É a primeira vez que a CDU falha a eleição em Santarém e Évora e logo de dois nomes de peso na bancada. António Filipe era um dos deputados comunistas mais antigos sentados no hemiciclo e João Oliveira até aqui líder parlamentar.
A eleição de João Oliveira já tinha sido, aliás, por um triz em 2019, com os comunistas a terem essa nuvem bem presente ao longo desta campanha eleitoral. Com o problema de saúde de Jerónimo de Sousa e a necessidade de substituir João Ferreira na estrada ao longo de vários dias da campanha, aqui e ali os comunistas foram dando sinais do nervosismo por tirar João Oliveira do campo em Évora.
O feedback positivo da prestação de Oliveira na frente da caravana comunista até parecia animar a comitiva, mas nunca se apagou completamente a nuvem que pairava com a hipótese de ver esse lugar cair. A solução foi somar sinais ao longo da campanha de presença em Évora.
Sem que estivesse agendado, João Oliveira somou centenas de quilómetros ao fim de semana já de si preenchido para ir a Évora votar antecipadamente, sempre que teve oportunidade fez questão de frisar o trabalho que os “camaradas” no local realizaram, assegurando a agenda que seria encabeçada por ele e, mal foi possível, voltou ao terreno.
Podia ter esperado mais um dia para que João Ferreira não tivesse tido a ingrata tarefa de recuperar a frente da caravana apenas por um dia, já que Jerónimo de Sousa haveria de regressar logo no dia seguinte, mas cada dia era essencial para João Oliveira em Évora e voltou assim que foi possível.
Será difícil fazer a ligação direta a essas tarefas de substituição de secretário-geral e a perda do mandato em Évora, mas é factual que a sombra dessa hipótese esteve na mente dos comunistas ao longo das semanas atribuladas.
Agora, viram-na confirmada. João Oliveira falha mesmo a eleição com a CDU a perder cerca de 2.500 votos neste dois anos. No distrito o PS ganhou 6.322 votos em relação a 2019 e o PSD (que conseguiu eleger um deputado) conquistou mais 3.965 votos do que há dois anos. A seguir à CDU está, desta vez, o Chega que viu a votação passar dos 1.645 votos em 2019 para os 7.222 votos. O Bloco de Esquerda surge depois com 2.628 votos, menos 3.942 que há dois anos.
Ainda que tenha sido apenas uma queda de cerca de 2.500 votos, a polarização em torno do PS e do PSD prejudicou a atribuição do mandato no distrito, deixando-o fora das mãos dos comunistas.
E não foi só em Évora que a CDU viu cair um nome de peso. Em Santarém os comunistas perderam António Filipe, deputado desde as eleições legislativas de 1987. São quase quatro mil votos a menos nas urnas destas eleições do que os que a coligação tinha conquistado em 2019.
E é no distrito de Santarém que se localiza a freguesia do Couço, um histórico bastião de luta antifascista, que também saiu das mãos dos comunistas. Ponto de paragem obrigatória em todas as campanhas eleitorais da CDU, pela primeira vez o Couço saiu das mãos dos comunistas para a dos socialistas.
Ainda no mesmo distrito, na freguesia de Samora Correia, onde António Filipe fez o discurso mais duro da campanha comunista contra o fascismo e o Chega, os comunistas já estavam a antecipar um resultado semelhante ao que agora se confirma. Em 2019 a CDU ficou atrás do PS e do PSD com 12,51% (842) votos, tendo passado agora para o quarto lugar ultrapassado pelo Chega.
E é o Chega que efetivamente consegue crescer exponencialmente nessa freguesia. Dos 238 votos que o partido de André Ventura teve em 2019, passou agora aos 1.302. O PS manteve-se como a primeira força e o PSD também em segundo lugar.
No que diz respeito ao círculo eleitoral de Santarém os socialistas conquistaram mais um mandato que em 2019 e além da CDU também o Bloco de Esquerda perdeu a representatividade do Parlamento, conseguindo o Chega conquistar um mandato pela primeira vez.
Parte dos votos perdidos pelos comunistas e bloquistas pode ter fugido também para as mãos dos socialistas que conseguiram mais 13.034 que em 2019. Somando-se as perdas de BE e CDU dá um total de 14.937 pouco mais do que os socialistas conseguiram crescer.
PEV sai do Parlamento
De uma bancada com dois parlamentares, o Partido Ecologista os Verdes deixa o Parlamento. Com Mariana Silva a integrar a lista por Lisboa em quarto lugar e José Luís Ferreira em terceiro lugar por Setúbal ambos estão fora porque a coligação só conseguiu conquistar dois lugares em cada um dos círculos.
Inscrito no Supremo Tribunal de Justiça em 15 de Dezembro de 1982, com a denominação Movimento Ecologista Português – Partido ‘Os Verdes’ e a sigla MEP-PV, que mais tarde evoluiu para PEV, o partido conseguiu entrar para o Parlamento logo nas eleições do ano seguinte renovando sempre os lugares à boleia da coligação com o PCP.
Em 2019 Mariana Silva era a quarta na lista por Lisboa e conseguiu a reeleição e José Luís Ferreira o terceiro por Setúbal, ambos os últimos a entrar. No caso de Setúbal, Francisco Lopes (o cabeça de lista) acabaria por renunciar ao mandato tendo entrado o nome que sucedia a José Luís Ferreira: Bruno Dias (que este ano volta a ficar de fora).
Ouça aqui a reportagem da Rádio Observador: