Artigo em atualização ao longo do dia
A campanha do Bloco de Esquerda esteve em Faro, onde a caravana visitou um centro de investigação marítima — Centro de Ciências do Mar do Algarve. Catarina Martins, Mariana Mortágua, Jorge Costa e João Vasconcelos (candidato do BE pelo círculo de Faro) espreitaram por diversas vezes para dentro de tanques e aquários onde nadavam peixes, chocos ou até cavalos marinhos. A intenção era alertar para as alterações climáticas e para a extinção de espécies — na Ria Formosa, mesmo ao lado das instalações visitadas pelo BE, a quantidade de cavalos marinhos tem estado a diminuir — mas foi a legislação laboral que acabou por marcar esta iniciativa de campanha — e com ela novos ataques ao PS.
Depois de ouvir explicações sobre as espécies criadas neste centro de investigação, Catarina Martins falou aos jornalistas sobre as alterações à legislação laboral aprovadas no fim da legislatura pelo PS — com as abstenções de PSD e CDS — que BE, PCP e PEV decidiram enviar para o Tribunal Constitucional. Uma ação que ficou concluída esta tarde e que foi anunciado pelo líder do grupo parlamentar bloquista, Pedro Filipe Soares, na sua conta de Twitter. “Está entregue no Tribunal Constitucional o pedido de fiscalização das alterações ao Código do Trabalho. O PS apoiou-se na direita para insistir no alargamento do período experimental, aumentando a precariedade, atacando a Constituição e os jovens”, escreveu o deputado. “A luta por emprego com direitos volta ao TC”.
Está entregue no T. Constitucional o pedido de fiscalização das alterações ao Cód. do Trabalho.
PS apoiou-se na direita para insistir no alargamento do período experimental,aumentando a precariedade, atacando a constituição e os jovens.
A luta por emprego com direitos volta ao TC— Pedro Filipe Soares (@PedroFgSoares) September 25, 2019
Este tema surge no início da campanha e logo no dia seguinte ao arrufo entre PS e BE. O anúncio de que os partidos de esquerda iam levar estas alterações ao Palácio Ratton foi feito ainda em agosto mas só agora foi concretizado. A entrega do pedido de fiscalização sucessiva surge no timing ideal, já que permite aos bloquistas continuar no caminho de distanciamento dos socialistas para tentar capitalizar o voto útil da esquerda — a estratégia que Catarina Martins já assumiu ser a sua para esta campanha.
Assim, e à semelhança de Pedro Filipe Soares, a coordenadora do BE aproveitou o tema para voltar a atacar o PS. “Achamos que é um erro que o PS tenha decido acabar esta legislatura não no acordo de combate à precariedade que tinha feito à esquerda mas num acordo patronal com o apoio da direita que acaba por aprofundar a precariedade e ir contra o TC. É um caminho diferente daquele que fizemos ao longo dos últimos quatro anos”, afirmou.
A expectativa do Bloco de Esquerda, que segundo Catarina Martins trabalhou “muito bem” com o PCP neste dossiê, é que o Tribunal Constitucional bloqueie três normas: o alargamento do período experimental, o alargamento de contratos de curta direção — “contratos orais e informais” — a todos os setores da economia, e uma terceira, que não foi não foi alvo de alteração na última revisão das normas mas que a esquerda aproveitou para enviar ao TC, que tem a ver com a caducidade de algumas convenções coletivas e que altera as regras de funcionamento de alguns sindicatos. Esta última foi sugerida pela CGTP e aceite pelos três partidos.
A tentativa do Bloco de Esquerda de colar o PS à direita prossegue
Depois de um dia de campanha marcado quase exclusivamente pelo bate-boca com o PS, o BE quis voltar à normalidade na campanha. O assunto parece encerrado pela parte dos bloquistas e é tempo de voltar a concentrar forças na mensagem que se quer passar e de colocar o foco no partido. Mas nem para isso Catarina Martins dispensa os socialistas. Aliás, o desentendimento sobre a paternidade da “geringonça” permite que os dois partidos se distanciem e afastem a imagem de quatro anos de braço dado, a aprovar orçamento após orçamento. A líder do Bloco não perdeu tempo a marcar as distâncias e logo na visita ao Mercado de Benfica, a primeira ação de campanha desta quarta-feira, pediu um voto assegurando que esse é o caminho para evitar uma maioria absoluta do PS.
A estratégia está fixada: apelar ao “voto útil” da esquerda no BE. É a própria Catarina Martins que o reconhece. “Claro que sim [que o partido está a apelar ao voto útil para travar a maioria absoluta do PS]. O Bloco de Esquerda está em eleições”, afirmou em declarações aos jornalistas. “Claro que o Bloco está a apelar ao voto”.
Ao longo da visita, em que Catarina Martins esteve acompanhada pelos primeiros candidatos do partido pelo círculo de Lisboa, distribuiu jornais e cumprimentos, e ouviu alguns compradores, que se queixavam ora das suas pensões ora do estado do SNS. Mariana Mortágua também ia sendo solicitada. Nas respostas, lembravam as medidas que o BE ajudou a tomar neste legislatura e reconheciam que nem tudo estava bem. “Já fizemos uma parte mas é preciso fazer mais”, iam respondendo.
Convidada por uma peixeira para ir para trás da bancada — “venha, não tenha medo que eu sou uma mulher de esquerda” — Catarina Martins acedeu ao pedido. Quando se aproximou, a vendedora esclareceu: “Sou de esquerda, mas não sou do PS”. A líder bloquista riu-se e prosseguiu a conversa.
A peixeira ia lamentando o facto de a “geringonça” não ter chegado mais longe mas não tinha dúvidas de quem era o culpado. “A culpa é do PS, que às vezes é mais de direita e até se entende com eles. Sou uma mulher de esquerda e não quero que o PS tenha maioria”, disse. Chegava a poder confundir-se quem é que estava afinal a fazer campanha. “É para isso que estamos a lutar”, respondeu Catarina Martins, que, depois de olhar para a multidão de microfones estendidos na sua direção, não se esticou em mais declarações.
À saída do mercado, e depois de ter havido quem protestasse — “ontem estiveram cá uns, agora estão outros… tragam mas é freguesia que isto está muito mau” — , Catarina Martins voltava à carga com a necessidade de travar a ambição dos socialistas. “Uma maioria absoluta é um projeto diferente de país. Quem sabe como foi construído este tempo, estes quatro anos, a puxar pela pensão, pelos salários, pelos serviços públicos e por uma economia mais forte sabe que a maioria absoluta não é resposta e sabe que tem sempre o BE ao seu lado”, disse.
Catarina Martins não quer que Tancos seja “caso de eleições”
Na mesma ronda de respostas aos jornalistas, a líder do Bloco de Esquerda foi instada a comentar o caso Tancos e os recentes desenvolvimentos, que trazem a público uma escuta em que o Major da PJ Militar, Vasco Brazão, afirma que o “papagaio-mor do reino” sabia de tudo — o MP acredita que a alcunha diga respeito a Marcelo Rebelo de Sousa. “Este é um caso que não é de agora e portanto julgo que não deve ser um caso de eleições, até porque já decorre há bastante tempo”, considero a líder do BE.
Tancos. “É bom que fique claro que o Presidente não é criminoso”, diz Marcelo
“A acusação ainda não se conhece e não vou fazer qualquer especulação sobre essa matéria. Vou repetir o que o BE disse sempre: a justiça deve fazer o seu caminho e deve apurar todas as responsabilidade e todas as consequências. Portugal é uma democracia e é assim que deve continuar”, acrescentou ainda, evitando falar mais sobre o tema, que marcou a manhã desta quarta-feira e já motivou uma reação do próprio Marcelo Rebelo de Sousa, que à margem da Assembleia-geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, disse aos jornalistas não sabia de nada. “É bom que fique claro que o Presidente não é criminoso”.