Elon Musk vai ser alvo de sanções por parte da Comissão Europeia por causa da suspensão das contas de jornalistas e páginas noticiosas no Twitter. O anúncio foi feito pela vice-presidente para os Valores e Transparência da Comissão Europeia, Vera Jourová, esta sexta-feira no Twitter.

As notícias sobre a suspensão arbitrária de jornalistas no Twitter são preocupantes. A Lei dos Serviços Digitais da União Europeia exige o respeito pela liberdade dos meios de comunicação e pelos direitos fundamentais. Isto é reforçado pela nossa Lei da Liberdade de Imprensa. O Elon Musk deve estar ciente disso. Existem linhas vermelhas. E sanções, em breve”, publicou.

Pelo menos 10 jornalistas e páginas de notícias foram banidos do Twitter por alegadamente terem “violado as regras” da rede social comprada este ano por Elon Musk. Alguns dos jornalistas atingidos tinham escrito recentemente sobre a decisão do multimilionário de banir contas que rastreavam as localizações de terceiros, mesmo que com base em informação pública.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Entre os afetados estão os jornalistas Matt Binder (Mashable), Drew Harwell (The Washington Post), Steve Herman (VOA News), Micah Lee (The Intercept), Ryan Mac (The New York Times), Donie O’Sullivan (CNN), Tony Webster (Minnesota Reformer), Keith Olbermann (ex-jornalista da MSNBC), Aaron Rupar (independente) e as páginas no Twitter dos sites It’s Going Down News e Mastadon.

O The New York Times publicou um comunicado no Twitter em que classifica as suspensões de “questionável e infeliz”: “Nem o The Times, nem o Ryan receberam qualquer explicação sobre porque é que isto ocorreu. Esperamos que todas as contas dos jornalistas sejam restabelecidas e que o Twitter forneça uma explicação satisfatória para esta ação.” O comunicado do jornal chegou à rede social através Paul Farhi, jornalista.

Elon Musk acusa jornalistas de “doxxing”, o ato de publicar informações privadas online

Ella Irwin, chefe de segurança e confiança do Twitter, sugeriu ao The Verge que estas contas colocavam outros utilizadores da rede social “em risco”: “Sem comentar sobre nenhuma conta específica, posso confirmar que suspenderemos todas as contas que violarem as nossas políticas de privacidade e colocarem outros utilizadores em risco“.

Elon Musk afirmou que as contas estão envolvidas em “doxxing” — a palavra em inglês para o ato de publicar na internet os dados privados de alguém — e seriam suspensos por apenas sete dias, mas alguns dos jornalistas em questão receberam a informação de que estavam banidos permanentemente do Twitter.

Aliás, o proprietário da rede social chegou a fazer uma sondagem em que perguntava aos restantes utilizadores quando é que as contas dos jornalistas que tinham sido suspensas deviam ser desbloqueadas: “agora”, “amanhã”, “daqui a sete dias” ou “daqui a mais tempo”. É um exercício semelhante ao que já tinha feito quando decidiu desbloquear as contas que estavam suspensas antes de comprar o Twitter.

A maioria dos utilizadores defendeu os jornalistas deviam regressar à rede social “agora” (43%). Só que desta vez, ao invés de respeitar o resultado da sondagem, Elon Musk contrariou-o: “Desculpem, demasiadas opções, vou fazer a sondagem outra vez”.

Tudo isto acontece numa altura em que o dono do Twitter reabriu a rede social a utilizadores que tinham sido afastados por disseminarem informações falsas, defenderem posições políticas extremistas que contrariavam os direitos humanos; ou adotarem uma linguagem abusiva contra outros internautas. Entre eles estão dois neo-nazis (Tim Gionet, mais conhecido por “Baked Alaska”, e Andrew Anglin); um ex-conselheiro de Donald Trump; e Laura Loomer, uma nacionalista norte-americana que repetia mensagens contra os muçulmanos.

Os últimos tweets dos jornalistas suspensos no Twitter

Os nomes dos internautas afetados estão a ser avançados por Ben Collins, jornalista da NBC News, que tem estado no Twitter a reportar os casos de jornalistas que estão a ser banidos daquela mesma rede social e, em alguns casos, os últimos tweets publicados antes de as contas serem suspensas.

No caso de Drew Harwell, por exemplo, a última mensagem informava que o Twitter tinha suspendido a conta de um concorrente, a Mastadon, por ter publicado um link para “a sua própria versão da @ElonJet” — conta que também já tinha sido banida e que seguia a localização do avião privado de Elon Musk com base em “dados públicos e adquiridos legalmente que o Twitter decidiu que era contra as regras há dois dias“. “Estou a adorar a liberdade de expressão”, acrescentou ironicamente Drew Harwell.

O último tweet de Keith Olbermann era um desafio em três passos. O primeiro: “Toda a gente retweetar”, ou seja, republicar, “a captura de ecrã do tweet que aparentemente fez com que a conta da Drew Harwell, do The Washington Post, fosse suspensa.” Depois, “recriar o tweet palavra a palavra com o link“. E, por fim, “incluir o link para o artigo do Aaron Rupar que fez com que fosse permanentemente suspenso”.

Musk defendeu “liberdade de expressão”, mas agora baniu contas que seguem o seu avião

De acordo com o Gizmodo, algumas das pessoas banidas conseguiram ainda assim participar numa conversa no  Twitter Spaces, um espaço de conversas por áudio em direto na rede social. Matt Binder explicou que a conta esta em modo leitura, sem a hipótese de publicar conteúdos, de modo permanente; e que não consegue ver notificações e mensagens privadas.

A ele juntou-se também Jack Sweeney, o autor do mural @ElonJet, que Elon Musk baniu. Numa fase inicial, o multimilionário rejeitou a possibilidade de banir aquela conta: “O meu compromisso com a liberdade de expressão estende-se até mesmo a não banir a conta que segue o meu avião, mesmo que isso seja um risco direto à segurança pessoal”, afirmou em novembro.

Já esta semana, na quarta-feira, recuou na decisão, afirmando que um “perseguidor maluco” se tinha aproximado do carro onde o filho de dois anos viajava: “Na noite passada, o carro que transportava o Lil X em LA [Los Angeles] foi seguido por um perseguidor maluco (pensando que era eu), que mais tarde bloqueou o movimento do carro e subiu em cima do capô”: “Uma ação legal está a ser tomada contra a Sweeney e organizações que provocaram danos à minha família.” No entanto, não há registo de nenhuma queixa formal sobre o caso nas autoridades policiais.

“Qualquer conta que forneça informações de localização em tempo real de qualquer pessoa será suspensa, pois é uma violação de segurança física. Isso inclui postar links para sites com informações de localização em tempo real”, tweetou Elon Musk: “Publicar locais para os quais alguém viajou com um pouco de atraso não é um problema de segurança, por isso está tudo bem.”

Em resposta às críticas que lhe têm sido tecidas nos últimos dias, o multimilionário respondeu: “Podem criticar-me o dia todo, está tudo bem. Mas fazer doxxing à minha localização em tempo real e colocar a minha família em perigo não é“. E argumentou: “Se alguém publicasse as localizações e endereços em tempo real dos repórteres do The New York Times, o FBI estaria a investigar, haveria audiências no Capitólio e o Biden faria discursos sobre o fim da democracia”.