“Ouvi dizer que o Zelensky vinha e quis vir vê-lo.” Natália Pinto era uma das centenas de pessoas que se reuniram esta quinta-feira em frente às caves Sandeman, na ribeira de Vila Nova de Gaia, onde iam jantar treze Chefes de Estado da União Europeia (UE). No entanto, as expectativas que a mulher de 55 anos partilhou com o Observador acabaram por sair goradas: o Presidente ucraniano não esteve, nem vai estar, na 18.ª reunião do grupo de Arraiolos.
O dia ficou marcado por uma série de acontecimentos que faziam crer que chegada de Volodymyr Zelensky ao Porto estaria iminente. O Presidente ucraniano esteve presente na terceira cimeira da Comunidade Política Europeia, numa visita quase sem aviso prévio, em Granada, na vizinha Espanha — o que seria uma deslocação relativamente curta até Portugal. Além disso, no final da semana passada, a SIC noticiou que o Chefe de Estado estaria a preparar uma visita a Portugal neste fim-de-semana, mas a Presidência da República negou essa informação.
A meio da tarde desta quinta-feira, fontes tanto da presidência portuguese como ucraniana já avançavam ao Observador que, ao contrário do que muitos antecipavam, Zelensky não pisaria solo nacional nos próximos dias. “De acordo com a informação disponível neste momento”, quando estão em curso conversações para definir uma data para a visita, o Presidente ucraniano “não virá esta semana” a Portugal, confirmou uma fonte do gabinete de Zelensky. Informação semelhante à avançada por uma fonte de Belém: “Não está prevista a visita nem hoje nem amanhã”, referia ao Observador.
À chegada a Vila Nova de Gaia, o Presidente da República confirmou oficialmente aos jornalistas que Volodymyr Zelensky não estaria presente nesta reunião do grupo de Arraiolos. “Estamos só a falar para ele vir numa visita bilateral a Portugal, mas não será desta vez”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, justificando que o Chefe de Estado ucraniano tem de “regressar à Ucrânia” esta sexta-feira, estando poucas horas na visita a Espanha.
“Preferiu organizar-se uma visita bilateral”, detalhou Marcelo Rebelo de Sousa, que não adiantou, contudo, em que a data é que o seu homólogo ucraniano pisará solo português. Certo é que, mesmo sem a presença de Volodymyr Zelensky, a Ucrânia será um tema que vai dominar a reunião desta sexta-feira do grupo de Arraiolos, numa conjuntura internacional incerta e que pode, segundo o Presidente da República, estar sujeita a várias alterações nos próximos tempos — como as eleições nos Estados Unidos, em vários países europeus ou para o Parlamento Europeu.
A multidão e a chegada dos líderes
Juntando vários Chefes de Estado de repúblicas parlamentares ou semipresidencialistas (não integrando líderes de regimes presidenciais, como o francês, ou de monarquias constitucionais, como o espanhol ou o dinamarquês), esta reunião do grupo de Arraiolos conta com a presença de 16 Presidentes. No jantar que antecede à reunião desta sexta-feira, estiveram presentes 14 — apenas faltaram o alemão, Frank-Walter Steinmeier, e o romeno, Klaus Iohannis.
Os restantes 13 Presidentes — de países como Itália ou a Polónia — foram recebidos por Marcelo Rebelo de Sousa, que foi o primeiro a chegar a Vila Nova de Gaia. Em frente das caves de vinho do Porto, e tendo o Cais da Ribeira e a ponte D. Luís I como pano de fundo, não faltavam pessoas, entre estrangeiros e nacionais, a ver todo o aparato, que incluía desde câmaras de televisão a um apertado perímetro de segurança.
Porém, ao contrário de Natália Pinto, nem todos relacionaram aquele aparato à reunião do grupo de Arraiolos. Ao Observador, Rui Nunes, que estava na multidão atrás de umas grades de segurança junto ao rio Douro, confessa que pensava que era algum “evento relacionado com as celebrações do 5 de outubro”. “Pensei que o Marcelo viesse cá discursar”, conta o homem de 33 anos.
Por sua vez, Graça Ramos, de 79 anos, só ficou curiosa com toda a movimentação. “Eu moro aqui perto, estava a passar para ir para casa e vi toda esta gente. Pensei que fosse alguma importante, como se viesse cá alguém muito importante”, diz, ao Observador, entre risos. “Mas vem cá o Marcelo, já é muito bom.”
Às 19h48, quando chegou às caves Sandeman, o Presidente da República foi aplaudido. Da plateia, até se gritou: “Marcelo, vem ter connosco”. Mas também, entre os olhares curiosos e alguns confusos, se pensava que o protagonista era outro, nomeadamente Cristiano Ronaldo. “É o Ronaldo que vem cá”, ouviu-se entre a multidão.
O Chefe de Estado falou brevemente com os jornalistas, recebeu os Presidentes de 13 países — cumprimentou primeiro o Presidente italiano, Sergio Mattarella — e depois entrou nas caves do vinho do Porto, em que as conversas serão privadas. Uns minutos depois de todo o aparato, quase toda a multidão que estava ali — uns para verem Volodymyr Zelensky, outros para Marcelo e alguns que nem sabiam bem porquê — acabou por se desmobilizar.