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Uma das salas vazias do Real Colégio (Lumiar), cuja disposição teve de ser mudada por causa da Covid-19
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Uma das salas vazias do Real Colégio (Lumiar), cuja disposição teve de ser mudada por causa da Covid-19

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Uma das salas vazias do Real Colégio (Lumiar), cuja disposição teve de ser mudada por causa da Covid-19

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Mesas a dividir corredores e salas para 15 alunos. Visita a duas escolas que preparam o regresso às aulas

O Observador visitou uma escola pública e um colégio privado, com dimensões e desafios diferentes. Mas, para além das máscaras e limpeza, há mais a uni-las: o desejo de acalmar os adolescentes.

Preparar o regresso às aulas dos alunos do ensino secundário foi quase como remodelar uma escola inteira. Um aluno por mesa, circuitos separados para entrar e sair, corredores com novas regras e muitas ações de limpeza e desinfeção. A lista de tarefas é longa, mas comum às duas escolas que o Observador visitou para perceber como está a ser preparado o regresso dos alunos do 11.º e 12.º ano.

Na Escola Secundária Dr. Joaquim Gomes Ferreira Alves, em Vila Nova de Gaia, mais de 700 alunos vão voltar a ter aulas presenciais das disciplinas de exame, o que levou a um esforço redobrado de logística e preparação da escola. Todos vão usar máscara e os intervalos no recreio ou noutros espaços da escola vão deixar de existir. “Agora é tentar também acalmar e preparar a malta, porque não se trata apenas do espaço. É muito importante também preparar as pessoas e os colegas”, conta ao Observador Álvaro Santos, diretor da escola.

Também para Sandra Cunha, diretora pedagógica do Real Colégio, em Lisboa, “mais do que a parte pedagógica, neste momento o que preocupa mais é a parte emocional”. Há 46 alunos que vão voltar às aulas presenciais neste colégio, ainda que a componente online vá continuar a funcionar para os vários alunos estrangeiros matriculados. Embora em diferentes dimensões, ambas as escolas acreditam ter tudo preparado para receber os alunos. Será uma altura de dúvidas, ansiedade e questões, mas também um momento aguardado por muitos: “Parece que nos dá a sensação de que pode ser que isto passe e voltemos ao normal”.

Nesta escola de Gaia, as mesas da sala são usadas para dividir corredores

Nos longos corredores da Escola Secundária Dr. Joaquim Gomes Ferreira Alves, em Valadares, Vila Nova de Gaia, há mesas colocadas em fila, delimitadas com fitas, para dividir o espaço a meio. Os cacifos já não vão ser utilizados, há dispensadores de desinfetante nas paredes e dentro das salas de aula — sala sim, sala não — há mudanças visíveis mesmo só espreitando pelo vidro da porta. “Se dissesse que não estou nervoso com tudo isto era irresponsável”, comenta o diretor da escola, enquanto percorre o espaço que desde março está sem alunos. O nervosismo tem um motivo: durante as últimas duas semanas, Álvaro Santos e a sua equipa passaram horas a fio a organizar e repensar horários, turmas e quase todo o funcionamento da escola para garantir que tudo está preparado e em segurança para voltar a receber estudantes na segunda-feira.

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Há dois meses, quando os primeiros casos de Covid-19 apareceram em Portugal, o diretor da escola percorreu cada uma das 62 salas de aula para explicar às turmas “o que estava a acontecer e os cuidados que deveriam ter”. Pelo meio, os estabelecimentos de ensino fecharam todos e tudo passou a funcionar à distância. Também Álvaro Santos, que coordena esta escola há mais de 20 anos, deixou de ir todas as manhãs para a entrada da escola receber os alunos que chegavam, uma rotina que mantinha há vários anos. Agora, na segunda-feira, prepara-se para ir novamente às salas de aula, desta vez em menor número e com maior distanciamento, para explicar as novas regras aos alunos do 11.º e 12.º ano que vão regressar às aulas presenciais das disciplinas de exame. Mais do que um regresso às aulas, é uma escola que vai funcionar a um ritmo diferente e com muito mais controlo.

Já há mudanças visíveis logo à entrada, mas os detalhes continuam a ser acertados. Na zona da receção e dos serviços administrativos estão a ser montados painéis de acrílico para cada lugar de atendimento ao público. Há também desinfetante em cima das mesas, funcionários de máscara e luvas e o chão é cuidadosamente limpo várias vezes ao dia. Neste espaço, destinado quase exclusivamente aos funcionários, em vez de marcas colocadas no chão usam-se até elementos decorativos para ajudar a delimitar a distância: as filas para a secretaria, por exemplo, têm agora vasos colocados em fila que servem para indicar o local onde cada aluno, professor ou funcionário deve permanecer, devidamente distanciado da pessoa à frente ou atrás.

Da desinfeção à colocação de placas de acrílico nos locais de atendimento ao público, a Secundária Dr. Joaquim Gomes Ferreira Alves esteve a preparar tudo para a reabertura

OCTAVIO PASSOS/OBSERVADOR

Os bombeiros, conta o diretor, já estiveram a esterilizar e a desinfetar tudo durante a manhã e há funcionários a lavar todas as escadas, pátios e espaços exteriores de uma escola que, “pela sua grande dimensão”, conseguiu uma maior margem de trabalho para dividir os espaços conforme as orientações determinadas pela Direção-Geral de Saúde (DGS).

No total, a Escola Secundária Dr. Joaquim Gomes Ferreira Alves conta com mais de 700 alunos do 11.º e 12.º ano, que estarão divididos por 38 salas de aula, o que obrigou a um enorme esforço de planeamento. Há sempre quatro horários de entrada e de saída diferentes e desencontrados entre todas as turmas — dois de manhã e dois à tarde — e nunca um grupo entra quando outro está a sair. “O grande número de alunos traz uma responsabilidade ainda maior” e, por isso, tudo teve de ser pensado.

“Em cada dia não devemos ultrapassar os 390 alunos no total, contando com todos os horários e grupos existentes. Reduzimos a componente letiva parcialmente para conseguir estabelecer que os estudantes do 12.º venham à escola dois dias por semana e os do 11.º, em regra, três dias por semana. E em nenhum dos dias há turmas que têm aulas de manhã e à tarde: ou têm de manhã ou têm à tarde” explica o diretor da escola ao Observador.

Cada sala de aula pertence única e exclusivamente a uma turma, havendo apenas troca de professor das diferentes disciplinas. Álvaro Santos vai percorrendo a escola com os passos e procedimentos já decorados ao detalhe para segunda-feira. Quando os alunos chegarem à portaria da escola vão ser encaminhados pelos funcionários e vão entrar por um de três circuitos diferentes, dependendo do local de aula. “Este período de entrada tem a duração de 15 minutos e o grupo de alunos nunca pode ultrapassar os 90 em cada momento”. À entrada e saída dos pavilhões, os alunos terão também que desinfetar as mãos. Para quem chega atrasado, há sinalética no chão do exterior com orientações, ainda que tenha sempre um funcionário para o encaminhar.

Nesta escola há dispensadores de desinfetante ao longo dos corredores e em todas as entradas e saídas

OCTAVIO PASSOS/OBSERVADOR

“Gasto muito calçado aqui.” Conceição Gonçalves, assistente operacional da escola, acompanha a visita e comenta como o grande número de salas acabou por ajudar no processo de organização para este regresso. Se fosse um espaço mais pequeno, a tarefa poderia ter sido mais complicada para garantir o distanciamento correto. Habituada a andar de um lado para o outro naquele espaço, e sempre com uma mão cheia de chaves de todas as portas, Conceição sabe na ponta da língua o plano delineado, as salas que vão ser utilizadas, o que mudou e o que se manteve e os alunos que ali vão voltar. Também ela partilha o “nervosismo” pela reabertura e a estranheza de uma escola que já não será a mesma, enquanto ajuda com as mesas e cadeiras que ainda faltam ajeitar.

O distanciamento, a limpeza e os intervalos passados na sala

Nos corredores, as mesas colocadas no meio foram retiradas de salas que não vão ser utilizadas e permitem que nenhum aluno se junte lado a lado e que se consiga manter o distanciamento adequado entre cada pessoa. Já não se espera o burburinho e movimento que antes se sentia nos corredores. Uma vez que os alunos só vão ter aulas num determinado período do dia, a cantina e o refeitório da escola permanecem encerrados, tal como todos os restantes espaços, como os laboratórios, tendo em conta que não serão realizadas aulas práticas. A biblioteca estará aberta, mas “com o limite de um terço da lotação e com o controlo constante de um funcionário”. Álvaro Santos mostra também como estão preparadas outras zonas comuns, como as casas de banho: há várias em cada circuito de entrada e saída atribuído às turmas, sabão em cada uma, ações de limpeza e até o aparelho de secar as mãos fica desligado para se utilizar apenas papel descartável.

Nos corredores, as mesas colocadas no meio permitem que se consiga manter o distanciamento adequado entre cada pessoa

OCTAVIO PASSOS/OBSERVADOR

Na sala de aula há também diferenças e novas regras: cada mesa será utilizada apenas por um aluno, cada um tem sempre a cadeira colocada, no mínimo, a 1,5 metros de distância da cadeira do lado e agora, sem exceção, não há material escolar emprestado entre alunos. “Deixamos sempre uma sala livre entre cada uma das que estão a ser usadas e andamos a medir a distância de tudo para garantir que tudo estava correto. Mas a dimensão da escola também permite isso”, sublinha o professor, acrescentando que as salas viradas a Norte “são as que vão ser utilizadas porque as janelas devem estar abertas e também não entra tanto calor”. “Tem a ver com o conforto térmico”, explica. Aqui não há fitas nem sinaléticas a delimitar o perímetro, até porque “a organização é percetível desta forma”.

No total, existem três salas com capacidade e espaço para receber até 30 alunos com o distanciamento garantido (uma delas era uma sala que tinha mesas de ping pong e foi adaptada), mas tudo o resto será para grupos de 15 alunos no máximo, também tendo em conta as regras de distanciamento. O espaço, explica o professor, é determinado consoante as necessidades de cada disciplina, sendo que é feita limpeza geral duas vezes por dia e sempre que termina a utilização de uma das salas. Os intervalos vão ser passados dentro da sala de aula, havendo apenas troca de professor, para diminuir ao máximo o contacto entre alunos.

As salas de aula têm mesas com apenas uma cadeira para os alunos, que serve também para delimitar o mínimo de distância entre cada um

OCTAVIO PASSOS/OBSERVADOR

“Na parte das salas de aula fizemos muito a nossa organização com base na gestão que fazíamos para os exames nacionais. Aproveitamos muito do conhecimento que obtivemos a partir da organização de exames para isto”, acrescenta o diretor. O grande desafio, refere, foi conceber algo em tão pouco tempo e tendo em conta a novidade da situação: “Demorou uma semana e meia a planear, muitas horas e ainda por cima com todas as outras coisas a decorrer [o ensino à distância]. Tive que trabalhar os professores e também é preciso trabalhar com eles, é preciso estimulá-los e acompanhá-los”.

“Agora é acalmar e preparar a malta”

Nesta escola em Valadares, e tal como em todas as escolas do ensino secundário, cada aluno, professor e funcionário é obrigado a utilizar máscara, sendo que o material de proteção individual foi disponibilizado pelo Ministério da Educação. E se houver algum caso suspeito na escola, o que acontece? O desejo geral é que isso nem sequer venha a acontecer, mas a resposta de Álvaro Santos, e porque as regras assim o obrigam, é quase uma descrição das normas que estão no documento da DGS e implica a existência de uma sala de isolamento.

“Vamos supor que há alguém que tem febre. Um funcionário vem, acompanha essa pessoa, sai pela saída mais próxima e o caso suspeito vai para uma sala a que nós chamamos de ‘Sala Covid-19’, que, aliás, era a sala que já tínhamos quando foi a Gripe A e foi também a sala Covid-19 na primeira fase disto tudo”, explica o diretor. No espaço haverá uma cadeira, bolachas, água e um telefone. O nervosismo nesta fase está presente, mas, garante, tudo está a ser pensado ao máximo detalhe possível e de acordo com as condições que a escola oferece.

Álvaro Santos é o diretor da Escola Secundária Dr. Joaquim Gomes Ferreira Alves, que tem 38 salas de aula para receber os alunos

OCTAVIO PASSOS/OBSERVADOR

Quanto aos pais, assegura Álvaro Santos, também têm transmitido confiança na preparação da escola, ainda que exista sempre algum nível de incerteza pela novidade da situação. “Uma questão que colocámos aos pais foi se eles tinham confiança na capacidade da escola de organizar a vinda dos alunos em segurança. E tenho aqui a informação de que, dos que vêm na segunda-feira, 80 a 90% diz que confia na escola para organizar o processo internamente, o que é uma responsabilidade ainda maior”, refere, acrescentando que foi também feito um levantamento para perceber como é que os alunos se deslocam para a escola e, assim, saber com o que se vai contar. Resultado: “30% vem de transporte público, mas a maior parte utiliza transporte particular ou desloca-se a pé”.

Afinados os últimos detalhes, há ainda mesas a serem colocadas, espaços a serem limpos e ainda reuniões com diretores de turma para comunicar regras aos pais e alunos. Pelo meio, Álvaro Santos apela também à responsabilidade de cada um no cumprimento das regras e na importância de motivar tanto alunos como professores. “Temos de passar alguma responsabilidade para os alunos. A nossa escola sempre trabalhou a promoção da responsabilidade individual e, portanto, eu continuo também a apostar nisso, Agora é tentar também acalmar e preparar a malta, porque não se trata apenas do espaço. É muito importante também preparar as pessoas e os colegas”.

No Real Colégio, as mesas deixaram de estar em ilhas para voltarem “ao modelo típico”

Enquanto que na escola pública Dr. Joaquim Gomes Ferreira Alves haverá 390 alunos por dia, no Real Colégio, no Lumiar (Lisboa), a situação não podia ser mais diferente. Com apenas 90 alunos no ensino secundário, as salas de aula nesta instituição privada irão ter apenas 46 adolescentes ali presentes ao longo das próximas semanas. O pesadelo logístico está longe de ser semelhante ao de uma escola pública que acolhe centenas de alunos — mas também aqui a rotina dos adolescentes que frequentam o 11.º e o 12.º ano será radicalmente alterada a partir desta segunda-feira.

A começar pela chegada à escola: se até aqui todos entravam pelo portão principal, no Paço do Lumiar, agora apenas as crianças da creche e do pré-escolar atravessarão o alto portão de ferro que abre para o pátio onde um palacete do século XVIII e outros edifícios históricos os aguardam. Os mais velhos entrarão pelo portão das traseiras do Colégio, que fica mais perto dos módulos brancos onde decorrem as aulas do secundário. Assim que chegarem ao pavilhão principal — o único que estará aberto — terão uma auxiliar à sua frente.

“Ela irá fazer a medição de temperatura e dar máscaras àqueles que não as trouxerem. Há também viseiras para os que quiserem essa proteção extra”, conta a diretora pedagógica, Sandra Cunha, ao Observador. Uma pequena mesa de apoio, ao lado, tem o já habitual álcool-gel para que limpem as mãos antes de entrar.

À entrada do pavilhão estará uma auxiliar para medir a temperatura a cada um e oferecer uma máscara, bem como álcoo-gel

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Logo ali no corredor, outra auxiliar estará pronta para lhes recordar em que sala terão a primeira aula. É claro que todos já receberam essa informação e nas paredes também estão afixados avisos, como aquele que diz:

“SEGUNDA-FEIRA
11.º ANO A
CURSO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIAS
10:45 – 12:15 – Biologia e Geologia
SALA 8
ENTRADA – PORTA 1
SAÍDA – PORTA 3”

Mas, caso os nervos ou a distração os façam esquecer-se, podem sempre perguntar à auxiliar, que lhes indicará a sala correta. A porta de saída, marcada com um número diferente, está assinalada para haver circuitos separados — nas salas com saída direta para a rua, é por aí que os adolescentes passarão no final da aula e não pela porta principal do edifício, por onde entraram. Assim, evitam cruzar-se com outros colegas que venham para outra aula a seguir.

“Vão entrar um de cada vez na sala, eles já estão avisados”, explica Sandra Cunha, de ar sério, como quem já relembrou isto vezes sem conta através da aplicação Zoom aos alunos. “Tivemos mesmo de fazer assim, senão ia ser aquela correria e entravam aqui todos ao mesmo tempo”. A ajudar está o facto de serem poucas as disciplinas presenciais e de os alunos não serem assim tantos. A divisão foi feita de forma a garantir que nunca estarão mais de 14 por sala.

Ao abrir a porta da primeira sala, Sandra não consegue evitar emocionar-se ao olhar para as mesas individuais, todas espaçadas umas das outras, e as paredes despidas. “Estas aulas no fundo não vão ser aulas normais, vão ser aulas mais de preparação para exame. Tivemos de voltar ao modelo típico…”, começa por dizer, antes de fazer a ressalva que no modelo do Real Colégio, com autonomia e flexibilidade curricular, as aulas não funcionam geralmente com filas de mesas e cadeiras cheias de alunos a olharem em frente para um professor. “Antes fazíamos ilhas com as secretárias e púnhamos, imagine, quatro alunos por ilha, a resolverem um modelo de exame em conjunto”, acrescenta. “Isso agora acabou”.

Enquanto caminhamos para outra sala, Sandra Cunha explica como a limpeza a fundo tem sido uma das prioridades. “Tivemos formação específica e agora cada pessoa sabe que o pano azul é para a cozinha, o amarelo para os WC, que há uma esfregona para cada sala, etc.”, ilustra.

“Mas aquilo que descobrimos é que as auxiliares de limpeza já faziam isto tudo. Sabem tudo, que o produto x é melhor quando misturado com y, que o outro faz irritação na pele, que o de pêssego deixa o cheiro mais agradável… Ficámos muito aliviados, elas estão a colaborar imenso.” A preocupação é muita, sobretudo tendo em conta que o colégio tem alunos desde a creche até ao 12.º ano e inclui, por exemplo, uma quinta pedagógica — neste momento sem animais, à exceção do porco preto JP, que ali ainda continua, a roncar quando chamado pelas funcionárias.

Uma auxiliar faz a limpeza na quinta pedagógica, agora vazia de animais à exceção do porco JP

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Esse cuidado não invalida, contudo, o ensino de forte componente prática que o colégio propõe. A sala de laboratório continuará a ser usada para fazer experiências em Físico-Química, por exemplo. “A opinião da nossa professora foi a de que é perfeitamente possível, tendo em conta que são poucos por sala. Fazem as experiências com distanciamento físico uns dos outros, têm de trazer uma bata lavada de casa e pronto”, resume a diretora pedagógica.

O que não significa, contudo, que não haja pena por não ser possível utilizar todos os recursos de que a escola dispõe. “Ai, esta sala é horrível, é onde se nota mais a diferença”, desabafa Sandra Cunha, ao entrar numa das salas maiores, onde a distância entre cadeiras parece ainda mais abissal do que nas restantes. “Costumávamos ter as mesas dispostas em U, às vezes uma mesa dentro de outras em U, às vezes em ilhas… Tínhamos mais Arte Visual nas paredes, tínhamos aqui uma aparelhagem e as mesas e as cadeiras dos alunos costumavam estar aqui mais perto do professor. Assim como está não tem nada a ver com o nosso tipo de ensino”, diz Sandra, os olhos azuis fixos nas mesas e cadeiras cinzentas, de plástico, isoladas no meio. “Mas pronto, tem de ser”, remata, encolhendo os ombros.

Com alunos de países como Angola ou Eslovénia, como se faz a preparação para os exames?

Os quebra-cabeças físicos não são os únicos a ter de ultrapassar. Há outro tipo de desafios, como a conjugação dos horários das aulas presenciais, para as disciplinas de exame específico, com as aulas das outras disciplinas que continuam a decorrer online. “Temos de coordenar tudo, porque o aluno sai daqui da aula e temos de lhe dar tempo de ir para casa, almoçar e só depois poder entrar na outra aula em Zoom”, ilustra Sandra.

Outros desafios são ainda mais complexos: num cólégio que se define como multicultural e que tem vários programas de intercâmbio, 14 dos 60 alunos que frequentam o 11.º e o 12.º ano são estrangeiros. Isso significa que, durante o período de confinamento, regressaram para os seus países, como Angola, Brasil, Espanha ou Eslovénia, para estarem junto das suas famílias. O problema? Não conseguem agora regressar para as aulas presenciais. “A diretriz nacional diz que, como as aulas presenciais são obrigatórias, nós até poderíamos acabar com as aulas online nestas disciplinas. Mas não vamos fazê-lo, nunca os poderíamos prejudicar”, assume a diretora pedagógica.

Teresa Damásio, a administradora de todo o grupo Real Colégio, considera que, apesar dessa dificuldade, esta foi a melhor opção. “O Governo repensou — e bem —, ao tornar as aulas presenciais obrigatórias. Porque senão íamos ter o mesmo ser humano, um professor, a dar ao mesmo tempo uma aula presencial e outra no Zoom ao mesmo tempo. Conseguiríamos, mas… Imagine a dificuldade”. Assim, a adaptação é feita apenas para aqueles 14 alunos em particular, que terão aulas via Zoom à parte.

Um desafio que não é particularmente penoso numa estrutura mais pequena e ágil como a deste colégio, já habituado a usar plataformas como a e-schooling e a escrever sumários apenas online. “Na área da educação, esta pandemia fez com que acelerássemos o paradigma da tecnologia”, aponta a administradora. “Foi à custa de um esforço diabólico das nossas equipas, em todo o lado, mas até nos nossos colégios na Guiné e em Moçambique temos as aulas online todas a funcionar. Os conselhos escolares, as reuniões de pais, a avaliação, tudo passou a ser feito por Zoom”, conta.

Salas com mesas afastadas, mais limpeza e entradas diferentes das saídas são algumas das medidas aplicadas no Real Colégio

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

É por isso, diz, que o Real Colégio do Lumiar foi “dos poucos colégios no distrito de Lisboa” a fechar portas na sexta-feira em que o Governo decretou o encerramento das escolas e a começar “a dar aulas de imediato online, na segunda-feira seguinte, a todos os ciclos de ensino”.

A adaptação por forma a garantir que os alunos não são prejudicados em nada está dependente, naturalmente, do esforço também de pais e encarregados de educação. Em famílias que pagam mensalidades na casa das centenas de euros, todos os alunos têm computador e internet para acompanhar as aulas, o que facilita. E o colégio adapta-se noutros aspetos: habitualmente fechado duas semanas em agosto, pondera agora manter-se aberto para dar aulas de preparação para os exames da segunda fase, que foram adiados para o verão.

Os professores querem muito regressar. E os alunos? As opiniões dividem-se

É devido a todos estes esforços que Teresa Damásio justifica o facto de não ter reduzido ou cancelado as mensalidades durante os dois meses em que o colégio esteve fechado: “Mantivemos as mensalidades, porque mantivemos todas as atividades e salários, mais a limpeza e a desinfenção”, explica, referindo-se à aplicação de um produto especializado feito por uma empresa privada em todos os colégios do grupo.”Os meus professores não tiveram os salários reduzidos porque trabalharam muito mais ainda durante este período. E não só os professores: veja, por exemplo, aqui o João, que faz a gestão das redes sociais. Ele nestes dias trabalhou muito mais do que antes…”, afirma.

A equipa do Real Colégio no Lumiar, com a administradora Teresa Damásio na dianteira e à sua direita a diretora pedagógica, Sandra Cunha

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Se os adultos querem regressar, os adolescentes ainda não sabemos. A diretora pedagógica, Sandra Cunha, crê que sim, por aquilo que alguns lhe têm dito: “Há quem fale comigo e diga “Ó stôra, fale com o meu pai para me deixar vir já’”, conta, rindo-se. “O secundário sente muita falta dessa parte social, eles querem vir”.

O que não significa que não haja dúvidas e ansiedades. Como quando as aulas no Zoom são interrompidas com questões comezinhas do dia-a-dia como “Professora, vai dar para jogar à bola?” ou “Será que vamos poder ir ao café?”. (Respostas: “Sim, se trocarem a bola de longe, sem se aproximarem”; e “Sim, se cumprirem as regras”).

“Mais do que a parte pedagógica, neste momento o que nos preocupa mais é a parte emocional”, confessa a diretora pedagógica. “E nós temos de transmitir segurança aos pais, sobretudo.” A administradora Teresa Damásio concorda: “O objetivo agora é iniciarmos o novo ano letivo com a confiança dos pais, esse vai ser o grande desafio. Mas se há seis meses nos dissessem que íamos estar a falar de máscara como agora, não acreditávamos. O ser humano adapta-se”.

Mais do que as máscaras e o álcool-gel à entrada, mais do que a desinfeção prévia ou a distância entre cadeiras e a entrada um a um na sala, aquilo que poderá ser a adaptação mais difícil é aquela que não se vê: é garantir que o medo desaparece. Teresa Damásio, que tem dois filhos adolescentes, acha que esta geração está assustada com o novo coronavírus e teme como será o dia a dia. “Eles estão com dificuldades em sair à rua”, diz. “Acho que na segunda-feira os nossos jovens vão ter muito medo de estar aqui. Mas nós cá estaremos para os ajudar”.

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