Durante mais de uma década, uma caçada do Presidente russo, Vladimir Putin, na companhia do então primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, que morreu no ano passado, permaneceu envolta em mistério. Agora, sabe-se que o governante italiano considerou que o Chefe de Estado russo mostrou “uma natureza violenta” ao matar um veado à sua frente. O episódio foi contado por Fabrizio Cicchitto, aliado do antigo primeiro-ministro italiano, este domingo, ao jornal italiano “Corriere Della Serra”.

Decorria o ano de 2013, em Valdai, os dois políticos estavam alojados numa casa de campo do líder russo — dasha, em russo — e realizaram a caçada que acabou por abalar o político italiano. “Vladimir mostrou-me um lado violento, que eu não tinha imaginado num homem tão gentil e racional”, terá dito Berlusconi ao confidenciar a história quando regressou a Itália, segundo o relato de Cicchitto. O antigo primeiro-ministro terá dado ainda mais detalhes: “Putin disse-me: ‘Silvio, vamos caçar’ e eu pensei: ‘Caça? Nunca peguei numa espingarda’. Mas ele insistiu e então fui  com ele”.

Durante uma caminhada pela neve, Putin terá visto dois veados e decidiu apanhá-los, passando para a mão de Berlusconi uma espingarda, que o italiano recusou usar. Apesar da decisão do italiano, o líder russo atirou os animais e, concretizada a caçada, terá afirmado satisfeito: “Hoje vou-lhe oferecer uma comida extraordinária”. Depois, com recurso a uma faca, abriu um dos animais e tirou-lhe o coração, que mandou colocar numa bandeja de madeira. Ao entregar a mesma ao antigo primeiro-ministro italiano deixou a garantia que iam ter “uma refeição excecional”.

Berlusconi, cuja vida polémica ficou marcada por casos de corrupção e escândalos sexuais, ficou perturbado com tudo a que assistiu e acabou mesmo por vomitar atrás de uma árvore, relatou Cicchito. Ao longo dos últimos anos de vida, Berlusconi demonstrou-se preocupado com o bem-estar animal e até se terá tornado vegetariano, apesar de  informação não ter sido confirmada oficialmente.

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Apesar do aparente choque do líder italiano, este encontro não terá sido suficiente para abalar a amizade próxima entre Berlusconi e Putin, que durou duas décadas. Fabrizio Cicchitto asseguro ao jornal italiano que a relação era “absolutamente igualitária” e que Silvio tinha “a ambição de trazê-lo para o Ocidente e para a Nato”. Porém, “foi enganado por Putin”, que é acusado de usar o líder italiano para colocar a Rússia no centro da política internacional.

Apesar de ter condenado a Rússia pela invasão da Ucrânia e ter cortado relações com o Presidente russo temporariamente, retomou a amizade com Putin em outubro de 2022. Depois de o líder russo lhe ter oferecido vodka no seu 86.º aniversário, a amizade foi recuperada.

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