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Luís Marques Mendes vai ao Congresso do PSD que vai aprovar o perfil do candidato presidencial que o partido vai apoiar, mas não vai usar da palavra — direito vitalício que tem à sua disposição por ser ex-líder. Naquele que é o último Congresso antes das Presidenciais, o antigo líder e comentador político fura a sua tradição pessoal de só ir ao primeiro Congresso de cada novo líder e marcará presença em Braga. Ao contrário de Marcelo — que em 2014 foi forçado a fazer um discurso para a família social-democrata por estar desalinhado com a direção — Mendes, como o Observador tinha avançado, vai dispensar falar do púlpito.
Marques Mendes foi ao primeiro Congresso de Rui Rio, no início 2018, e ao primeiro de Luís Montenegro, em julho de 2022, numa última presença que justificou na altura com a prática que tem seguido nos últimos anos. Agora que Luís Montenegro disse que Marques Mendes é um “dos que encaixa melhor” no perfil que definiu na moção estratégica que vai levar ao Congresso de Braga, o ex-líder faz questão de estar presente. Até porque é o “seu” distrito: o militante nº1893 pertence à concelhia do PSD de Fafe, distrital de Braga, desde 10 de outubro de 1974.
O comentador político, como o Observador já noticiou, não avança antes de 2025, pelo que também não vai aproveitar o Congresso para qualquer anúncio nesse sentido. Não vai deixar, no entanto, de se mostrar ao país junto da sua família política. No máximo, o que pode acontecer, é o nome de Marques Mendes ser anunciado pelo speaker quando entrar na sala, havendo a expectativa que seja repetido o forte aplauso de 2022.
Mendes quase inevitável como candidato do PSD a Belém. Ex-líder não avança antes de 2025
Na linha do que é habitual, outros ex-líderes como Passos Coelho e Rui Rio não vão ao Congresso. Os dois, como também já escreveu o Observador, não estão neste momento disponíveis para entrar numa contenda presidencial. Já Luís Marques Mendes tem dito que não enjeita essa possibilidade e está, até agora, na pole position para ter o apoio do partido. Mendes não fará como Marcelo (que só avançou no mês de outubro antes das eleições de janeiro do ano seguinte), mas também não tem interesse em avançar agora, nem sequer no primeiro trimestre de 2025 para não ser submetido a um desgaste desnecessário antes de tempo. Além disso, enquanto não for oficialmente candidato, Mendes pode continuar — sem margem para críticas de falta de equilíbrio entre candidaturas — a ocupar o lugar semanal de comentador em horário nobre em canal aberto.
[Já saiu o terceiro episódio de “A Grande Provocadora”, o novo podcast Plus do Observador que conta a história de Vera Lagoa, a mulher que afrontou Salazar, desafiou os militares de Abril e ridicularizou os que se achavam donos do país. Pode ouvir aqui, no Observador, e também na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube. E pode ouvir aqui o primeiro episódio e aqui o segundo.]
Luís Marques Mendes já tem sido, no entanto, atacado pelos adversários do PSD como se fosse candidato. O presidente do Chega, André Ventura disse numa entrevista na semana passada que “nunca” apoiaria Mendes já que “a trajetória que tem foi sempre de um político mais próximo do PS do que outra coisa. Para Ventura, Marques Mendes “é um político do centro, do centro de interesses em que vivemos, entre PS e PSD. Representa o centrão de interesses”. Em sentido contrário, Ventura puxa por potenciais adversários do ex-líder do PSD, ao dizer que “Gouveia e Melo é um candidato bom porque foge ao sistema”, acrescentando que tanto ele como Passos Coelho têm perfil para o cargo.
O estilo Montenegro: direção escondida até à última
Há expectativas de mudança nos órgãos do partido. Luís Montenegro manteve a sua direção fechada até ao último minuto no último Congresso. Fez, inclusivamente, convites a vários dos seus atuais vice-presidentes no próprio domingo em que os nomes foram anunciados. Conseguiu com isso que os nomes não fossem noticiados antes. A estratégia do líder do PSD será agora a mesma e tentar guardar a informação até ao fim.
As dúvidas que subsistem é se Luís Montenegro vai optar pela continuidade ou se vai optar por ‘desgovernamentalizar’ a direção, trocando alguns dos vice-presidentes que atualmente são ministros. Além disso, outra das mudanças que tem estado iminente desde que o Governo tomou posse é a saída da vice-presidente Inês Palma Ramalho, uma vez que a mãe é ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social. A ideia é prevenir uma situação futura de incompatibilidade.
Pedro Passos Coelho, na primeira direção que fez no Governo, optou por ter apenas dois governantes (Jorge Moreira da Silva e Marco António Costa) na direção do PSD. E na segunda direção que escolheu estando no Governo manteve apenas um governante na comissão permanente (Moreira da Silva), já que embora Marco António tenha continuado na direção, deixou de ser secretário de Estado.
Outra dúvida que subsiste é se Carlos Moedas voltará a encabeçar a chamada “lista oficial”, a apoiada pelo líder, ao Conselho Nacional. Em 2022, o autarca de Lisboa foi a escolha de Montenegro. Com o partido no poder, será através do Conselho Nacional que a (fragilizada ou quase inexistente) oposição interna poderá dar um ar da sua graça, apresentado várias listas alternativas ao maior órgão entre congressos.
Miguel Albuquerque também enfrenta dificuldades para se manter como presidente da Mesa do Congresso. O afastamento entre os líderes do PSD e PSD-M começou em janeiro com as buscas na Madeira. Depois, Albuquerque também não gostou de ver o líder do PSD dizer que, se fosse ele, não se recandidataria. E agora Montenegro também não terá gostado da velha estratégia dos deputados do PSD-Madeira de ameaçarem votar contra o Orçamento. Tudo isto reduz a margem de Albuquerque para continuar à frente da Mesa do Congresso. Mas, com Montenegro, é tudo até ao último minuto.
Bugalho vai ao Congresso, mas não será ‘Temido’
O eurodeputado e cabeça-de-lista do PSD nas últimas europeias vai ao Congresso do PSD, mas continua, sabe o Observador, sem planos de se tornar militante. O regulamento do 42º Congresso permite, no entanto, que os deputados eleitos ao Parlamento Europeu, como é o caso de Sebastião Bugalho, possam marcar presença, sem direito a voto, na reunião magna do partido.
Apesar das ambições futuras que lhe são apontadas, Bugalho continua sem pressa para se filiar no PSD. No verão, no primeiro dia como eurodeputado, disse no programa Vichyssoise: “Confesso que, tendo sido eleito como independente há tão pouco tempo, não faria grande sentido, depois de os portugueses elegerem um independente, esse independente transformar-se num militante, como Jesus Cristo nas Bodas de Caná transformou a água em vinho. Há tempo para fazer outros milagres.”
Um número similar ao que António Costa fez com Marta Temido — em que lhe deu o cartão de militante no palco do Congresso do PS — está totalmente afastado por duas razões: nem Bugalho quer ser (já) militante, nem Montenegro se prestava a isso.