Reportagem em atualização ao longo do dia
Às vezes, Mário Cândido levanta-se às 3h ou 4h da manhã para ir para a fábrica, em Sintra. Com 40 anos de experiência na indústria da carne, abraçou há quatro o desafio de conceber os produtos da Veg In, uma empresa nacional que se dedica à produção de alimentos vegan com o sabor o mais aproximado possível da carne — que na tarde desta quarta-feira foi visitada pela campanha do PAN. Agora, Mário apresenta-se como “o pai” das morcelas, chouriças e hambúrgueres sem carne que todos os dias saem daquela fábrica, embora não dispense um bife nem um bom peixe. Para conseguir aqueles sabores, Mário Cândido precisa de se concentrar, qual artista em processo criativo. Vai para a fábrica durante a noite, quando está vazia, e põe-se a misturar ingredientes até chegar aos sabores perfeitos.
Atualmente, a empresa, 100% nacional, já exporta grandes quantidades de enchidos, hambúrgueres e outros produtos totalmente vegan. Sobretudo para o norte da Europa, onde, afirma David Ferreira, diretor-comercial, a mudança de paradigma já vai muito mais avançada. Em Portugal, à falta de estatísticas oficiais, estima-se que haja entre 300 mil e 600 mil vegetarianos. Por isso, de acordo com David Ferreira, o público-alvo da Veg In são os “flexiterianos” — aqueles que, não abandonando o consumo de carne e peixe, vão dando uma oportunidade aos produtos vegetarianos e procuram, quando dão os primeiros passos no mundo do vegetarianismo, os sabores mais aproximados aos da carne.
André Silva, do PAN, ouve as explicações de Mário Cândido, responsável pelo desenvolvimento de produtos vegan na fábrica da Veg In, em Sintra. A empresa produz chouriços, morcelas, farinheiras,
hambúrgueres e outros tipos de produtos vegan #Legislativas2019 pic.twitter.com/4Ou1TjZJc0— Observador (Eleições) (@OBSEleicoes) October 2, 2019
O chouriço vegan de Sintra já recebeu, inclusivamente, um prémio internacional de inovação, no mais importante certame de comida vegetariana do mundo, em Berlim. A soja utilizada é exclusivamente europeia, bem como todos os outros ingredientes usados na fábrica. Vem da Sérvia e da Ucrânia, embora seja quatro vezes mais cara do que a que é geneticamente modificada e vem da América do Sul ou dos Estados Unidos. A empresa produz, além da marca Veg In, marcas brancas para várias cadeias de distribuição. Esta foi a segunda ação de campanha dedicada ao vegetarianismo e veganismo, após a intervenção de André Silva no CouraVeg, congresso vegetariano de Paredes de Coura — a que se juntam os sucessivos alertas do porta-voz do PAN relativamente à necessidade de produzir alimentos de forma mais sustentável.
Se pudesse, André Silva também tinha votado em reunião sobre Tancos só depois das eleições
À margem da visita à fábrica de comida vegan, André Silva comentou a decisão da conferência de líderes de adiar para depois das eleições a reunião da Comissão Permanente da Assembleia da República sobre o caso do assalto às armas de Tancos. “Parece-me sensato. Se tivéssemos poder de posição sobre esta matéria, isto é, direito de voto, teríamos seguido esta decisão, que a reunião a realizar-se, realizar-se-ia sempre depois das eleições. De qualquer forma, se houvesse uma decisão em sentido contrário, não nos oporíamos a isso”, disse André Silva aos jornalistas.
O deputado único do PAN optou por não participar na reunião do conselho de líderes, uma vez que, por não ter um grupo parlamentar, o partido apenas tem o estatuto de observador naquele grupo e não pode votar — e aproveitou para reforçar o pedido de aumento da representação parlamentar do partido.
“O PAN não participou nesta reunião, não por o assunto não ser importante — são sempre importantes todos os assuntos que vão a conferência de líderes nos últimos quatro anos —, mas simplesmente porque se trata de um assunto em que o PAN não tem direito de voto. O PAN não tem assento na conferência de líderes com o mesmo estatuto dos outros partidos, porque só tem um deputado. Nós tivemos fortes constrangimentos regimentais ao longo destes quatro anos. O facto de não termos sentido de voto e representação como os outros partidos, não termos tempos em todos os debates, termos tempos reduzidos ou reduzidíssimos noutros debates. Por isso também é muito importante que consigamos fazer um alargamento da nossa representação parlamentar para podermos ter os mesmos direitos que um grupo parlamentar, que neste momento não tivemos”, afirmou André Silva.
“Se tivéssemos direito a voto, hoje tinha estado na conferência de líderes e teria votado para que a reunião tivesse ocorrido para a semana, como assim foi. Se tivesse havido uma vontade de haver uma reunião esta semana, o PAN também não a inviabilizaria. Mas, de qualquer das formas, e reitero, repito, não nos faz sentido que se esteja a queimar tanto tempo de um caso, que é judicial, que é importante, em período de campanha. Consideramos que este período e este tempo deve ser consumido a explicar as propostas de cada partido. É isso que temos vindo a fazer”, destacou.
Além disso, André Silva sublinhou que também não seria esta semana que o assunto ficaria resolvido, pelo que não adiantaria fazer a reunião antes das eleições. “Aquilo que iríamos verificar amanhã ou depois de amanhã é um bocadinho mais daquilo a que temos assistido ao longo dos últimos dias, com ataques, quer em espaço televisivo, quer em recados que são dados nas próprias comitivas de campanha, portanto de certeza absoluta esclarecedor não seria, como não acredito que vá ser esclarecedor daqui a uma semana, na próxima quarta-feira. Este, do meu ponto de vista, é um espaço que neste momento deve estar entregue à justiça e não à política.”
Questionado sobre se podia ser feita alguma leitura do facto de o PAN ter a mesma posição dos partidos da “geringonça”, André Silva desvalorizou. “Estou ao lado de uma decisão que, curiosamente, pode estar ou não alinhada com determinados partidos. A nós não nos faz sentido todo este mediatismo em torno de um caso que, para nós, é judicial, e que esteja a ocupar tanto tempo em tempo de campanha, e que pudesse, no fundo, canibalizar mais um dia de campanha com uma reunião de comissão permanente antes das eleições.”
Prioridade aos transportes em campanha na hora de ponta lisboeta
O dia de campanha começou de manhã com o tema dos transportes urbanos, em Lisboa. A hora de ponta já estava a caminhar para o final, mas, por volta das 9h, quando André Silva embarcou no comboio em Cascais rumo à estação lisboeta do Cais do Sodré, ainda encontrou muita gente que faz aquele percurso todos os dias para ir trabalhar em Lisboa. Depois de passar pelas primeiras estações ainda sentado, ao lado de Inês Sousa Real (a número dois do PAN por Lisboa) e de Francisco Guerreiro (o eurodeputado eleito nas últimas eleições europeias — que, antes de embarcar no comboio, aproveitou para varrer o chão da estação de comboios de Cascais), André Silva aproveitou a enchente da composição que se começa a fazer sentir a partir do Estoril e, sobretudo, a partir de Oeiras, para percorrer o corredor do comboio a distribuir folhetos do partido que espera eleger pelo menos dois deputados no próximo domingo.
Para o PAN, os transportes são uma prioridade. “Todos os dias entram 400 mil automóveis na cidade de Lisboa e apenas cerca de 15% das pessoas que habitam na área da Grande Lisboa utilizam transportes públicos”, disse André Silva aos jornalistas, já depois de desembarcar no Cais do Sodré. “É importante melhorar o material circulante, é importante reforçar as carreiras, mas acima de tudo as próprias acessibilidades. Há muitas plataformas de comboios e de metropolitano que não têm as devidas acessibilidades para pessoas que têm mobilidade condicionada.”
A bordo do comboio da linha de Cascais em direção a Lisboa, na manhã desta quarta-feira, o porta-voz do PAN, André Silva, quer chamar a atenção para as condições dos transportes urbanos na Área Metropolitana de Lisboa #legislativas2019 pic.twitter.com/aomxZqMLUC
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André Silva deu como exemplo duas estações de metro do centro de Lisboa: a da Cidade Universitária (que serve o Hospital de Santa Maria) e a da Praça de Espanha (que serve o IPO). Ali, “não existe um elevador ou uma plataforma elevatória, e pessoas com mobilidade condicionada — em cadeira de rodas, com carrinhos de bebé — não podem de forma autónoma aceder a um dos principais hospitais da cidade”.
Ao mesmo tempo — e desta vez André Silva deixou a questão ambiental para segundo lugar — a transição de meios de transporte individuais para meios de transporte coletivos faz parte das preocupações a ter na “descarbonização da economia”. Até porque, em Portugal, os transportes rodoviários são a segunda maior fonte de emissão de gases de efeitos de estufa. Claro que, concluiu o porta-voz do PAN, “para estimular as pessoas a usarem os transportes públicos e a deixarem o seu automóvel em casa, é preciso que a rede de transportes públicos seja confortável, seja acessível e seja eficiente” — e, garante André Silva, “aqui não há um discurso contra os condutores, pelo contrário, é um discurso a favor das pessoas, do bem-estar”.
Por isso, embora não tenha deixado propostas e valores concretos, André Silva defendeu que no longo prazo é necessário “estender as linhas de metropolitano para as zonas de Cascais, Sintra e também Loures”. “Há toda uma necessidade de transporte coletivo que tem de ser melhorado e essas necessidades têm de ser levantadas”, esclareceu, sublinhando que é preciso “percebermos onde é que estão os principais fluxos de entrada de automóveis na cidade e estender as linhas de metro nessa direção”. Depois, “em função das possibilidades do país”, trata-se de “fazer os investimentos que sejam necessários”.
Otimista com sondagens, PAN quer mais de 3%
À margem da viagem de comboio desta manhã, André Silva — que habitualmente tem preferido não se pronunciar sobre as sondagens — mostrou-se otimista e confiante devido, precisamente, às sondagens. Mesmo que o PAN esteja neste momento no pior momento, quer na sondagem diária que tem sido publicada pelo Jornal de Notícias, TSF e TVI, quer na sondagem divulgada na terça-feira à noite pela RTP. Ambas apontam para uma descida do partido de André Silva, pela primeira vez, abaixo dos 3% de intenções de voto.
Questionado sobre se eleger apenas dois deputados seria uma derrota eleitoral, André Silva disse que, antes pelo contrário, qualquer resultado acima de um deputado será uma vitória. “O que temos sempre vindo a dizer desde 2015 é que queremos aumentar a nossa representação parlamentar. O que sentimos na rua é um apoio cada vez maior”, afirmou
O porta-voz do partido, e cabeça-de-lista por Lisboa, mostrou-se mesmo confiante com a estabilização das intenções de voto do PAN à volta dos 3% durante os últimos dias e mostrou otimismo face a um resultado ainda maior. “É positivo do nosso ponto de vista, ao contrário de todas as outras eleições, que as sondagens indiquem um crescimento e uma consolidação, e nós esperamos que o resultado de dia 6 seja superior às sondagens que nos dão 3%, sempre assim aconteceu e acreditamos que é isso que vai ocorrer.”