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"Costa assumiu com força enorme que se pode recandidatar em 2026"
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"Costa assumiu com força enorme que se pode recandidatar em 2026"

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

"Costa assumiu com força enorme que se pode recandidatar em 2026"

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

Pedro Marques: "Pedro Nuno? Qualquer militante que queira ter futuro não pode começar aos tiros"

Eurodeputado e antigo ministro sublinha "força" de Costa para continuar para lá de 2026 e deixa recado a Pedro Nuno: no PS, não há espaço para "vedetismos" - quem quer ter "futuro" tem de ser leal.

Deixou o cargo de ministro das Infraestruturas, que viria a ser ocupado por Pedro Nuno Santos, para abraçar a aventura europeia. Mas nem por isso deixou de estar atento à realidade nacional. E, apesar da crise governativa em que se atolou o Governo, Pedro Marques, antigo ministro e membro do Secretariado Nacional do PS, não tem dúvidas. “António Costa assumiu com uma força enorme a ideia de que até se pode recandidatar em 2026 e é, de longe, a pessoa que está em melhores condições de continuar a liderar os destinos do país”.

Em entrevista ao Observador, no programa “Vichyssoise”, Pedro Marques, que aceitou comentar a crise política desde que não se pronunciasse diretamente sobre o mandato do seu sucessor, Pedro Nuno Santos, à frente do Ministério que foi seu, não resistiu em deixar um recado ao putativo sucessor de António Costa: ninguém no PS perceberia que começasse a ser desleal à atual liderança socialista.

“É um militante com muita inteligência política. Sabe que a única coisa que cada militante do partido espera dele daqui para a frente é que ele continue a apoiar o partido e o Governo. Não vai começar aos tiros ao próprio Governo. Não somos um partido nem de vedetismos ou divisões”, sublinhou.

Recusando alinhar com críticas de várias figuras do universo socialista, como Teixeira dos Santos, Alexandra Leitão ou Paulo Pedroso, o antigo ministro entende que Costa deve afinar rapidamente o modelo de recrutamento de membros do Governo. “Não queremos fazer o jogo da extrema-direita.”

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[Ouça aqui a Vichyssoise com Pedro Marques]

Marcelo “supépower”, o cavalo de Pedro Nuno Santos e o cansaço de Costa

“Dissolução da Assembleia da República não está colocada”

Doze saídas do Governo em 9 meses. A demissão de Marta Temido e de Pedro Nuno Santos. Um secretário de Estado Adjunto que dura 56 dias. Uma secretária de Estado do Tesouro que dura 26. dias Uma secretária de Estado da Agricultura que dura 25… horas. Uma sucessão de pequenos, médios e grandes escândalos. Está em causa o regular funcionamento das instituições?
Não está nada em causa o regular funcionamento das instituições. No contexto da formação do Governo, houve situações concretas que têm de ser atalhadas, em particular este último caso. Esta secretária de Estado não devia ter aceitado o convite. Julgo que haverá aqui um antes e um depois. Um procedimento, com mais ou menos envolvimento do Presidente da República e das outras instituições, ocorrerá para que a constituição do Governo não seja afetada por estes casos.

Mas encontra justificação para estes casos? Teixeira dos Santos comparou a atual situação de instabilidade governativa com o PREC.
É um completo exagero, não tem sentido nenhum. Comparar qualquer coisa que se passa neste momento com períodos como de instabilidade como aqueles que o país viveu noutras alturas é desconsiderar o que tem sido a estabilidade do país. Aliás, o que conta para a vida das pessoas não é nada disso. O que conta é se há emprego, se conseguimos controlar as contas públicas e se conseguimos controlar esta crise inflacionista. E isso estamos a conseguir.

O Presidente da República disse, já no meio desta crise, que se o atual modelo de governação de Costa “funcionar é boa ideia; se não, retiraremos daí as conclusões”. Viu nisto uma ameaça de recurso à bomba atómica da política nacional?
Não julgo e também não vou fazer de comentador. Não é esse o meu papel.

Não teme que Marcelo Rebelo de Sousa venha a dissolver a Assembleia da República?
Não. Essa questão não está colocada. Temos um Governo que está a entregar resultados e não nos podemos distrair dos problemas reais e das soluções para estes problemas com estas situações. E isso já reconheceu António Costa, dizendo que é preciso um outro procedimento para que este escrutínio seja feito à anteriori e não depois.

"Pedro Nuno Santos é um militante destacado, da minha geração. É um militante com muita inteligência política, sabe que a única coisa que cada militante do partido espera dele daqui para a frente é que ele continue a apoiar o partido e o Governo. Qualquer militante, da minha geração ou de outra, que queira ter futuro no PS, sabe que é exatamente assim, não vai começar aos tiros ao próprio Governo"

“Não queremos fazer o jogo da extrema-direita”

Vamos começar pela mais recente demissão. A agora ex-secretária de Estado da Agricultura foi nomeada nas circunstâncias em que foi. Maria do Céu Antunes nega agora saber dos detalhes do caso. Depois de Miguel Alves, depois de Alexandra Reis… A ministra não tinha obrigação de ter procurado saber?
O primeiro-ministro já disse que ia alterar o procedimento de designação dos membros do Governo no sentido de garantir esse escrutínio à anteriori.

Disse-nos que a secretária de Estado não devia ter aceitado. A pergunta é outra: devia ter sido convidada?
Se o escrutínio tivesse podido ser feito com o procedimento que o primeiro-ministro agora anunciou…

Mas é preciso um procedimento para isso? Um ministro não tem autoridade e meios para perceber quem vai ter ao seu lado?
Tem autoridade, tem meios, mas pode faltar precisamente uma sistematização de questões que têm de ser oleadas e que têm de ser colocadas de forma exaustiva.

Pedro Marques, neste caso muito concreto, bastava pesquisar no Google. Não seria de supor que a ministra tivesse feito esse trabalho de casa?
Compreendo a questão e percebo que o que vos interesse é continuar a explorar esta situação concreta. Mas o que importa é alterar o procedimento de nomeação, estabilizar o procedimento para diminuir esta perceção de degradação do funcionamento da instituição democrática com uma coisa que é pontual. Não queremos fazer o jogo da extrema-direita e vamos focar-nos em governar para as pessoas.

Há ministros que permanecem no Governo depois de terem feito estas nomeações, como é o caso de Fernando Medina e, agora, Maria do Céu Antunes. Daí a nossa insistência.
Não tinham conhecimento prévio destas situações. O procedimento tem de ser reforçado, isso é o que importa.

Paulo Pedroso defendeu aqui mesmo, no Observador, que a ministra da Agricultura tem de tirar “ilações políticas” e que “seria melhor que saísse”. Concorda?
É a avaliação do Paulo Pedroso. Não vou fazer esse tipo de comentário.

“Situação de Medina nada tem a ver com a de Pedro Nuno”

Ainda assim houve quem assumisse responsabilidades. No caso de Pedro Nuno Santos, que se demitiu. Fernando Medina, que tem as mesmas responsabilidades no caso de Alexandra Reis, devia seguir o exemplo?
Isto não tem nada a ver uma situação com a outra. O que tivemos no ministério de Pedro Nuno Santos foram duas situações de gestão de dossiers do Ministério, num caso uma situação relacionada com o novo aeroporto, no outro uma situação relacionada com a TAP e gestão da TAP. O ministro entendeu que essas duas situações eram suficientemente sérias para não continuar.

O ministro no comunicado em que se demite fala especificamente no caso de Alexandra Reis e admite que, sabendo agora dos contornos do acordo, não tinha condições para continuar. Ele próprio faz essa análise.
Exatamente, é uma questão de gestão do Ministério. Fernando Medina nem era membro do Governo quando Alexandra Reis saiu da TAP.

Sim, mas convidou-a para o Governo.
Não tinha conhecimento dessa indemnização e o ministério das Finanças. O anterior ministro também não conhecia. Devia ter conhecido. É uma questão que não era possível estar no conhecimento se nem sequer no anterior Ministério da Finanças estava. Mas o que é preciso é que o Governo se concentre na governação.

Mas tem sido difícil concentrar-se na governação precisamente por causa dos casos que emergem de dentro do Governo.
Por isso é que o primeiro-ministro, e muito bem, decidiu anunciar que vai retirar consequências no sentido de criar um procedimento de nomeação que seja de escrutínio mais detalhado à nomeação, para que estas situações sejam atalhadas.

Alexandra Leitão disse recentemente que Fernando Medina devia explicações ao país e acrescentou que o Governo devia olhar para si sem arrogância, com humildade. Palavras semelhantes às que Pedro Siza Vieira dedicou a António Costa recentemente. Concorda com essa avaliação? O Governo está com falta de humildade?
António Costa reconheceu, e muito corretamente, que tinha que melhorar os procedimentos internos relativamente à constituição da equipa governativa para que não estejamos excessivamente concentrados nas questões procedimentais de constituição do Governo e, sobretudo, para que o nível de atenção mediático em torno destes casos seja muito diminuído.

"António Costa assumiu com uma força enorme a ideia de que até se pode recandidatar em 2026. Neste momento não tenho nenhuma dúvida que é, de longe, a pessoa que está em melhores condições de continuar a liderar os destinos do país"

“Pedro Nuno? Qualquer militante que queira ter futuro não pode começar aos tiros”

A saída de Pedro Nuno Santos do Governo e do secretariado nacional do PS está a ser interpretada dentro do partido como o início da luta pela sucessão interna do partido. Acredita que Pedro Nuno Santos vai ser uma pedra no sapato de António Costa?
Esta questão da sucessão do PS é uma novela que se alimenta a ela própria. Tem muito interesse mediático. Que me recorde já vai em cinco anos. Salvo erro meu, já passaram três líderes pelo PSD enquanto estávamos a falar da possível sucessão de António Costa. Pelo caminho, António Costa até conseguiu uma maioria absoluta o que faz com que, previsivelmente, esteja no poder até 2026.

Mas agora há um dado novo. Pedro Nuno Santos está, ao que parece, na oposição interna. Isso é, ou não, problema para António Costa? Até aqui Pedro Nuno Santos estava no Governo.
Isso está por demonstrar. Pedro Nuno Santos é um militante destacado, da minha geração. É um militante com muita inteligência política, sabe que a única coisa que cada militante do partido espera dele daqui para a frente é que ele continue a apoiar o partido e o Governo. Qualquer militante, da minha geração ou de outra, que queira ter futuro no PS, sabe que é exatamente assim, não vai começar aos tiros ao próprio Governo.

Até porque isso poderia pôr em causa a pole position que parece ter neste momento?
Todos os que aqui estamos e temos presente e futuro no Partido Socialista temos muito mais quando somos solidários com o nosso partido, com o nosso Governo. Não somos um partido nem de vedetismos, nem de divisões. António Costa continuou com esta remodelação governamental, nomeadamente ao nível dos ministros, a mostrar uma enorme capacidade de unidade dentro do PS e dos vários possíveis ismos do PS.

“Costa assumiu com força enorme que se pode recandidatar em 2026”

Na entrevista que António Costa deu a Francisco Pinto Balsemão não ficou muito claro o que é que o primeiro-ministro pretende fazer relativamente ao futuro. Considera que seria positivo que António Costa se candidatasse a um novo mandato de chefe de Governo em 2026?
Em todos os momentos de avaliação política anterior em que era colocada essa pergunta ao primeiro-ministro, o que retiravam no final era a ideia ‘candidata-se ou não se candidata?’, ‘termina ou não termina o mandato?’. António Costa assumiu com uma força enorme a ideia de que até se pode recandidatar em 2026.

E acha que seria uma boa ideia, que seria positivo para o partido?
Neste momento não tenho nenhuma dúvida que é, de longe, a pessoa que está em melhores condições de continuar a liderar os destinos do país, embora faltem imensos anos até lá chegar — faltam quatro anos de maioria absoluta. Aquilo em que António Costa está concentrado é entregar resultados e não em pensar no que vai fazer com a sua vida e com o cargo de secretário-geral em 2026. Desafios de 2023 são muito grandes, sabemos que temos um ano muito difícil pela frente.

Sobre a sucessão, a verdade é que neste período de liderança do PS vai ter de se tratar disso em algum momento e há um cenário alternativo que é o secretário-geral continuar até 2026, mas haver um candidato a primeiro-ministro. Considera que seria positivo para o partido? 
Há imensos cenários que se podem vir a colocar quando nos aproximarmos de 2026.

Mas tem de ser antes, tem de ser em 2025, também há um Congresso em 2023.
Estamos a falar no princípio de 2023 e com o tipo de desafios que falámos há pouco. Tenho a certeza que António Costa não dedicará mais do que os minutos que passa numa entrevista a ter de teorizar sobre essa matéria. No momento em que estamos a falar, não se põe a pensar na sucessão como líder do PS ou no Governo. Claro que a questão há de colocar-se e, nessa altura, há muitas possibilidades. Há imensos quadros competentes, mas não está no nosso quadro mental. Temos quatro anos de maioria absoluta. Importante é governar bem.

"Não somos um partido nem de vedetismos ou divisões. António Costa continuou com esta remodelação governamental, nomeadamente ao nível dos ministros, a mostrar uma enorme capacidade de unidade dentro do PS e dos vários possíveis 'ismos' do PS"

“Há muita gente boa no partido. Duarte Cordeiro é um deles”

Só mais um cenário hipotético: além de Pedro Nuno Santos e de Fernando Medina começam a surgir rumores no PS de uma possível terceira via que seria em torno de Duarte Cordeiro. O ministro do Ambiente daria um bom líder socialista?
Essa é a felicidade do PS: tem uma boa capacidade de gerar, quer a nível de ministros, quer noutras posições políticas, quadros competentes que podem representar o futuro.

Duarte Cordeiro é um deles?
Duarte Cordeiro é um dos nossos muito bons. Há muita gente boa no partido, há tantos de nós com qualidade nesta geração. Com os desafios que têm em mãos neste momento, não é a questão.

Falou em felicidade. Seria feliz como líder do PS?
Sou muito feliz a fazer o que estou a fazer agora.

Não se exclui dessa corrida?
Estou muito focado no meu trabalho de vice-presidente do grupo parlamentar do S&D. António Costa, essas pessoas e eu próprio estamos todos focados durante mais uma quantidade de anos num desafio brutal.

"Não está nada em causa o regular funcionamento das instituições. No contexto da formação do Governo, houve situações concretas que têm de ser atalhadas, em particular este último caso. Julgo que haverá aqui um antes e um depois. Comparação com o PREC é um completo exagero"

“Não vou voltar a dançar em cima de nenhum carro no Carnaval de Torres Vedras”

Vamos então avançar para a fase do Carne ou peixe, em que tem de escolher uma de duas opções. Preferia jogar uma partida ténis com Fernando Medina ou Pedro Nuno Santos?
Tenho de escolher o Fernando porque já joguei uma data de vezes com ele e não sei se o Pedro Nuno Santos é um bom jogador de ténis.

Preferia voltar a dançar em cima de um carro como já fez, na campanha eleitoral no Carnaval de Torres Vedras, ao lado do candidato a Presidente da República Augusto Santos Silva ou Carlos César?
Acho que não vou voltar a dançar em cima de nenhum carro no Carnaval, não devemos dizer ‘desta água não beberei’, mas tenho impressão que no meu futuro na política não vou voltar a dançar em cima de carros.

E preferia fazer mais um mandato descansado na Europa ou arriscar aceitar um convite de António Costa para ser número dois do Governo?
Estou mesmo numa dificuldade grande que é: uma grande responsabilidade e vontade de ajudar o país, mas também a sensação de que posso fazer a diferença ao nível europeu. Desta vez vou mesmo passar.

Em 2024, preferia ter como presidente da Comissão Europeia António Costa ou Ursula von der Leyen?
Em 2024, prefiro que António Costa continue a ser o nosso primeiro-ministro porque temos uma maioria absoluta a decorrer e vamos lá ver se como família política teremos melhores alternativas do que Ursula von der Leyen.

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