O saco estava ao lado de um caixote do lixo, na rua Maestro António Taborda, na Lapa, em Lisboa, quando o camião do lixo passou para a recolha, por volta das 1h30 da última terça-feira. Assim que se aproximaram, os funcionários da Câmara Municipal de Lisboa aperceberam-se de que não seria apenas mais um saco e abriram a porta para uma investigação não muito comum em Portugal. Lá dentro estava o cadáver de um homem mutilado, apenas da cintura para baixo. Depois de chamada a PSP, o caso acabou por ser entregue à Polícia Judiciária — que em poucos dias terá conseguido reconstituir uma parte muito significativa do que aconteceu. A vítima já está mesmo identificada.

Ao que o Observador apurou, trata-se de um cidadão de nacionalidade brasileira, de 35 anos, que vivia em Portugal há algum tempo. Em cima da mesa, está como muito provável a hipótese de um crime de natureza sexual, sendo o namorado o principal suspeito.

“O suspeito está connosco, está a ser sujeito a um conjunto amplo de recolha de prova”, disse esta tarde em conferência de imprensa João Oliveira, responsável da diretoria de Lisboa e Vale do Tejo, adiantando que ainda não foi localizado o resto do cadáver da vítima e que não se descarta para já que pudesse ter havido intervenção de mais pessoas.

Outro dos dados apresentados, após ser ouvido o suspeito, um cidadão espanhol de 48 anos, e terem sido feitas buscas à sua habitação, é que este vivia próximo do local onde o cadáver foi localizado: “Usualmente tinha como habitação [um espaço] relativamente próximo de onde foi feito o achado, membros inferiores da vítima”.

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Como o Observador já tinha noticiado, a rigidez do corpo, que apontava para que o crime teria sido cometido pelo menos 24 horas antes, assim como uma tatuagem na nádega foram pistas para uma investigação que precisou de muito mais até identificar a vítima — o que fez em tempo recorde.

Foram horas de muitas diligências, inclusivamente em lixeiras para procurar o resto do cadáver, e uma autópsia feita pelo Instituto de Medicina Legal esta quinta-feira que não terá sido conclusiva, como noticia o Expresso. Além disso , foi preciso analisar câmaras de videovigilância que existem na rua e ter em conta participações de pessoas desaparecidas numa tentativa de ligar aquele corpo a uma identidade.

Na conferência de imprensa desta sexta-feira foi ainda adiantado que a investigação ainda está numa fase inicial, mas que “a dinâmica dos trabalhos tem sido francamente positiva”. A polícia acredita, porém, que o desmembramento da vítima aconteceu após a morte, cujas circunstâncias ainda estão a ser investigadas.

Apesar de a identidade da vítima ser já do conhecimento das autoridades, continua em curso um trabalho para determinar ao certo as causas do crime, assim como as circunstâncias em que este aconteceu.

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Identificação da vítima era o primeiro objetivo da investigação

Num caso com estas características, a identificação da vítima é o primeiro objetivo dos investigadores, explicam ao Observador fontes conhecedoras da investigação. A partir daí os trabalhos prosseguem para determinar quem poderia ter cometido o crime, de que forma e por que motivos. Além das imagens de videovigilância e da tatuagem, a polícia fez um cruzamento de todas as participações de desaparecimentos.

Esse cruzamento de informações, no entanto, não é imediato, dado que as participações de familiares ou amigos por norma são feitas à polícia de proximidade, como é o caso da PSP ou da GNR. Para isso, foi preciso troca de informações entre as polícias para obter participações de desaparecimentos.

A troca de informações terá tido esse papel importante. Aliás, com a PSP houve coordenação desde o primeiro momento, dado que mesmo depois de o caso passar para a alçada da PJ, aquela polícia ficou a guardar o perímetro de segurança durante toda a madrugada de terça-feira, até que a Judiciária terminasse as diligências na Lapa, como é habitual nestes casos.

O que poderá estar em causa?

Para já a tese que está em cima da mesa tem muito em conta o estado em que o corpo estava quando foi encontrado. Além de mutilado, havia o detalhe de este ter sido cortado pela zona da cintura.

Ao Observador, uma fonte conhecedora destas investigações explica que crime com estas características são comuns quando estão em causa “psicopatias de natureza sexual”, e que essa é para já a linha de investigação mais sólida.