Quando se tornou consorte de Carlos III, Camilla entrou para História como uma rainha diferente. Ao fim de mais de 50 anos de um romance cheio de inquietações e escândalos os reis encontraram o seu lugar no trono, ao lado um do outro. E se houve alguém que assumiu um papel secundário, mas fundamental, em todo o enredo, foi Annabel, a irmã e confidente de Camilla. Uma decoradora de interiores que teve no príncipe de Gales um dos seus clientes estrela e que hoje se mantém firmemente ao lado da rainha, mesmo que o público não a veja.
No passado dia 17 de outubro, Camilla, a rainha consorte, entregou o Booker Prize 2022, em Londres, e fez-se acompanhar pela irmã, Annabel Elliot. É raro ver as duas irmãs juntas em público, contudo a sua relação é mais do que próxima, é cúmplice, e a irmã mais nova da rainha foi uma grande aliada no campo de batalha que foi a sua vida amorosa ao longo de tantos anos. Num dos primeiros atos oficiais em que se apresentou enquanto rainha consorte e numa área que tanto a apaixona, a literatura, Camilla quis ter a irmã consigo.
Sonia Annabel Shand nasceu a 2 de fevereiro de 1949 em Londres. É apenas um ano e meio mais nova do que Camilla. A elas juntou-se a 28 de junho de 1951, Mark Shand, o irmão mais novo. O escritor, documentarista e ambientalista morreu em Nova Iorque em 2014 aos 62 anos, na sequência de uma queda em que bateu com a cabeça. O pai, Bruce Shand, foi um herói da Segunda Guerra Mundial que se converteu a uma carreira no comércio vinícola. A mãe, Rosalind Cubbitt, era filha de um barão e descendente de Alice Keppel, uma amante do rei Eduardo VII.
Annabel nunca usou o primeiro nome, e o apelido com que ficou conhecida é o do marido. Casou-se a 27 de abril de 1972 com o seu primeiro namorado, Simon Elliot, filho de um comandante da RAF. O casal tem três filhos, Ben (que nasceu em 1975), Alice (1977) e Catherine (1981). O filho mais velho, Ben Elliot, é empresário e angariador de fundos. Foi co-fundador da empresa de serviços de conciergerie de luxo Quintessentially e, entre julho de 2019 e setembro de 2022, foi co-chairman do Partido Conservador, nomeado por Boris Johnson para o cargo. Demitiu-se recentemente, quando Liz Truss lhe sucedeu, como líder do partido e primeira-ministra.
Quando casou, Annabel tinha acabado de regressar ao Reino Unido, vinda de Florença, onde estudou artes plásticas. Tornou-se decoradora e antiquária e lançou o seu próprio negócio nestas áreas, sob o seu nome, Annabel Elliot Ltd. Tudo começou na sua casa de campo, em Stourpaine (Dorset) e hoje é uma decoradora de referência no Reino Unido. Em 2014, o jornal britânico Daily Telegraph escolheu-a como uma das cinco designers de interiores mais influentes do país.
“Não existe bom ou mau gosto. Eu uso sempre algo que o cliente já tenha e de que goste, pode ser um quadro ou um tapete, e tiro partido disso. Eu não tive formação tradicional, mas o meu background como negociadora de antiguidades dá-me uma capacidade para apreciar a combinação de antigo com novo. Eu acredito em adaptar, reciclar e em levar algo de si quando se muda”, cita o referido artigo.
Mrs. Elliot lida com roupas vintage, mobiliário e pinturas do século XVII e tem uma lista de clientes internacional, segundo conta a Point de Vue. Também foi co-fundadora da cadeia de lojas de interiores Talisman.
O Rei Carlos foi um dos clientes famosos de Annabel Elliot. Quando ainda era príncipe encomendou vários projetos à decoradora, para renovações imobiliárias para o seu Ducado da Cornualha, no País de Gales e na Escócia. Por exemplo, criou os interiores de 12 casas de campo de Carlos III nas ilhas de Scilly, bem como das casas de férias na propriedade do Castelo de Restormel e de Llwynywermod, no País de Gales — também já tinha assinado o design de interiores da loja de plantas Duchy Nursery em Lostwithiel e da guest house campestre Dumfries Lodge House em Ayrshire, na Escócia, que foi inaugurada pelo próprio príncipe Carlos em 2012, segundo lista o Evening Standard.
Este último projeto foi até tema do documentário, “Prince Charles: The Royal Restauration”. Como responsável pelo projeto dos interiores, Annabel Elliot é uma das intervenientes deste programa. “Ele gosta sempre de estar completamente envolvido e de saber o que está a ser sugerido”, disse. “Nós discutimos”, explica “ele não se limita a concordar ou discordar”. Como cunhada do então príncipe de Gales, a decoradora sabia que o seu cliente gosta muito de tapetes e detesta televisões. “Ele olha para tudo. O olho dele para o pormenor é extraordinário. Eu creio que nunca trabalhei com ninguém que fosse tão interessado no pormenor.”
Estima-se que foram pagas 1,5 milhões de libras a Annabel ao longo dos últimos anos e, segundo a Point de Vue, alguns meios chegaram a levantar questões, mas o Ducado da Cornualha é um órgão privado e tanto o Rei Carlos, como o seu herdeiro o príncipe William, têm o direito de gastar o dinheiro como bem entenderem.
Camilla. Os 75 anos da vilã da coroa que conquistou o povo e agora é rainha
As duas irmãs mantém uma relação muito próxima. Falam-se quase todos os dias, disse Annabel num documentário recente sobre a irmã, “Camilla’s Country Life”, da ITV. O programa começava com a então duquesa da Cornualha em visita à casa que era dos avós e onde passou parte da sua infância, Hall Place, em Hampshire. A casa tem agora outros donos e Camilla, que não a visitava desde 1987, convidou a irmã para se juntar ao momento.
Revisitaram memórias felizes, mas também desenterraram um episódio que parece estar ainda por resolver. Quando eram crianças, Camilla enterrou um urso de peluche da irmã, de nome Tiddy Bar, no jardim e só lhe contou o que tinha feito cerca de um mês antes de Annabel se casar. “A minha irmã e eu tivemos uma pequena discussão, por isso eu enterrei-o [o urso de peluche]. Era rivalidade de irmãs”, respondeu Camilla. “Ele teve um belo lugar de descanso. No jardim das rosas.” Acrescentou a agora rainha consorte. Contudo, alguém da equipa perguntou a Annabel se ela tinha perdoado a irmã e esta respondeu entre risos: “Certamente que não. Isso ainda me está atravessado até hoje.”
O documentário foi filmado numa altura em que Camilla foi convidada a ser editora de uma edição da revista Country Life a propósito do seu 75º aniversário, a 17 de julho. Na altura, a duquesa da Cornualha foi fotografada pela duquesa de Cambridge para a publicação, incluindo a própria capa.
Além da relação entre as duas irmãs, a vida de Annabel cruza-se com a longa história de amor dos atuais reis. Terá sido na festa do seu 40º aniversário que Diana confrontou Camilla pela relação que ela e Carlos mantinham. E foi na sua festa de 50 anos, em 1999, no Ritz de Londres, que fizeram a sua primeira aparição pública enquanto casal. Foi Annabel que protegeu a irmã dos paparazzi quando o primeiro-ministro John Major anunciou oficialmente o divórcio dos príncipes de Gales, em dezembro de 1992, e foi na sua casa em Dorset que Carlos e Camilla se refugiaram depois da morte de Diana, em 1997.
O príncipe Carlos e Camilla casaram-se a 9 de abril de 2005, primeiro numa cerimónia civil no edifício da Câmara Municipal de Windsor, depois houve um serviço religioso na capela do Castelo de Windsor e a rainha ofereceu uma receção no castelo. A segunda mulher do herdeiro do trono recebeu o título de Duquesa da Cornualha e tornou-se Sua Alteza Real.
“Não estou surpreendida com o que aconteceu à minha irmã e, certamente, não a vou tratar de maneira diferente”, terá dito a irmã do novo membro da família real, citada pelo jornal Daily Mail, em 2008. Segundo o meio britânico, Annabel e o marido mantiveram uma longa relação de proximidade com a rainha mãe (que morreu em 2002). “O que as pessoas não sabem é que eles eram convidados da rainha Isabel na Escócia quando Camilla ainda não era bem-vinda por causa do seu caso com Carlos, disse um amigo antigo dos Elliot ao jornal.
Annabel seguiu as pisadas da mãe no trabalho solidário e tornou-se patrona da Associação Britânica para a Adoção e Acolhimento entre 2005 e 2015, assim como da Elephant Family, uma ONG fundada pelo irmão para proteger os elefantes asiáticos selvagens da extinção.