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Apanhando a Rússia desprevenida e focada no Donbass, as forças de Kiev colecionam êxitos militares nesta nova linha da frente

Global Images Ukraine via Getty

Apanhando a Rússia desprevenida e focada no Donbass, as forças de Kiev colecionam êxitos militares nesta nova linha da frente

Global Images Ukraine via Getty

Olho por olho. Ucrânia tenta começar nova fase da guerra e aproveita falhas russas em Kursk: "Foi uma chapada na cara para Putin"

Putin está "nervoso". A ofensiva ucraniana na região russa de Kursk é humilhante e apanhou-o desprevenido. O culpado para já é o seu Chefe militar, Gerasimov, por ter ignorado os avisos das secretas.

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Era quase um impasse. Em redor da região ucraniana do Donbass, as tropas russas estavam a fazer avanços lentos, conquistando algumas aldeias. No entanto, quase no 30.º mês de conflito, a Rússia e a Ucrânia estão numa longa guerra de atrito, em que não existe solução à vista no campo de batalha. Diplomaticamente, nenhum dos lados também dá sinais de querer ceder. Porém, contrariando este braço de ferro, Kiev adotou uma nova estratégia: entrou pelo território do país vizinho adentro e iniciou uma ofensiva na região Kursk, do outro lado da fronteira, perto da região ucraniana de Sumy.

As incursões em território russo por parte das tropas ucranianas, ou de grupos aliados que lutam contra o regime russo liderado por Vladimir Putin, não são novas nesta guerra. O que é inédito nesta ofensiva não é só a sua intensidade, mas também o seu sucesso. Apanhando a Rússia desprevenida e focada no Donbass, as forças de Kiev colecionam êxitos militares nesta nova linha da frente. Kursk, a região afetada e que faz fronteira com a Ucrânia, já declarou o estado de emergência. Os motivos? Pelo menos três mil pessoas foram retiradas das regiões fronteiriças. Há baixas. Os homens leais a Zelensky capturaram soldados inimigos. E um comboio militar foi destruído.

Neste cenário, a Rússia anunciou esta sexta-feira que irá reforçar a presença militar em Kursk e Belgorod, outra região fronteiriça com a Ucrânia que também já foi atacada. O Presidente russo criticou a “provocação em grande escala” e prometeu agir contra o “regime de Zelensky”. O chefe das Forças Armadas russas, Valery Gerasimov, assegurou, na quarta-feira, que as tropas de Moscovo tinham “travado” a ofensiva ucraniana. Mas a realidade revelou-se bastante diferente — e a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Maria Zakharova, admitiu, dois dias mais tarde, que Kiev está a “intensificar” os ataques em território russo.

Pessoas a serem retiradas de Kursk na sequência da ofensiva ucraniana

Getty Images

Nos corredores do Kremlin há nervosismo, irritação e tentam procurar-se culpados para esta situação. Ao jornal Moscow Times, um responsável pela organização de eventos na presidência russa relata que Vladimir Putin está de “mau humor”. “Ele provavelmente não viu nada assim desde que [as tropas russas] foram forçadas a retirar-se de Kherson no outono de 2022”, relata esta fonte, numa alusão ao momento em que a Ucrânia voltou a controlar a margem direita do rio Dnieper. Mas desta vez é ainda mais grave: os ataques são em solo russo. Os sucessos desta ofensiva ucraniana — mesmo que até sejam temporários — podem ser vistos como uma “humilhação” para o governo da Rússia.

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Do lado ucraniano, quase não há informações. Desde o início da ofensiva em redor de Kursk que as autoridades ucranianas têm revelado poucos detalhes. Volodymyr Zelensky já sinalizou, contudo, que, como a “Rússia trouxe a guerra para a Ucrânia”, deve sentir na pele “o que fez”. No sábado, abordou pela primeira vez as incursões em território russo, mas sem mencionar diretamente Kursk. “O Chefe do Estado-Maior Sirskyi já relatou várias vezes sobre a frente [de batalha] e as nossas ações e sobre como empurrar a guerra para o território do agressor”, disse no seu vídeo diário. As declarações de Zelensky foram feitas no mesmo dia em que um grupo de soldados ucranianos gravou um vídeo em Poroz, na região russa de Belgorod.

Outra ideia que o líder ucraniano tem deixado no ar é que “quanto mais pressão for exercida na Rússia”, mais cedo chegará “a paz”. “Paz justa através de força justa” — foi a mensagem do Presidente ucraniano.

As culpas de Gerasimov e a surpresa de Putin: o que falhou do lado russo?

Não é clara, até ao momento, a dimensão dos avanços ucranianos. O analista internacional ucraniano Oleksandr Kovalenko aponta, em declarações à agência EFE, que a Ucrânia conquistou 400 quilómetros quadrados. Uma análise feita pelo Financial Times dá conta de 350 quilómetros quadrados ocupados pela tropas de Kiev, enquanto as análises mais otimistas da Radio Free Europe sugerem cerca de 600 quilómetros quadrados. As mais moderadas, como a do New York Times ou do Washington Post, referem que as tropas de Zelensky controlam 100 quilómetros quadrados.

Independentemente do território que a Ucrânia tem sob seu controlo, a situação não deixa de ser incómoda para a Rússia, um dos maiores países do mundo em arsenal nuclear e teoricamente com um exército poderoso. O Kremlin sempre olhou para o país vizinho como inferior e até pensava, no início da “operação militar especial”, em fevereiro de 2022, conquistar Kiev em três dias. Os planos saíram completamente ao lado e a guerra já dura há dois anos e meio. Agora surge este revés, em que forças de um país mais pequeno conseguem executar uma ofensiva bem sucedida dentro do seu território.

Tendo convocado uma reunião com o Conselho de Segurança na quarta-feira para debater a situação em Kursk, a frustração era visível no rosto de Vladimir Putin e dos restantes altos dirigentes russos. Mais tarde, o Presidente russo foi obrigado a admitir à nação que a situação era “difícil”. E obrigou Valery Gerasimov, o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas Russas, que raramente aparece em público, a dar a cara para explicar o que se estava a passar perto da fronteira na Ucrânia.

O que correu mal para a Rússia não se precaver para uma ofensiva deste género? A resposta estará, segundo a Bloomberg, na maneira como Valery Gerasimov geriu a situação. De acordo com o que  uma fonte dentro do Kremlin contou àquele meio de comunicação, os serviços secretos russos foram alertando o chefe das tropas de que a Ucrânia estava a reforçar a presença militar junto à fronteira. Os avisos, que têm pelo menos duas semanas, caíram em saco roto — e o líder das tropas de Moscovo terá ignorado os sinais de alerta.

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Vladimir Putin na reunião do Conselho de Segurança esta quarta-feira

POOL/AFP via Getty Images

Como não prestou atenção aos avisos dos serviços de informações, Valery Gerasimov não avisou o Presidente russo da possibilidade de haver uma ofensiva ucraniana — e Vladimir Putin foi apanhado desprevenido, assim como todos os mecanismos de segurança que controlam as fronteiras com a Ucrânia. Isso permitiu que as tropas de Kiev pudessem entrar dentro de território inimigo praticamente sem resistência. Aliás, nas primeiras horas da ofensiva que começou na madrugada da passada terça-feira, muitos vaticinavam que seria algo efémero.

Só quando as autoridades em Kursk se aperceberam do risco é que o governo agiu. E Vladimir Putin ficou imediatamente “nervoso”, conta fonte do governo russo ao Moscow Times. “É uma chapada na cara para o Presidente. Temos sido incapazes de fazer recuar o inimigo. Foi criado um perigo para a população em algumas regiões da Rússia. O preço do gás europeu subiu. Isto não é como um país confiante na sua vitória se comporta.”

A mesma fonte do governo russo lamentou ver que os “guardas fronteiriços” estavam a ser cercados pela Ucrânia e que tenham sido levados prisioneiros de guerra para a Ucrânia. Ainda que preconize que a ofensiva ucraniana seja curta, realça que o que aconteceu é “muito desconfortável”, principalmente em “termos de reputação” na imagem de potência que a Rússia quer projetar para o estrangeiro.

"É uma chapada na cara para o Presidente. Temos sido incapazes de fazer recuar o inimigo. Foi criado um perigo para a população em algumas regiões da Rússia. O preço do gás europeu subiu. Isto não é como um país confiante na sua vitória se comporta"
Fonte do governo russo ao Moscow Times

Por agora, no núcleo duro da presidência, culpa-se Valery Gerasimov pela falta de avisos e de preparação para a ofensiva ucraniana. O chefe das Forças Armadas russas é próximo de Vladimir Putin e comanda as tropas do Kremlin há 12 anos. Além disso, no início de 2023, após os desaires sofridos pelas tropas de Moscovo na Ucrânia, também foi nomeado principal responsável pela “operação militar especial”.

Na guerra da Ucrânia, Valery Gerasimov conseguiu estancar as perdas russas. Foi um dos responsáveis por frustrar a contraofensiva ucraniana no verão do ano passado e colocou as forças de Moscovo na ofensiva novamente. Pelo lado negativo, não evitou a “marcha pela justiça” de 2023 do antigo líder do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, que controlou algumas regiões russas. Apesar desta mancha no currículo, Vladimir Putin parecia confiar nesta sua alta patente militar.

Prova disso é que Valery Gerasimov sobreviveu à renovação da cúpula militar empreendida por Putin em maio de 2024. Por exemplo, no centro da remodelação, Sergei Shoigu deixou de liderar o Ministério da Defesa e passou para o cargo de secretário do Conselho de Segurança. Agora, a falta de preparação para esta ofensiva, nota a Bloomberg, pode ser fatal para a carreira do chefe político das tropas russas. No Kremlin, a paciência com o militar está a esgotar-se, ainda que uma fonte tenha realçado ao jornal que é improvável que seja afastado do cargo no curto prazo.

President Putin meets with top officials of Russian Defense Ministry and military industry

Valery Gerasimov é comandante das tropas russas desde 2012

Mikhail Metzel/TASS

O sucesso ucraniano e a pressão para as negociações

Silêncio. Durante os primeiros dias da ofensiva ucraniana, Volodymyr Zelensky — bastante ativo nas redes sociais e mantendo um discurso diário — deixava poucos comentários sobre o que se passava em território russo. Das restantes autoridades ucranianas, também não houve muitos comentários ao assunto. Quem acabou por dar mais detalhes foi Mykhailo Podolyak, o conselheiro presidencial.

Numa publicação no X, Mykhailo Podolyak sublinhou, na tarde desta quarta-feira, que houve uma resposta “calma, balanceada, objetiva e baseada no entendimento do espírito do direito internacional e dos princípios da guerra defensiva” por parte da comunidade internacional aos “eventos de Kursk”. Frisando a humilhação que isto significa para a Rússia, o conselheiro presidencial destacou que o “impossível tornou-se possível”: “A brutalidade russa virou-se contra eles.” Agora, dizia Podolyak, uma parte significativa da comunidade global “considera a Federação Russa um alvo legítimo de operações”.

Esta sexta-feira, alguns militares ucranianos publicavam um vídeo nas redes sociais — o primeiro do género — a reivindicar o controlo da localidade de Sudzha, na região Kursk, que conta com cerca de cinco mil habitantes e fica a 11 km da fronteira com a Ucrânia (e a 625 de Moscovo). “A cidade está silenciosa e os edifícios estão intactos”, disseram, revelando ainda que uma “instalação” da rede de gás “da Gazprom está sob controlo” ucraniano.

Face à falta de preparação russa, a Ucrânia obteve uma importante vantagem neste plano de entrar em Kursk. Não foi o único fator que levou aos êxitos de Kiev em território hostil. No passado, as tropas ucranianas, juntamente com alguns dissidentes, já tentaram fazer incursões em regiões perto da fronteira com a Rússia. Nunca tiveram grande sucesso e algumas foram frustradas em horas pela guarda fronteiriça.

O que explica, então, este sucesso da Ucrânia? O antigo ministro da Defesa ucraniano, que ainda é conselheiro do governo, Andriy Zagorodnyuk, disse ao Financial Times que esta ofensiva foi planeada durante muito tempo e contou com uma ajuda preciosa: militares ocidentais partilharam informações e treinaram os homens que agora entraram por território russo adentro.

De acordo com o Washington Post, o ataque envolveu vários batalhões — alguns deles considerados de elite dentro das tropas ucranianas. E alguns estarão mesmo a utilizar tanques e veículos blindados que o Ocidente cedeu. Os avanços são cirúrgicos e rápidos, contando com o apoio da artilharia, da defesa aérea e de meios eletrónicos sofisticados.

Em declarações ao New York Times, Franz-Stefan Gady, um analista militar austríaco, não tem dúvidas de que esta operação está a ser “bem coordenada” e foi bem planeada. No terreno, estão “meios de guerra eletrónica que se mobilizam para bloquear o sistema de comando e controlo russo. Há defesas aéreas que criam bolhas seguras em torno do avanço ucraniano. E os carros de combate são bastante eficazes e avançam a um ritmo constante.”

Os ataques ucranianos sucedem-se com uma velocidade estonteante nas regiões em redor de Kursk, segundo o relatório do think tank norte-americano Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, sigla em inglês) desta sexta-feira. A rapidez é o trunfo de Kiev. “Pequenos grupos de veículos blindados avançam e contornam as fortificações antes de enfrentarem as tropas russas. Depois, retiram-se dos combates sem tentaram consolidar o controlo sobre os seus avanços mais distantes”, relata o ISW.

Isto é o suficiente, porque existem “poucos homens” a defender Kursk, que não estão preparados para, como descreve o ex-ministro da Defesa ucraniano, esta “nova tática”. E também porque o objetivo da Ucrânia não é controlar território russo “por muito tempo”. “Não queremos terras russas”, assegura Andriy Zagorodnyuk, acrescentando: “Nós queremos que eles percam nas nossas.”

"Pequenos grupos de veículos blindados avançam e contornam as fortificações antes de enfrentarem as tropas russas. Depois retiram-se dos combates sem tentaram consolidar o controlo sobre os seus avanços mais distantes"
Instituto para o Estudo da Guerra

Ucrânia não quer “terras russas”, mas quer negociações e humilhar Putin

De facto, não existem quaisquer indicadores que apontem para a tese de que Kiev ambicione conquistar territórios russos. O objetivo estratégico de Volodymyr Zelensky não será esse. Segundo Andriy Zagorodnyuk, Kiev deseja que Moscovo desvie tropas dentro do seu território e que isso trave a ofensiva da Rússia no Donbass e em Kharkiv. Outro membro do governo ucraniano confirmou essa informação ao New York Times. Tendo em consideração a falta de homens na linha da frente, a Ucrânia pretende que a Rússia transfira as suas tropas para Kursk.

Adicionalmente, o governo ucraniano quis mostrar ao mundo que ainda tem a iniciativa e que pode surpreender. Numa altura em que já existe alguma fadiga, e com a possível chegada de Donald Trump à Casa Branca (que quer terminar o conflito em 24 horas), a Ucrânia pode dar um sinal aos aliados de que ainda pode ter sucesso no campo de batalha e que a ajuda enviada pelos aliados não foi em vão. Não é por acaso que acontece logo depois da entrada em cena dos tão desejados F-16.

O ex-ministro da Defesa comprova ao Financial Times que um dos objetivos desta ofensiva em território russo passa claramente por voltar a ter a iniciativa no campo de batalha. E também mostrar à comunidade internacional as fraquezas da Rússia, incluindo a incapacidade de proteger o seu território. À Associated Press, Mathieu Boulegue, analista de Defesa no think tank britânico Chatham House, considera que é um “golpe de relações públicas” da Ucrânia, que prejudica a imagem de Moscovo.

Ucrânia “provoca” e surpreende Putin com ofensiva em território russo: “É algo completamente novo”

Este ataque, prossegue Mathieu Boulegue, tem uma “grande simbologia” e é uma “grande demonstração de força”. Mostra que a “guerra não está congelada” e manda uma mensagem ao Kremlin: “A guerra está a chegar.” Daniel Fried, antigo secretário de Estado para a Europa no Departamento de Estado norte-americano, vinca, em declarações ao site do think tank Atlantic Council, que esta ofensiva “subverte a narrativa do Kremlin sobre a inevitável vitória russa”.

A Rússia pode, assim, ganhar problemas no estado dos ânimos das suas tropas, ao passo que a Ucrânia consegue dar a volta à ideia de “impasse” que estava impregnada no conflito desde há algum tempo. Adicionalmente, como escreve o Washington Post, pode ser uma maneira de enviar uma mensagem à população civil russa de que o conflito pode chegar às suas casas — e quem sabe se isso, em última instância, não leva a protestos e ao apelo da população para que Vladimir Putin termine o conflito.

Quem já aproveitou a ofensiva ucraniana em Kursk foi Yuliya Navalyna. A viúva do opositor russo Alexei Navalny publicou um vídeo no X em que critica duramente o Presidente russo: “O Exército está a morrer por causa de Putin, que enviou pessoas comuns para a guerra, depois de as ter conduzido à pobreza. Agora, ir para a guerra parece normal. Putin, o teu silêncio mata ucranianos e russos. Trouxeste a guerra até à Ucrânia no início e agora até Kursk e Belgorod.”

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A narrativa do Kremlin sobre o conflito fica comprometida com a ofensiva ucraniana

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Ainda há mais uma vantagem que Kiev pretende explorar desta ofensiva. Caso consiga manter os territórios russos durante algum tempo, pode usá-los como uma moeda de troca para eventuais negociações de paz. Ou seja: as autoridades ucranianas podem apenas libertar Kursk ou os territórios em volta se a Rússia concordar em desocupar territórios ucranianos.

De acordo com o Washington Post, os ucranianos terão pedido aos norte-americanos para usar mísseis de longo alcance ATACMS em Kursk, de modo a controlar esta região durante algum tempo. Se os Estados Unidos acederam, é uma incógnita, mas um conselheiro da presidência que não se identificou comentou àquele jornal que isso daria uma “vantagem” a Kiev quando encetasse “negociações com a Rússia”: “É para isto que isto foi feito”.

Surgem dúvidas, ainda assim, sobre até quando a Ucrânia vai conseguir manter os territórios em solo russo sob sua alçada. Se bem que possa estar a ser demorada, a resposta russa pode ser eficaz — e obrigar os ucranianos a recuar até à fronteira. “Entrar e conquistar um território russo e usá-lo como uma moeda de troca para eventuais negociações é um grande salto. Uma coisa são incursões, outra coisa é uma ofensiva de larga escala”, ressalva Daniel Fried.

"Entrar e conquistar um território russo e usá-lo como uma moeda de troca para eventuais negociações é um grande salto. Uma coisa são incursões, outra coisa é uma ofensiva de larga escala"
Daniel Fried, antigo secretário de Estado para a Europa no Departamento de Estado norte-americano

O desfecho desta ofensiva é incerto. Para a Ucrânia, no melhor dos cenários, pressiona a Rússia e senta-se à mesa das negociações mais confiante e com mais poder; no pior, as forças ucranianas voltam para o seu território e podem sofrer uma retaliação russa. Para a Rússia, nenhum dos cenários é particularmente atrativo. Mesmo que até seja de curta duração, esta operação militar transmite a ideia de vulnerabilidade dentro do território russo — e dá esperança aos ucranianos.

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