“Velocidade, latência e capacidade”, os milagres do 5G foram resumidos assim por DJ Koh, presidente executivo na Samsung para mobile e são as palavras utilizadas transversalmente por quem está ligado ao setor das telecomunicações para falar dos “milagres” que a próxima infraestrutura de redes móveis pode trazer. Para tirarmos as dúvidas, experimentámos durante três dias o Samsung Galaxy S10 5G, o primeiro smartphone a chegar ao mercado, em Seoul, na Coreia do Sul, o primeiro país do mundo a lançar esta novidade. Estivemos quase sempre ligados a esta rede do futuro para downloads, videochamadas, uploads e vídeos em stream, mas não foi sempre tão perfeito quanto esperávamos.

Polémicas, riscos e conflitos diplomáticos: o 5G explicado nas 8 grandes dúvidas que levanta

A premissa do 5G — a frase inicial, “velocidade, latência e capacidade” — é permitir que, com recurso às novas antenas que as operadoras e Estados vão ter de implementar nos países, os equipamentos acedam aos dados móveis com maior rapidez, recebam mais informação de uma só vez e as antenas consigam ter mais aparelhos conectados ao mesmo tempo. Na Coreia do Sul, com o telemóvel na mão, abrimos a embalagem, configurámos a conta do sistema Android — tudo através de dados móveis — e ficámos conectados no smartphone e até noutros dois para o qual este serviu muitas vezes de hotspot (utilizar o telemóvel como antena Wi-Fi para outros equipamentos terem internet).

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A melhor velocidade que conseguimos com 5G (ao pé da bateria é possível ver o símbolo pequenino que surge com esta nova rede)

Com as redes 5G em grande parte das cidades da Coreia do Sul, a Samsung já vendeu, desde abril, mais de um milhão de equipamentos — este que utilizámos para testar a rede. Convém referir que é, de momento, o smartphone topo de gama da marca (é melhor até do que o Galaxy S10+ que está disponível em Portugal). Isto significa que, além de poder aceder a redes 5G, também tem um processador de topo, um ecrã maior e muita, mas muita mesmo, memória RAM (12Gb) e um preço a condizer (cerca de 1.200 euros). Ou seja, qualquer teste que fizéssemos com este equipamento já sabíamos que os resultados iam ser sempre melhores do que aquilo a que estamos habituados. Mesmo assim, três dias foram suficientes para tirar as teimas.

As vantagens de utilizar 5G: a rede é mais rápi… Já está

É inegável, o 5G é muito mais rápido. No centro de Seoul e locais em redor, por norma, estivemos quase sempre ligados a esta infraestrutura de rede. Para o grupo de jornalistas de tecnologia europeus que pôde experimentar este equipamento, a ação mais comum foi fazer speedtests (utilizar um serviço online como o Fast ou Speedtest da Ookla para testar a velocidade de internet). “Consegui 900 megabits por segundo de velocidade de download“, ouviu-se um jornalista a dizer. “Eu consegui 1,1 gigabits”, dizia outro. “Mostra a captura de ecrã, não acredito!“, pediam vários. Vimos e era verdade. Contudo, o máximo que conseguimos foi 334 megabits sempre que fizemos esse teste. Porquê? Provavelmente porque fazíamos quase sempre ao mesmo tempo que outros faziam, mas já lá vamos. Mesmo assim, 334 é superior aos cerca de 22 megabits que conseguimos normalmente em Portugal com o 4G (e até do que o que conseguimos com Wi-Fi doméstico normalmente).

[No GIF, um download com 5G com a app do Observador]

Testes de velocidade são um bom parâmetro para análise, mas não é isso que fazemos no dia a dia. Com a acesso à rede 5G, o que queríamos era enviar mensagens, fazer videochamadas, ver vídeos em stream e utilizar o smartphone para muitos downloads. Foi isso principalmente que fizemos, até por que não é todos os dias que se tem um cartão de dados sem limites de utilização, coisa que o 5G vai incentivar as operadoras a fazer.

Diferença entre megabit e megabytes

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Se calhar ficou confuso por, neste artigo, estarmos a utilizar os termos “megabit” e “megabytes”. Simplificando, megabit, com “i”, é uma unidade de dados mais pequena do que um megabyte, que são oito megabits. Por norma, pensamos em bytes e megabytes, com “y”. Um computador ou um smartphone tem vários gigabytes de memória. Uma imagem ocupa X megabytes. Contudo, as operadoras de telecomunicações tendem em dizer que as velocidades são “x megas por segundos”, deixando de parte o termo “bit”. Porquê? Porque falar em unidades mais pequenas permite utilizar números maiores. É melhor dizer que conseguimos velocidades 290 megabits (Mb) por segundo, do que dizer que são 36,25 megabyts (MB) por segundo, não é?

O primeiro teste que fizemos foi o download da app do Observador. Sim, ocupa apenas 8,29 megabytes de espaço mas, como era um teste, tínhamos de começar com algo que fizéssemos frequentemente quando testamos um novo equipamento. Foi rápido, mas aquilo a que já estamos habituados em Portugal com 4G. A seguir, começámos a fazer o download de outras apps mais comuns (Netflix, Spotify, Facebook, Instagram, Messenger ou browser do Chrome). Não ocupam muito espaço, mas também descarregaram rapidamente.

Até aqui, o 5G não estava a surpreender. Sim, um plano de dados ilimitado fazia com que não nos preocupássemos  com a ligação ao Wi-Fi, mas esse tipo de planos de comunicações já existe em muitos países, com o 4G. Foi apenas quando começámos a abrir o browser para aceder a site e ver vídeos no YouTube que notámos uma diferença considerável na velocidade com que estávamos a fazer tudo. Resumindo, é mais rápido. É como utilizar um telemóvel com Wi-Fi em casa ou no trabalho. Contudo, relembrar mais uma vez, não estávamos — de todo — preocupados com os dados.

[Veja na fotogaleria imagens do Samsung Galaxy S10 5G que experimentámos]

8 fotos

Ao fazer videochamadas pelo WhatsApp ou Messenger notámos, principalmente, a diferença na qualidade de imagem e som — ficava menos tempo pixelizado. No entanto, isto era com 5G, quando o smartphone deixava de aceder a esta rede, o que acontecia em andamento, ficava tudo bem mais lento (nas desvantagens ,já explicamos isto melhor).

Por fim, os uploads para servidores como o OneDrive ou o Google Drive, que tivemos de fazer no final do terceiro dia. Sim, rapidez foi outra vez a palavra de ordem. Tivemos de fazer o upload de quase um gigabyte de imagens e vídeos antes de devolvermos o telemóvel e aconteceu de forma rápida, mas não foi instantâneo. Foram precisos cerca de cinco minutos, mas porque estávamos em andamento e, por isso, mudámos várias vezes de 5G para LTE. Quando estávamos apenas com o 5G, víamos as imagens a serem carregadas em dois/três segundos.

O 5G fez-nos perceber que há possibilidade de as apps serem maiores, ou seja, ocuparem mais memória do telefone. Com mais espaço para as aplicações, vamos começar a ter mais funcionalidades. Por exemplo, o Facebook, por causa das atuais limitações dos smartphones e redes, tem versões Lite de apps como o Messenger. Mas isso também tem a ver com os telemóveis. As especificações de um Galaxy S10 5G vão demorar ainda uns bons anos até serem consideradas a base.

As desvantagens: ainda é preciso aperfeiçoar

Nem tudo no 5G é perfeito. Rapidez pode ser a palavra de ordem, mas ainda estamos no início. Atualmente, o país onde pudemos fazer este teste, a Coreia do Sul, é um dos que tem a melhor cobertura desta rede. Mesmo assim, durante o teste, foram várias vezes em que o sinal mudava de 5G para LTE (quase equivalente a 4G, não entrando em detalhes muito técnicos).

Com a ligação à LTE, a velocidade descia para cerca de 10 megabits por segundo, o que é bastante menos do que os cerca de 260 megabits que obtínhamos com 5G, mas, fazendo downloads de poucos megabytes, quase nem se notava a diferença. O problema foi na transição do telefone de uma rede para a outra. Os downloads paravam, simplesmente, durante uns 30 segundos até assumirem que estavam noutra rede. Logo no início, a Samsung já tinha explicado que isso podia acontecer por as redes ainda estarem no início, mas não deixa de ser um defeito.

Por norma, as velocidade de Internet nos nossos testes estiveram entre os 260 Megabits por segundo e 290Megabits por segundo, uma velocidade superior à maioria das redes Wi-Fi domésticas

Outra desvantagem — e percebemos isso quando fizemos downloads de ficheiros mais pesados (um gigabyte para cima) — é que o 5G é mais rápido, mas não é o tal fenómeno “instantâneo” como tem sido anunciado. Além disso, como notámos com os testes de velocidade, quando estávamos ao pé de mais jornalistas que estavam a utilizar a rede, esta, naturalmente, ficava menos rápida.

Veredicto final: podemos falar do 6G?

Utilizar o 5G, principalmente com um smartphone topo de gama, provoca resultados que envergonham a maioria dos smartphones que utilizamos atualmente. Contas feitas, no fim, há defeitos. Pode haver teste de velocidade com downloads acima de 900 megabits, o que é incrível, mas para a utilização quotidiana que fazemos dos telemóveis com o 4G — dos downloads às videochamadas — a diferença não é assim tão grande.

Com as antenas 5G implementadas, vamos começar a ter planos de dados que permitem usar mais gigabits do que os que utilizamos atualmente com o 4G (caso contrário, não o 5G não é tão cativante). Isto porque as antenas permitem mais dispositivos ligados do que atualmente. O mesmo aconteceu na passagem do 3G para o 4G.

Líder da Samsung sobre EUA e Huawei: “Digo à minha equipa para não se aproveitarem disso”

Pensar em planos com dados ilimitados em todo o lado para utilizar a internet móvel é um futuro interessante. É como utilizar o smartphone em casa com Wi-Fi, mas em todo o lado, com a mesma velocidade e liberdade para aceder a conteúdos. Para já, os pacotes disponíveis na Coreia ainda rondam os 60 euros por mês (o que não é bastante), mas com um futuro que prevê termos mais dispositivos ligados a antenas 5G, podemos afirmar que o mundo está a ficar mais rápido. Fica é a pergunta: quando é que se começa a falar do 6G?

Só mais uma coisa: isto já é possível em Portugal?

Resposta curta: Não. Resposta mais desenvolvida: ainda não, até 30 de junho de 2020. Segundo a ANACOM, “Portugal definiu como objetivo cumprir o calendário da União Europeia e está a trabalhar em conformidade com esse objetivo”. Qual é que é esse calendário? “A Comissão Europeia tem ainda o objetivo de ter uma cidade em cada estado membro coberta com 5G até 2020”. Contudo, com polémicas como a guerra comercial entre a China e os EUA, que já tiveram ataque direto à Huawei por ser uma das principais empresas a vender infraestrutura 5G, ainda não sabemos qual será o futuro destas redes.

Países como a Coreia do Sul e EUA podem já ter redes 5G e equipamentos como este smartphone Samsung à venda, mas em muitos países é preciso libertar a faixa de 700mhz da TDT (Televisão Digital Terrestre) para as operadoras começarem a investir no 5G. Sim, isto pode significar ter de mudar toda a TDT, mas ainda não se sabe o que é que esta “migração” vai significar. Algumas perguntas estão no ar: vão ser precisos novos equipamentos para quem comprou TDT? E quem paga os antigos? Só por causa do 5G para as cidades? Isso não discrimina o interior? Até isso está resolvido, utilizar um smartphone 5G em Portugal é como ter um carro de grande cilindrada para andar na cidade. Pode ser óptimo, mas é demais para o propósito.

*O Observador esteve em Seoul, na Coreia do Sul, a convite da Samsung