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Coronavirus Vaccination For Teachers In Portugal
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Altice Arena é um dos centros de vacinação na região de Lisboa.

NurPhoto via Getty Images

Altice Arena é um dos centros de vacinação na região de Lisboa.

NurPhoto via Getty Images

Jovens com menos de 20 anos vacinados em Lisboa numa happy hour que se espalhou no WhatsApp. Task force não tem conhecimento

Dezenas de jovens foram vacinados numa espécie de happy hour a um domingo, no Altice Arena. Task Force nega que "centenas tenham faltado ao agendamento" ou que validade das vacinas fosse terminar.

Domingo, dia 11 de julho, muito calor e no centro de vacinação instalado no Altice Arena a informação que havia “centenas de faltas” ao agendamento que tinham dado origem a “sobras” — de vacinas que iriam ficar fora de validade. A solução dos responsáveis do centro foi abrir a vacinação a qualquer pessoa que se dirigisse ao local. Uma chamada e algumas mensagens no WhatsApp foram suficientes para criar uma fila de várias horas frente ao centro de vacinação. Dezenas de pessoas, incluindo jovens de 18 e 19 anos ouvidos pelo Observador, foram vacinados tendo menos de 20 anos (muito menos que os 23 do autoagendamento então em curso). Em resposta ao Observador, a task force explica quais são as regras e as exceções, o que prova que esta vacinação de menores de 20 anos, uma espécie de casa aberta informal, foi à margem do que está definido das normas.

Ao Observador a Task Force não responde se sabia destas vacinações de menores de 20 antes do tempo definido, mas nega, a montante, a situação que terá levado dezenas de jovens a acorrerem. “Não se verificou qualquer situação de faltarem “centenas de pessoas ao agendamento” nem de “sobras”, visto existirem vacinas suficientes e sem correrem o risco de perderem a validade”, esclareceu a task force ao Observador. Mas quem estava no local, conta outra história.

“O pai do Nuno”, que criou uma casa aberta informal

Passava pouco das 17 horas quando o pai de Nuno Garcia, que fazia aniversário, recebeu uma chamada de um amigo, que tinha acabado de receber a segunda dose da vacina no Altice Arena. Além dos tradicionais parabéns, partilhou com o pai de Nuno que o centro de vacinação estava vazio e que lá levaria os filhos para serem vacinados com as “sobras”. Nuno, com 21 anos, ouviu o pai e foi rápido a decidir e a partilhar a notícia com os grupos de amigos no WhatsApp: “Estão a dar vacinas a maiores de 20 residentes em Lisboa no Altice Arena. Vou tomar a minha agora”.

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Foi fácil acender o rastilho. Ao Observador, Nuno, diz que o grupo de alunos do curso que frequenta tem cerca de 300 membros e outro, de amigos, tem 50. Em pouco tempo a fila no Altice Arena cresceu e até de Sintra chegaram jovens esperançados por uma dose da vacina. Com mais e com menos de 20 anos. Nuno foi dos primeiros a ser vacinado, chegou às 17h30 e encontrou o Altice Arena “completamente vazio”, esperou o tempo necessário ao recobro e ficou pela fila — que entretanto já crescera — a fazer companhia à namorada. A organizar a fila estava um membro da Proteção Civil que, perante a curiosidade do jovem, confirmou a Nuno terem faltado “centenas pessoas” ao agendamento ao longo do dia e que as doses que estavam disponíveis iriam “para o lixo”, uma versão negada pela task force.

Fonte oficial da task force acrescenta ainda que nesse domingo estavam agendados “utentes dentro dos grupos etários elegíveis e em número corresponde aos valores dessa semana de grande vacinação”. Segundo a equipa, foram “vacinados 1.136 utentes” quando a previsão para aquele centro de vacinação “é de 840 utentes“. Sobre vacinação aberta a qualquer pessoa a task force não deu qualquer esclarecimento.

A equipa responsável pelo processo de vacinação em Portugal confirma apenas que nesse dia teve início, no Altice Arena, o processo de vacinação de “utentes que vão estudar para o estrangeiro em instituições de ensino superior, ao abrigo de programas de similares ao Erasmus, de Mobilidade ou estágios curriculares” que só precisavam de se dirigir ao local para serem vacinados “mediante a confirmação de elegibilidade clínica para o efeito”.

Mas as vacinas foram administradas muito além dos alunos que no próximo ano letivo integrem esses programas. Até a indicação inicial, de que a vacina seria dada apenas a maiores de 20 anos, acabou por não ser cumprida, confirmou o Observador junto dos jovens de 18 e 19 anos vacinados nesse dia. Com o autoagendamento disponível a partir apenas dos 23 anos, a única forma de jovens abaixo dessa idade serem vacinados (além de comorbilidades associadas ou integrarem um programa de intercâmbio) seria a convocatória através do centro de saúde, algo para o qual nenhum tinha sido ainda chamado. Regra geral, nesta fase da vacinaçaõ, essas convocatórias até estão mais atrasadas que o autoagendamento.

Imagens da fila de espera para a vacinação no dia 11 de julho, depois de partilhada a mensagem de que "havia sobras"

Com a mensagem a espalhar-se rapidamente nas redes sociais e a fila sempre a aumentar houve necessidade de a encerrar às 19 horas, sem garantia que todos pudessem ser vacinados. Uma vez na fila, os vários jovens com menos de 23 anos com que o Observador falou explicam que nada lhes foi dito sobre haver qualquer idade mínima para ser vacinado nesse dia. “Ninguém me perguntou a idade, mas dei o meu cartão de cidadão obviamente, não era difícil saberem que tenho 19 anos”, explica Manuel que mal soube da oportunidade de vacinação correu para o Altice Arena.

Ao lado, Gonçalo — também de 19 anos — sabia que o autoagendamento estava disponível apenas acima dos 23 anos, mas como pertencia ao centro de saúde da área do centro de vacinação do Altice Arena e a validação da equipa que estava a trabalhar não questionou sequer a benesse de estar a ser vacinado.

Depois das 19 horas o polícia municipal que controlava a fila informava que não havia garantias de conseguirem vacinar toda a gente que ainda esperava, mas Nuno Garcia continuou a acompanhar a namorada. Desconhecia que tinham sido vacinadas pessoas abaixo dos 20 anos: “O que me disseram quando cheguei e fiz perguntas é que iam vacinar só pessoas de Lisboa e com mais de 20 anos”. A namorada, também ela com 21 anos, abandonou a fila já depois das 21h30, hora em que foram informados que as vacinas tinham terminado.

Mais atrás na fila estiveram Madalena e Inês, irmãs de 22 e 21, que depois de esperar várias horas foram também informadas que não haveria vacinas suficientes para as vacinar. A amiga de ambas, Inês, soube o que se estava a passar e decidiu pedir esclarecimentos, na manhã seguinte. Contactou a junta de freguesia que a encaminhou para a Câmara Municipal de Lisboa. Da Câmara Municipal de Lisboa pediram-lhe que contactasse a linha SNS24 e aí encaminharam-na para a área de saúde pública.

Ao Observador, Inês relata que esteve mais de uma hora à espera na linha SNS24 até que a ligação caiu. Não satisfeita com a falta de respostas foi diretamente ao Altice Arena e questionou uma das pessoas que estava na entrada do pavilhão para a vacinação. A resposta que recebeu foi que “provavelmente” sobrariam mais vacinas também nessa segunda-feira e para tentar a sorte mais tarde, por volta das 18 horas. Ao final da tarde Inês e o namorado — de 21 anos com problemas respiratórios — dirigiram-se ao Altice Arena, mas a reação foi diferente da que esperavam: “Não há mais vacinas, não sei o que aconteceu ontem, mas só para quem tem agendamento!”. A resposta chegou de uma das pessoas responsável por controlar os acessos ao Altice Arena.

Autoagendamento está disponível acima dos 23 anos

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Questionada pelo Observador sobre se os centros de vacinação já têm autorização para vacinar jovens abaixo dos 20 anos, a Task Force reiterou que “a vacinação está aberta para auto agendamento apenas acima dos 23 anos”. “No entanto, é possível que jovens de idade inferior possam ter sido vacinados ou venham a ser vacinados se: estiverem incluídos nas comorbilidades previstas, estiverem no âmbito do programa ERASMUS (de acordo com as listas fornecidas à Task Force), estiverem integrados em seleções nacionais (com participação prevista num em evento internacional de representação do país) ou se forem estudantes em universidades fora do território nacional (apresentando respetivo comprovativo)”, repetiu aquele organismo.

Já Diogo e Carolina, ambos de 20 anos, vão integrar o programa ERASMUS já no início do próximo ano letivo. Têm viagens marcadas para França e Finlândia, respetivamente, no mês de agosto e não tinham recebido ainda qualquer contacto para agendar a vacinação ou indicação de que podiam dirigir-se ao Altice Arena, que coincide com a área de residência de ambos. Receberam a mensagem através de vários grupos no Whatsapp e foram rápidos a decidir ir até ao Altice Arena. Ainda assim, explicam ao Observador que nada lhes foi perguntado sobre o ERASMUS, que universidade frequentam ou qual o destino do programa de intercâmbio. “Foi uma vacinação igual a todas as outras, não me perguntaram nada”, relata Diogo que embarca no final do mês de agosto.

Ainda sem hipótese de agendar a vacina, que mantém o autoagendamento acima dos 23 anos, Madalena, Inês e o namorado ainda aguardam o dia em que serão vacinados. Mantêm-se em contacto com os amigos que também estiveram na fila, mas que não tiveram a mesma sorte.

O Observador contactou a ARS de Lisboa sobre o que se passou no Altice Arena, mas não obteve resposta em tempo útil.

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