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Os estudante do ensino secundário do Real Colégio de Portugal aguardam o começo da aula e recebem instruções
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Os estudante do ensino secundário do Real Colégio de Portugal aguardam o começo da aula e recebem instruções

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

Os estudante do ensino secundário do Real Colégio de Portugal aguardam o começo da aula e recebem instruções

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

"Direitos para a salinha." Um regresso "estranho" em que as aulas são passadas de máscara e o intervalo é na secretária

Reportagem. Com as máscaras, não se percebe tão bem o que dizem os professores. Mas os alunos de duas escolas visitadas pelo Observador dizem-se preparados para este novo normal.

Não foi um regresso às aulas normal. Não houve o burburinho no recreio, a multidão à entrada da escola e muito menos houve espaço para abraços de reencontro. Esta segunda-feira, nas escolas secundárias de todo o país, o regresso dos alunos do 11.º e 12.º ano às aulas presenciais foi marcado pelas chamadas de atenção para as novas regras: “Ninguém entra sem máscara”; “Mantenham a distância”; “Desinfetem as mãos”.

Na Escola Secundária Dr. Joaquim Gomes Ferreira Alves, em Vila Nova de Gaia, o plano foi delineado quase ao detalhe. Os alunos foram “direitos para a aulinha”, mas antes desinfetaram as mãos, colocaram a máscara e entraram um a um por um circuito pré-definido. “Vamos ter um paradigma completamente diferente, mas penso que a escola se preparou adequadamente”, assegura Álvaro Santos, diretor da escola.  Os professores preparam-se para um novo modelo de ensino — porque a máscara também traz dificuldades — e os pais querem ganhar confiança para os próximos tempos: “Foi preparado um bom recomeço. Agora falta confiança”.

Mesas a dividir corredores e salas para 15 alunos. Visita a duas escolas que preparam o regresso às aulas

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No Real Colégio de Portugal, uma instituição de ensino privado no Lumiar, em Lisboa, o portão, que costumava estar fechado, está agora aberto para evitar que os alunos toquem na maçaneta. São recebidos com um medidor de temperatura, com máscaras, viseiras, luvas e proteções para os sapatos. Depois, as regras são rígidas: cada turma entra à vez e dirige-se, em fila e com um distanciamento de dois metros, para a sala. “Abram os braços e mantenham-se a essa distância, sem tocar uns nos outros”, ajuda a diretora pedagógica, Sandra Cunha.

Os alunos do 11º e 12º anos regressaram às aulas presenciais esta segunda-feira, ao Real Colégio de Portugal

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

Os dados deste primeiro dia de reabertura das escolas, de acordo com a Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), indicam que entre 75% a 80% dos alunos do ensino secundário regressaram às escolas, números que são “um bom sinal” para Manuel Pereira, presidente da ANDE. “Já estávamos a contar que no primeiro e segundo dia as coisas fossem mais complicadas, mas acreditamos que à medida que as famílias se vão apercebendo que tudo está a correr bem, o número de aulas deverá aumentar”, disse em declarações à agência Lusa. No Real Colégio de Portugal, dos 46 que eram esperados apenas cerca de 20 alunos do ensino secundário apareceram — os restantes, por receio ou por pertenceram a grupos de risco, continuam a ter aulas à distância. Na Escola Secundária Dr. Joaquim Gomes Ferreira Alves, que acolhe mais de 700 alunos só do 11.º e 12.º ano, a maioria apareceu.

Já não se deseja só sucesso e boas notas nos discursos de boas-vindas. Este regresso não marca, afinal, o começo de um novo ano letivo. Agora, os desejos são de segurança e saúde.

Em Gaia, regras à entrada e visitas a cada sala. “Ensinem, ensinem, ensinem”

– Atenção, mantenham a distância, por favor. Vamos lá, devagarinho, e desinfetem as mãos aí à frente.

– Não trouxeste máscara? Vai ali ao senhor José para ele te dar uma. Ninguém entra sem máscara.

Os avisos de Álvaro Santos, diretor da Escola Secundária Dr. Joaquim Gomes Ferreira Alves, em Valadares, Vila Nova de Gaia, vão-se ouvindo à entrada e são repetidos a cada aluno que vai chegando à escola. São quatro os passos a dar: aguardar pela vez de entrada, desinfetar as mãos, colocar a máscara e só depois avançar pelo percurso indicado. As aulas do primeiro grupo de estudantes começam às 9h30, mas já antes das 9h15 vários alunos estavam preparados para entrar. Afinal, este era o dia para o qual todos se têm vindo a preparar: os alunos do 11.º e 12.º voltaram às aulas presenciais das disciplinas de exame. De uma forma diferente, com maior distanciamento e com muitas regras a seguir.

Logo à entrada desta escola, que acolhe mais de 700 alunos só do 11.º e 12.º ano, há uma linha amarela colocada no chão que define o local onde cada aluno deve permanecer enquanto espera, devidamente distanciado dos restantes. Os cumprimentos são tímidos e o típico abraço ou beijinho foi substituído por um cumprimento com os cotovelos. “Todos estamos preparados para receber da melhor forma possível os nossos alunos”, garante Álvaro Santos que, entre papéis com horários e listas na mão e uma mistura de nervosismo com confiança, vai dando orientações a cada aluno que chega — primeiro cumprimenta-o à distância, depois pergunta se está tudo bem e, de seguida, indica o que deve fazer e para onde deve ir.

Na Escola Secundária Dr. Joaquim Gomes Ferreira Alves, em Valadares, Vila Nova de Gaia, os alunos entraram um a um, depois de vários procedimentos de segurança

OCTAVIO PASSOS/OBSERVADOR

Muitos alunos trazem já a máscara colocada, outros admitem que não a trouxeram. Nesses casos, o porteiro entrega cuidadosamente uma máscara com uma pinça, depois de cada aluno desinfetar as mãos. Só depois deste passo é que os alunos podem entrar na escola, onde são encaminhados para um de três circuitos de entrada diferentes, dependendo do local de aula. “Posso ir entrando?”, pergunta um aluno à chegada. “Podes, sim senhor, mas vai direitinho para a sala”, responde o diretor, para comentar logo a seguir: “Estão ansiosos”.

“O que está definido é uma reorganização dos espaços e a garantia do distanciamento, tal como consta das regras da Direção-Geral da Saúde e das regras que recebemos do Ministério da Educação. Organizamos também os horários de forma a ter o menor número possível de alunos, mas também garantindo que eles recebem aquilo que é essencial”, explica Álvaro Santos ao Observador.

Foram horas seguidas a dividir turmas, a elaborar horários desencontrados e a adaptar espaços para garantir que tudo estava preparado na escola. Só esta manhã houve três turmas (90 alunos) a entrar às 9h30 e quatro turmas (100 alunos) às 10h, havendo mais dois horários de entrada à tarde. Apesar de toda a preparação, havia sempre a preocupação de que o cenário fosse diferente do que todos estavam à espera. Mas, refere o professor, tudo foi “direito para a salinha”.

Álvaro Santos, acompanhado da enfermeira Anabela, quis também repetir uma tarefa que fez na escola no início de março, quando o surto do novo coronavírus tinha acabado de chegar a Portugal: ir a todas as salas, falar com os alunos e explicar o que está a acontecer e as regras a seguir. Ainda assim, diz ter pena de não poder cumprimentar toda a gente como “antigamente”. Esta segunda-feira, a enfermeira de saúde escolar explicou às turmas como se utiliza a máscara, a importância de lavar bem as mãos e a necessidade do distanciamento. Depois de explicar, houve um apelo: “Ensinem, ensinem, ensinem”.

Os alunos e professores têm de usar obrigatoriamente máscara e estar a uma distância mínima de 1,5 metros

OCTAVIO PASSOS/OBSERVADOR

A consciência, refere o diretor, é de que se está a viver um tempo diferente, com mudanças e aprendizagens constantes, mas também com a garantia de que tudo foi planeado a pensar na segurança dos alunos: “Ao longo deste tempo os alunos tiveram atividades letivas não presenciais. Agora estamos a mudar novamente o paradigma, para outro completamente diferente. Mas penso que a escola se preparou adequadamente: temos os materiais, os equipamentos de proteção, as famílias e os professores foram contactados e estamos com alguma expectativa, obviamente”.

E os alunos compareceram todos às aulas? Nas primeiras turmas do dia, a maioria apareceu na escola, ainda que Álvaro Santos admita casos de famílias que têm algum receio, muitas delas por terem “pessoas de risco em casa” e temerem que os filhos possam ser contagiados. “Mas, de uma forma geral, os pais confiam na escola, uma vez que foram informados do processo todo. Penso que ganharemos maior confiança dos pais e dos alunos se as coisas a partir do primeiro dia correrem bem”, acrescenta.

Nesta escola, os alunos apenas vão ter aulas ou durante a manhã ou durante a tarde e os intervalos são passados dentro da sala, para evitar qualquer tipo de contacto mais próximo entre alunos. “Fazemos uma pausa, naturalmente, para que os alunos possam descansar um pouco e também tomar uma pequena refeição no lugar. Depois disso, quando termina a aula, faz-se o percurso inverso de saída”. Nos corredores, as mesas dividem o espaço a meio e as idas à casa de banho são sempre controladas. No final de cada horário, a saída já não se faz da mesma forma de antes. Não há tempo para ficar no recreio nem dar o abraço de despedida. Vem aí o grupo seguinte que precisa de entrar na escola. 

O regresso dos professores e um novo modelo de ensino

Se na sexta-feira passada Pedro Dias, professor de Biologia e Geologia, estava “num regime exclusivamente online”, o cenário mudou esta segunda-feira, quando chegou à entrada da Escola Secundária Dr. Joaquim Gomes Ferreira Alves para voltar a dar aulas presenciais. “Já estou a ver aqui muitos dos alunos que vão ter aulas agora comigo”, comenta, enquanto aguarda que todos entrem na escola.

Pedro Dias diz estar “na expectativa” quanto à nova metodologia que vai usar nas aulas, uma vez que só a prática dirá se tudo está a fazer sentido. Porque, apesar de se voltar a um modelo presencial, há muita coisa que muda. “Este modelo não é o que existia até 12, 13 de março, em que há uma relação do professor com os alunos que é mais do que uma exposição. Os professores hoje em dia têm — ao contrário do que ocorria há 30 anos — uma proximidade grande com os alunos, movimentam-se pela sala, dirigem-se aos alunos para esclarecer dúvidas, até o próprio olhar do aluno e a sua expressão facial é indiciadora do apoio que o aluno possa precisar ou da repetição que possa ser necessário fazer de algum conceito específico. E isso agora vai mudar substancialmente porque estamos todos de máscara”, explica ao Observador.

Sobre a reabertura das escolas nesta fase para os alunos do 11.º e 12.º ano, o professor sublinha que compreende a decisão “do ponto de vista político, uma vez que existe a necessidade de fazer uma espécie de simulação prévia a um ano letivo que pode vir a ter contornos diferentes do habitual”. No entanto, acrescenta, há uma parte que o faz duvidar da eficácia do regresso ao regime de aulas presenciais nesta altura. “Depois de uma fase inicial de adaptação ao ensino online julgo que, quer eu quer os alunos, já nos tínhamos adaptado a esta modalidade de trabalho à distância”, refere, alertando que “não se está a recomeçar do zero porque os alunos e professores já se conhecem, mas foram dados alguns passos atrás em termos de adaptação às circunstâncias”.

O diretor da escola, Álvaro Santos, explicava as regras aos alunos: desinfetar as mãos, usar máscara e só depois entrar

OCTAVIO PASSOS/OBSERVADOR

“Foi preparado um bom recomeço. Agora falta confiança”

Fernando Gonçalves, presidente da Associação de Pais das Escolas de Valadares, fez questão de estar presente na reabertura da escola secundária, uma vez que tem acompanhado todo o processo de mudança do estabelecimento de ensino. “Tenho estado sempre a par, a falar com o professor Álvaro, tento ir à escola ou falar com ele ao telefone”, conta ao Observador. É ele quem representa os pais daquela escola e é também ele que fala nos receios de cada um sobre o regresso das aulas presenciais em contexto da pandemia de Covid-19, admitindo que vários pais não queriam deixar os filhos regressar às aulas.

Apesar de ter noção dos receios (e partilhá-los), Fernando Gonçalves acredita também que “aos bocadinhos vão chegando mais alunos à escola”. O importante, refere, é transmitir confiança nas medidas que foram implementadas. “Talvez hoje não estejam muitos alunos na escola, mas amanhã possivelmente já estarão mais e penso que a escola foi bem preparada para os receber. De manhã já sabíamos de tudo e mesmo o novo regulamento foi atualizado e a maioria dos alunos já o deve ter lido. Foi preparado um bom recomeço. Agora falta confiança. Nós sabemos que nos falta muita confiança”, acrescenta.

Os filhos continuam em regime de aulas à distância, uma vez que não estão nem no 11.º nem no 12.º ano, mas Fernando Gonçalves sublinha a necessidade de também se implementar novas regras em casa e a importância de “se começar a dizer aos filhos que sempre que se tem de ir à rua é para ir de máscara, estar distante das pessoas e com a segurança mínima”.

Os alunos do 11.º e 12.º regressaram esta segunda feira às aulas presenciais das disciplinas com exame

OCTAVIO PASSOS/OBSERVADOR

Os alunos, refere, “estavam ansiosos para sair à rua, para voltarem a ver os amigos, estarem mais tempo com eles”. E Fernando Gonçalves acredita que esta segunda-feira será para isso: “Será muito por aí, para dar as regras e estarem a conversar um pouco para depois começarem também eles a ter mais cuidados e a mentalizarem-se da situação”. O ano letivo poderia terminar com a continuação do regime de aulas à distância? Sim, mas Fernando Gonçalves também entende que os próximos tempos vão exigir algum regresso à normalidade: “De alguma maneira temos de recomeçar a vida”.

Em Lisboa, os alunos medem a temperatura e as turmas saem todas por portas diferentes

À entrada do Real Colégio de Portugal, a funcionária vai atirando para o ar a temperatura de cada um dos alunos, dando-lhes carta verde para entrar. “Até fico nervosa”, confessa, enquanto aponta à testa de um deles o termómetro. “Tens de te baixar porque tu és muito alto. 36.5. Podes ir”, acrescenta. Aqui, a lista de procedimentos é maior do que na Escola Secundária Dr. Joaquim Gomes Ferreira Alves, em Vila Nova de Gaia — mas ambos de acordo com as indicações da Direção-Geral da Saúde. Aos alunos do Real Colégio é-lhes logo dada uma máscara. Depois é-lhes medida a temperatura. E ainda recebem uma proteção para os sapatos, luvas e viseiras — as duas últimas, opcionais.

Os alunos do Real Colégio de Portugal medem a temperatura à entrada

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

As primeiras aulas estavam marcadas para as 10h00. O portão, que costumava estar fechado, está agora aberto para evitar que os alunos toquem na maçaneta. Poucos minutos antes de começarem a chegar os primeiros alunos, a diretora pedagógica Sandra Cunha já estava mesmo ali, junto ao portão, para os receber, não conseguindo esconder os sinais de nervosismo. Em conversa com o Observador, a responsável está descansada em relação ao facto de não faltar material de proteção e de terem sido adotadas todas as medidas de segurança.

Pouco depois, os alunos começam a entrar, um a um, de máscara na cara. “Opá, não vos consigo reconhecer logo”, lamenta a diretora pedagógica. Mas depressa acaba por os identificar um a um, começando mesmo a tratá-los pelo nome. “Afinal, ainda vos conheço pelos olhinhos“, diz, referido-se a Ester, uma aluna do 11.º ano, antes mesmo de entrar edifício adentro em direção à amiga que não via há dois meses. É travada a tempo por Sandra Cunha: “Olhem a distância social” — um alerta que a fez parar a caminhada apressada e evitar o contacto com a amiga.

Era exatamente o maior medo da diretora pedagógica, Sandra Cunha. “Eles são jovens e os jovens têm muita necessidade da parte social. É normal que o distanciamento seja um bocadinho mais difícil no regresso: estão desejosos de se verem, de conviverem, é normal. Estaremos cá para ajudar a que o distanciamento exista e com dicas sobre a importância disso para a saúde deles e dos outros. São também eles [alunos] agentes de saúde pública e é importante que se afastem para bem deles e dos outros. Esse distanciamento está relacionado com o querer bem ao outro”.

A diretora pedagógica da escola dá instruções aos alunos do Real Colégio de Portugal, em Lisboa

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

“É estranho não nos podermos aproximar da pessoas”

Foram dois meses sem ir à escola, mas não foram dois meses sem ter aulas ou mesmo sem ver os amigos. “Fomos sempre mantendo o contacto uns com os outros e também tínhamos aulas no Zoom e, apesar de tudo, sempre nos víamos um bocadinho”, conta Ester ao Observador , reconhecendo que, mesmo assim, é diferente. Ester queria ter abraçado os colegas como era tão habitual num normal regresso às aulas. Não poder fazê-lo “é estranho”. “É diferente daquilo que estamos habituados todos desde pequeninos. É estranho não nos podermos aproximar da pessoas“, explica.

Já passa das 10h00 e a aula ainda não começou. Mas a diretora explica que não há problema. “Vamos sempre fazer as coisas com a maior tranquilidade possível. Temos muito tempo para fazer as coisas com calma”, diz. Fala para os alunos no átrio, onde se encontram todos a cerca de dois metros de distância a ouvir as suas indicações. Sandra Cunha explica que, agora, devem entrar por uma porta e sair por outra. “Toda a gente vai sair por portas diferentes, para evitar cruzamentos“, explica. Depois, recorrendo aos mapas e esquemas que tem na mão, indica a primeira turma a entrar, a sala para onde se devem dirigir, em fila e com um distanciamento de dois metros, e a porta por onde devem sair.

A saída da sala só será, no entanto, feita no final do dia ou caso algum aluno de uma turma tenha de ter uma aula de outra disciplina com outra turma. Os intervalos, de cinco minutos, são passados dentro da sala. “Ninguém sai da sala. Só se tiverem necessidade de ir à casa de banho. Vamos dar um pequeno lanche, podem comer na sala ao contrário do que nunca deixamos que fizessem. Era uma luta, não era? Ninguém podia comer na sala, agora já podem. Passar o intervalo na sala, também queriam? Agora já podem. Abrimos estas exceções todas”, explica a diretora Sandra Cunha.

Cerca de 20 alunos apareceram dos 46 esperados: “Alguns têm receios”

Lá dentro, há cerca de quatro a cinco alunos por sala. O Real Colégio de Portugal esperava receber 46 alunos do 11.º e 12.º anos — menos do que os 90 habituais de todo o ensino secundário que costumava receber diariamente. Isto porque, antes da pandemia, muitos alunos estrangeiros regressaram aos seus países de origem e ainda não conseguiram voltar. “Como sabemos, estamos em estado de calamidade. As fronteiras e as ligações aéreas com os países lusófonos ainda não estão regularizadas. Temos muitos alunos dos países lusófonos, nomeadamente de Angola, que continua em estado de emergência. Muitos alunos ainda não podem voltar”, explica ao Observador Teresa Damásio, a administradora do grupo Ensinus e do Real Colégio de Portugal.

A mesa do professor é limpa entre cada aula. Os alunos ficam na sala, nos intervalos

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

Mas não só. “Algumas pessoas têm receios. Algumas têm problemas de saúde que não lhes permitem sair do confinamento”, explica a diretora pedagógica. Estes alunos que não estão na escola continuam a ter aulas por elearning, isto é, aprendizagem à distância. Daí que, no interior das salas, haja alunos a assistir presencialmente, mas também por videochamada. Na aula de Física e Química, por exemplo, duas alunas chegam via Zoom. Antes de começar a aula, a professora levanta até o computador e vira-o em direção aos alunos sentados nas suas secretárias para que todos se possam ver uns aos outros. Dividida entre videochamadas e alunos sentados na sala presencialmente, a professora tenta corrigir o exercício que mandou fazer no dia anterior. E os alunos vão respondendo — por vezes com atropelos entre os que estão ali sentados e os que estão em casa. 

A máscara também não ajuda. “Além de desconfortável, é mais difícil ouvir a professora e perguntar dúvidas. Respirar também é mais complicado”, desabafa Ester, em conversa com o Observador no intervalo da aula, no momento em que a funcionária entra para limpar o quadro e a mesa do professor — cuidados que Ester sabia que estavam a ser tomados e que a deixam descansada e sem receios neste novo regresso.

Na sala ao lado, na aula de Matemática, também o Zoom se encontra ligado. É também por lá que entra a própria professora que, por pertencer a um grupo de risco, continua em casa e vai explicando aos seus alunos como se faz a equação matemática que veem no ecrã. Ao mesmo tempo, na sala de aula, há outra professora que a ajuda e que, também ela, vai explicando aos alunos ali sentados a equação que vai resolvendo no quadro ao lado. “Como é que vocês conseguem perceber?”, questiona a própria diretora, surpreendida pelo facto de os alunos estarem a ouvir duas professoras ao mesmo tempo a explicar uma mesma equação. “Nós conseguimos”, responde um deles, demonstrando sinais de quem está, muito rapidamente, a adaptar-se a este novo normal.

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