Os pósteres de carros a decorar os quartos dos adolescentes podem estar em vias de extinção, mas o automóvel continua a exercer o seu fascínio, seja pela engenharia ou pelo design. No cinema como no gaming, as marcas continuam a promover os seus modelos e a criar legiões de fãs, estimulando uma paixão que acaba por se transferir para a competição desportiva e para o mercado. É uma fórmula antiga, mas com resultados positivos, afinal o que muda é a tecnologia para chegar ao consumidor.
As gerações mais novas estão a redefinir o conceito de automóvel como mero veículo para as suas deslocações, em contraste com os jovens da Geração X que cresceram na década de 1980 com o desejo de tirar a carta e comprar o primeiro carro. A própria ideia era considerada um ritual de passagem em algumas famílias, uma expressão de orgulho ou um símbolo de estatuto social.
Aparentemente, a Geração Z não atribui a mesma importância ao automóvel que as anteriores. Na verdade, a maioria dos jovens nascidos até 2010 está mais preocupada com os impactes ambientais provocados pela indústria e pela utilização diária dos veículos. A falta de apego emocional aos bens materiais parece ser, aliás, um dos emblemas dos jovens nascidos neste século em sentido inverso ao que reconhecemos, por exemplo, nos Yuppies da década de 1980.
As preocupações ambientais serão o único fator?
O tema da sustentabilidade é uma causa fundamental para os jovens e o seu ambiente tecnológico tem vindo a contribuir para o desvanecer do sentimento de urgência que as gerações anteriores sentiram para tirar a carta, conduzir e ter um carro. Antes, o automóvel era muitas vezes visto como um sinónimo de independência, um instrumento de emancipação no início da idade adulta.
As redes sociais são um grande catalisador do comportamento da Geração Z. Afinal de contas, se é tão fácil fazer trabalhos com os colegas da escola ou fazer uma festa com os amigos, virtualmente sem ter de se deslocar de carro, então conduzir ou comprar um automóvel deixa de constituir uma necessidade. Os jovens que nasceram depois do ano 2000 cresceram como verdadeiros nativos digitais, orientados por uma inteligência tecnológica que os diferencia claramente dos anteriores.
Vivem a comunicação móvel em todas as dimensões, das redes sociais às compras online. São ávidos consumidores de informação e têm na internet o aliado que lhes facilita o acesso a plataformas de comércio como o motor de busca Pisca Pisca.Pt, que hoje completa dois anos de atividade em Portugal. Disponibilizando mais de 40.000 anúncios de venda de carros usados todos os dias, este autêntico salão online de compra e venda de automóveis exige que os veículos sejam registados pela matrícula, um elemento diferenciador que reforça a confiança porque os carros são reais e apresentam as características técnicas corretas.
Trata-se de um modelo de negócio tradicional que começa online, apoiado na compra e venda de carros usados, mas acaba por privilegiar a reutilização do automóvel ao longo da sua vida útil como recomendam as melhores práticas da economia circular.
Os jovens deixaram de gostar de conduzir?
Alguns especialistas apontam para uma tendência que pode ser relacionada com a crescente popularidade da Netflix e de outros serviços de subscrição. De facto, as gerações mais jovens preferem pagar algum dinheiro pelo uso de veículos do que pagar bastante para os comprar.
Na perspetiva de que os automóveis são meros instrumentos para viajar, a Geração Z tem todas as condições para ser a primeira a tratar o veículo como um serviço, uma espécie de CaaS, ou seja, Car As A Service. Todos os benefícios da utilização estão incluídos, exceto o compromisso e os custos variáveis, consubstanciando uma mudança de mentalidade e de comportamento que implica a transformação da estrutura de propriedade com que nos habituamos a operar. E os fabricantes de automóveis, assim como os retalhistas, devem aproveitar a oportunidade para desenvolver opções de personalização inovadoras e de baixo custo que satisfaça este poderoso segmento de consumidores.
Por outro lado, alguns estudos concluem que muitos jovens não ambicionam comprar um carro novo e preferem adotar um novo paradigma de mobilidade. Segundo o Global Automotive Consumer Study, realizado pela Deloitte, 62% dos jovens brasileiros consideram dispensável a compra de um carro e preferem utilizar serviços de partilha de carro ou outros meios de transporte. Um outro estudo realizado nos Estados Unidos da América revelou que mais de 40% dos jovens da Geração Z não têm carta de condução.
Mas isto não significa que, na prática, tenham deixado de gostar de conduzir. A situação económica e as novas formas de transporte mais acessíveis também podem contribuir para o desinteresse em tirar a carta.
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Três perguntas a Alfredo Lavrador, o especialista Auto do Observador
1 – Alguns estudos concluem que em certos países, como o Brasil, a maioria dos jovens não ambiciona comprar automóvel. Em Portugal, parece-te que os jovens também têm menos interesse em tirar a carta e comprar carro?
Há vários estudos que apontam nessa direção, não apenas no Brasil, mas igualmente nos EUA, Japão e, dentro da Europa, no Reino Unido. Contudo, não explicam as causas. No Reino Unido, por exemplo, a quebra dos jovens com carta de condução é curiosamente mais forte entre os mais novos (17 a 20 anos), do que nos menos novos (21 a 29 anos). Se por um lado se generalizaram outras formas de transporte mais acessíveis, como a Uber e as bicicletas ou trotinetas elétricas, não é evidente é que a atual situação económica não tenha também contribuído para este desinteresse em tirar carta.
Hoje há cada vez mais famílias com menores possibilidades de oferecer um carro aos filhos e estes, quando já trabalham, tendem cada vez mais a auferir salários inferiores. E isso limita-os na compra de um carro, mesmo usado. Mas nada disto parece ter diminuído o interesse pelo automóvel, pelo menos junto dos que podem ter acesso a um. Basta ver a apetência pelos populares “mata-velhos”, que são cada vez mais os “papa-mesadas”, uma vez que são mais conduzidos por jovens que ainda não podem tirar carta do que por idosos que, por não saberem ler, não têm hipótese de ter acesso a um automóvel convencional.
2 – Como é que o mercado vai adaptar-se às novas gerações, mais preocupadas com o ambiente e a sustentabilidade?
Estou convencido que a maior limitação à venda de automóveis vai ser imposta, não pelos compradores, mas pelos legisladores. Basta ver o que está a acontecer com Paris, que anunciou querer retirar os veículos particulares, independentemente da motorização, de uma área enorme que inclui o centro da capital francesa, já em 2024. Enquanto isto, há países, como a Bélgica e o Reino Unido, que estabeleceram programas em que pagam um incentivo a quem vá de bicicleta para o trabalho, o que é visto como um primeiro estágio antes da proibição de circular em carros particulares.
Sabe-se que a maioria da população habita hoje nos grandes centros urbanos e que as grandes cidades sofrem de excesso de tráfego, de ruído e falta de lugares não pagos para estacionar. Tudo isto vai contribuir para desincentivar a aquisição de automóveis, ainda que possa ter vantagens para o ambiente e para a carteira.
3 – Como antevês os próximos 5 anos na indústria automóvel?
Os próximos 5 anos vão assistir a um acréscimo na oferta de veículos elétricos, que vão passar a oferecer mais autonomia e rapidez de carregamento, com preços mais competitivos e já sem incentivos governamentais. Vão continuar a ser produzidos e comercializados modelos com motores de combustão, mas eletrificados e equipados com sistemas de tratamento de gases de escape que os vão tornar mais caros e cada vez menos interessantes para clientes e fabricantes.
Dentro de 3 anos, em 2025, entrará em vigor a nova norma Euro 7, para o controlo de emissões de gases de escape, o que tornará a vida muito difícil para todos os veículos que possuam motores de combustão. Nessa ocasião, não só deverão desaparecer as facilidades concedidas aos motores híbridos plug-in, como os consumos e as emissões determinados em condições reais de utilização – cujos dados estão a ser recolhidos desde o início de 2021 pelos carros novos – vão permitir avaliar e taxar o impacto efetivo dos motores que queimam combustíveis fósseis.
De qualquer forma, acredito que a fabricação de veículos com motores de combustão vá terminar um dia, não por o consumidor querer deixar de comprá-los, mas sim no momento em que os construtores consigam garantir lucros superiores com os veículos elétricos, idealmente alimentados tanto por baterias, como por fuel cells.
A forma como compramos e assistimos os nossos automóveis está igualmente condenada a mudar, com a aquisição a ser realizada online e a assistência a deslocar-se até ao cliente ou a ser prestada num menor número de centros técnicos, o que vai obrigar os concessionários tradicionais a adaptarem-se. Mas será um processo gradual para as marcas tradicionais, que continuará para além dos próximos 5 anos.
Uma nova mentalidade
Conhecida como a “geração digital”, a Geração Z cresceu num mundo conectado que transformou a forma como interagimos. Para estes jovens, o automóvel parece ter deixado de ser um bem aspiracional, passando a ser percecionado como um eletrodoméstico que apenas cumpre uma função utilitária, devendo ser económico e ecológico.
O entusiasmo por tecnologias autónomas é impulsionado por esta geração, em grande parte devido ao elevado nível de confiança e familiaridade com as novas tecnologias digitais. Isso também explica porque 60% acreditam que a condução autónoma vai ser uma realidade antes de 2030. Num inquérito sobre veículos autónomos, os consumidores da Geração Z citaram o relaxamento (65%) e a conveniência (67%) como dois fatores primários para escolher um automóvel que não precisa de condutor.
A visão geral do que estas mudanças representam para a indústria automóvel pode parecer confusa e instável, por enquanto. Mas a crescente influência da mentalidade da Geração Z na sua relação com os automóveis promete transformar o mercado, tal como o conhecemos, ao longo dos próximos cinco a oito anos.
E quando a Geração Z envelhecer?
A dinâmica familiar vai ter um papel crucial, não só porque os indicadores demográficos relativos a casamentos e número de filhos apresentam uma tendência decrescente, mas também porque a formação de jovens famílias está a acontecer cada vez mais tarde. Além disso, a compra de casa ou a criação de um negócio próprio representam investimentos avultados aos quais é dada prioridade, deixando o automóvel numa posição descartável onde é mais fácil reduzir custos.
Em muitos países do mundo, há empresas a oferecer benefícios aos colaboradores para incentivar a partilha dos seus carros, organizando boleias. A oferta de passes para os transportes públicos é outra medida que tem crescido, a par do cada vez maior número de operadores de trotinetes elétricas e serviços como a Uber que acabam por anular a necessidade de ter um carro.
A mudança nos sistemas de transporte, as restrições ambientais no centro das cidades e o aparecimento de novas soluções de mobilidade para o dia a dia estão a criar as condições ideais para afirmar um novo paradigma.
Na interseção entre o meio de transporte e a tecnologia, a mudança cultural já está a ser impulsionada por uma nova geração de consumidores que nasceram no raiar do século XXI e estão agora no início da sua terceira década de vida.
Da mesma forma que os Baby Boomers ajudaram a fundar a cultura automóvel americana, a Geração Z promete tornar-se o símbolo de uma nova cultura de mobilidade.
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