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A pandemia da Covid-19 deixou as praias vazias e a certeza de que o verão de 2020 vai ser diferente
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A pandemia da Covid-19 deixou as praias vazias e a certeza de que o verão de 2020 vai ser diferente

NurPhoto via Getty Images

A pandemia da Covid-19 deixou as praias vazias e a certeza de que o verão de 2020 vai ser diferente

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Em ano de pandemia, vamos poder ir de férias no verão?

Não se sabe quando Portugal vai aliviar as restrições e que medidas vão continuar em vigor no verão. Na praia, nos restaurantes e nas discotecas o risco não é igual. Afinal, como vão ser as férias?

Apesar de haver mais perguntas do que respostas sobre o novo coronavírus, a comunidade científica parece unânime num ponto: o problema da Covid-19 não ficará resolvido tão cedo. Mesmo depois de ultrapassado o pico — ou planalto, como prefere a diretora-geral da Saúde —, virá o inverno, com a possibilidade de um novo surto, que deverá ser vivido ainda sem acesso a uma vacina, já que todas as projeções a adiam para o próximo ano. Pelo meio, haverá o verão de 2020 — e muitos portugueses colocam já a pergunta: afinal, vamos ou não poder ter as férias de agosto?

Numa entrevista recente ao jornal alemão Bild, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, avisou os europeus para não começarem a pensar em férias. “Eu aconselharia toda a gente a esperar antes de fazer planos de férias. Neste momento, ninguém consegue fazer previsões confiáveis para julho e agosto”, disse a líder europeia. “Temos de nos manter disciplinados e pacientes. Vamos ter de aprender a viver com este vírus durante vários meses, provavelmente até ao próximo ano”, acrescentou.

Esta terça-feira, numa entrevista ao Observador, o primeiro-ministro, António Costa, optou por uma abordagem menos conservadora. “Não querendo correr o risco de ser otimista, eu diria: esperem mais umas semanas, mas não deixem de pensar nas férias de verão. Aliás, para a economia portuguesa seria um dano imenso se o próximo verão fosse um verão onde o turismo não tivesse condições de funcionamento mínimo. Quero crer que até ao verão a situação estará suficientemente controlada para podermos ter as férias e para as podermos gozar o melhor possível”, afirmou Costa.

António Costa. “Não deixem de planear as férias de verão… cá dentro”

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Contudo, o primeiro-ministro não deixou de fazer um apelo à cautela. “Para já, aos portugueses eu daria um conselho que é planeiem as férias cá dentro porque estamos sempre mais seguros cá dentro nesta fase e menos sujeitos à incerteza”, disse na mesma entrevista, durante a qual repetiu várias vezes que não é possível pôr em cima da mesa uma data para o regresso à normalidade — conceito sobre o qual também há mais dúvidas do que certezas.

Uma questão de datas: como estaremos em agosto?

Em duas palavras: não sabemos. Governo e autoridades de saúde têm sido relutantes em colocar datas em cima da mesa. O país está há um mês em estado de emergência, que tem de ser renovado a cada duas semanas. O segundo período do estado de emergência termina esta semana, sendo previsível a renovação por mais 15 dias, o que atira o período mais crítico das restrições para, pelo menos, o início de maio.

António Costa tem insistido que é cedo para dizer quanto tempo vão durar as restrições. Na entrevista que deu ao Observador esta semana, sublinhou que a classe política tem de ouvir os cientistas. “Os políticos devem é ter o cuidado de evitar que a sua vontade se sobreponha ao conhecimento da ciência, precipitando decisões que depois podem ter custos elevados”, acrescentou o primeiro-ministro, deixando uma certeza: “Vamos ter seguramente um país com múltiplas velocidades. De regiões diferentes, de setores de atividade diferentes, de pessoas com riscos diferentes”.

"Eu aconselharia toda a gente a esperar antes de fazer planos de férias. Neste momento, ninguém consegue fazer previsões confiáveis para julho e agosto"
Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia

Um dos setores para os quais há um calendário mais ou menos definido é o da educação. Os alunos do ensino básico e do 10.º ano já sabem que não voltam à escola este ano letivo, ficando apenas com aulas à distância apoiadas pela programação televisiva. Só os do 11.º e 12.º regressarão, exclusivamente para aulas das disciplinas para as quais terão de fazer exames de admissão ao ensino superior. Para esses, não há ainda uma data definida para o início das aulas, mas Costa tem uma ideia em mente. “Eu não tenho escondido que nós gostaríamos que as aulas presenciais do secundário pudessem começar o mais cedo possível a partir do dia 4 de maio”, disse ao Observador.

Certo é que, mesmo depois do fim do estado de emergência — e não sabemos ainda quantas vezes será renovado —, vão manter-se em vigor uma série de medidas restritivas da circulação e da atividade económica, tal como estavam, ao abrigo do estado de alerta, antes da declaração do estado de emergência. Que medidas, e a que ritmo poderão ser levantadas as restrições, só as autoridades de saúde poderão recomendar, tem assegurado o Governo. O controlo de fronteiras com Espanha, por exemplo, estará em vigor até pelo menos ao dia 14 de maio, como anunciou esta semana o Ministério da Administração Interna.

O famoso “pico”, entretanto convertido em “planalto”, tem sido apontado para diferentes momentos pelas autoridades de saúde. Já foi remetido para maio, já foi antecipado para o fim de abril — e até há quem estime que possa já ter passado. O que é certo é que, mesmo depois de ter sido ultrapassado o pico da pandemia, as medidas de restrição deverão manter-se em vigor durante algum tempo.

"Não querendo correr o risco de ser otimista, eu diria, esperem mais umas semanas, mas não deixem de pensar nas férias de verão. Para já, aos portugueses eu daria um conselho que é planeiem as férias cá dentro porque estamos sempre mais seguros cá dentro nesta fase e menos sujeitos à incerteza"
António Costa, primeiro-ministro

A esta incerteza deverá juntar-se outro fator: o medo de voltar à normalidade. Ninguém pode prever quanto tempo vai passar até nos voltarmos a sentir seguros dentro de um comboio ou autocarro cheio; até voltarmos a andar de avião e viajarmos para o estrangeiro; até aceitarmos entrar num bar ou discoteca, num teatro ou num cinema, num centro comercial ou num restaurante — sabendo que, enquanto não houver uma vacina, o risco de contágio se mantém.

A forma como os próximos tempos se desenrolarem em todos estes aspetos permitirá pintar com mais clareza um quadro de como será o agosto dos portugueses — com a certeza de que o impacto será diferente nas praias, nos restaurantes, nas discotecas e nas viagens.

O verão na praia pode abrandar o vírus?

Em grande medida devido a um senso comum construído por décadas de experiência a lidar com vírus dos mais variados tipos, a Humanidade tem colocado no verão a esperança de ver a pandemia da Covid-19 desacelerar. É certo que o comportamento de muitos vírus, como o da gripe, indica claramente que o tempo mais quente e mais seco é menos favorável para a disseminação da infeção. Porém, também neste aspeto, relativamente ao novo coronavírus o território é ainda de grande incerteza. Por um motivo muito simples: a comunidade científica nunca observou o comportamento deste vírus no verão.

Num estudo publicado em março, uma equipa de cientistas do MIT procurou perceber se o efeito do tempo quente no vírus da gripe se verifica também no novo coronavírus. Para isso, foram comparar a incidência da Covid-19 em países com diferentes condições climatéricas. Salientando que há grandes diferenças entre os critérios de testagem usados em países tropicais e os seguidos nos países com climas mais frios, os cientistas reconhecem que a temperatura pode ter um papel relevante no comportamento do vírus.

Em março, as autoridades tiveram de retirar banhistas da praia de Carcavelos, devido ao risco de contágio. A autarquia acabaria por interditar o acesso à praia

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

“O maior número de testes e a conectividade global dos países mais a norte e mais frios pode explicar a diferença no número de casos de 2019-nCoV confirmados entre as regiões mais frias e as regiões mais quentes e húmidas. Ainda assim, vários países entre as latitudes 30ºN e 30ºS, como a Austrália, os EAU, o Qatar, Singapura, o Barhain e Taiwan realizaram uma grande testagem per capita e o número de casos de 2019-nCoV positivos per capita é menor nestes países quando comparado com vários países europeus e com os EUA”, lê-se.

Apesar de a informação atualmente disponível ser enviesada pelo reduzido número de testes nos países tropicais, é possível que o clima tenha um papel na disseminação” do vírus, concluem os cientistas, acrescentando, contudo, que o facto de se estarem a registar milhares de casos novos em regiões com uma temperatura média superior a 18ºC sugere que “o papel de uma temperatura mais elevada na disseminação do 2019-nCov (…) pode ser observado apenas, se de todo, em temperaturas muito mais elevadas.”

Ao jornal norte-americano The New York Times, o investigador Qasim Bukhari, um dos autores do estudo, avisou que os países mais quentes não podem baixar a guarda. “As temperaturas mais quentes podem tornar o vírus menos eficaz, mas uma transmissão menos eficaz não significa que não haja transmissão”, disse o cientista.

Outros estudos recentes apontam na mesma direção. Na China, um grupo de investigadores concluiu que, no início da epidemia, o vírus se disseminou mais rapidamente em regiões chinesas mais frias do que nas regiões mais quentes e húmidas — associando essa conclusão ao conhecimento de dois aspetos relevantes do vírus da gripe: por um lado, o vírus é mais estável numa temperatura mais baixa, permitindo às gotículas manterem-se mais tempo no ar; por outro lado, o tempo mais frio enfraquece de modo genérico o sistema imunitário humano, tornando as pessoas mais suscetíveis a contrair o vírus.

Mais recentemente, um estudo levado a cabo pela Agência Estatal de Meteorologia de Espanha, numa parceria com o Instituto de Saúde Carlos III, instituto público espanhol para a investigação em saúde, chegou a uma conclusão semelhante. Segundo os cientistas espanhóis, que analisaram a propagação da Covid-19 em Espanha entre 26 de março e 5 de abril, as regiões menos afetadas pelo vírus foram as Canárias, a Andaluzia e as ilhas Baleares — precisamente aquelas que registam temperaturas médias superiores.

"Uma coisa que é natural é que os vírus não gostam da falta de humidade nem de sol. Independentemente da resistência deste vírus em concreto"
Mário Durval, diretor do departamento de Saúde Pública da Administração Regional de Saúde (ARS) de Lisboa e Vale do Tejo

Mas, no fim de contas, vamos ou não poder ir para a praia no verão? Mário Durval, diretor do departamento de Saúde Pública da Administração Regional de Saúde (ARS) de Lisboa e Vale do Tejo, é cauteloso na avaliação que faz desta pergunta e avisa, em conversa com o Observador, que tudo o que vai dizer “é ficção, porque ainda não temos experiência com este vírus no verão”.

“Uma coisa que é natural é que os vírus não gostam da falta de humidade nem de sol. Independentemente da resistência deste vírus em concreto”, explica Mário Durval, assinalando que as radiações ultravioleta são fatais para o vírus. “Na praia, apesar de haver muita água no mar, a quantidade de sol torna as superfícies secas e há poucas condições para qualquer vírus sobreviver”, acrescenta.

De acordo com este especialista, embora não se saiba como o vírus se vai comportar no verão, é possível prever que as gotículas e os aerossóis se evaporem mais rapidamente, o que dificulta a transmissão pela via aérea, e que as gotículas que se depositam nas superfícies sequem com grande velocidade, criando “menos condições de sobrevivência para o vírus”. “É natural que, no inverno, o vírus se dê melhor”, destaca.

Ao mesmo tempo, acrescenta Mário Durval, a praia — e os espaços ao ar livre, de modo genérico — é um local onde é possível manter uma distância segura entre pessoas. Por isso, na opinião deste especialista em saúde pública, “este tempo é favorável à existência de menos restrições”. “A haver restrições, poderão ser as que impliquem o uso permanente de máscaras em situações com muitas pessoas”, sugere o médico.

Cubículos transparentes para ir à praia? Não faltam ideias para o verão italiano

Em Itália, por exemplo, já há ideias concretas para permitir um acesso em segurança às praia durante o verão. Uma empresa da cidade de Modena desenhou cubículos transparentes, de acrílico, destinados a isolar espaços na areia para que os veraneantes possam usufruir da praia enquanto mantêm a distância social. Outra empresa criou separadores transparentes para as mesas dos restaurantes, que permitem aos clientes sentarem-se frente a frente sem se contaminarem.

Discotecas devem apostar no espaço exterior

“É natural que no verão se mantenham restrições nos espaços interiores, mas ao ar livre as condições serão favoráveis a que haja menos restrições”, resume Mário Durval. “É evidente que, dentro de uma discoteca, a situação é diferente. Tendo em conta a proximidade e a quantidade de pessoas, é possível haver aí transmissão de gotículas. Aí, há algumas medidas que podem ser tomadas”, esclarece o médico.

As discotecas e outros espaços de diversão noturna, onde habitualmente se movimentam grandes quantidades de pessoas muito próximas umas das outras, foram dos primeiros estabelecimentos a encerrar — ainda antes da declaração do estado de emergência. A 13 de março, uma sexta-feira, António Costa anunciou o encerramento das discotecas e similares a partir da segunda-feira seguinte, bem como a redução da lotação dos cafés e restaurantes para um terço da habitual. Muitos estabelecimentos optaram por não esperar até à segunda-feira seguinte e adotaram as medidas logo naquele fim-de-semana.

Marina de Vilamoura completamente vazia depois do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ter declarado ontem o estado de emergência devido á pandemia de Covid-19, Vilamoura, 19 de março de 2020. A Direção-Geral da Saúde (DGS) elevou hoje o número de casos confirmados de infeção para 785, mais 143 do que na quarta-feira. O número de mortos no país subiu para três. LUÍS FORRA/LUSA

A marina de Vilamoura, no Algarve, completamente vazia após a declaração do estado de emergência em Portugal

LUÍS FORRA/LUSA

Há mais de um mês encerrados, bares e discotecas — sobretudo em regiões como o Algarve — dependem da faturação que fazem nos meses de verão para assegurar a sobrevivência financeira das empresas. Por esta altura, porém, o momento de reabrir portas ainda está longe de surgir no horizonte e o setor prepara-se para enfrentar um verão diferente. Mesmo que alguns espaços possam abrir no verão, estarão sob vigilância apertada.

Os responsáveis dos espaços de diversão olham com apreensão para o futuro próximo e colocam todos os planos em cima da mesa, como explica ao Observador Nuno Santana, fundador da NIU e responsável de espaços de diversão noturna em Lisboa e no Algarve. “As pessoas estão sedentas de andar na rua e de se divertirem e por isso vão-se libertar, vão querer ir para o exterior. Mas tudo depende das medidas de restrição que estiverem em vigor no verão”, diz.

Na ótica do empresário, o verão de 2020 vai obrigar os restaurantes, bares e discotecas a repensar a forma como oferecem contextos de divertimento aos clientes. Em primeiro lugar, será dada primazia aos eventos ao ar livre e ao aproveitamento dos espaços exteriores de restaurantes e discotecas. “As pessoas estão fartas de estar fechadas em casa e vão privilegiar o exterior. Não posso falar com base científica para dizer se há mais ou menos risco de contágio, mas tem uma base emocional: as pessoas, no exterior, sentem que estão a respirar ar puro, sentem-se mais seguras. Vão ter mais hipóteses de sobreviver os estabelecimentos que tiverem e aproveitarem o exterior.”

Nuno Santana diz que, com a vacina remetida para o próximo ano, o possível desenvolvimento de um medicamento antiviral específico para este coronavírus a tempo do verão terá um impacto decisivo na forma como os portugueses se vão divertir durante o mês de agosto.

São tantas variáveis. De há um mês para cá a minha cabeça não tem parado. No nosso espaço em Lisboa [no parque Eduardo VII], estamos a desenhar um projeto que pode passar por abrir mais a parte exterior. Mas tudo depende de se abrimos em junho ou se só abrimos em outubro. Se abrirmos em junho, se calhar já não abrimos Lisboa e abrimos só o Algarve”, explica, acrescentando ter neste momento 200 funcionários em lay-off.

O empresário ilustra ainda algumas mudanças que podem desde já perspetivar-se nos espaços de diversão noturna, caso estes tenham possibilidade de abrir, ainda que com restrições, durante o verão. Em primeiro lugar, é quase certo que a lotação dos espaços terá de ser reduzida para garantir mais espaço entre os clientes. E isso, garante Nuno Santana, “vai ser um enorme desafio para os próprios empresários, que já estão muito afetados e podem sentir a tentação de não respeitar as normas e aumentar o número de clientes”.

"Vamos ter de passar segurança às pessoas. O objetivo é eu conseguir garantir às pessoas que dentro daquele espaço não há ninguém com o vírus ativo"
Nuno Santana, empresário e responsável por espaços de diversão noturna em Lisboa e no Algarve

O objetivo primordial dos responsáveis dos bares e discotecas será, a partir de agora, a ideia de segurança. “Vamos ter de passar segurança às pessoas. O objetivo é eu conseguir garantir às pessoas que dentro daquele espaço não há ninguém com o vírus ativo”, sublinha Nuno Santana. Para o garantir, o setor pode ter benefícios significativos se houver a possibilidade de desenvolver testes rápidos. Nos EUA, farmacêutica Abbott diz ter já desenvolvido um teste que garante resultados em cinco minutos — que já tem autorização para uso em território norte-americano. O teste está, porém, ainda na fase inicial do desenvolvimento e não se sabe ainda quando será possível a utilização em larga escala deste tipo de exames.

Para o empresário, a possibilidade de testar rapidamente os clientes antes da entrada num espaço de diversão seria transformadora para o setor num momento como o atual. Porém, Nuno Santana reconhece as limitações éticas e em termos de privacidade de algumas medidas que seriam importantes para os espaços de diversão. Por exemplo, a necessidade de apresentação do passaporte imunológico, caso venha a ser atribuído pelas autoridades de saúde portuguesas aos cidadãos que forem testados e forem comprovadamente imunes ao vírus. “Essas pessoas ficam com um passaporte para a liberdade”, destaca.

Dentro dos bares e discotecas, também é muito provável que os consumos sofram alterações significativas. Cocktails e bebidas que sofram muita manipulação por parte dos funcionários vão ter uma queda nas vendas, antevê Nuno Santana, afirmando que “provavelmente o vinho e a cerveja vão ser escolhas mais óbvias”.

Setor do turismo preocupado com sobrevivência

Ao contrário de outros anos, no verão algarvio de 2020 vai falar-se sobretudo português. Com as fronteiras fechadas em muitos países e as companhias aéreas paradas — a TAP tem praticamente toda a frota parada, pelo menos, até ao dia 11 de maio, sendo ainda imprevisíveis os moldes em que o plano de contingência será renovado —, os profissionais do setor do turismo estão a preparar-se para que os portugueses sigam o conselho do primeiro-ministro e passem as férias de verão dentro do país.

A TAP tem praticamente toda a sua frota parada nos aeroportos nacionais

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Responsáveis ouvidos esta semana pela Rádio Observador mostram-se preocupados com o verão de 2020, mas confiantes na capacidade de o turismo português — e, eventualmente, algum turismo espanhol — assegurar a sobrevivência do setor até ao próximo ano.

“Aquilo que tem sido referido, não só em Portugal, mas nos outros países europeus, é que à partida no verão haverá uma retoma do chamado mercado interno alargado”, considera o presidente do Turismo do Algarve, João Fernandes. “Ou seja, havendo condições de saúde para que a oferta esteja disponível, e havendo progressivamente uma quebra das barreiras intracomunitárias, o que é expectável é que a procura se centre no mercado interno, em turistas nacionais, e em turistas de fronteira. No nosso caso, Andaluzia e Extremadura, e eventualmente Galiza, não tanto pela fronteira, mas pela afinidade, que é muito semelhante aos nossos compatriotas do Norte, de migrarem a sul. Essa é a nossa expectativa, que o grosso do mercado se centre nestes mercados.”

Naturalmente, o Algarve quer o regresso, tão rapidamente quanto possível, dos turistas estrangeiros. “É também nossa vontade que, tão cedo quanto possível, possamos retomar ligações aos nossos principais mercados emissores externos. O caso do Reino Unido, da Irlanda, da Holanda, da Alemanha, da França. Tudo isto depende, obviamente, de um conjunto muito vasto de fatores, a maioria dos quais externo. Como disse, e repito, o principal é que as nossas apostas sejam até aqui apostas reconhecidas por todos”, acrescenta João Fernandes

Mas o setor não tem ilusões e sabe que o verão de 2020 não vai ser fácil — e o setor já se está a ressentir. Só na região algarvia há 1.825 empresas turísticas em lay-off e praticamente toda a oferta turística está encerrada. “Na prática, vamos ter três épocas baixas. A época baixa que passou, o verão que não vai ter a expressão que teve nos últimos anos, e também o último trimestre, que é também uma época baixa. A retoma da atividade com regularidade, até por uma questão de reposição das ligações aéreas, é esperada a partir da próxima Páscoa”, diz o responsável.

"O que é expectável é que a procura se centre no mercado interno, em turistas nacionais, e em turistas de fronteira"
João Fernandes, presidente do Turismo do Algarve

Nos próximos tempos, o comportamento dos turistas também deverá mudar. Mesmo ultrapassadas as medidas de restrição, vai demorar até que a confiança nas viagens longas seja recuperada. “Vamos ter cidadãos mais preocupados com a perceção de segurança e de saúde. E percebemos que estes cidadãos vão viajar, ao contrário do que seria expectável há meio ano, para deslocações mais curtas e para destinos com menos massificação”, diz o presidente do Turismo do Centro de Portugal, Pedro Machado.

Para o presidente da Confederação do Turismo de Portugal, Francisco Calheiros, uma das maiores prioridades é garantir que o setor sobrevive e assegura a capacidade para servir os turistas quando a crise passar.

“Pensarmos que não vamos ter praticamente verão este ano é impensável, e esperemos que isso não aconteça. Tendo sido o turismo o grande motor da economia, se pensarmos que não vamos ter turismo no verão, vai ser muito difícil a maior parte das empresas poderem aguentar. Se não temos a oferta instalada para satisfazer a procura quando acabar esta pandemia, então aí não teremos nunca solução para o turismo”, sustenta.

“O que nós sabemos é que o mês de janeiro e fevereiro foram dois ótimos meses de vendas para turismo. O mês de março foi um mês com quebras de cerca de 50%. O mês de abril e maio vão ser meses em que 90% das nossas empresas irão ter vendas de praticamente zero”, afirma Francisco Calheiros. Daí para a frente, reina a incerteza no setor. “Ninguém tem neste momento a bola de cristal para adivinhar o que vai acontecer.”

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