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(Artigo em atualização ao longo do dia)

Quem entrasse no mercado da vila de Cascais esta quarta-feira pelas 9h30 avistava ao fundo, na banca dos legumes, um aglomerado de bandeiras azuis e brancas do CDS. Na frente ia Nuno Melo, com Pedro Mota Soares — que é autarca em Cascais e habituée no mercado, notou-se –, e ainda António Pires de Lima, o ex-ministro da Economia que, recentemente, criticou o CDS pela forma como geriu o dossiê dos professores e se deixou apanhar na fotografia ao lado dos “irresponsáveis”. Na cauda, a indiferença. Assim que a comitiva passava, cada freguês metia-se na sua vida: as pessoas pouco ligavam àquele aglomerado já habitual em semanas de campanha.

Ana Maria dos Santos, 60 anos, nascida e criada em Cascais, foi uma das que ficou a ver passar os azuis e brancos. Sabe que são do CDS, sabe quem é Nuno Melo, embora não “simpatize”, até gosta de Assunção Cristas, e sabe que há eleições europeias no dia 26 — mas não sabe se vai votar. Se for, até é capaz de votar nestes, mas a verdade é que está “cansada dos políticos”. “Falam, falam e não se entende coisa nenhuma”, diz ao Observador. Nesse instante, passa um membro da comitiva centrista e dá-lhe uma caneta (o brinde que andam a distribuir). “Está a ver? Dão uma caneta ou um saquinho e a gente anda aqui toda contente. Mas não é assim, isso não chega”, diz.

Luís Pedro Mota Soares e Nuno Melo estiveram a fazer campanha em Cascais

Para uma manhã de beijinhos e graçolas, onde muitos dos fregueses até já têm o voto garantido, é o que basta. Visivelmente em casa, os centristas seguiram de banca em banca a distribuir folhetos entre os sacos das compras. Numa delas Nuno Melo até se vangloriou de já ter “convencido o motorista de [José] Sócrates a votar” no CDS. Ai sim? “É verdade, disse-me que já tinha sido motorista de políticos, do Cravinho, do Sócrates, e queixou-se de que nós lhe tínhamos cortado o subsídio de Natal e de férias. Mas eu expliquei-lhe que quem conduziu o país à bancarrota e quem conduziu o país à bancarrota e chamou a troika foram eles, nós ficámos com a herança e depois fomos nós que libertámos o país da troika. Ele disse-me: ‘Ah pronto, já me convenceu”, explicaria depois o candidato ao Observador.

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Sujeira? Costa está “nervoso”, mas Melo “perdoa”

Nuno Melo está tranquilo e até “perdoa” António Costa por, na terça-feira, no discurso que fez ao lado de Pedro Marques ao jantar, ter atacado duramente os dois candidatos da direita. “É dos nervos” — porque a campanha do PS está a “correr mal”.

“Eu até percebo que quem parte alavancado em sondagens achando que as sondagens são urnas, e depois percebe que as coisas não estão a correr bem, fique nervoso”, começou por dizer. Ainda assim, “há expressões escusadas, despropositadas”, porque se pode fazer uma campanha “sem violência verbal”. “Nós argumentamos com ideias, não tratamos mal ninguém a título pessoal”, disse ainda, referindo-se ao facto de António Costa ter criticado os partidos que “escolhem candidatos para aparecer na televisão”. Num jantar-comício em Faro, Costa disse mesmo que “a política não é um espetáculo para as televisões, não são campanha negras, arregimentando nas redes sociais perfis falsos para denegrir. Isso não é política, é sujeira”. Mas Nuno Melo pouco se importou: “Nós respeitamos os nossos adversários, mesmo quando nos tratam mal como aconteceu ontem”.

No regrets. “Que tenha uma campanha tranquila, que perceba que há mais vida além da política. Nós perdoamos ao dr. António Costa”, disse ainda um Nuno Melo muito zen, num dia de campanha que vai ser dedicado às “famílias”, já que é o dia mundial da família, e esse é um tema caro aos centristas.

Nuno Melo tira uma selfie com António Pires de Lima

Nuno Melo e Mota Soares, lado a lado, a tirar selfies, sabem que a eleição que se segue não vai ser fácil, mas o cabeça de lista tem dito que é preciso “acreditar”. Esta quarta-feira, entre frutas e legumes, voltou a dizer o mesmo: “A nossa esperança é ir ao pódio”. Ficar nos três primeiros lugares, portanto. A avaliar pelas sondagens, contudo, será difícil. O que vale é que o CDS não liga a sondagens. “Temos uma carapaça” contra sondagens. “E na rua temos tido uma boa expectativa eleitoral”, afirmou ainda.

Pires de Lima. Os truques e os “truquezinhos” dos professores são caso encerrado

António Pires de Lima cumpriu o seu papel esta quarta-feira, aparecendo ao lado de Nuno Melo e Pedro Mota Soares numa incursão matinal pelo mercado de Cascais — de onde é natural. Foi ali, entre frutas, legumes, flores e peixe, que vincou o seu apoio ao partido depois de ter sido uma das vozes críticas quanto ao facto de o CDS ter estado ao lado do BE e PCP na devolução do tempo integral de serviço aos professores. No auge da crise, Pires de Lima chegou a dizer, em declarações ao Expresso, que estava “dececionado”. “Ou se está com os contribuintes, ou se está com Mário Nogueira. E mais não quero dizer, para não perturbar a campanha do CDS para as europeias”, disse na altura.

Agora, e para dar um empurrão na campanha do CDS para as europeias, o ex-ministro da Economia, que ficou célebre pela crítica das “taxas e taxinhas” de António Costa enquanto presidente da câmara de Lisboa, esteve esta quarta-feira ao lado de Nuno Melo a criticar os “truquezinhos” e, mais uma vez, “as taxas e taxinhas”, de António Costa enquanto primeiro-ministro. Quanto ao tema dos professores, que o tinha deixado em brasa, é caso “encerrado”. “O tema já foi clarificado, está fechado, não deve dominar a agenda”, disse aos jornalistas, defendendo que “toda a folga orçamental deve ser utilizada para diminuir impostos das pessoas, diminuir as taxas e taxinhas da governação socialista”.

E “independentemente das habilidades e dos truquezinhos”, continuou, o importante é que se “consolide uma alternativa a esta política de promiscuidade [do PS], que não pode ser à esquerda radical, porque essa tem levado o Governo ao colo”.

Estamos no terceiro dia de campanha oficial, falta uma semana e meia para o fim. A partir de agora, o CDS vai começar a contar com apoios mais pesados. Pires de Lima foi o primeiro, mas seguir-se-ão outros. Paulo Portas, o “Paulinho das Feiras”, não faltará.

CDS com reforços nas europeias: Paulo Portas, Lobo Xavier e Pires de Lima entram na campanha

Melo dança e puxa por Mota Soares. Se não for eleito, é derrota?

Quando se quer muito uma coisa, costuma-se dizer que “dava um dedo” por isso. Nuno Melo não dá um dedo para ver o CDS eleger dois eurodeputados, mas dá, pelo menos, um pé de dança ao som do “Malhão”, desafiado pelo grupo coral do Centro Social e Paroquial de São Tomás de Aquino, em São Domingos de Benfica. O candidato já se preparava para sair da sala, mas acedeu. De braços ao alto, e de mãos dadas em rodinha, Melo lá se esforçou por dançar. Está feito. Segue para a reunião com os responsáveis do centro social. “Mais quinze dias e punhamos o Nuno Melo a dançar”, atirou Pedro Mota Soares como quem se justifica pelo pouco jeito do candidato para as artes da dança.

LUSA

A tarde deste terceiro dia de campanha, passado inteiramente em Lisboa, foi dedicada ao dia mundial da família — um tema que é caro ao número dois da lista, Pedro Mota Soares, que foi ministro no governo Passos/Portas com a pasta da Segurança Social. Um ativo que Nuno Melo fez questão de exibir e puxar. O CDS quer mesmo eleger dois eurodeputados, quer igualar ou até melhorar o resultado de 2009. Menos do que isso, é falhar as metas traçadas pelo partido.

“Hoje é o dia mundial da família e nós quisemos vir aqui dar um sinal político dizendo que temos o Luís Pedro Mota Soares na nossa lista, que é das pessoas mais habilitadas no setor social, que por sua vez é um pilar fundamental do projeto europeu”, começou por dizer Nuno Melo aos jornalistas, sublinhando as “circunstâncias dos nossos tempos”, que apontam para sociedades envelhecidas e com problemas de rejuvenescimento. “O Mota Soares”, repetiu, “é dos políticos que mais sabe do setor social”.

Quando questionado sobre que medidas para o setor social o CDS vai levar para Bruxelas, Nuno Melo optou por repetir dados curriculares do seu número dois — é aí que parece estar a solução para o pilar social na Europa. “Porque o Mota Soares não vai funcionar como clínico geral na medicina”, disse, como quem diz que o Mota Soares sabe mesmo do que fala. “E ainda não tivemos nenhum partido político que assumisse este compromisso com o eleitorado”. E continuou: Mota Soares “não é só novinho e engraçadinho para a televisão, como diz o dr. António Costa, é uma pessoa com experiência, que foi ministro desta pasta”.

A verdade é que Nuno Melo passa os dias da campanha a puxar pelo currículo dos seus, sobretudo de Mota Soares, para mostrar que o CDS “tem quadros capazes”, e não é só um bando de caras bonitas e bem falantes: “Cada um é bom na sua área”. Está visto: menos de dois eurodeputados para o CDS, vai saber a derrota. (Nota: em 2009, o CDS conseguiu dois eurodeputados, mas em 2014, quando concorreu em coligação com o PSD, ficou apenas com um).

Um cheirinho de Cristas numa tarde de família (e não de campanha)

Sem os habituais jantares com discursos políticos à noite, o dia de campanha em Lisboa terminou com um final de tarde calmo, tranquilo, relaxante…em família. Com a ajuda de Diogo Moura, líder da bancada municipal do CDS em Lisboa, os centristas montaram no jardim da Quinta das Conchas um pequeno recinto de atividades para crianças: contrataram um mágico, uma artista de pinturas faciais, e chamaram os filhos dos amigos.

Assunção Cristas também apareceu, e levou os mais novos. O objetivo era falar de famílias, no dia mundial da família, mas poucas foram as famílias que espontaneamente aderiram à iniciativa do CDS. O problema também é esse: “Gostaria de ver aqui mais pais, mas estão no trabalho”, comenta Assunção Cristas, sublinhando que é também por aí que devem passar as iniciativas legislativas, de forma a facilitar a conciliação entre o trabalho e a vida familiar. Já no Parlamento Europeu, Assunção Cristas prometeu, por exemplo, que o CDS vai defender que pessoas que queiram dar a assistência a filhos ou ascendentes possam trabalhar em “part-time” e que essa medida possa ser financiada pelo Fundo Social Europeu (FSE).

Não houve ataques à “família socialista”, não houve ataques políticos de todo. A tarde nem de campanha foi. Foi uma tarde em família.