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“Sou uma pessoa muito divertida, cheia de vida. Eu amo a vida, eu amo mulheres.” Esta foi a resposta do antigo primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi quando foi confrontado, à margem de uma cimeira da União Europeia em 2011, com os rumores de que uma adolescente de 17 anos teria estado numa das suas festas sexuais “Bunga Bunga”. Nunca confirmando que se envolveu com a jovem, o ex-governante italiano garantiu, contudo, que “nada” — nem mesmo a pressão da exposição pública — o faria mudar o seu “estilo de vida” — algo de que, dizia mesmo, estava “orgulhoso”.

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“Eu tenho uma vida terrível, requer um esforço sobre-humano para geri-la. Trabalho até às duas e meia da manhã, vou para a cama e acordo outra vez às sete. Às vezes preciso de um serão para relaxar, para contar algumas piadas”, justificava aos repórteres Silvio Berlusconi, que morreu esta segunda-feira aos 86 anos. Com uma vida passada entre os corredores do poder e tendo amealhado uma considerável fortuna durante a vida, o antigo governante não se inibia de se divertir — e quase sempre na companhia de várias mulheres. Tudo isto fez com que somasse vários escândalos ao longo da carreira.

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A primeira mulher e a traição que ditou o fim da relação

Na estação central de Milão. Foi junto a esse emblemático local na cidade italiana que Silvio Berlusconi, de 28 anos, se encontrou pela primeira vez com Carla Lucia Dall’Oglio, quatro anos mais nova. Terá sido amor à primeira vista, como lembra a imprensa italiana. Um ano depois, os dois casam-se, numa relação de que resultaram dois filhos: Marina (1966) e Pier Silvio (1969).

Não são conhecidos grandes detalhes desta relação, com a mulher a preferir manter resguardada a sua vida privada. Após 20 anos de casamento, o divórcio — amigável — deu-se em 1985, duas décadas depois de o casal ter formalizado a sua união. Hoje em dia, Carla Lucia Dall’Oglio ainda se mantém longe dos holofotes e, após a separação de Silvio Berlusconi, decidiu passar longas temporadas em Inglaterra, apesar de nunca ter deixado Milão.

O motivo do divórcio é bem conhecido. Frequentador do teatro Manzoni, Silvio Berlusconi conhece, aos 44 anos, a atriz Veronica Lario, nome artístico de Miriam Raffaella Bartolini, uma jovem promessa na área da representação e 20 anos mais nova do que ele. Os dois apaixonam-se e o na altura empresário (ainda não tinha começado a sua vida política) começa uma relação extraconjugal, passada entre uma das casas do magnata e as escapadinhas de fins de semanas em Saint-Moritz e Portofino.

Mesmo antes do divórcio, o empresário teve uma filha com a atriz — Barbara, em 1984 —, mas a relação apenas se tornou pública após a separação com Carla Lucia Dall’Oglio. Silvio Berlusconi e Veronica Lario casaram e depois ainda tiveram mais dois filhos: Eleonora, que nasce em 1986, e Luigi, dois anos depois.

Na década de 90, com a entrada de Silvio Berlusconi na política, a relação foi ganhando maior cobertura mediática, mas Veronica Lario preferia manter-se na sombra. Entre campanhas e comícios, poucas foram as presenças da atriz ao lado do marido, com do qual, confessou anos depois, discordava muitas vezes politicamente. 

As festas ‘bunga bunga’ e o divórcio polémico

Foi após uma festa de aniversário, em meados de 2009, e após quase 25 anos de casamento, que Veronica Lario decidiu dar um murro na mesa. Após surgirem alguns rumores na imprensa de que o magnata já se teria envolvido com várias mulheres, a então companheira de Silvio Berlusconi decidiu pedir o divórcio. “Chega para mim. Fui obrigada a dar este passo”, afirmou.

O motivo? O então primeiro-ministro tinha ido a uma festa de aniversário de um jovem a quem chamava “amiga” — e que tinha feito apenas 18 anos. “Não posso estar com um homem que se relaciona com menores”, declarou Veronica Lario citada pela BBC, acrescentando: “Isto realmente surpreendeu-me, porque ele nunca foi a nenhuma festa de aniversário dos seus filhos, apesar de ser convidado.”

Além disso, nas eleições de 2008, Silvio Berlusconi prometeu que ia entregar vários cargos a mulheres, justificando com o facto de desejar a “renovação da classe política com pessoas cultas e bem-preparadas”. Mas o governante frisou igualmente que não queria “pessoas fedorentas e mal vestidas” no Parlamento. 

Ora, para Veronica Lario e para vários setores da oposição, Silvio Berlusconi estava apenas a ter em consideração, no momento da escolha dos cargos, “as curvas” e a “beleza feminina”. “É grave”, avaliou a mulher, que manteve firme a decisão de se separar. O divórcio entre os dois não foi pacífico — gerou inúmeras controvérsias e arrastou-se nos tribunais durante anos, numa batalha legal que terminou apenas em 2020.

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O divórcio teve, ainda assim, um efeito dominó. Foram divulgados áudios na imprensa de Silvio Berlusconi com prostitutas, ao mesmo tempo que eram revelados mais detalhes sobre as festas sexuais que o antigo governante organizava e que contava coma presença de várias mulheres. Uma delas, Patrizia D’Addario, comparou o que aconteceria naqueles eventos como o cenário de um “harém”. E chegou mesmo a contar que o político lhe chegou a oferecer um cargo no Parlamento Europeu.

Quem ajudava Silvio Berlusconi a organizar estas festas era a atriz alemã, de 36 anos, Sabina Began, que, referiu numa entrevista, estar “apaixonada” pelo político. “É um homem maravilhoso e eu sinto um amor verdadeiro por ele. Eu sou honesta e digo que ele é o melhor homem que passou pela minha vida”, assinalou. Quando questionada sobre a presença de outras mulheres na vida do magnata, a atriz respondeu que sabia que era a “sua favorita”. “Mas eu sinto, em qualquer caso, amor genuíno por ele.”

A mulher que mais dores de cabeça deu a Silvio Berlusconi foi, ainda assim, a dançarina com o nome artístico “Ruby” — Karima el Mahroug —, que terá participado numa das festas ‘Bunga Bunga’ quando ainda era menor. O antigo político era acusado de fazer pagamentos para subornar testemunhas, de modo a que estas não contassem o que se passava nas festas, incluindo sobre a presença da jovem. Contudo, a Justiça italiana decidiu, em novembro do ano passado, absolver o magnata das acusações de que era alvo.

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A ex-namorada e a mulher 53 anos mais nova

Após o tumulto que gerou o divórcio e as revelações das festas ‘Bunga Bunga’, a vida privada de Silvio Berlusconi ficou mais resguardada. Apenas em 2013, o antigo governante oficializou a relação com Francesca Pascale, uma antiga modelo que acabara de chegar à vida política e que era 49 mais nova do que o antigo primeiro-ministro italiano.

Numa entrevista à revista Vanity Fair, em 2013, Francesca Pascale contou que ainda era uma “menor” quando decidiu que queria envolver-se com Silvio Berlusconi. “Fui eu que o procurei, que o cortejei, que o fiz apaixonar-se por mim e depois tornei-me a sua namorada”, relata. “Praticamente fiz tudo: tudo o que ele teve que dizer foi ‘sim'”, acrescentou.

As polémicas judiciais em que estava envolvido o ex-primeiro-ministro não demoveram Francesca Pascale do objetivo. “Eles podem atirar toda a lama que quiserem, mas eu tenho a certeza de que não vão quebrar a nossa relação. Sinto-me segura. Tenho um escudo que me protege: o seu nome é Silvio Berlusconi. Eu amo-o do fundo do coração e ele vai proteger-me contra esta lavagem de roupa suja”, assegurou.

Ao mesmo tempo, vários tabloides italianos davam conta de que Francesca Pascale mantinha relações com mulheres, ao mesmo tempo que namorava com Silvio Berlusconi. Uma atriz búlgara amiga do antigo primeiro-ministro, Michelle Bonev, chegou a descrever a relação como uma “fraude”. “O Silvio apenas decidiu tornar a relação pública para que se pudesse continuar a divertir com ela e com as suas ‘amigas’ para não ser julgado pela opinião pública”, alegou.

Certo é que a relação termina em março de 2020, após um comunicado do magnata. Por sua vez, Francesca Pascale mostrou-se “chocada” com a declaração do ex-namorado. Mesmo assim, indicou que ia guardar um “grande carinho” por Silvio Berlusconi. “Desejo-lhe toda a felicidade do mundo e espero que encontre alguém que tome conta de ele como eu tomava”, disse a antiga companheira, que, dois anos depois, refez a vida ao lado da cantora Paola Turci, 21 anos mais velha que ela.

Numa questão de dias, a imprensa italiana tornava público o nome da nova companheira de Silvio Berlusconi: a jornalista e política Marta Fascina, 53 anos mais nova que ‘il Cavaliere’ (um termo com que o empresário e político italiano costumava ser referido). Os dois casaram em março de 2022, sendo o último relacionamento conhecido do magnata — um eterno apaixonado por mulheres.