituantes e, aparentemente, irreconciliáveis. Os primeiros querem fazer de Filipe Araújo, atual número dois da Câmara, o herdeiro de Rui Moreira; os segundos querem fazer parte de uma Aliança Democrática, desta vez no Porto, previsivelmente liderada por Pedro Duarte, atual ministro dos Assuntos Parlamentares, e integrando alguns quadros que estão ou que estiveram com o ainda presidente da Câmara Municipal do Porto.

Ora, para concretizar este segundo plano, o CDS, que está com Rui Moreira desde o início, precisaria de se desvincular do movimento independente e formalizar a aliança com o PSD. Daí que tenha causado alguma estupefação nas direções de Luís Montenegro e de Nuno Melo aquele primeiro comunicado que associava o CDS à candidatura independente de Filipe Araújo. Ao ponto de, sabe o Observador, Nuno Melo ter ficado furioso quando percebeu que o partido tinha sido apanhado (ou que se deixara apanhar) no lançamento da pré-candidatura do número dois de Moreira.

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Prova de que o episódio causou embaraço foi o facto de o comunicado onde se esclarecia a posição do CDS ter sido enviado pela assessoria de imprensa da sede nacional em nome dos “representantes do CDS na Associação ‘Porto, o Nosso Movimento'” e assinado por Catarina Araújo, vereadora democrata-cristã na equipa de Rui Moreira. Por outras palavras: a ordem para travar aquela conversa veio de cima e veio diretamente de Nuno Melo. “Provavelmente a Catarina Araújo levou um ralhete“, ironiza-se a partir do movimento independente.

No movimento independente aponta-se diretamente o dedo aos dirigentes do PSD. "Têm demonstrado uma postura arrogante e suicida." A equipa de Filipe Araújo estaria disposta a aceitar uma solução idêntica à que foi conseguida por Rui Rio nas últimas autárquicas de Coimbra — o independente José Manuel Silva liderou uma coligação onde estavam também PSD e CDS. No entanto, os dirigentes sociais-democratas não terão mexido um músculo nesse sentido

“PSD tem demonstrado postura arrogante e suicida”

Os sociais-democratas acompanharam toda a troca de comunicados com misto de ceticismo e de irritação. Há uns meses, as mesmas estruturas do partido no Porto diziam ser impossível a Filipe Araújo protagonizar uma candidatura séria à Câmara do Porto — uma opinião então partilhada por muita gente na plataforma independente. Menorizavam o vice-presidente, diziam que não era Rui Moreira “quem queria” e jurava-se que o PSD estava, desta vez, unido e mobilizado para recuperar uma autarquia que lhe escapou durante 12 anos.

Não estando ainda inteiramente convencidos — há quem aposte que tudo isto não passa de uma tentativa de demonstração de força de Filipe Araújo para ganhar margem negocial e garantir um lugar privilegiado no próximo executivo do Porto —, o Observador sabe que existe quem no PSD olhe para esta jogada como um gesto irrefletido e um gigantesco favor ao PS. “Arriscámo-nos a entregar o poder [aos socialistas]”, lamenta-se nas estruturas sociais-democratas do Porto.

Em sentido inverso, no movimento independente aponta-se diretamente o dedo aos dirigentes do PSD. “Têm demonstrado uma postura arrogante e suicida.” A equipa de Filipe Araújo estaria disposta a aceitar negociar e encontrar uma solução idêntica à que foi conseguida nas últimas autárquicas de Coimbra — o independente José Manuel Silva liderou uma coligação onde estavam também PSD e CDS. No entanto, os dirigentes sociais-democratas não terão mexido um músculo nesse sentido e só terão feito “telefonemas informais” a dizer que estavam “disponíveis para integrar alguns elementos do movimento nas listas”. Nada mais.

Agora, garante-se entre os apoiantes de Filipe Araújo (que publicamente continua sem assumir a candidatura ainda que todos garantam que será mesmo ele), não há mesmo margem de recuo: com ou sem PSD e CDS, os herdeiros de Rui Moreira querem manter o controlo da segunda autarquia mais importante do país. “A candidatura independente é certa. Há património político, candidato, estrutura, recursos. Acima de tudo, há muita vontade e determinação. A moção é claríssima”, nota fonte do movimento.

Em agosto, as contas que se iam fazendo eram ligeiramente diferentes. Mesmo a partir da plataforma independente ia-se reconhecendo que as chances de repetir a experiência de Rui Moreira eram francamente desanimadoras. “O Filipe Araújo é um ótimo número dois, mas não me parece que tenha carisma e força política para encabeçar uma candidatura”, lamentava então uma fonte do próprio “Porto, o Nosso Movimento”. “É possivelmente o elemento mais leal, mais sério, mais confiável e tecnicamente mais bem preparado. Mas isso nem sempre chega para ganhar eleições. Não é Rui Moreira quem quer”, concluía outro elemento da plataforma de independentes. Mas as coisas foram mudando.

Daí para cá, no entanto, começou a crescer a ideia de que o PSD continuava sem um rumo definido para ocupar o espaço que Rui Moreira se prepara para deixar vazio. Não que o autarca esteja particularmente empenhado na candidatura de Filipe Araújo. “Não é exatamente um entusiasta“, resume um homem próximo do Presidente da Câmara do Porto. “Deixaram o espaço vazio, convenceram-se de que basta aparecer com uma candidatura em março ou em abril e não lideraram o processo, nem trataram de chegar a um entendimento [com o movimento]. E o Filipe Araújo antecipou-se”, nota fonte conhecedora do processo.

Ainda assim — e este facto baralha muito as contas — o próprio movimento independente já não tem a coesão e a força de outros tempos os vereadores Fernado Paulo e Ricardo Valente deixaram o movimento há algum tempo; mais recentemente, foi Sofia Maia, presidente da União de Freguesias de Lordelo do Ouro e Massarelos, a bater com a porta. Há uma grande indefinição sobre quem está com quem — até Manuel Pizarro pode ir buscar elementos do movimento independente para reforçar a candidatura do PS ao Porto.

Tudo somado, não será Rui Moreira a fazer o trabalho que os sociais-democratas não estão a conseguir fazer e a colocar obstáculos ao seu número dois, Filipe Araújo; mas também não vai aparecer a lançar e a abençoar a candidatura independente — aqueles que conhecem melhor o ainda presidente da Câmara Municipal do Porto vão garantindo que Moreira se vai mesmo manter equidistante nas próximas eleições autárquicas.

Filipe Araujo, atual número dois de Moreira, deverá ser o candidato apoiado pelo movimento independente

© Pedro Granadeiro / Global Imagens

PSD congelado à espera de Pedro Duarte

A indefinição do PSD é factual. No partido, dá-se como praticamente fechada a candidatura de Pedro Duarte à Câmara do Porto, cenário que o próprio nunca afastou. Mas nada está verdadeiramente fechado até que o próprio clarifique o que pretende fazer. As estruturas gostam do atual ministro, que foi chamado a liderar a distrital do Porto para evitar fraturas internas, os pares não lhe poupam elogios e, ainda há uma semana, Manuel Castro Almeida, ministro Adjunto e da Coesão, dizia que Pedro Duarte daria uma “excelente candidato” à sucessão de Rui Moreira. Mas o atual governante continua a gerir a decisão e o seu calendário.

Percebe-se que o faça pela  natureza das funções que ocupa. Enquanto ministro, Pedro Duarte não pode simplesmente atirar-se de cabeça para uma corrida à Câmara do Porto — teria necessariamente de deixar o Governo e Montenegro deve querer envolvê-lo numa remodelação mais alargada, mais perto das eleições autárquicas. Existem, todavia, alguns argumentos que reforçam a ideia de que pode estar de saída: o Orçamento do Estado para 2025 foi aprovado e o próximo dificilmente o será, logo o papel de pivô parlamentar que foi desempenhando está praticamente esvaziado; e o plano para a comunicação social, a sua grande prioridade, já foi apresentado e está a fazer o seu caminho.

Por tudo isto, é natural que, se quiser de facto entrar na corrida autárquica, Pedro Duarte se veja obrigado a começar a dar sinais disso mesmo na viragem do ano. O que pode ser já tarde para o PSD. Manuel Pizarro, figura conhecida no Porto — foi vereador de Rui Moreira com o importante e influente vereador com o pelouro da Ação Social — já está no terreno, e desta vez o PS parece ter deixado para trás as guerras internas. Mais a mais, como se viu pelo quase-anúncio de Filipe Araújo, será muito difícil para o PSD agarrar a máquina que Rui Moreira deixou.

As aparentes hesitações de Pedro Duarte, associadas à multiplicação de putativos candidatos. É o caso de José Pedro Aguiar-Branco criou a possibilidade de ser candidato em entrevista ao Observador, até decidir matar o assunto umas semanas depois; ou de  Miguel Guimarães, que não esconde a vontade de ser candidato e diz abertamente estar à espera que o telefone toque. Mas, sabe o Observador, as estruturas do partido não morrem de amores pela ideia e Pedro Duarte é mesmo o favorito da direção e dos dirigentes do partido no Porto. Resta saber se será suficientemente apreciado pelos eleitores portuenses.

Em entrevista ao Observador, na segunda-feira, o próprio Filipe Araújo não deixou de provocar Pedro Duarte, convidando o ministro a integrar o movimento. "Acho que todas as pessoas que se queiram dedicar à cidade e integrar o movimento e as suas políticas, obviamente, são bem-vindas

A provocação de Araújo a Pedro Duarte

A cidade do Porto não é exatamente conhecida por se deixar comover por cargos ministeriais — veja-se o que aconteceu a Fernando Gomes, em 2001 — ou de ficar particularmente presa às marcas partidárias — Luís Filipe Menezes tinha o apoio oficial do PSD quando perdeu as autárquicas para Rui Moreira. Não sendo exatamente uma figura que encha salas no Porto, se decidir de facto avançar, Pedro Duarte terá de dar ao pedal — Filipe Araújo, em contrapartida, tem largos meses para mostrar obra enquanto número dois, surfar a onda de popularidade de Rui Moreira e acreditar que é possível ganhar.

Em entrevista ao Observador, o próprio Filipe Araújo não deixou de provocar Pedro Duarte, convidando o ministro a integrar o movimento. “Acho que todas as pessoas que se queiram dedicar à cidade e integrar o movimento e as suas políticas, obviamente, são bem-vindas. Desde que se revejam numa proposta de gestão independente da cidade. Teremos todo o interesse em trabalhar com todos aqueles que possam adicionar valor às propostas da cidade”, sugeriu o atual número dois de Rui Moreira.

Na mesma entrevista, Filipe Araújo faz ainda questão de dissipar as dúvidas daqueles que, sendo mais céticos, sobretudo no PSD, vão apostando na ideia de que o vice-presidente da Câmara do Porto acabará mesmo por ceder e contentar-se em fazer parte de uma lista liderada pelos sociais-democratas com elementos do movimento. “Quando dizemos que lideramos a candidatura, obviamente a candidatura tem que ser de carácter independente e livre. Não quer dizer que haja pessoas dos partidos que possam perfeitamente depois integrar nossa candidatura, como tem acontecido”, frisou Araújo.

Por outras palavras: ou o PSD aceita uma solução idêntica à encontrada em Coimbra e permite a um independente liderar uma lista com representação partidária, o que não é de todo expectável; ou arrisca-se mesmo a ter de enfrentar Manuel Pizarro num quadro de grande fragmentação à direita. A confirmar-se, o PSD arrisca-se a ficar pelo menos mais quatro anos afastado do poder no Porto.

Pedro Duarte pode aproveitar vazio deixado por Rui Moreira no Porto

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