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AFP/Getty Images

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"Na Catalunha havia um clima de pré-guerra civil, nunca tinha vivido nada disto"

O escritor Javier Cercas diz ao Observador que a crise catalã é "uma autêntica barbaridade". Fala também do último livro, onde encara a sua "pior herança": um tio-avô que combateu por Franco.

Para Javier Cercas, é impossível falar de uma guerra civil com leviandade. Afinal, o autor de “Os Soldados de Salamina” tornou-se num dos escritores mais importantes de Espanha por escrever sobre a Guerra Civil espanhola. Em entrevista ao Observador, conta agora que em setembro e em outubro do ano passado “havia uma clima de pré-guerra civil” na Catalunha, onde vive desde os quatro anos, quando os pais saíram da terra onde nasceu, Ibahernando.

Numa conversa por telefone, antes de integrar o painel que encerrou a 8ª edição do Festival Literário da Madeira, Javier Cercas reflete sobre os seus livros, sobre a “herança” de uma família que apoiou o ditador Franco, e sobre a era do pós-verdade. “As piores mentiras são as que contêm uma parcela de verdade. São mentiras que sabem a verdade”, diz.

No início dos seus últimos dois livros, “O Impostor” e “O Monarca das Sombras” [2015 e 2017, respetivamente, ambos editados pela Assírio & Alvim], diz de forma clara que não queria escrevê-los. Está cansado das personagens que passaram pela Guerra Civil? Por que razão dizia que não queria escrever estes livros?
Por motivos diferentes. Mas talvez não tão diferentes quanto isso, agora que penso nisso. No fundo, porque em ambos os casos havia um certo temor, de natureza distinta, mas ainda assim um temor. Nestes dois livros e noutros, conto como é o próprio processo de escrita. Isto é tão ou mais importante do que a história que se conta. Conto as minhas perplexidades, as minhas dúvidas, os meus medos. Por isso, às vezes, digo que escrevo livros de aventura sobre a aventura de escrever livros. Nos dois casos, aconteceu isso. Por razões diferentes, tinha um certo temor. No caso de Enric Marco, de “O Impostor”, temia o que podia encontrar ao refletir sobre o impostor. No fundo, temia que me encontrasse a mim mesmo e à minha própria natureza de impostor! Porque todos somos impostores. Neste caso, o temor estava muito mais justificado. “O Monarca das Sombras”, como conto no livro, tinha-o na cabeça praticamente desde que sou adolescente. E tinha medo, sobretudo porque escrever este livro implicava ter de enfrentar o pior passado da minha família. E esse também é o meu pior passado.

Teve medo de glorificar uma pessoa que, além de ter sido seu familiar e de quem a sua mãe gostava muito, foi para todos os efeitos um militar falangista? Apagou muitas coisas enquanto escrevia?
Não, não apaguei absolutamente nada. Não havia nenhuma tentativa de glorificar, havia uma tentativa de entender. Em primeiro lugar, era uma tentativa de recuperar ao máximo a história perdida deste rapaz. Esse era o objetivo principal.

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Mas a minha pergunta não era se tentou glorificá-lo, antes pelo contrário. Falo do receio, do medo e da tentação de glorificar esta pessoa.
Talvez, talvez, mas o livro tenta reconstruir. Em primeiro lugar, para conhecer em que consiste esta terrível herança que eu e todos temos. Porque, em Espanha, todos temos uma herança, que é a guerra. E este rapaz simbolizava essa herança terrível. Quis conhecê-la e entendê-la, saber do que era feita. Entender porque é que este rapaz fez o que fez e acabou como acabou. Este é o fundamento dos meus livros. É entender. O que, obviamente, não significa justificar. Antes pelo contrário. É ganhar instrumentos para não cometer os mesmos erros. Foi nisso que consistiu o livro. E para conhecer minha pior herança. Perguntar: o que fez a minha família durante a guerra? O que fez este rapaz durante a guerra? Claro que tudo isto dá medo. Mas não é só a mim, é a toda a gente. Todos conhecemos as coisas boas que os nossos familiares fizeram. Todos conhecemos a nossa melhor herança. Todos, sem exceção. Mas a má herança está escondida debaixo de um manto de ignorância. Não é só no meu caso, é em todos. E não é só em Espanha, é universal. Os que viveram uma situação tão terrível como uma guerra, uma ditadura, não falam dela. Porque são situações terríveis. E eles têm o direito de ficar calados. Mas nós temos a obrigação de saber.

“O Monarca das Sombras” é o mais recente livro de Javier Cercas, editado em Portugal pela Assírio & Alvim

Há uma passagem do livro em que conta uma conversa que teve com um primo seu, Alejandro Cercas, ex-eurodeputado do PSOE. Quando o Javier lhe fala do seu tio-avô, que foi avô do seu primo, ele responde-lhe: “Nunca quis saber nada acerca da minha família (…). Achava-os horríveis”. Espanha já passou pela Transição, onde ninguém falava do passado. Depois, veio a onda da Memória Histórica. E agora, onde estão?
A Memória Histórica foi uma fase necessária, mas foi mal feita. Em vez de enfrentar o passado tal como ele foi, com toda a sua dureza e complexidade, porque o passado não é bonito, o que fizemos foi adoçá-lo e mascará-lo. Inventou-se um passado à medida, que foi o que o Enric Marco fez. Ele é um pouco o emblema da Memória Histórica. Inventou um passado heróico, sentimental e melodramático para ocultar um passado medíocre e cobarde, como é a maioria dos passados. E o que eu tentei fazer neste último livro foi enfrentar o passado com toda a sua crueza e dureza. Quanto à pergunta, não sei. Com a crise, acabou-se o dinheiro e acabou-se a Memória Histórica. Agora, estamos numa fase de impasse. Mas é muito importante dizer que quando falamos destas coisas não falamos do passado — falamos do presente. Porque esse passado traumático que todos os países e todas as pessoas têm não acabaram. O passado é uma dimensão do presente e, sem o passado, o presente fica mutilado.

Acha que o passado deve ser visto a partir do presente, é isso?
Não, não, de todo. Eu digo é que esse passado faz parte do presente. “The past is never dead. It’s not even past” [frase de William Faulkner, que Javier Cercas cita em inglês]. Esse passado é parte do presente. O presente não é só hoje, também inclui esse passado. Não se trata de falar do passado a partir da perspetiva do presente. Não. A origem do passado, não só de Espanha, mas também de Portugal, da Europa, está nos anos 30, está nos 40. Aí é que começa o presente. E para perceber o presente de hoje mesmo temos de olhar esse passado diretamente nos olhos.

"A Memória Histórica foi uma fase necessária, mas foi mal feita. Em vez de enfrentar o passado tal como ele foi, com toda a sua dureza e complexidade, porque o passado não é bonito, o que fizemos foi adoçá-lo e mascará-lo."

Depois de ter escrito “O Monarca das Sombras”, acredita que fechou um ciclo na sua carreira, no que diz respeito a livros sobre a Guerra Civil espanhola, que iniciou quando escreveu “Soldados de Salamina” (Asa, 2001)? Ou vai continuar a escrever sobre este tema?
Não sei. Como lhe digo, eu não quis escrever este livros desde o início. Por isso tenho a impressão de que, ao escrever este livro, algo se acaba. Agora tenho de reinventar-me. É isso que estou a tentar fazer neste momento. Mas, repare bem, eu não tenho escrito tanto sobre a Guerra Civil. Mas o que acontece, de alguma maneira, é que os livros a partir de “Soldados de Salamina” tocam todos na Guerra Civil. Mas eu não gosto que me digam que eu escrevo livros históricos, não tenho nenhum interesse arqueológico no passado. Só me interessa o passado na medida em que ele é parte do presente. Os meus livros são uma luta contra a ditadura do presente, contra esta ideia absurda de que o presente é o que acontece hoje. Ou apenas o que acontece agora mesmo! Para os meios de comunicação, o que se passou esta manhã já faz parte do passado. E o que aconteceu na semana passada já faz parte da pré-História. Esta distorção absoluta da realidade impede-nos de entendê-la. Todos os meus livros são uma batalha contra a ditadura do presente. Porque neles crio um diálogo entre o passado e o presente. “O Monarca das Sombras” não fala sobre a Guerra Civil, fala da herança da Guerra Civil e sobre como essa herança perdura. Sem essa herança, não podemos entender a origem do que somos. Suponho que, no final de contas, talvez os meus livros acabem sempre por ir dar aí [à Guerra Civil]. Mas estou a tentar reinventar-me como escritor.

Mas isso é um desafio enorme, não?
Na verdade, já me reinvento a cada livro. Não há dois livros iguais. Cada livro é uma aventura. O que faço nos meus livros é formular uma pergunta complexa da maneira mais complexa possível. E, como cada pergunta é diferente, a maneira de fazê-la também deve ser diferente. Isto é uma aventura enorme. Nunca se sabe onde é que isto nos leva. Mas é possível que de algum modo a Guerra Civil apareça porque faz parte do presente.

"As mentiras mais eficazes, que são as que a imprensa e os políticos nos dizem todos os dias, não são as mentiras puras e isentas de verdades. As piores e mais daninhas são as mentiras que contêm uma parcela de verdade. São mentiras que sabem a verdade."

Recentemente tem falado e escrito muito sobre a verdade e sobre o jornalismo. Diz que o jornalismo faz falta, sim, mas que tem de ser bom jornalismo. Como leitor, onde é que acha que o jornalismo tem de mudar para contrariar os atentados contra a verdade que marcam o nosso tempo?
O jornalismo faz mais falta hoje do que nunca, ao contrário do que pensam alguns dos seus colegas, que acham que o jornalismo está morto e acabado. É mais necessário do que nunca. Os meios de comunicação são hoje mais potentes do que nunca, por razões tecnológicas. Portanto, a mentira tem uma capacidade de difusão absolutamente extraordinária. Então, o jornalismo é mais necessário do que nunca porque já não basta contar a verdade, também é preciso desmontar as mentiras. E sobretudo as mentiras que se contam com a verdade. As mentiras mais eficazes, que são as que a imprensa e os políticos nos dizem todos os dias, não são as mentiras puras e isentas de verdades. As piores e as mais daninhas são as mentiras que contêm uma parcela de verdade. São mentiras que sabem a verdade.

Tem algum exemplo recente que possa partilhar?
Há exemplos infinitos. “O Impostor” falava precisamente disto. O impostor era um homem que inventou uma vida por completo, era um homem que era uma mentira ambulante. Era “o maior impostor da História”, como lhe chamou Vargas Llosa.Um mentiroso compulsivo. Mas em todas as suas maiores mentiras havia sempre uma parte de verdade. Sempre! Por exemplo, ele dizia que foi uma vítima dos nazis.

No campo de concentração de Mauthausen.
Sim. E era mentira! Mas era verdade que tinha estado numa prisão nazi. Isso era verdade. Mas não era como resistente nem como combatente anti-franquista. Ele esteve na Alemanha como trabalhador voluntário e foi para a prisão por circunstância que não eram políticas, eram apenas pessoais. E dizia que tinha sido clandestino durante todo o franquismo. E é verdade. Só que não foi clandestino pelas suas atividades anti-franquistas, mas apenas porque tinha sido um ladrão. Roubava! Então, dentro de cada uma das suas monstruosas mentiras havia pequenas verdades. E hoje podemos abrir um jornal e a cada dia damos com elas. Noutro dia escrevi um artigo que se chama “Mentir com a verdade”. Leu-o?

Sim, no El País.
Então, nesse artigo escrevia como os independentistas catalães estão a manipular a realidade para tentar mostrar que Espanha é uma ditadura e que, na realidade, é uma democracia disfarçada. E isso não é verdade. Mas eles estavam a falar de um estudo do Economist Intelligence Unit, que dizia que Espanha estava em risco de ser uma democracia imperfeita por causa da má gestão da situação catalã. Esta é a pequena verdade com a qual depois construíram a sua mentira monstruosa. Mas — e agora é que vem a verdade completa — sabe quantas democracias plenas há no mundo, para a Economist Intelligence Unit? 19. E Espanha passou do 17º para o 19º. Ou seja, neste estudo, continua a ser uma democracia plena. Mas há mais! É que segundo este estudo França não é uma democracia plena. Itália não é uma democracia plena. O Japão também não. E os EUA também não são uma democracia plena. Não sei se Portugal é, mas é possível que também não seja. [Ficou em 26º, ex-aequo com o Chile]. Será que os independentistas se atreveriam a dizer que aqueles países não são democracias? Este é um exemplo de como com uma pequena verdade se constrói uma pequena mentira.

(Porto Editora)

Porto Editora

Há pouco perguntava-lhe sobre o papel do jornalismo no meio disto tudo. Mas e os escritores? Qual é a sua função numa crise como a da Catalunha? Vimos Mario Vargas Llosa como uma das principais figuras numa das maiores manifestações unionistas na Catalunha, em outubro. No seu caso, o que fez ?
Eu? Pela primeira vez na minha converti-me num ativista. Porque isto não tem nada a ver com os escritores, tem a ver com as pessoas. Os escritores têm de escrever o melhor possível. Isto é o que têm de fazer. Mas o escritor também é uma pessoa. E eu nunca tinha vivido uma situação como a que vivi na Catalunha nos meses de setembro e outubro. Foi a situação mais difícil que vivi na minha vida.

Porque diz isso?
Sinceramente, porque na Catalunha houve uma tentativa de golpe de Estado e o país ficou partido ao meio”. Saíram mais de 3 mil empresas da Catalunha. O país está partido ao meio. É uma situação absolutamente extrema, terrível, que foi monstruosa. É uma situação muito, muito difícil. E o que fiz foi escrever. Na imprensa internacional, dar entrevistas, tudo para mostrar o que estava a acontecer.

"O vitimismo é o que há de mais nojento no mundo. É o combustível que os nacionalistas usaram para se converterem em carrascos. Vítimas são os que morrem, vítimas são as mulheres que são assassinadas todos os dias no meu país e em todos os lados. Essas é que são as vítimas."

E fez isso como ativista, não como escritor?
Digo ativista mais ou menos a brincar. Mas havia uma clima de pré-guerra civil, nunca tinha vivido nada disto. Foi terrível. Um grupo de pessoas que hoje são acusadas de crimes gravíssimos, alguns dos quais estão na prisão, condenaram a Catalunha. Tinham milhões nas mãos e estava a criar uma situação terrorífica. Perante isto, fiz o que me veio à cabeça. Até porque era incapaz de trabalhar. Era impossível fazer o que fosse. Foi assim para milhões de pessoas. Foi uma situação dificílima, com insultos na rua… Violaram a democracia em nome da democracia, como sempre.

Foi insultado?
Prefiro não personalizar a questão. Acima de tudo, não me quero apresentar como uma vítima. O vitimismo é o que há de mais nojento no mundo. É o combustível que os nacionalistas usaram para se converterem em carrascos. Vítimas são os que morrem, vítimas são as mulheres que são assassinadas todos os dias no meu país e em todos os lados. Essas é que são as vítimas. Que me insultem não faz de mim uma vítima. E não há nada que eu deteste mais do que apresentar-me como uma vítima.

Falava há pouco da divisão da Catalunha ao meio…
… claro, porque uma das mentiras mais monstruosas do nacionalismo é a de que todos os catalães querem a independência. Isso é totalmente falso, não tiveram nem metade dos votos…

… mas nessas duas metades há várias dicotomias. Uma das mais evidentes é aquela entre os catalães que nasceram na Catalunha e aqueles que nasceram noutra partes do país. Em “O Monarca das Sombras” escreve que é de Ibahernando porque diz nós somos “do lugar onde demos o nosso primeiro beijo e onde vimos o nosso primeiro filme de cowboys”. Acredita que a metade da Catalunha que vem de fora não é bem-vinda por aqueles que sempre lá viveram? Afinal, há pouco falava de um “clima de pré-guerra civil”.
Eu sou de Ibahernando, mas também sou de Girona. Eu também sou catalão. O que o nacionalismo fez, como sempre faz, foi partir nacionalidades. Foi isso que aconteceu na Jugoslávia, com resultados catastróficos, porque era uma situação diferente. Nós temos a sorte de sermos uma democracia, ao contrário do que a Jugoslávia era, e estamos na União Europeia — essa coisa que tentam dizer que não vale nada mas que na verdade vale tudo. É o nosso grande projeto político. “O Monarca das Sombras” é uma tentativa de escavar as minhas origens. Mas isso não significa que não seja catalão. Claro que sou. Mas ser catalão não quer dizer que precise de um Estado. Isso é uma invenção dos nacionalistas.

Sente-se mais catalão agora com toda esta crise ou isso diminuiu?
Obviamente que me sinto mais catalão, porque me preocupo mais com a Catalunha. Diz-me mais, importo-me mais. Mas não me sinto nem especialmente espanhol nem especialmente catalão. Só que vivo num lugar onde os governantes violam sistematicamente a lei. E a lei é a democracia — uma identifica-se com a outra. Detesto viver num país assim. E, infelizmente, em outubro isso aconteceu. Também aconteceu antes, mas em outubro foi sistematicamente. Tentaram mudar o ordenamento jurídico de alto a baixo no meu país, atropelando o estatuto da Catalunha, atropelando a Constituição e a lei internacional. Isto, na teoria de direito internacional, tem um nome: tentativa de golpe de Estado. Felizmente, não deu. Porque vivemos numa democracia, porque vivemos na União Europeia e porque as pessoas se opuseram a isto.

"As cargas policiais do 1 de outubro foram uma estupidez. Quiseram parar um golpe de Estado no século XXI com instrumentos do século XX. Foi um erro enorme."

Como viu as cargas policiais de 1 de outubro? Foram aquelas imagens que dominaram a cobertura jornalística daquele dia em todo o mundo. É disso que o mundo se lembra. Como viu aquilo tudo, a partir de dentro?
Não vou falar desse assunto. Teríamos de falar muito tempo sobre ele. O dia 1 de outubro foi uma tentativa de legitimar o golpe de Estado. Mas isso começou antes. No parlamento catalão, contra os juristas do parlamento, com a metade do parlamento vazio, aprovaram-se duas leis que acabavam com as leis: com a espanhola e com a catalã. Fizeram-no mesmo sem terem capacidade para isso. No dia 1 de outubro, o referendo — que não é um referendo a sério, mas um referendo irreal, ilegítimo e anti-democrático — tentou legitimar esse golpe de Estado. No dia 27 de outubro, com a declaração de independência, tentaram culminar esse golpe de Estado. No que toca às cargas policiais, acho que são horríveis. Foram uma estupidez. Quiseram parar um golpe de Estado no século XXI com instrumentos do século XX. Foi um erro enorme. Mas se quiser saber o que é a pós-verdade, então olhe para esse dia.

Por que diz isso?
Veja os dados da conselharia de saúde da Catalunha e diga-me quantas pessoas foram hospitalizadas nesse dia. Procure no computador, por favor. Veja os hospitalizados e vê um exemplo monstruoso de pós-verdade.

893 feridos, entre os quais 4 foram hospitalizados.
Isso. 4 hospitalizados. É o que você diz, foi o que você viu, não sou eu que o digo. Mas sabe porque é que foram atendidos? Foi por ataques ansiedade, outra pessoa teve um ataque cardíaco. Também houve um senhor que perdeu um olho, porque foi atingido por uma bala de borracha. Esse foi. E isso foi um erro total do Governo. Porque deram o pior combustível que se pode dar ao nacionalismo, que é o vitimismo. Não há piores carrascos do que as vítimas.  Noutras ocasiões, houve muitos mais hospitalizados por agressões da guarda, seja em Espanha ou em Portugal. Este episódio tem de ser investigado, porque isto é a pós-verdade.

"O que se passa na Catalunha complicado, tem de passar mais tempo para escrever um livro sobre isto. Neste momento, só vemos o pó da batalha. Não vemos a realidade. É preciso passar tempo."

Nos tempos que correm, parece impossível falar sobre a Catalunha com catalães sem que a tensão seja alta. Acha que é possível fazer uma Transição na Catalunha a curto prazo?
Falta muito tempo para isso. Precisamos de fazer uma Transição, mas, primeiro, é preciso julgar as pessoas que fizeram isto. Fizeram barbaridades. É preciso ver o que eles fizeram e estabelecer responsabilidades. Mas uma Transição é indispensável. Mas não sei quando chegará. Mas vai demorar muito tempo, porque o que se passou foi muito grave.

Acha que isto se pode resolver com um referendo pactado, com o consentimento do governo central?
Não. Os referendos são a pior solução possível. Já vimos isto milhares de vezes. Os referendos são instrumentos ideais para os ditadores. Franco fez referendos, Hitler fez referendos. Não é um bom instrumento. No meu artigo para o The New York Times escrevi que a solução, para a Europa e também para Espanha, é criar as condições para fazer um referendo. Criar uma lei que estabeleça em que condições é que um país europeu pode fazer um referendo. Por exemplo: se em duas eleições consecutivas há 70% de votos nos partidos independentistas, faz-se um referendo em determinadas condições. É o que eu proponho. Uma lei. Não pode ser um referendo ilegal, inconstitucional. Isto é uma autêntica barbaridade.

Está pronto para escrever um livro sobre este tema ou acredita que ele o exalta demasiado para isso?
É isso. Disse bem. O que se passa na Catalunha é complicado, tem de passar mais tempo para escrever um livro sobre isto. Neste momento, só vemos o pó da batalha. Não vemos a realidade. É preciso passar tempo.

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