O FMI cortou as projeções de crescimento mundial e Portugal foi arrastado na revisão. No World Economic Outlook (WEO) com as novas projeções económicas, o FMI revê em baixa esse crescimento para o país, mesmo tendo 2021 ficado acima do que o organismo estimava.

Uma projeção mais pessimista do que a do Governo, do Banco de Portugal e do Conselho das Finanças Públicas. Governo e Banco de Portugal vão apontando para uma evolução do PIB de 4,9% em 2022 e o organismo liderado por Nazaré Costa Cabral para 4,8%. O FMI estima agora um crescimento do PIB de Portugal de 4%, face à anterior projeção de 5,1%, ou seja, o organismo está a prever que a guerra tenho um impacto superior a um ponto percentual na economia nacional, face à projeção anterior.

E este corte acontece mesmo depois de 2021 ter ficado acima do que o FMI antecipada. Nas estimativas do INE, Portugal cresceu 4,9% em 2021, quando o organismo esperava uma evolução de 4,4%.

O ministro das Finanças, Fernando Medina, na apresentação da proposta do Orçamento do Estado para 2022, mantinha-se confiante de que Portugal conseguirá crescer 4,9% (ainda assim este valor representou uma revisão em baixa por parte do Governo do crescimento para este ano), até pelo efeito arrastamento que resulta de um desempenho melhor do que o esperado em 2021.

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Nas projeções atualizadas, o FMI estima agora que os preços ao consumidor subam 4% este ano, em linha com as projeções atualizadas do Governo e do Banco de Portugal. Mas também vê um fator temporário, já que a projeção de inflação desce para 1,5% em 2023.

Há uma escalada de preços, há uma guerra, haverá menor crescimento, mas Medina defende Orçamento de proteção

Para 2023, o FMI corta também as suas projeções, antecipando agora um crescimento em Portugal de 2,1% contra os 2,5% anteriores.

Estas revisões em baixa acontecem em Portugal, mas também para todo o mundo. O FMI projeta um abrandamento do crescimento económico mundial de 6,1% em 2021 para 3,6% em 2022 e 2023, o que significa uma revisão em baixa em 0,8 e 0,2 pontos respetivamente face às projeções de janeiro.

Num horizonte além de 2023, o crescimento global deve cair para cerca de 3,3% no médio prazo. Mas estas projeções pressupõe, adverte o FMI, que o conflito armado fica confinado à Ucrânia, que as sanções à Rússia deixam de fora o setor de energia (embora esteja considerada a decisão de alguns países europeis de diminuírem a sua dependência à energia russa) e que os impactos na saúde e económicos relacionados com a pandemia de Covid-19 diminuem ao longo de 2022.

Para a zona euro as projeções apontam agora para um crescimento de 2,8% este ano, com o motor económico, a Alemanha, a abrandar para 2,1%. O que compara com os anteriores crescimentos de 4,3% e 4,6% respetivamente. Rússia e Ucrânia vão sofrer significativamente com esta guerra, esperando o FMI uma contração de 8,5% e 35% em cada um dos países respetivamente. Noutras regiões, o FMI espera uma subida de 4,9% no PIB na Ásia, com a China a ficar nos 4,4%; e a América do Norte nos 3,6%, com os Estados Unidos a crescerem 3,7%. Na América do Sul o crescimento ficará nos 2,3%, com o Brasil a ser dos que menos cresce — o PIB deverá crescer 0,8%.

Fonte: FMI

O FMI não tem dúvidas de que “além dos impactos humanitários imediatos, a guerra vai determinar um recuo na recuperação económica a nível global, abrandando o crescimento e aumentando ainda mais a inflação. Esta deverá atingir, nas projeções do FMI, 5,3% na zona euro, mas atinge os 12,6% na Europa como um todo. “A inflação vai permanecer a um nível elevado por mais tempo do que a anterior projeção, devido às subidas de preços das matérias-primas em resultado da guerra e pressões inflacionistas mais abrangentes”, pelo que o FMI aponta para que em 2022 a inflação atinja os 5,7% nas economias avançadas e 8,7% nas economias emergentes e em desenvolvimento, uma subida de 1,8 e 2,8 pontos percentuais face à projeção de janeiro, respetivamente. Aliás, o FMI antecipa que os preços de energia sejam mais severamente afetados em 2022, mas vai esperando que esta subida na alimentação entre por 2023, até por causa do desfasamento das colheitas de 2022. Assim, a inflação em 2023 deve, nas contas do FMI, ficar nos 2,5% nas economias avançadas e em 6,5% nos mercados emergentes e em desenvolvimento.

“Os efeitos económicos da guerra estão a espalhar-se por toda parte – como ondas sísmicas que emanam do epicentro de um terramoto – principalmente através das commodities, comércio e sistema financeiro”, destaca o FMI nas projeções agora apresentadas. A Rússia é um dos principais fornecedores de petróleo, gás e metais e, conjuntamente com a Ucrânia, de trigo e milho. A atual e a antecipada queda no fornecimento destes produtos já conduziram a uma subida nos preços. Europa, Cáucaso e Ásia Central, Médio Oriente, Norte de África e África subsariana serão os mais afetados. A subida dos preços da energia e a da alimentação “afetarão globalmente os lares de mais baixos rendimentos”, acrescenta o FMI.

O FMI alerta ainda para o facto de os níveis de endividamento globais terem aumentado e a expectativa de retirada em 2022 e 2023 dos apoios orçamentais que foram implementados no âmbito da pandemia. Por isso, “a guerra e a iminente subida das taxas de juro a nível global vão reduzir o espaço orçamental  em muitos países”.

E adverte para o facto dos riscos nas projeções serem todos no sentido negativo, ainda que uma resolução da guerra mais rápida contribuísse para aumentar a confiança, aliviar a pressão sobre as matérias-primas e reduzir os estrangulamentos na cadeia de abastecimento. No entanto, “o mais provável é que o crescimento ainda abrande mais e a inflação fique mais elevada do que o esperado”. Os riscos, acrescenta o FMI, são “elevados e amplamente comparáveis à situação que se viveu no início da pandemia – uma combinação sem precedentes de fatores que moldam o outlook, com elementos individualmente a interagirem de forma a que se torna difícil prever o futuro.

O FMI destaca pois alguns dos riscos que tornam difícil essa projeção trazidos pelo eventual escalar da guerra, pelo aumento das tensões sociais, pelo ressurgimento da pandemia; pelo abrandamento maior do que o esperado da China; pelo aumento das inflação acima do esperado no médio prazo; pela subida maior do que antecipada das taxas de juro; pela maior deterioração do ambiente geopolítico; e pela emergência climática.

O FMI estima, por outro lado, que o défice nacional fique nos 2,4%, bem menos otimista que os 1,9% apontados pelo Governo.

(notícia atualizada com estimativa do défice)