“É dececionante que a maioria dos países da OCDE não tenha visto praticamente nenhuma melhoria no desempenho dos seus alunos desde que o PISA foi realizado pela primeira vez no ano 2000”, escreve Angel Gurría, secretário-geral da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), no prefácio do relatório com os resultados do teste PISA 2018 (Programa Internacional de Avaliação de Alunos).
Portugal é a exceção. É o único Estado-membro que mantém uma trajetória de crescimento consistente durante toda a sua participação no PISA, que se realiza de três em três anos desde o ano 2000. Mais, Portugal é um dos sete países, em 79 sistemas educativos analisados em 2018, que mantém um percurso considerado de melhorias significativas, nas quase duas décadas de avaliação internacional dos alunos, no desempenho das três áreas avaliadas — leitura, ciências e matemática. E isto apesar de, em relação a 2015, ter havido uma queda em ciências e leitura — que os autores consideram não ser estatisticamente relevante, no caso da segunda.
A avaliação que pretende não só perceber que conhecimentos foram adquiridos, mas, sobretudo, como é que os jovens de 15 anos aplicam aquilo que aprenderam, em contextos que não lhes são familiares, tanto dentro como fora da escola. “O PISA é mais do que avaliar se os alunos podem reproduzir o que aprenderam na escola”, escreveu Andreas Schleicher, diretor para a Educação e consultor de Competências Especiais na Política Educativa da OCDE. “Algumas pessoas argumentam que os testes PISA são injustos, porque confrontam os alunos com problemas que não encontraram na escola. Mas a vida é injusta, porque o verdadeiro teste na vida não é se podemos lembrar o que aprendemos na escola ontem, mas se seremos capazes de resolver problemas que não pudemos antecipar hoje.”
Em 2018, Portugal teve exatamente a mesma pontuação nas três áreas do conhecimento: 492 pontos, que corresponde ao nível 3 (de seis). Cerca de metade (53 ou 54%, consoante a área de conhecimento) dos mais de 600 mil alunos que participaram no PISA 2018 são capazes de realizar as tarefas do nível 3, que já lhes permite ter uma participação na sociedade, mas apenas 25 a 30% (consoante a área de conhecimento) conseguem desempenhar as tarefas do nível 4. Em termos globais, nenhum dos países chegou aos níveis 5 ou 6, e só a China, com as quatro regiões que participaram no estudo (Pequim, Xangai, Jiangsu e Zhejiang), atingiu o nível 4 nas três áreas.
Portugal entre os 30 melhores países em todas as áreas
A China (Pequim, Xangai, Jiangsu e Zhejiang), Singapura e Macau dominaram o ranking para as três áreas avaliadas: leitura, ciências e matemática. Estónia foi o país europeu com melhores resultados — ficando entre os cinco primeiros do ranking em leitura e ciências —, ultrapassando a Finlândia (no caso da matemática, com uma distância de oito lugares).
Portugal ficou à frente da média da OCDE, mas com uma diferença tão pequena na pontuação que os autores não a consideram estatisticamente significativa. Ainda assim, ficou logo atrás da França e acima da Espanha, Itália e Grécia. Comparado com 2015, Portugal teve a mesma pontuação a matemática e uma ligeira descida a leitura. Mais significativa é a descida a ciência (nove pontos), o tema em destaque em 2015.
Entre os países com os piores resultados nas três áreas estão Filipinas, Kosovo, Marrocos, Panamá e República Dominicana, que não passam do nível 1. Aliás, há pelo menos 15 países ou economias (no caso da matemática, 22) que não chegam ao nível 2, considerado como o nível mínimo para que os alunos possam exercer uma cidadania ativa.
De forma geral, o desempenho dos países da OCDE em leitura, matemática e ciências manteve-se estável entre 2015 e 2018. O relatório destaca, no entanto, a melhoria nos desempenhos em leitura de países como a República da Macedónia do Norte, que subiu 41 pontos para 393 (mas ainda apenas no nível 1), ou a Turquia, que subiu 37 pontos para 466. Macau (525) e Singapura (549), nos três primeiros lugares do ranking, também subiram significativamente a pontuação em relação a 2015 (entre 10 a 20 pontos).
Macau, a República da Macedónia do Norte e a Turquia estão em destaque no PISA 2018 porque são os três países que subiram nas três áreas de conhecimento. Na matemática, a República da Macedónia do Norte subiu 23 pontos para 394 e a Turquia subiu 33 pontos para 454. Nas ciências, subiram 29 pontos para 413 e 43 pontos para 468, respetivamente. Macau, por sua vez, subiu mais de 10 pontos tanto a matemática (544) como a ciências (558).
Já no lado negativo, a Geórgia e a Indonésia tiveram a maior queda na pontuação da leitura: 20 pontos cada uma, ficando com 380 e 371, respetivamente. A Colômbia (412), República Dominicana (342), Holanda (485), Luxemburgo (470), Rússia (479), Tailândia (393) e até a Noruega (499) e Japão (504), tiveram uma queda de mais de 10 pontos. Mas os autores do relatório conseguem tirar uma nota positiva mesmo no caso das descidas na pontuação: “Em nenhum país ou economia, o desempenho caiu nas três áreas”.
“A maioria dos países e economias não teve mudanças significativas no desempenho entre 2015 e 2018, quando consideradas cada área de forma independente”, escrevem os autores do relatório. “Isto é o esperado. A falta de melhoria em três anos não é necessariamente um motivo de preocupação: a educação é cumulativa e quaisquer mudanças nas políticas são incrementais e podem levar anos, se não uma coorte inteira de crianças em idade escolar, para surtir efeito.”
Alunos têm dificuldade em distinguir factos de opiniões
A cada três anos, o teste PISA dá mais destaque a uma das áreas. Em 2018, o foco estava na leitura, tal como já tinha acontecido nos anos 2000 e 2009. Mas a realidade agora é muito diferente: os alunos não recolhem a informação de que necessitam apenas nos manuais, mas podem encontrar centenas de respostas numa pesquisa na internet. Foi por isso que o teste de 2018 foi concebido para ter várias entradas e várias fontes onde os alunos se pudessem basear para responder.
Com a quantidade de informação disponível, cabe agora aos alunos distinguir o que é verdade do que não é, mas o que o PISA 2018 demonstrou é que menos de um em cada 10 alunos, nos países da OCDE, consegue distinguir o que é um facto do que é opinião. Mais: um em cada quatro alunos na OCDE teve dificuldades com aspetos básicos de leitura, como identificar uma ideia num texto de tamanho moderado ou ligar partes de informação dadas por fontes diferentes.
Aos alunos era pedido que demonstrassem as suas competência na localização da informação, na compreensão de um texto e na avaliação e reflexão sobre os conteúdos. Os alunos portugueses, à semelhança dos alunos de outros 26 países com um nível 3 em leitura, mostraram-se capazes de “localizar vários elementos de informação que obedecem a várias condições e, em alguns casos, identificar relações entre esses elementos”, “integrar várias partes de um texto para identificar uma ideia principal” e “estabelecer relações, comparações e produzir explicações”.
Cerca de 80% dos 5.932 alunos portugueses que participaram no PISA 2018 alcançaram o nível 2 na leitura, que lhes dá as competências mínimas para que possam ter uma cidadania ativa. Mas apenas 7% dos alunos portugueses atingiram os níveis mais altos da escala, os níveis 5 e 6, que lhes permitem “compreender textos de leitura demorada, lidar com conceitos que são abstratos ou contra intuitivos e distinguir factos de opiniões baseados em dados que dizem respeito ao conteúdo ou à fonte de informação”.
Em Portugal, os piores alunos vêm de contextos mais desfavorecidos
A proporção de alunos com os melhores desempenhos (top performers) — com nível igual ou superior a 5 — tem aumentado ligueiramente ao longo do tempo, mas nunca chegaram aos 10% para a leitura e ciências e, na matemática, está apenas ligeiramente acima. Diferenças maiores têm apresentado os alunos com piores desempenhos (low achievers) — com nível igual ou inferior a 2 —, que caíram muito em 2009, mas que continuam próximos ou acima dos 20%.
Entre 2018 e 2009, os dois últimos anos em que o destaque foi a leitura, os alunos com melhor desempenho aumentaram significativamente (2,5%). A redução de 3% dos alunos com piores desempenhos não foi considerada estatisticamente significativa.
Quando se compararam os resultados de matemática dos alunos entre 2018 e 2006, os que têm desempenhos iguais ou inferiores ao nível 2 desceram 7,4% — logo, menos alunos com piores resultados — e os que têm desempenhos iguais ou superiores ao nível 5 cresceram 5,9%.
A ciência foi a única das três áreas que mostrou uma queda significativa de 2015 para 2018 no ranking geral e parte deste resultado justifica-se por uma descida de 1,8% entre os alunos com os melhores desempenhos. Mas quando se compara 2018 com 2006, os resultados são mais animadores: há menos 4,9% de alunos com piores resultados e mais 2,5% dos alunos com melhores resultados.
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Com frequência, os alunos com resultados no nível 2 ou inferior são também aqueles que vêm de contextos socioeconómicos mais desfavorecidos. “Em Portugal, a probabilidade de um aluno de entre os 25% mais desfavorecidos obter uma pontuação abaixo do nível 2 de proficiência é aproximadamente três vezes maior do que a de um aluno com estatuto socioeconómico superior obter essa pontuação”, destaca o Instituto de Avaliação Educativa na versão em português do relatório da OCDE.
Outros países contrariam os resultados portugueses e mostram que é possível alcançar equidade e excelência. Em países como a Austrália, Canadá, Coreia, Dinamarca, Estónia, Finlândia, Hong Kong, Japão, Noruega e Reino Unido, um em cada dez alunos de contextos mais desfavorecidos foram capazes de estar entre os 25% com melhores desempenhos em leitura no seu país, mostrando que nascer pobre não tem de definir o seu futuro. “Os dados mostram que o mundo já não está dividido entre os países ricos e com níveis altos de educação e os países pobres e com baixos níveis de educação”, escreveu o secretário-geral da OCDE, Angel Gurría.
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