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Elon Musk comprou o Twitter no final de outubro

NurPhoto via Getty Images

Elon Musk comprou o Twitter no final de outubro

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Elon Musk faz alterações e depois muda de ideias. Cinco avanços e recuos do Twitter sob a nova liderança

Musk faz alterações no Twitter, é criticado e volta atrás. O empresário parece andar sempre a mudar de ideias. A partir de agora fará "votações para introduzir profundas alterações" no Twitter.

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A agitação tem vindo a marcar a liderança de Elon Musk no Twitter. O multimilionário, que recentemente perdeu o estatuto de homem mais rico do mundo, tem enviado mensagens contraditórias aos utilizadores da rede social. Primeiro anuncia as alterações que faz — como a suspensão de contas de vários jornalistas —, de seguida é criticado, e, depois, volta atrás nas suas decisões.

No último fim de semana, mais turbulência para os lados do Twitter. O patrão da Tesla e da Space X afirmou que se afastaria da liderança da empresa, mediante os resultados de uma sondagem que lançou. Com a promessa veio um aviso: “Cuidado com o que desejas, porque podes mesmo recebê-lo”. As mais de 17 milhões de pessoas que responderam à questão mostraram não ter dúvidas: o voto favorável para Musk deixar de ser CEO da rede social venceu com 57,5%. Ainda não se sabe se a promessa vai ser cumprida, uma vez que o empresário se mantém, até ao momento, em silêncio.

Antes da sondagem de Musk, o frenesim já dominava o Twitter. A rede social anunciou que 25 contas que rastreavam a localização de aviões privados — incluindo o de Elon Musk — tinham sido permanentemente suspensas. A revelação chegou meses depois de o multimilionário ter prometido continuar a permitir que a “ElonJet”, que seguia o seu jato particular, permanecesse disponível — e agora vai mesmo processar Jack Sweeney, proprietário dessa conta. Segundo o The New York Times, o empresário considera que a “ElonJet” e outras contas desse género representam um risco à segurança. A posição chega depois de o patrão da Tesla ter denunciado que o seu carro, onde ia um dos seus filhos, foi seguido por um “perseguidor maluco”. Esta foi apenas uma das muitas vezes nos últimos meses em que Elon Musk mudou de ideias.

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Elon Musk vai processar dono da conta que rastreava jato privado. Twitter vai bloquear contas que revelem a localização em tempo real

Os jornalistas que foram suspensos por “doxxing”

Pelo menos 10 jornalistas que escrevem sobre o Twitter e Elon Musk viram, na semana passada, as suas contas da rede social serem suspensas. Os visados foram Matt Binder (Mashable), Drew Harwell (The Washington Post), Steve Herman (VOA News), Micah Lee (The Intercept), Ryan Mac (The New York Times), Donie O’Sullivan (CNN), Tony Webster (Minnesota Reformer), Keith Olbermann (ex-jornalista da MSNBC), Aaron Rupar (independente) e a página do site It’s Going Down News.

Inicialmente, apesar de aparecer um aviso de que as contas tinham violado “as regras do Twitter”, não ficou claro o motivo da suspensão. Depois, Elon Musk esclareceu que as contas estavam envolvidas em “doxxing” — palavra que denomina o ato de publicar na internet dados privados de alguém —, ou seja, esses jornalistas tinham escrito sobre as contas que rastreiam os aviões privados. Por terem, dessa forma, e segundo alega, partilhado a sua localização, o dono do Twitter sugeriu que os jornalistas tentaram prejudicar a sua família.

Na rede social, Musk avisou que qualquer conta que publicasse “informações de localização de alguém em tempo real” seria suspensa, uma vez que isso é uma “violação da segurança física” dos indivíduos. O bloqueio provisório dos jornalistas motivou críticas, com a Comissão Europeia a ter anunciado que o empresário vai ser alvo de sanções, enquanto a ONU denunciou um “precedente perigoso”.

Em comunicado, Charlie Stadtlander, porta-voz do The Times, afirmou que a suspensão de vários jornalistas “proeminentes”, incluindo Ryan Mac, do The New York Times, era “questionável e lamentável”. “Nem o The Times, nem o Ryan receberam qualquer explicação sobre porque é que isto ocorreu. Esperamos que todas as contas dos jornalistas sejam restabelecidas e que o Twitter forneça uma explicação satisfatória para esta ação”, disse, citado pelo The New York Times.

A CNN, por sua vez, escreveu que a medida foi uma tentativa de Musk, que se autodenomina como um absolutista da liberdade de expressão, de utilizar a “autoridade unilateral” que tem sobre a rede social para censurar os meios de comunicação. Para a estação televisiva, as suspensões são “preocupantes, mas não surpreendentes”.

Depois das críticas, o dono do Twitter fez uma sondagem para perceber em que momento as contas dos jornalistas deveriam ser restabelecidas. “Agora” ou “daqui a sete dias” eram as opções. A maioria decidiu que as contas deveriam ser reativadas no imediato. Ainda assim, Musk demorou um dia a garantir que a vontade seria satisfeita: “As pessoas já falaram. As contas que partilharam a minha localização terão a sua suspensão anulada agora”.

As contas dos jornalistas foram restabelecidas, mas as críticas não cessaram. Este fim de semana, Elon Musk partilhou que estava no Qatar para assistir à final do Campeonato do Mundo. Os utilizadores do Twitter rapidamente começaram a questionar a forma como a política de “doxxing” era aplicada, uma vez que, neste caso, foi o próprio empresário a revelar a sua localização. O político norte-americano Lee Carter, por exemplo, mostrou-se “ansioso” pela suspensão do dono do Twitter por “tweetar a localização em tempo real de Elon Musk”.

https://twitter.com/carterforva/status/1604557067456417792

Argentina v France: Final - FIFA World Cup Qatar 2022 Argentina v France: Final - FIFA World Cup Qatar 2022 Argentina v France: Final - FIFA World Cup Qatar 2022

Elon Musk esteve com Jared Kushner (genro de Trump) no Qatar a assistir ao jogo entre Argentina e França

Getty Images

A proibição de colocar links de redes sociais rivais

Ainda a polémica da suspensão dos jornalistas estava a decorrer quando o Twitter anunciou uma nova alteração na plataforma. A rede social explicou, em comunicado entretanto apagado, que os utilizadores deixariam de poder colocar links de redes sociais concorrentes em tweets e na “bio”. Desta forma, a “promoção gratuita de certas redes sociais no Twitter” deixaria de ser permitida. Facebook, Instagram, Mastodon, Truth Social, Tribel, Post e Nostr seriam afetados pela medida.

O Tech Cruch nota que a empresa planeava remover links para publicações de redes sociais concorrentes e suspender temporariamente a conta dos utilizadores que tivessem links para qualquer uma dessas plataformas na sua biografia. O mesmo site refere que o Twitter foi alvo de críticas após ter anunciado esta mudança. Um desses comentários destacou-se porque mereceu uma resposta de Elon Musk.

A página de notícias TheQuartering afirmou que dizer “às pessoas que não podem partilhar links para o Instagram” é ir “longe demais”. “O mesmo no que respeita ao Linktree. Eu uso o meu para partilhar o meu site”, não para “competir com o Twitter”, acrescentou. O dono da plataforma do pássaro azul respondeu, adiantando que “a política será ajustada para suspender contas apenas quando o propósito principal é promover concorrentes”.

De seguida, a rede social excluiu o comunicado onde tinha anunciado que ia passar a proibir a promoção de outras plataformas. Ao mesmo tempo, a conta Twitter Safety (do próprio Twitter) avançou com uma sondagem, na qual perguntava aos utilizadores se o Twitter deveria ter uma política “que impeça a criação ou o uso de contas existentes com o objetivo principal de publicitar outras plataformas”. Com as votações ainda a decorrer, 86,9% dos votantes mostram-se contra essa medida.

Com as contradições ao longo dos meses, mas principalmente com a proibição de colocar links de redes sociais rivais, apoiantes de Musk mudaram de ideias. Para Paul Graham, fundador da Y Combinator, aceleradora de startups, as recentes ações de patrão da Tesla e da Space X foram “a gota de água” para que desistisse do Twitter. Ao ter colocado o link para o  Mastodon, rede social que quer ser alternativa o Twitter, a conta de Graham foi suspensade acordo com o New York Times — mas posteriormente reativada.

As voltas que o Twitter Blue tem dado

O lançamento de uma nova versão do Twitter Blue, serviço premium da rede social, foi uma das primeiras novidades anunciadas por Musk quando assumiu a liderança da empresa. Com essa reestruturação e mediante o pagamento de oito dólares por mês, qualquer utilizador poderia receber o selo azul que atestava a autenticidade das contas.

Numa primeira fase, o lançamento da nova funcionalidade foi adiado para depois das eleições intercalares norte-americanas, que se realizaram a 8 de novembro, devido a preocupações por parte dos utilizadores sobre a forma como os selos azuis poderiam gerar confusões — uma vez que as pessoas conseguiriam, mais facilmente, fazer-se passar por outras ou por meios de comunicação.

A ideia arrancou no dia seguinte. Mas o caos instalou-se. A revista Vox recorda que, como muitos já antecipavam, surgiram contas falsas, mas com o selo de verificação. Desde uma página falsa da farmacêutica Ely Lilly, que alegou que a insulina era gratuita, a alguém a fazer-se passar pelo governador da Flórida, Ron DeSantis, que chamou Trump de “little bitch” (“cabrãozinho”, em tradução livre), mas de quem se fala como possível candidato presidencial pelo partido Republicano, as publicações de contas com selo azul a espalhar informações falsas multiplicaram-se e os posts permaneceram disponíveis durante horas.

A 11 de novembro, depois de vários utilizadores se terem feito passar por outros, o Twitter suspendeu as adesões à nova versão do TwitterBlue. Desde então, foi preciso que passasse praticamente um mês para que existissem novidades. O Twitter anunciou, a 10 de dezembro, o relançamento do seu serviço pago. O custo de oito dólares mensais atinge, na loja da Apple, os 11 dólares.

Twitter relança serviço pago que causou polémica. E lança a um preço mais alto na loja da Apple

A funcionalidade de subscrição poderá ser utilizada somente nos EUA, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e Reino Unido — não estando disponível em Portugal. Os utilizadores que pagam pela verificação são distinguidos de entidades, meios de comunicação ou políticos, que contam com um selo dourado. Até ao momento, a transição para o selo dourado ainda não chegou a todas as empresas que a ele têm direito. Por exemplo, a conta do Governo português continua com o selo azul. Mas a da Seleção Nacional já tem o selo dourado junto ao nome.

Twitter da seleção

O Twitter da Seleção Nacional já conta com o selo dourado

O botão “oficial” que durou apenas algumas horas

Em novembro, para distinguir as personalidades mais conhecidas, como políticos, músicos ou criadores de conteúdo, dos restantes utilizadores do Twitter com a divulgação da versão remodelada do serviço premium, a rede social criou uma “tag” secundária — que dizia “oficial” e que era colocada debaixo do respetivo nome da pessoa que detinha aquela conta.

Despedimentos, saída de anunciantes e fim do trabalho remoto. Em duas semanas (quase) tudo Musk mudou no Twitter

Cerca de três horas após ter sido lançada, a 9 de novembro, a funcionalidade desapareceu. Elon Musk assumiu que mudou de ideias e, em resposta a um tweet, afirmou que a tinha “matado”. Agora, no início do mês de dezembro, aquando do anúncio do relançamento do Twitter Blue, a rede social explicou que as empresas passavam a contar com um selo dourado e as contas governamentais com um selo cinzento — para serem distinguidas das contas com o selo azul. Neste momento, ao navegar pelo Twitter já é possível ver a presença de selos dourados, mas a de selos cinzentos ainda não.

A não criação de um conselho de moderação

Elon Musk disse que ia criar um “conselho de moderação de conteúdo com pontos de vista amplamente diversos” antes de tomar qualquer decisão importante. Porém, voltou atrás. Em resposta a um tweet que chamava de “‘completamente fictícia” a formação desse órgão, o empresário justificou-se: “Uma grande coligação de grupos de ativistas políticos/sociais concordou em não tentar matar o Twitter ao privar-nos de receita publicitária se eu concordasse com essa condição. Quebraram o acordo”.

Musk não explicou a forma como quebraram o acordo, mas em novembro foi o próprio dono do Twitter que indicou que a Apple, por exemplo, tinha cortado a maior parte dos anúncios na rede social.

E terá sido essa alegada quebra de acordo que motivou o restabelecimento da conta de Donald Trump, sem que tivesse sido criado um conselho de moderação. Ainda assim, apesar de o antigo Presidente norte-americano estar de volta à rede social há cerca de um mês, continua sem fazer qualquer publicação — porque prefere manter-se, segundo disse o próprio, na sua própria plataforma: a Truth Social.

No final do mês de novembro, quando sugeriu que existia uma diminuição de investimentos por parte dos anunciantes no Twitter, atribuiu, no entanto, a “queda enorme na receita” a “grupos ativistas a pressionar os anunciantes”. Nessa altura, para tranquilizar os anunciantes, o empresário dizia que a plataforma tinha feito “tudo” o que podia para satisfazer os ativistas — não tendo ainda feito alterações relativamente à moderação de conteúdos. Mas em dezembro o Twitter revelou um conjunto de incentivos para os anunciantes voltarem em força à rede social.

Depois das polémicas e das mudanças de ideias, para o futuro, o patrão da Tesla e da Space X deixou a garantia de que “daqui em diante haverá uma votação para a introdução de profundas alterações na política” de utilização do Twitter.

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