Até aos 20 anos, Frederico Lourenço quis ser pianista. Depois, apercebendo-se da sua falta de talento, decidiu optar por algo verdadeiramente desafiante — voltou a repetir o 11.º e 12.º anos para aprender grego e latim e entrou para o curso de Línguas e Literaturas Clássicas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde chegou a dar aulas (hoje está associado à Universidade de Coimbra, onde tirou o doutoramento com uma tese sobre os cantos líricos de Eurípides).
Apesar de ter uma grande paixão por latim, foi o grego que atraiu desde o início a sua preferência. Foi a esta língua que dedicou as duas primeiras grandes traduções que fez e publicou — os dois poemas homéricos, a Ilíada e a Odisseia —, antes de mergulhar nessa enorme aventura que tem sido a tradução da Bíblia grega. Nesse capítulo, o classicista, que já publicou quatro volumes, encontra-se neste momento a terminar de traduzir os livros sapienciais, seguindo depois para os históricos. Quando irá terminar o projeto não sabe dizer: “A tradução tem de respirar, porque o tradutor também precisa de respirar”.
Apesar de os últimos anos da sua vida terem sido dedicados ao grego, língua sem a qual admite que já não conseguir viver, Lourenço decidiu voltar ao latim (a que, curiosamente, dedicou a tese de mestrado) e organizar a primeira gramática de língua latina publicada em Portugal desde 1974. Editada em março pela Quetzal, a grande diferença desta Nova Gramática do Latim em relação às outras que existem no mercado livreiro está “no horizonte que pretende transmitir”. “Não quero dar a conhecer o latim de uma maneira que o torne mofento e desinteressante”, explicou o tradutor numa entrevista concedida por email por falta de disponibilidade para se encontrar pessoalmente com o Observador. “O meu livro pretende ser um argumento a favor do interesse intrínseco da língua latina.”
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