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Foi há mais de 30 anos que o galês Ken Follett publicou o seu mais famoso romance, Os Pilares da Terra, a história da construção de uma catedral gótica na localidade imaginada de Kingsbridge, em Inglaterra. Follett deu continuidade à história 18 anos depois, em Um Mundo Sem Fim. Em 2017, voltou mais uma vez à localidade, para o volume final da chamada Trilogia de Kingsbridge, Uma Coluna de Fogo. Com quase três mil páginas no seu todo, os três livros seriam, à partida, suficientes para contar a história da localidade, mas Follett não parece estar determinado a deixar Kingsbridge.
No ano passado, o escritor anunciou que faria uma nova viagem no tempo, a um período em que Kingsbridge ainda não era Kingsbridge. O Amanhecer de uma Nova Era — título que remete para o período conturbado que se seguiu à queda do Império Romano do Ocidente, conhecido popularmente como a Idade das Trevas — passa-se na década de 990, numa altura em que a costa inglesa era assolada pelos ataques dos vikings. O papel destes piratas do norte da Europa é destacado na capa do livro que, nas suas diferentes edições, mostra um pormenor de um objeto viking. Mas os vikings não são as personagens principais do novo romance de Follett, que os escolheu para a capa por simbolizarem o período que retrata.
O Amanhecer de uma Nova Era, publicado em setembro no Reino Unido e neste mês de outubro em Portugal, gira em torno de três figuras de meios sociais distintos — Edgar, um construtor de barcos; Aldred, um monge que sonha em construir um centro cultural na abadia onde reside; e Ragna, filha de Hubert de Chersburgo, na Normandia. O destino destas três personagens cruza-se e juntos formam uma aliança que pretende afastar do poder os homens corruptos de Shiring.
Foi sobre os tempos conturbados do início da Alta Idade Média e a paixão do Follett por períodos tumultuosos como estes que falámos, por telefone, com o escritor galês, que garantiu que ainda não é desta que abandonará o mundo de Kinsbridge: “Não tenho nenhum plano para um futuro próximo, mas espero voltar. (…) Acho que há uma grande probabilidade de voltar a escrever um livro sobre Kingsbridge”.
Este novo romance é um regresso a Kingsbridge, a localidade onde se passa a história de Os Pilares da Terra e de outros dois outros romances que escreveu depois. Porque é que decidiu voltar?
Por duas razões principais: gosto de escrever sobre Kingsbridge e os leitores gostam de ler sobre Kingsbridge. Toda a gente fica feliz. Decidi voltar atrás no tempo em parte porque não queria fazer o que era esperado. Quando se é um artista criativo, não se deve fazer sempre o que é suposto. Depois de três romances passados em Kingsbridge, as pessoas provavelmente esperavam que escrevesse um quarto, passado dois mil anos depois do fim de Uma Coluna de Fogo. Decidi não o fazer, simplesmente porque não queria fazer o que era expectável. A ideia de voltar atrás na história de Kingsbridge levou-me também a um período muito interessante e dramático na história da Europa — o fim da Idade das Trevas e o início da Idade Média. É por isso que o livro se chama O Amanhecer de uma Nova Era, sendo o “Amanhecer” a Idade das Trevas e a “Nova Era” a Idade Média. A Idade das Trevas foi um período de estagnação terrível na história europeia. Perdemos a grande cultura dos romanos, dos gregos e a literacia, a tecnologia andou para trás durante este período. Depois, por volta do ano 1000, [este período] chegou ao fim e começou a Idade Média. A Idade Média foi o renascimento da civilização europeia. Foi um momento decisivo na história da Europa e eu gosto de momentos decisivos. É interesse escrever sobre eles. Sobre a controvérsia, o conflito.
Quando decidiu escrever uma trilogia sobre o século XX, estava também a debruçar-se sobre um momento decisivo da história europeia.
O século XX é provavelmente o momento mais dramático e certamente o mais violento da história da civilização humana. Claro que isso o torna interessante para mim enquanto contador de histórias, mas também porque é a minha história, a nossa história. A maioria dos meus leitores nasceram no século XX e a trilogia conta-nos de onde viemos e como como é que o mundo se tornou naquilo que é hoje.
O período que trata neste novo livro é também um período turbulento e de grande violência. Parece querer dizer isso mesmo ao descrever um ataque viking logo nas primeiras páginas.
Sem dúvida. Neste momento da história de Inglaterra, havia três grupos poderosos que competiam pelo controlo do reino — os anglo-saxões, que viviam em Inglaterra; os vikings, que atacavam Inglaterra a toda a hora e que a tratavam como se fosse um loja onde não tinham de pagar; e os normandos, que eram provavelmente a civilização mais sofisticada no noroeste da Europa e que também estavam de olho em Inglaterra. Como toda a gente sabe, os normandos acabaram por conquistar Inglaterra [em 1066] e governá-la durante centenas de anos. É um concurso entre os três grupos, e isso é sempre interessante. Há muitas oportunidades de criar uma boa história numa situação como esta.
“Muita gente pensa que os vikings são sexy, mas eu não”
Ao contrário de outros trabalhos de ficção, O Amanhecer de uma Nova Era não mostra uma versão romantizada os vikings, mas sim como eles realmente eram — extremamente violentos.
Muita gente pensa que os vikings são sexy, mas eu não. Em parte, porque toda a gente viu a série. É uma boa série, mas deixou de fora muitas coisas. Uma das coisas foi que os vikings eram comerciantes de escravos. Quando faziam raids, deitavam fogo a vilas e cidades costeiras e roubavam tudo o que podiam levar consigo, mas também capturavam homens e mulheres jovens para venderem como escravos. Tinham três grandes mercados de escravos — um em Dublin, na Irlanda; outro na cidade de Bristol, em Inglaterra; e outro na cidade Ruão, no norte de França –, onde vendiam estes jovens. A escravatura é sempre brutal, hedionda e cruel, e os vikings eram os esclavagistas deste tempo. Por isso, não vejo nada de sexy neles.
Os vikings não são as personagens principais deste livro, que se passa em Inglaterra, mas são eles que surgem na capa. Porquê?
Primeiro, porque simbolizam este tempo. As pessoas reconhecem o capacete [na edição britânica] e, ao olharem para a capa, vão saber em que período a história se passa. Mas o papel dos vikings no livro é o de serem uma presença constante fora do palco. Estão sempre à espreita, preparados para atacar, embora a maioria das cenas não envolvam qualquer viking. São todas sobre os anglo-saxões e os normandos, mas todos têm medo dos vikings. Isso cria uma sensação de ameaça na Inglaterra anglo-saxónica deste tempo que penso ser muito parecida com a realidade da altura. E dá um certo nível de suspense à ação.
Mas o verdadeiro perigo não era os vikings, eram os normandos.
É verdade [risos]. Foram os normandos que acabaram por conquistar Inglaterra. Mas já não nos preocupamos muito com eles, somos todos uma mistura de normandos e anglo-saxões. Como a nossa língua — é uma mistura dos dois.
Os normandos foram responsáveis por algumas das mudanças que ocorreram na língua inglesa. Muitas pessoas não sabem isso.
Sim, é verdade. É por isso que, em inglês, temos duas palavras diferentes para tantas coisas. Temos palavras que vêm do inglês antigo e outras que vêm do francês e, geralmente, podemos usar as duas. [Por exemplo,] a palavra inglesa para porco é “pig” e a francesa é “porc”. Quando nos queremos referir à carne de porco, chamamos-lhe “pork”. Mas também temos palavras como “motherly” [com origem no inglês antigo], que soa muito bem — é uma palavra quente e confortante. A palavra “maternal” [tem origem francesa] significa exatamente a mesma coisa, mas não provoca o mesmo sensação.
Uma das personagens principais é uma normanda, Ragna, filha de Hubert de Cherburgo. As outras são Edgar, um jovem construtor de navios, e Aldred, um monge que sonha em construir um grande centro de conhecimento em Shiring. Juntos, formam uma visão alargada do que seria a sociedade anglo-saxónica. Era esse o seu objetivo?
Sim. Primeiro que tudo para mostrar estes diferentes tipos de pessoas, a sociedade de uma forma geral, mas também porque torna a história mais interessante. Obviamente que podia ter escrito uma história apenas sobre o pequeno grupo de pessoas que vive em Dreng’s Ferry. Teria sido como uma telenovela — um pequeno grupo de pessoas onde existem sempre discussões e casos amorosos –, mas esse tipo de história não é tão divertido. Prefiro muito mais histórias onde há estrangeiros que vêm de outro país, alguém que tem um estilo de vida totalmente diferente, como um monge. E, claro, depois temos a outra personagem principal — a quarta personagem principal –, o bispo Wynstan.
O vilão.
Sim, ele é muito mau. No final, [Ragna, Edgar e Aldred] vencem. Mas apenas no fim e por pouco tempo.
Porque, como disse há pouco, estes eram tempos conturbados. Nada ficava igual durante muito tempo.
Sem dúvida. São os tempos mais interessantes sobre os quais escrever, porque vemos mudanças históricas. Às vezes as mudanças são maiores do que outras, como quando há uma revolução ou alguma coisa como a Reforma protestante ou o Iluminismo — estas são as grandes mudanças e é sempre interessante vê-las. Num romance histórico, podemos ver que as mudanças históricas foram realizadas por pessoas, que fizeram escolhas, que fizeram coisas. No final, são as pessoas que fazem a História.
“Ler romances torna-nos mais compreensivos para com os outros”
A ficção histórica consegue mostrar melhor o lado humano dos grandes acontecimentos históricos e a forma como as pessoas estiveram envolvidas neles?
Sim, e é mais interessante, porque nos interessamos por seres humanos. Identificamo-nos com eles, compreendemos as suas esperanças e receios. Podemos dizer, por exemplo, que 50 mil soldados britânicos morreram no primeiro dia da Batalha de Somme, no dia 1 de julho de 1916. É apenas um número. Um nome mostra-nos um desses jovens soldados, quais eram as suas esperanças e receios, descobrimos como eram os seus familiares, ficamos a saber sobre a rapariga de quem gostava… Por essa razão, quando esta pessoa morre, é muito mais emotivo do que quando lemos que 50 mil britânicos morreram. É muito pior, claro, mas para os seres humanos, que pensam sobre outros seres humanos, a morte desse jovem num romance pode fazer com que fiquem com lágrimas nos olhos. Quando num livro de história nos dizem que 50 mil homens morreram, isso não nos faz sentir nada.
Considera que a ficção pode ajudar a recordar-nos quão difícil e cruel o mundo pode ser? Porque é fácil olhar apenas para os números e esquecer quão terríveis foram certos acontecimentos históricos.
Sim, concordo com isso. Acho que o que acontece num romance é que compreendemos as emoções das personagens e partilhamos dessas emoções e sentimo-las. Quando uma personagem está triste, o leitor sente-se triste; quando uma personagem se está a sentir assustada, o leitor sente-se assustado. Se alguém na história é mal tratado, ameaçado ou magoado, sentimo-nos furiosos. Enquanto leitores, temos estas reações emocionais. E o que estamos a fazer é a partilhar das emoções de pessoas que são diferentes de nós. Que vivem num período histórico diferente, que são de um país diferente, de outra raça, de outra religião. Partilhamos das suas emoções apesar se serem diferentes de nós. Isso é uma capacidade muito importante para os seres humanos, a capacidade de entender e partilhar das emoções de pessoas que são diferentes de nós. Toda a gente o consegue fazer com os seus amigos, vizinhos, mas quando conhecemos alguém estranho, para entendermos essa pessoa, precisamos compreender que ele ou ela tem muitas das mesmas emoções que nós. Ler dá-nos o poder de imaginar as emoções de pessoas que não são como nós. Isso é muito importante. Ler romances torna-nos mais compreensivos para com os outros.
Falou do poder da leitura, o que me fez lembrar de uma personagem que já referimos aqui, o monge Aldred, que é um apaixonado pelos livros e que sonha em construir um grande centro cultural no mosteiro onde vive.
Na Idade das Trevas, os mosteiros eram os guardiões da pouca cultura que sobrou depois do colapso do império romano. Os mosteiros tinham alguns livros, não muitos, e tinham música. Os monges e padres aprendiam a ler, a escrever. Aprendiam latim. Os mosteiros e a Igreja foram o último repositório de cultura na Europa durante 500 anos. Depois, por volta do ano 1000, os religiosos começaram a liderar um movimento de renascimento da cultura europeia.
Outra personagem interessante é Ragna. É uma obstinada, forte e independente, que acredita que as mulheres devem desempenhar as mesmas tarefas governativas que os homens, apesar de, naquele tempo, isso raramente acontecer.
Em todos os períodos da história houve mulheres que se tornaram poderosas, apesar de os textos da altura, escritos por homens, dizerem sempre que as mulheres são fracas e que não são inteligentes, que são demasiado emotivas e que não conseguem tomar decisões. No entanto, quando um senhor ia para a guerra, era normal dizer à mulher para tomar conta das terras enquanto estava fora. Ela tornava-se responsável — dizia às pessoas o que fazer, recolhia o dinheiro [das rendas], presidia ao tribunal, julgava casos. Fazia todas as coisas que o marido fazia. Houve condessas, rainhas poderosas, abadessas que lideraram abadias que às vezes empregavam centenas de homens — ao longo da história, existiram estas mulheres, apesar de [os autores daquele tempo] dizerem que as mulheres não podiam fazer este tipo de coisas. Era como se estivessem cegos para o que estava à sua volta.
Mas as histórias de muitas destas mulheres não chegaram aos nossos dias, precisamente por causa do preconceito que existia em relação a elas. A história foi escrita por homens, não por mulheres.
Isso também é verdade. Quando escrevemos sobre história, muitas vezes temos de usar a imaginação, porque toda a história foi escrita por alguém e esse escritor é um ser humano, tem os seus preconceitos. Deparo-me muito com isso. Consulto historiadores para os meus livros e muitas vezes discuto com eles. Às vezes dizem-me “isto não podia ter acontecido” e eu pergunto-lhes “como é que sabes?”. Quando discuto com historiadores, muitas vezes descubro que algumas das coisas que dizem não são baseadas em evidências, são apenas baseadas em preconceitos. Uma dessas coisas é a assunção de que a maioria das coisas era feita por homens. Quando estava a escrever Os Pilares da Terra, consultei um amigo, um historiador francês chamado Jean Gimpel. As pessoas costumavam dizer que as catedrais tinham sido construídas por homens, e Jean Gimpel olhou para os registos da cidade de Paris [no século XIII], para uma lista de nomes e respetivas profissões, que tinha quanto os trabalhadores que pagavam de impostos. Olhou para todas as pessoas que trabalharam na catedral [de Notre-Dame] e viu que havia nomes de mulheres e calculou que 17% dos nomes dos trabalhadores dos registos eram de mulheres. Havia bastantes mulheres. Isto significa que centenas e centenas de mulheres ajudaram a construir as grandes catedrais europeias. A ideia de que eram construídas por homens não era apoiada por nenhuma evidência, era apenas uma assunção, até que Gimpel provou que estava errada.
Para este novo romance, visitou uma série de lugares relacionados com a história que queria contar. Esteve em Oslo, no Viking Ship Museum, e também em Bayeux, onde viu a chamada tapeçaria de Bayeux. Tenta sempre visitar os locais e ver as coisas de que quer falar?
Prefiro fazê-lo, mas nem sempre é possível. Quando escrevi O Vale dos Cinco Leões, que se passa no Afeganistão, o país estava em guerra e decidi que não queria viajar e arriscar a minha vida. Tirei toda a informação de livros e mapas. Entrevistei jornalistas que estiveram no Afeganistão durante a guerra, portanto tinha muita informação, mas não visitei o país. E naturalmente que agora não posso fazer viagens de pesquisa por causa do vírus. Posso trabalhar sem as fazer, mas prefiro visitar os lugares. Consigo captar um sentimento muito mais forte dos edifícios e objetos, de coisas como os navios vikings, mas sobretudo de catedrais, que me inspiraram a escrever Os Pilares da Terra. Foi caminhar por aqueles edifícios que me inspirou a escrever Os Pilares da Terra.
“O meu fascínio com arquitetura é um fascínio com a forma como as pessoas vivem”
A arquitetura e a maneira como os edifícios são construídos tem sempre grande destaque nos seus romances. É óbvio que é um apaixonado por arquitetura — afinal, escreveu um livro sobre a construção de uma catedral gótica. O que é que tanto o fascina na arquitetura?
Gosto de arquitetura porque me fala sobre um modo de viver. Gosto de catedrais porque me dizem tanto sobre a Idade Média. Gosto de olhar para grandes casas de campo porque, quando andamos por estes lugares, conseguimos imaginar as vidas que as pessoas tiveram dentro deles. A arquitetura faz disparar a minha imaginação. Em O Amanhecer de uma Nova Era, descrevo as casas anglo-saxónicas — eram muito pequenas, desconfortáveis, eram feitas de madeira, o telhado era de palha e o chão era muitas vezes apenas terra. Isso também é arquitetura. É arquitetura muito simples, mas também nos diz alguma coisa sobre a vida das pessoas que lá viviam. Na verdade, o meu fascínio com arquitetura é um fascínio com a forma como as pessoas vivem.
Foi à arquitetura que dedicou o seu último livro, que fala sobre a história de Notre-Dame.
Alguns dias depois do incêndio, fui a Paris para participar num programa de televisão sobre Notre-Dame. No dia a seguir a isso, estava a tomar pequeno almoço com a minha editora [francesa] e ela disse-me que gostava que escrevesse um pequeno livro sobre a importância de Notre-Dame. Que gostava que o escrevesses muito depressa e que o publicaria muito depressa e doariam os lucros para o fundo de reconstrução da catedral. “Eras capaz de o fazer?”. E eu disse que adorava fazê-lo. Estava a terminar O Amanhecer de uma Nova Era, mas tirei dez dias para escrever este livro sobre Notre-Dame. Foi uma experiência maravilhosa, porque normalmente demoro três anos a escrever um livro e levei dez dias a acabar este. Foi especial e também muito interessante. E claro que também doei os meus direitos de autor ao fundo.
Como foi descobrir que a catedral estava a arder?
Foi extremamente chocante. Estava na cozinha com a minha mulher Barbara. Uma amiga de longa data ligou-me, disse-me que estava em Paris e pediu-me que ligasse a televisão. Ligámos a televisão e vimos a catedral a arder. Foi extremamente chocante. Pensamos que um lugar como aquele vai existir para sempre e depois vemo-lo a arder. A certa altura, pareceu que ia arder tudo, que não ia sobrar nada.
O que é que pensa sobre o plano de reconstrução?
Acho que está bem. Acho que a vão reconstruir como era, não vão permitir nenhuma modernização. Parece que os franceses não querem isso, toda a gente quer que seja reconstruída exatamente como era. Na noite do incêndio, vi o Presidente Macron na televisão, e ele disse: “Nous rebâtirons”. “Vamos reconstruir.” E acho que é isso que toda a gente quer. Estive em Paris pouco depois do incêndio e estive com o arquiteto Philippe Villeneuve, que é responsável pela reconstrução. Ele mostrou-me o que estavam a fazer. A primeira coisa que tiveram de fazer foi garantir que o que sobreviveu da igreja não cai, por isso reforçaram algumas partes com madeira, para que as paredes não caíssem. Era isso que estavam a fazer quando lá estive. Querem que a igreja esteja pronta em 2024, quando os Jogos Olímpicos devem acontecer em Paris. Não estará terminada nessa altura, mas acho que será seguro para as pessoas entrarem para participarem em cerimónias religiosas. Acho que o que devem fazer primeiro é torná-la segura para poder ser usada e, depois de passado o prazo de 2021, devem terminar as decorações e todas as coisas que não são essenciais, mas que têm de ser postas como estavam antes do incêndio. Acho que toda a gente pensou que foi muito ambicioso quando o Macron disse que ia estar pronta para os Jogos Olímpicos, mas acho que vão conseguir fazê-lo.
E a experiência de entrar em Notre-Dame? Será a mesma depois das obras?
Acho que vai ser ainda mais emotivo. Mais de metade das pedras ainda lá estão. Claro que algumas serão novas e haverá outras coisas novas também, mas a forma da igreja será a mesma. Acho que a sensação que temos ao entrar será ainda mais intensa porque sabemos que a igreja sobreviveu a este incêndio terrível.
Começámos por dizer no início desta entrevista que O Amanhecer de uma Nova Era se tratava de uma nova incursão a Kingsbridge e à Idade Média. Mas será a última?
Não!
Não? Quer voltar?
Não sei, não tenho nenhum plano para um futuro próximo, mas espero voltar. Gosto escrever sobre a Idade Média e sobre Kingsbridge e os leitores gostam. E eu gosto de agradar aos meus leitores e de me agradar a mim próprio, portanto, sim, acho que há uma grande probabilidade de voltar a escrever um livro sobre Kingsbridge.