910kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

Plenary session of the European Parliament
i

Christine Lagarde, ex-diretora-geral do FMI, sucedeu a Mario Draghi na liderança do BCE.

dpa/picture alliance via Getty I

Christine Lagarde, ex-diretora-geral do FMI, sucedeu a Mario Draghi na liderança do BCE.

dpa/picture alliance via Getty I

FMI alerta: Taxas de juro podem ter de subir mais (e mais rapidamente) que o previsto

Bancos centrais têm um "equilíbrio delicado" para gerir, entre controlar a inflação e não estrangular a retoma. Nesse processo, as taxas de juro podem subir mais do que os mercados estão a prever.

Os mercados financeiros já estão a antecipar uma subida das taxas de juro, mas esse movimento poderá ser ainda mais rápido e mais profundo do que se está a prever. O alerta é do FMI, que afirma que os bancos centrais têm um “equilíbrio delicado” para gerir, entre controlar a inflação e evitar estrangular a retoma económica, que está a ser muito penalizada pela invasão pela Rússia da Ucrânia. Essas são geografias às quais o sistema financeiro ocidental tem pouca exposição direta, porém, avisa o FMI, “a exposição indireta é mais difícil de calcular“.

Na mais recente edição do Relatório de Estabilidade Financeira Global, divulgado esta terça-feira, o Fundo Monetário Internacional (FMI) enumera um grande número de riscos para essa mesma estabilidade financeira – riscos que, além da inflação e da guerra na Ucrânia, incluem também a nova vaga de Covid-19 na China, os problemas nas cadeias de abastecimento globais e o perigo de ciberataques.

“O equilíbrio de riscos para o crescimento passou a pender, ainda mais firmemente, para o lado negativo“, avisa o FMI. Na prática, esta é uma formulação usada para indicar que é maior a probabilidade de a evolução económica surpreender pela negativa do que pela positiva. A “mudança rápida nas perspetivas de aperto da política monetária” e a “invasão da Ucrânia pela Rússia” são fatores que “vão pesar de forma significativa na recuperação económica”, enublando o horizonte com um grau de incerteza bem maior, afirma o organismo sediado em Washington, DC, nos EUA.

FMI corta projeção de crescimento de Portugal. PIB deve subir 4% este ano

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

As economias globais estão a enfrentar um “aumento acentuado” dos preços das matérias-primas, que existem em simultâneo com “disrupções nas cadeias de fornecimento que estão a ser mais prolongadas do que o previsto”, diz o FMI. Esses dois fatores “exacerbaram pressões inflacionistas” que, sublinha o FMI, já vinham de trás – e surgiram “exatamente numa altura em que o mundo tenta controlar a pandemia, lentamente, e a economia mundial recupera [do impacto negativo] da Covid-19”.

epa09209966 International Monetary Fund (IMF) Managing Director Kristalina Georgieva speaks during a joint press conference at the end of the Summit on the Financing of African Economies in Paris, France, 18 May 2021.  EPA/LUDOVIC MARIN / POOL

Guerra na Ucrânia? Pressões inflacionistas já vinham de trás, sublinha o FMI, liderado por Kristalina Georgieva (na foto).

LUDOVIC MARIN / POOL/EPA

“Para gerir o equilíbrio delicado entre conter a inflação e apoiar a recuperação da pandemia, as taxas de juro poderão ter de subir mais do que aquilo que está, neste momento, a ser descontado pelos mercados financeiros – isto para conseguir voltar a aproximar as taxas de inflação em tempo útil“, avisa o FMI. “Os dados que vão chegando, sobre a inflação, levam a crer que é necessário, em muitos países, um aperto mais intenso da política monetária“, acrescenta o relatório.

E até que níveis podem subir as taxas de juro? Recorrendo à ideia de um ponto neutral no habitual binómio de políticas monetárias acomodatícias (ou expansionistas) versus políticas restritivas, o FMI avisa que “para muitos países“, as taxas de juro podem atingir “níveis que estão para lá do que se poderia considerar um nível neutral“, ou seja, para esses países a política monetária pode mesmo passar a tornar-se restritiva.

FMI avisa para risco de “forte declínio nos preços dos ativos”

Embora seja difícil prever com exatidão o que os próximos tempos irão trazer, o FMI considera ser uma certeza que “a resiliência do sistema financeiro global vai enfrentar um teste“. E, sobretudo se os piores cenários na guerra se confirmarem, pode ser abrupto o choque nos mercados financeiros e, de um modo geral, nos valores dos ativos mobiliários ou imobiliários, avisa o FMI.

Uma eventual “intensificação” da guerra poderá levar a uma “súbita reavaliação dos prémios de risco” que irá colocar em evidência algumas “vulnerabilidades acumuladas durante a pandemia“. E a consequência disso será, alerta o FMI, “um forte declínio nos preços dos ativos“.

“Ainda que, até ao momento, o sistema financeiro se tenha demonstrado resistente aos choques mais recentes, os choques futuros podem ser mais danosos”, receia o FMI, aludindo a riscos como possíveis ciberataques, disrupções nos mercados de matérias-primas e perdas relacionadas com exposições (diretas ou indiretas) de bancos ou outros intermediários financeiros.

Pela maior proximidade e dependência da energia russa, “a Europa está em posição de maior risco“, acrescenta o relatório. Ainda assim, no setor financeiro, o FMI salienta que “a exposição direta à Rússia é relativamente pequena, com exceção de alguns bancos europeus não sistémicos”.

Essa visão é suportada nos já noticiados dados do Banco de Pagamentos Internacionais (mais conhecido pela sigla anglo-saxónica BIS), que antes da guerra davam conta de uma exposição do sistema financeiro português à Rússia equivalente a 149 milhões de dólares (ou 132 milhões de euros).

Banca nacional tem 132 milhões de euros na Rússia

O problema, alerta o FMI, pode estar nas exposições indiretas, que são “mais difíceis de identificar e calcular, porque não são tão bem conhecidas (especialmente o seu grau de interconexão)”. Aí, “o risco é que as exposições indiretas possam revelar-se significativas e, uma vez conhecidas, apanhar os investidores de surpresa“, o que levaria a um aumento súbito dos chamados “riscos de contraparte” e dos prémios de risco nos mercados financeiros, de um modo geral.

Quanto "risco russo" está nas carteiras de investimento?

Mostrar Esconder

O FMI assinala que a exposição direta dos bancos europeus à Rússia é relativamente pequena, com exceção de alguns bancos europeus não sistémicos. Mas outra possível fonte de preocupação é aquilo que está nas carteiras dos chamados intermediários financeiros não-bancários, onde se podem incluir os fundos de investimento e gestoras de ativos, entre outros.

Sendo a Rússia considerada um “mercado emergente”, são os fundos especializados nesses mercados que terão maiores volumes de investimento no país. Porém, como aponta o FMI, “os fundos especializados em mercados emergentes têm tido uma atitude mais cautelosa em relação a ativos russos desde a ocupação da Crimeia, em 2014”. A exposição desses fundos à dívida russa, por exemplo, terá baixado de mais de 10% para cerca de 4%.

Isso significa que, embora a exposição desses fundos à Rússia seja “significativa”, na proporção dos seus ativos totais é relativamente “pequena”, diz o FMI.

Além da Rússia e da Ucrânia, o que parece estar a preocupar o FMI é a China, onde a nova vaga de Covid-19 (e as medidas de contenção que estão a ser tomadas para a tentar conter) “está a levar a receios de um abrandamento económico, com potenciais efeitos de contágio para outros mercados emergentes”. O que também não ajuda, acrescenta o FMI, é o “stress continuado no conturbado setor imobiliário“, incluindo os problemas que afligem a gigante Evergrande, bem como muitas outras empresas chinesas do mesmo setor.

Regulação dos “criptoativos” tem de ser reforçada

O relatório sobre estabilidade financeira global também dedica um capítulo aos riscos associados às chamadas criptomoedas – entre as quais a bitcoin é a mais conhecida – pedindo um reforço da regulação das atividades “arriscadas” como as levadas a cabo por empresas fintech que, por vezes, operam em contextos de “regulação menos apertada”.

Este alerta do FMI também tem uma ligação ao tema principal deste relatório – a guerra na Ucrânia. “Os volumes de transações de criptoativos, com algumas moedas de mercados emergentes, dispararam após a introdução de sanções económicas contra a Rússia, bem como a aplicação de controlos de capitais na Rússia e na Ucrânia”, nota o FMI.

Ucrânia quer sanções para criptomoedas, aliados admitem avançar. Qual a importância das moedas digitais?

Este é um caso que ilustra bem os “desafios de aplicar medidas de fluxos de capitais e sanções” num contexto em que existem cada vez mais transações transfronteiriças de valores. O alerta do FMI é que “o uso cada vez mais generalizado de criptoativos, em mercados emergentes, é algo que pode prejudicar os objetivos das autoridades políticas”.

E como é que devem reagir as autoridades políticas? O organismo sediado em Washington DC recomenda que se desenvolvam “padrões abrangentes e de alcance global” na área dos criptoativos (o FMI nunca refere a expressão criptomoedas, apenas criptoativos).

“É necessária uma supervisão mais robusta das empresas fintech e das plataformas de finança descentralizada [as DeFi, como são conhecidas”, defende o FMI, para que se possa “aproveitar os benefícios” associados a esse tipo de inovação, “mitigando os riscos associados”.

O organismo conclui que “ainda que a inovação tecnológica nas atividades financeiras (protagonizada pelas fintech) possa ser um fator que induz um crescimento inclusivo, ao fomentar a concorrência, o desenvolvimento financeiro e a inclusão, o rápido crescimento de segmentos de negócio mais arriscados pode ser um motivo de preocupação” na ótica da estabilidade financeira, sobretudo quando se fala de “empresas fintech que operam sujeitas a regulação menos apertada”.

Combate às alterações climáticas está “em risco”, diz FMI

A guerra na Ucrânia tornou ainda mais evidente a “urgência” em diminuir a dependência de fontes energéticas provenientes de combustíveis fósseis e “acelerar” a transição para as energias renováveis, acrescenta o FMI. “Porém, perante receios crescentes relativamente à segurança energética, a estratégia de transição poderá enfrentar dificuldades nos próximos tempos“, receia o organismo liderado por Kristalina Georgieva.

Na sequência da guerra na Ucrânia, mesmo sem se saber como e quando vai terminar, o FMI salienta que “a geopolítica da segurança energética poderá colocar a transição climática em risco“.

Europa tem soluções para trocar gás russo por GNL, mas fica mais caro e é pior para o ambiente

A recomendação do FMI, nesta matéria, é que “ao mesmo tempo que tomam medidas para atenuar os receios sobre segurança energética, as autoridades devem intensificar os seus esforços para executar as metas acordadas na COP26 e a estratégia aí decidida para cumprir os objetivos de emissões carbónicas (líquidas) nulas”.

Mais concretamente, os governos devem “tomar medidas para aumentar o grau de acesso a alternativas aos combustíveis fósseis, baixando os custos” associados a essas alternativas. Em simultâneo, há que “melhorar a eficiência energética” e estimular os financiamentos privados que ajudem na transição para uma economia mais “verde”.

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça até artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.