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Emmanuel Macron Visits Berlin
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O tempo das maiorias absolutas acabou. Agora, Macron precisa de negociar

Mélenchon e Le Pen conseguiram resultados históricos, enquanto o Presidente perdeu a maioria absoluta. Macronistas invocam exemplo de Mitterrand — mas Republicanos não estão garantidos.

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Uma vitória com amargo de boca. Era esta a principal sensação para Emmanuel Macron e a sua equipa no final da noite deste domingo, em que a coligação Ensemble! acabou por ser a mais votada, mas o Presidente perdeu a maioria absoluta que lhe permitiu governar confortavelmente durante o primeiro mandato. Agora, em vez dos 314 deputados do En Marche! — a que se somavam outros 47 do MoDem —, Macron contará apenas com 246 parlamentares (com 100% dos votos apurados) na Assembleia Nacional. Um número muito aquém dos 289 necessários para ter o domínio total da câmara.

Primeira-ministra francesa defende “maioria de ação” e pede a deputados que apoiem o Presidente

É a primeira vez desde 1988 que um Presidente francês não consegue reforçar a sua presidência com uma maioria absoluta. E a experiência dessa altura foi de imediato apontada esta noite pelos círculos macronistas como um sinal de que é possível a um Presidente governar com maioria relativa: “François Mitterrand encontrou-se na mesma situação em 1988 e isso não o impediu de levar a cabo reforma emblemáticas”, comentou um conselheiro do grupo parlamentar do En Marche! à BMFTV no início da noite.

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Francois Mitterrand et Michel Rocard à la finale de la Coupe de France de football

Michel Rocard e François Mitterrand tiveram o último governo minoritário em França, em 1988

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Faltou, porém, apontar como os tempos agora são outros: em finais da década de 1980, o primeiro-ministro Michel Rocard conseguiu aprovar várias leis graças ao artigo 49-3 da Constituição, que permitia uma promulgação direta do governo, sem o projeto ter de ser aprovado na Assembleia — hoje, tal só pode ser usado uma vez, com exceção das matérias financeiras, como relembra o Le Monde. O jornal avisa que Macron terá de adotar uma “cultura de compromisso”, à qual não está habituado.

Em 1988, Mitterrand vaticinou que “não é saudável que apenas um único partido governe”. O primeiro-ministro Rocard procuraria, por isso, entendimentos com o centro-direita da UDF. O acordo durou três anos.

As derrotas dos aliados de Macron e um partido sem atender o telefone

O macronismo sabe que a situação está longe de ser a ideal para os seus propósitos. A primeira-ministra, Elisabeth Borne, discursou tarde, enquanto o partido fazia contas à vida. Falou numa “situação inédita” e alertou para o “risco” da situação atual. Em privado, os aliados eram ainda mais pessimistas: “Catastrófico”, resumiu um conselheiro de um ministério ao Libération, que notava como “muito poucos macronistas atendiam o telemóvel este domingo, a partir das 18h”. ​​

Sessions Of Questions To The Government At French Assembly In Paris

A primeira-ministra Elisabeth Borne classificou os resultados desta noite eleitoral como "um risco" para o país

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Os números deram à Ensemble! o primeiro lugar — 38,57% dos votos, perdendo uma dezena de pontos percentuais e 105 deputados em relação às legislativas de 2017 —, mas as notícias que se iam sucedendo não eram animadoras. Richard Ferrand e Christophe Castaner, o presidente da Assembleia Nacional e o líder parlamentar do En Marche!, perderam os seus lugares no Parlamento. Ambos tidos como homens muito próximos do Presidente, eram figuras do macronismo que oleavam a máquina parlamentar nos bastidores e, agora, estão fora.

Não são os únicos. As ministras da Saúde (Brigitte Bourgignon) e da Transição Ecológica (Amélie de Montchalin) perderam nos seus círculos eleitorais e terão agora de se demitir do governo, segundo a indicação prévia dada pelo próprio Macron. Outros membros do Conselho de Ministros foram reeleitos, mas por uma unha negra: Stanislas Guerini (ministro da Transformação Pública) derrotou a candidata da NUPES com apenas 51% dos votos e Clément Beaune (ministro da Europa) ganhou com apenas 658 votos de vantagem.

Richard Ferrand e Christophe Castaner, o presidente da Assembleia Nacional e o líder parlamentar do En Marche!, perderam os seus lugares no Parlamento. Ambos tidos como homens muito próximos do Presidente, eram figuras do macronismo que oleavam a máquina parlamentar nos bastidores e, agora, estão fora.

O eleitorado parecia estar a enviar uma mensagem clara a Emmanuel Macron: pode ter renovado o mandato presidencial em abril, mas nem por isso terá a vida facilitada nos próximos cinco anos. A rejeição de alguns dos rostos mais conhecidos do macronismo é um sinal de que os franceses querem mudança.

Mélenchon e Le Pen, os vencedores de uma noite em que os extremos subiram

Jean-Luc Mélenchon, o líder da aliança de esquerda que juntou socialistas, comunistas e ecologistas à sua França Insubmissa, sabe disso e aproveitou para o mencionar no seu discurso da noite: “Boa viagem”, decretou, “a Jean-Michel Blanquer na primeira volta, ao podador Castaner, à insultuosa Montchalin” (ministros que vão ter de abandonar o governo). O resultado destas legislativas, diz, é o resultado “do falhanço moral das pessoas que dão lições a todos constantemente, que dizem ser a barragem à extrema-direita, mas acabam por reforçar as suas bancadas”.

O candidato da esquerda que em abril, nas presidenciais, não conseguiu ultrapassar Marine Le Pen, celebrou o resultado da noite em que a NUPES conseguiu ficar à frente da extrema-direita, com 142 deputados contra 90 da União Nacional, reclamando para si o roubo da maioria absoluta a Macron: “É uma situação totalmente inesperada, nunca ouvida, a derrota do partido presidencial é total”, decretou Mélenchon.

Jean-Luc Melenchon Speech During The Annual May Day (Labour Day) In Paris

Jean-Luc Mélenchon liderou a NUPES, que conseguiu mais do que duplicar o número de deputados à esquerda na Assembleia Nacional

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Mélenchon pode cantar vitória por ter conseguido orquestrar uma maior presença da esquerda na Assembleia Nacional. Se em 2017, quando estava representada em três grupos parlamentares (os socialistas na Nova Esquerda, a França Insubmissa e a Esquerda Democrata e Republicana), a esquerda não ia além dos 64 deputados, agora terá dado o salto para mais do dobro. Mas a tentativa de vencer as eleições e impor uma “coabitação” forçada a Macron com um primeiro-ministro da esquerda saiu gorada.

E Mélenchon, que decidiu não se candidatar à Assembleia e colocou todas as fichas em ser nomeado primeiro-ministro, fica agora numa posição incerta dentro da coligação. “É difícil imaginá-lo a retirar-se numa altura em que a esquerda conseguiu um regresso espetacular na Assembleia”, sugere o Les Echos. Mélenchon garantiu esta noite que está a alterar a sua “posição de combate”, mas garantiu que continuará “nas fileiras da frente”.

Quem também pôde cantar de galo foi Marine Le Pen, que alcançou uma vitória histórica para a União Nacional: 89 deputados, um resultado histórico para quem tinha apenas 7 na legislatura anterior e o melhor de sempre para o partido. “A União Nacional é agora mais nacional do que nunca”, vaticinou a líder da extrema-direita, destacando que a votação permite à UN formar um grupo parlamentar — ou seja, pode agora apresentar moções de censura e enviar projetos de lei para o Tribunal Constitucional, por exemplo.

French far-right National Rally (RN) Political Party Leader, Marine Le Pen Launches European Elections' Campaign

A União Nacional de Marine Le Pen conseguiu um resultado histórico, elegendo 90 deputados

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“Será o mais numeroso [grupo parlamentar] em toda a História da nossa família política”, relembrou Le Pen, que solidifica uma vez mais a sua liderança por comparação com o legado do pai, Jean-Marie Le Pen. O melhor resultado da Frente Nacional em legislativas tinha sido de 35 deputados, nas legislativas de 1986, mas esse score deveu-se em grande parte às mudanças na lei eleitoral, que permitiram à altura a representação proporcional no Parlamento. Desta vez, sem beneficiar dessa vantagem, Le Pen não se limitou a igualar o feito do pai — ultrapassou-o em larga escala.

Macron quer evitar a dependência dos (divididos) Republicanos

Com os extremos a alcançarem vitórias históricas, a única hipótese que resta ao macronismo para governar ao centro é formar uma coligação com os Republicanos (LR). Mas ambas as partes pareceram afastar esse cenário ao longo da noite.

Primeiro, a porta-voz do governo, Olivia Grégoire, preferiu estender o convite para a governação “a todos os que queiram fazer avançar o país”, incluindo “moderados da esquerda e da direita”. A ideia foi reforçada algumas horas depois pelo ministro da Economia, Bruno Le Maire: no France 2, sugeriu aos deputados da oposição que apoiem a maioria do governo “de forma responsável. “Deve haver um compromisso entre todos os que partilhem os valores fundamentais do grupo da maioria presidencial”, afirmou.

A estratégia é a de tentar não ficar refém do apoio do LR à direita e manter pontes à esquerda, tentando possivelmente minar o NUPES, se alguns dos deputados mais moderados como os socialistas apoiarem pontualmente algumas das medidas do governo.

Até porque os macronistas sabem bem que o apoio dos Republicanos está longe de ser estável e incondicional. Os sinais de divisão surgiram logo ao longo da noite da eleição: Jean-François Copé, autarca de Meaux, pediu um “pacto governamental” do seu partido com o Ensemble!; o líder do LR, Christian Jacob, apressou-se a esclarecer que os Republicanos continuarão “na oposição”, afastando esse cenário.

Government Question Time At French Parliament

Christian Jacob, líder dos Republicanos, prometeu uma "oposição construtiva" a Macron

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Jacob sublinhou, porém, que quer uma “oposição construtiva” — uma ideia semelhante à que tem defendido nas últimas semanas, com o LR disponível para “corrigir propostas de lei”, “avançar propostas de lei” e “reformar o país”. Difícil, contudo, é garantir que todos os Republicanos apoiam essa ideia. Nos últimas dias, relembra o Le Figaro, várias figuras do partido contestaram essa posição: Aurélien Pradié disse não haver razão para o partido “salvar a pele política de Emmanuel Macron” e Éric Ciotti defendeu que o LR não deve ser “a roda sobressalente do macronismo”. Ambos foram reeleitos deputados esta noite e estarão na Assembleia Nacional nos próximos cinco anos.

A estas posições soma-se a de Laurent Wauquiez, tido por muitos como possível candidato à liderança do partido, que dificilmente apoiaria um grupo parlamentar que ajude Macron, mesmo que pontualmente.

Nas fileiras dos que apoiam o Presidente há consciência de que a situação é aguda. Quando a primeira-ministra Elizabeth Borne finalmente reagiu aos resultados, por volta das 22h30 (hora de Paris), colocou a bola do lado dos deputados de outros partidos, pedindo uma “maioria de ação”. “Não há alternativas à união para garantir a estabilidade e conduzir as reformas necessárias”, afirmou, acrescentando que “as sensibilidades múltiplas” devem ser colocadas “ao serviço do país”. Atirar a toalha ao chão, por agora, parece estar fora de questão.

O plano era o de liderar o país com um governo minoritário, que aprove leis “caso a caso”, segundo explicou uma fonte do En Marche! ao Le Monde. Mas os resultados da noite deste domingo complicam as contas para Emmanuel Macron. “É impossível comprar os Republicanos, estão entrincheirados na oposição”, admitiu outro macronista ao mesmo jornal. Em cima da mesa já está uma hipótese radical: a de dissolver a Assembleia e convocar novas eleições. A Constituição, contudo, prevê que tal não possa ser feito durante o primeiro ano de mandato, o que indicia que os próximos tempos possam ser de paralisia.

“É impossível comprar os Republicanos, estão entrincheirados na oposição”, admitiu outro macronista ao mesmo jornal. Em cima da mesa já está uma hipótese radical: a de dissolver a Assembleia e convocar novas eleições. 

Emmanuel Macron já tinha de lidar com o apoio negociado dentro das suas próprias fileiras. Édouard Philippe, líder do Horizonte, e François Bayrou, do MoDem, não escondem as suas ambições políticas e podem bem fazer valer o caro o apoio das suas forças políticas ao Presidente. “Tenho a certeza que nos vão chatear daqui a cinco anos”, desabafava esta noite um aliado de Macron à BMFTV.

Agora, tornam-se ainda mais indispensáveis ao Presidente, que tem de fazer a circulatura do quadrado e conseguir avançar com um governo minoritário. Em 1988, Miterrand conseguiu — mas na ressaca dessa experiência, os socialistas acabaram por ter o pior resultado de sempre desde a década de 1960 nas legislativas seguintes, em 1993. Conseguirá Macron evitar o mesmo destino?

*Artigo atualizado às 12h30 com número de mandatos distribuídos atualizado

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