Barings. O corretor que afundou o mais antigo banco inglês
A história já deu um filme e fez de Nick Leeson uma estrela, ainda que cadente no mundo financeiro. O corretor baseado em Singapura negociava em futuros das bolsas asiáticas. Mas em vez de arbitragem (comprar e vender de modo a compensar perdas com ganhos), Leeson não vendia e escondia os prejuízos. Apostava tudo em lucrar com uma forte recuperação da bolsa de Tóquio, que não aconteceu. O sismo de Kobe, em 1995, estragou o esquema e revelou um buraco colossal de 1,2 mil milhões de euros. O Barings, com 230 anos de vida, não resistiu e faliu. O caso revelou fragilidade do controlo interno no setor.
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O escândalo que mudou as regras. A contabilidade oculta da Enron
A Enron é sinónimo de contas falsas. A empresa de energia do Texas foi um sucesso na década de 90. Até quis construir uma central a gás em Portugal.
Mas por trás dos êxitos estavam escondidas as dívidas e prejuízos dos projetos falhados, parqueados em veículos especiais e fora do balanço. A contabilidade paralela enganou acionistas e a auditora Artur Andersen.
A suspeita sobre o real valor da Enron começou num artigo da Fortune. A desconfiança alastrou e as ações caíram. O regulador da bolsa, a SEC, começou a investigar, os accionistas processaram. A Enron entrou em insolvência depois do 11 de setembro de 2001.
Os dirigentes, incluindo o fundador Kenneth Lay, foram presos. Os trabalhadores perderam as pensões (atribuídas em ações da companhia). A Arthur Andersen, então a principal auditora, foi dissolvida.
No rescaldo do escândalo, foram revistas as regras de auditoria e reforçadas as penalizações por fraude e falsificação de contas.
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Worldcom. Quando a bolsa cai, a engenharia contabilística disfarça
A Enron foi a maior insolvência nos Estados Unidos, até rebentar, meses depois, a Worldcom. A empresa cresceu rapidamente via aquisições (a mais famosa foi a MCI), e tornou-se a segunda maior operadora e líder na Internet. Quando explode a bolha bolsista das empresas de telecomunicações, em 2001, Worldcom tinha acumulado dívidas de 37 mil milhões de euros. Sob a pressão dos bancos, o presidente, Bernard Ebbers, que tinha usado as suas ações para financiar outros negócios, obtém um empréstimo da própria Worldcom.
Em 2002, a auditoria interna descobre uma fraude contabilística que disfarçou a queda nos ganhos, empolando receitas.
A empresa pede proteção dos credores e as investigações revelam que os ativos estavam inflacionados em 10 mil milhões de euros. Foi a maior fraude nos EUA até chegar Bernie Madoff.
Contas paralelas à italiana. A queda da Parmalat
A multinacional italiana entra em Portugal nos anos 90. Patrocina o Benfica, compra a Ucal e disputa o mercado aos produtores nacionais na chamada guerra do leite, que levou à fusão das cooperativas nacionais na Lactogal.
Em 2003, os obrigacionistas da Parmalat Internacional descobrem que os fundos que deveriam estar no Bank of America para lhes pagar não existem. A negociação das ações é suspensa, vários gestores são presos. Um deles, o ex-financeiro, diz aos jornalistas quando entra no Tribunal: “desejo-vos uma morte lenta e à vossa família”. A investigação encontra computadores destruídos nos escritórios.
Em 2004, é revelado um passivo de 14 mil milhões de euros, oito vezes superior ao registado. Foram usadas offshores para esconder dívida e a Parmalat passa a ser a Enron europeia. A empresa e a marca sobreviveram.
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Lehman Brothers. A falência que abalou o mundo
Primeiro foi o subprime. Crédito hipotecário made in USA, de alto risco, mas com rating alto, que encheu as carteiras dos investidores. Quando os clientes do crédito deixaram de pagar, as perdas alastraram. O subprime tornou-se tóxico. O Lehman Brothers, o quarto maior de investimento, era um dos mais expostos.
Quando o Barclays recua na compra, após exigências dos reguladores, a administração Bush deixa cair o Lehman a 15 de setembro de 2008. Com ativos de 540 mil milhões de euros, foi uma falência sistémica e global.
As bolsas caíram várias semanas e o pânico varreu todo o setor. Mais ninguém deixou falir um banco. A onda de nacionalizações apanhou o histórico Lloyds e o BPN, As autoridades americanas injetaram milhares de milhões na AEG, a maior seguradora americana, que serviram para reembolsar a Goldman Sachs. E até sobrou dinheiro para bónus a gestores.
Em 2009, a economia mundial entra em recessão. Em 2010, a crise sofre uma mutação e contamina a dívida dos países mais frágeis do euro. Grécia, Irlanda e Portugal são resgatados.
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Madoff. O maior burlão da história?
Bernard Madoff era um financeiro respeitado, tinha sido presidente da bolsa americana tecnológica Nasdaq.
Mas se na banca de investimento, o risco excessivo, alimentado pela ganância do lucro rápido, teve o pior resultado, a Madoff Investment foi mesmo uma fraude. E foi exposta quando os mercados caíram, arrastados pelo Lehman Brothers.
Em dezembro de 2008, os filhos de Madoff revelaram às autoridades a confissão do pai. O negócio de família era afinal um gigantesco esquema Ponzi. O maior até agora detetado com ganhos de 50 mil milhões de euros prometidos aos investidores. Os clientes aplicaram 32 mil milhões e perderam metade.
A justiça americana foi rápidas. Em 2009, Bernie Madoff foi condenado numa sentença exemplar: 150 anos de prisão.
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A explosão que quase afundou a BP
A 20 de abril de 2010, uma plataforma petrolífera da BP no Golfo do México explode. A explosão da Deepwater Horizon mata 11 pessoas e lança uma coluna de fogo que dura dois dias até a plataforma de águas profundas afundar. O petróleo fica a correr e dá origem ao maior derrame em águas americanas. O desastre custa o cargo ao presidente Tony Hayward que começou por classificar o derrame como “modesto”.
As investigações revelam várias falhas ao nível das regras de segurança e dos procedimentos e a ausência de testes obrigatórios.
O caso desencadeia um conjunto de queixas e processos contra a BP e as empresas suas fornecedoras.
Em 2014, a BP é condenada num tribunal americano por negligência grosseira e má conduta intencional.
Em julho deste ano, a petrolífera inglesa fecha um acordo que põe fim aos processos judiciais nos Estados Unidos e que lhe custou 17 mil milhões de euros. As ações da BP ainda não recuperaram do acidente.
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A Siemens e as suspeitas de subornos em troca de contratos
As suspeitas de subornos em troca de contratos chorudos, têm perseguido a Siemens, empresa que fabrica desde comboios de alta velocidade até centrais eléctricas.
Em 2008, o grupo industrial alemão acedeu a pagar uma multa recorde de 1,6 mil milhões de euros para pôr termo a inquéritos por suspeitas de suborno e corrupção nos Estados Unidos e Europa.
Mas o escândalo mais conhecido envolveu suspeitas relacionadas com contratos para os jogos olímpicos de 2004 na Grécia. A justiça grega abriu uma investigação por suspeitas de suborno e branqueamento de capitais. A Siemens pagou 330 milhões de euros ao governo de Atenas num acordo obtido em 2012.
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Libor. A conspiração da banca para manipular as taxas de juro
A Libor é a taxa de juro de referência para transações de biliões de dólares. É fixada a partir da média das taxas cobradas entre os maiores bancos a operar em Londres.
Em 2012, um antigo corretor revela ao Financial Times que a manipulação das taxas Libor era uma prática comum desde 1991. Os bancos estavam a inflacionar ou baixar as taxas que cobravam entre si para influenciar a Libor e ganhar mais ou atrair investidores.
O Barclays foi o primeiro banco a fechar um acordo com os reguladores em troca de uma multa de 400 milhões de euros. As investigações não pararam e detectaram informação trocada online, em chat rooms, por grupos fechados. Este ano, seis dos bancos — Barclays, JP Morgan, Citigroup, Royal Bank of Scotland, UBS e Bank of America — assumiram culpas por manipulação — da Libor e taxas de câmbio, pagando multas de 5,4 mil milhões de euros nos EUA e Reino Unido.
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HSBC. Depósitos, evasão fiscal e branqueamento
A sigla diz pouco aos portugueses, mas o HSBC, banco inglês criado em Honk-Kong, é uma das maiores instituições financeiras mundiais. O escândalo mais recente rebentou no início deste ano e ficou conhecido como o swiss leaks.
Foram revelados dados confidenciais sobre milhares de contas — também portuguesas — na filial suíça do banco. E expostos os truques usados pelo HSBC para ajudar os clientes a fugir aos impostos e a esconder rendimentos. O caso está em investigação e o banco já pagou às autoridades suíças para evitar processos criminais.
Anos antes, o HSBC foi acusado pelas autoridades americanas de apoiar cartéis de droga sul-americanos na lavagem de dinheiro, tendo chegado a acordo em 2013 que envolveu o pagamento de 1,7 mil milhões de euros.
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BES/GES. O escândalo português que chegou aos quatro cantos do mundo
O epicentro foi em Portugal, mas as ondas de choque do colapso do Grupo e do Banco Espírito Santo espalharam-se em várias direções. Chegaram ao Luxemburgo, sede das holdings GES que estão em insolvência, e à Suíça, passando por Angola, Venezuela, Estados Unidos e Brasil por causa da perda da PT, outro escândalo.
O caso fez manchetes na imprensa internacional. O Financial Times chamou ao aumento de capital do BES o pior negócio financeiro de sempre. O Wall Street Journal investigou.
Para além de milhares de clientes e emigrantes portugueses, foram apanhados grandes grupos como a Petroleos da Venezuela ou a Portugal Telecom, falcões do mundo financeiro — Goldman Sachs e Paul Singer, dono do fundo Elliot Management — e investidores institucionais, como o fundo de pensões da Nova Zelândia, e milionários, como o dono do gigante indiano Arcelor Mittal e o homem mais rico de Portugal, Américo Amorim.
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Petrobras. Petróleo + subornos = Lava jato
A Petrobras é sinónimo de Brasil. Para o bem e para o mal. E depois da descoberta de gigantescas reservas de petróleo e gás no Atlântico durante a presidência de Lula da Silva, veio o mal.
O caso Lava-jato (lavagem automóvel) ou Petrolão ganhou visibilidade com a prisão, em março de 2014, de um antigo diretor da Petrobras.
A investigação ao branqueamento de capital revelou uma rede de pagamento de subornos a quadros da petrolífera em troca da obtenção de contratos a preços inflacionados. Nem a Petrobras conseguia calcular os prejuízos, os investidores esperaram meses pela fatura da corrupção que vai já em 1900 milhões de euros. A Petrobras derrapou em bolsa, travou o investimento e arrastou a economia brasileira.
O circuito do dinheiro rapidamente chegou à política e ao PT, partido da Dilma Roussef. E num Brasil em recessão, o escândalo de corrupção é o maior argumento para os milhares que pedem na rua a demissão da presidente.
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Toshiba. Pedido de perdão depois da falsificação dos lucros
Em abril, a empresa japonesa de computadores e eletrónica de consumo alertou para problemas contabilísticos. Mas só em setembro foi conhecida a real dimensão do “problema”.
A Toshiba sobrevalorizou os seus lucros em 1,2 mil milhões de euros ao longo de sete anos. Uma auditoria independente revelou que a gestão exigia metas de lucros impossíveis que os subordinados só conseguiam alcançar, inflacionando os resultados das várias divisões.
A administração pediu desculpas públicas a 400 mil acionistas e foi substituída. A nova liderança promete tolerância zero e já identificou 30 executivos envolvidos na falsificação das contas que serão responsabilizados.
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Volkswagen. A grande limpeza
Muitos escândalos nascem de fraudes contabilísticas ou financeiras. Na Volkswagen, a falsificação foi no processo de produção.
A VW é das empresas mais prestigiadas do mundo, num pais que é símbolo da excelência na indústria, e tem como acionista, o Estado da Baviera. O choque foi tremendo.
Depois de uma investigação americana, o grupo alemão admitiu, em setembro, ter instalado um software nos carros a diesel que manipula os resultados dos testes em laboratório, mostrando um nível mais baixo de emissões.
O caso chegou a Europa onde a marca alemã enfrenta a fúria de países, acionistas e processos judiciais. A VW revelou que o software foi instalado em 11 milhões de carros (em Portugal são 117 mil) e antecipa-se uma gigantesca recolha para substituir o equipamento fraudulento. O presidente saiu, mas com uma reforma dourada.
Poucos arriscam fazer contas às multas e indemnizações (fala-se em 16 mil milhões de euros). A empresa já perdeu mais de 40% do valor em bolsa. E o pior ainda está para vir. Qual será o impacto nas vendas? As mais de 100 fábricas do grupo, incluindo Autoeuropa, vão resistir?
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