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LUSA

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João Ferreira não se envolve em "questões acessórias" e critica campanha "fulanizada" de PS, PSD e CDS

João Ferreira almoçou cozido de grão no café de um camarada em Bencatel. À tarde, em Évora, disse que não se vai envolver nas trocas de acusações dos outros partidos, que são "questões acessórias".

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Artigo em atualização durante o dia

Ao terceiro dia oficial da campanha para as europeias, João Ferreira deixou finalmente a área metropolitana de Lisboa para se fazer à estrada. Rumou a sul, ao Alentejo, com a primeira paragem do dia a ser feita no café do “camarada Quim Zé”, em Bencatel, Vila Viçosa, para um “primoroso cozido” (de grão com enchidos), na companhia de cerca de 50 apoiantes da CDU, apelos ao investimento no interior e críticas ao PS, PSD e CDS.

Ali, e mais tarde em Évora, quis focar-se naquilo que considera ser o “essencial” e procurou afastar-se das trocas de argumentos entre as campanhas do PS, PSD e CDS (depois de na terça-feira Pedro Marques e António Costa terem atacado os dois partidos da direita). A versão mais completa do discurso oficial do dia viria a ser feita ao final da tarde em Évora — a poucos metros do local onde o candidato socialista Pedro Marques fez ontem a sua primeira aparição de rua —, após uma arruada com dezenas de apoiantes da CDU entre a Sé e a Praça do Giraldo.

O trabalho da CDU “é um trabalho que não teme comparações. Pelo contrário, reclama essas comparações. Não apenas pela dimensão e volume de trabalho, mas sobretudo pelo seu conteúdo. Da defesa da nossa agricultura à indústria, passando pelas pescas, dos direitos dos trabalhadores à fraude e à evasão fiscal, da defesa do ambiente aos direitos de todas as comunidades; dos problemas dos imigrantes e refugiados à exigência e valorização dos serviços públicos e sociais. Sempre tendo como pano de fundo a defesa da nossa soberania”, disse João Ferreira, para criar o contexto do ataque à direita e ao PS.

“É sem qualquer tipo de embaraço que prestamos contas do nosso trabalho. Já outros não podem dizer o mesmo. E só isso explica a insistência de alguns numa campanha centrada em questões acessórias que deixam de lado o essencial. Uma campanha fulanizada, com considerações pessoais, sobre este ou aquele candidato, com divergências encenadas quanto ao acessório, para esconder as convergências quanto ao essencial”, considerou João Ferreira.

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E continuou: “Se quiserem embaraçar os candidatos do PS, do PSD e do CDS, façam-lhes uma pergunta: perguntem-lhes em que decisões fundamentais tomadas no Parlamento Europeu nos últimos anos eles votaram de forma diferente uns dos outros. Está aqui a explicação para agora trazerem para a campanha questões acessórias em detrimento do essencial. E o essencial é confrontá-los com as opções que lá tiveram no Parlamento Europeu, onde não divergiram uns dos outros”.

Antes, aos jornalistas, João Ferreira dizia mesmo: “A CDU está a fazer um esforço, nesta campanha, por trazer para o centro da campanha aquilo que são para nós grandes questões nacionais e da relação que têm com questões discutidas ao nível da União Europeia”.

João Ferreira, que falou imediatamente após Tiago Aldeias — candidato dos Verdes na lista da CDU e natural do distrito de Évora —, não esqueceu ali as questões ambientais. Acusando outros partidos de apenas se lembrarem do meio ambiente em contexto eleitoral, João Ferreira assinalou o “contributo decisivo” da CDU na área ambiental, nomeadamente no aumento das metas europeias da reciclagem e recordou uma das propostas da coligação: a criação de um observatório europeu da seca, com sede em Portugal.

Desertificação. “Só faltou levar os cemitérios”

De manhã, em Bencatel, João Ferreira tinha alertado sobretudo para o problema da desertificação do interior. Depois de na terça-feira ter recebido, em Lisboa, 1.751 postais assinados por dirigentes sindicais a manifestar o apoio à CDU, o candidato comunista recebeu das mãos de um militante local, durante o almoço desta quarta-feira, uma lista com assinaturas de centenas de trabalhadores das pedreiras — que abundam na região — e com a garantia do voto na coligação entre os comunistas e os Verdes.

Após o cozido, João Ferreira falou aos militantes presentes no Café Central de Bencatel, fechado especialmente para a ocasião, e começou precisamente por lembrar a “contribuição decisiva” da CDU para que os trabalhadores das pedreiras beneficiem do mesmo regime especial que os mineiros, nomeadamente no que diz respeito ao acesso à reforma antecipada.

Foi este o pretexto para lançar o ataque a PS, PSD e CDS, que, assegura João Ferreira, subscrevem as recomendações da União Europeia que dizem que se “deve aumentar a idade da reforma”, em vez de a baixar. O acesso à reforma antecipada para estes trabalhadores foi, garantiu o candidato, “fruto da luta da CDU”. E se “foi possível aqui”, então fica claro que “o caminho é o reforço da luta”, argumentou.

Perante uma parte significativa da pequena aldeia de Bencatel, o candidato comunista apontou ainda o dedo a PS, PSD e CDS por andarem a “carpir mágoas” por causa da desertificação do interior, quando esta desertificação resulta de “anos acumulados de desinvestimento” dos sucessivos governos. “Levaram escolas, juntas de freguesias, postos de correio. Só faltou levar os cemitérios”, atacou João Ferreira.

O Café Central de Bencatel — de um "camarada" do partido — fechou especialmente para o almoço com João Ferreira (JOÃO FRANCISCO GOMES/OBSERVADOR)

JOÃO FRANCISCO GOMES/OBSERVADOR

O candidato da CDU às europeias lembrou os bencatelenses que, apesar de haver “quem olhe para estas eleições como algo distante”, as populações desta região enfrentam muitas questões frequentemente “negociadas ao nível do Parlamento Europeu”. E deu exemplos: a ferrovia. Nomeadamente a ligação ferroviária entre Sines e Caia, com financiamento europeu, que “esqueceu” a população da região das pedreiras. Nem há cais de embarque para passageiros nem para mercadorias.

“É preciso orientar as políticas da União Europeia para as necessidades de países como Portugal”, apelou João Ferreira. No exterior do café, à porta da associação de reformados local — onde se encontrou com vários idosos para lhes dizer que “o voto acertado é no último quadrado” —, o candidato esclareceu aos jornalistas que o problema da desertificação é “indissociável” da União Europeia e lamentou que se ande a pensar nas “ligações transnacionais que importam à Alemanha” antes de resolver os problemas regionais em Portugal.

PS, PSD e CDS “encenam” discórdias

Preferindo manter-se alheio às trocas de acusações entre as campanhas de PS, PSD e CDS, João Ferreira considerou apenas que “o tipo de trocas de acusações a que assistimos resulta de um facto”: os três partidos “não se distinguem pelo que fazem no Parlamento Europeu”, e por isso “têm de encenar diferenças”.

João Ferreira apelou aos três partidos que se diferenciem no essencial e que digam o que pretendem fazer quando os seus eurodeputados forem confrontados com um orçamento europeu que implique menos verbas para Portugal. Antes, no almoço com os apoiantes, o candidato comunista já tinha deixado a garantia: “Nenhum orçamento que represente corte nas verbas para Portugal terá o voto da CDU”.

https://twitter.com/OBSEleicoes/status/1128668859462975489

Do café, o candidato seguiu para a associação de reformados ao fundo da rua, onde encontrou uma dezena de idosos a jogar à sueca. João Ferreira foi passando pelas mesas a apelar ao “voto acertado”, que é, na rima facilitada pela ordem dos partidos no boletim de voto, “no último quadrado”, e foi sensibilizando os poucos reformados ali presentes para as medidas que mais diretamente lhes dizem respeito: o aumento dos salários e das pensões.

Já depois da partida de João Ferreira — tem agenda de final da tarde em Évora, para uma arruada pelo centro histórico da cidade —, alguns militantes regressaram ao Café Central para umas cervejas, para enfrentar os mais de 30º que se fazem sentir no Alentejo. Ao balcão, comentava-se que, num discurso com tanto foco nas pedreiras, o candidato não chegou a falar do desastre na pedreira em Borba, quando em novembro do ano passado cinco pessoas morreram após o abatimento de uma estrada junto a uma pedreira naquela localidade, a apenas dez quilómetros de Bencatel.

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