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As primeiras amostras recolhidas são só de doentes do hospital de Santa Maria
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As primeiras amostras recolhidas são só de doentes do hospital de Santa Maria

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As primeiras amostras recolhidas são só de doentes do hospital de Santa Maria

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Porque é que algumas pessoas são imunes, outras não têm sintomas? iMM cria biobanco para conhecer melhor o novo coronavírus

O Instituto de Medicina Molecular vai recolher amostras biológicas de doentes com Covid-19 e vai estudar as respostas imunológicas dos vários tipos de doentes. As respostas chegarão dentro de meses.

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O Instituto de Medicina Molecular (iMM) João Lobo Antunes está a criar um biobanco de Covid-19 para estudar e compreender o novo coronavírus. Este ‘armazém’ de amostras biológicas de doentes infetados, que serão acompanhadas pelas informações clínica dos respetivos pacientes, servirá, numa primeira fase, para estudar a resposta imunológica desse doentes e os resultados deverão chegar já nos próximos meses. Mas o biobanco poderá servir para muitos outros fins.

“Ter um biobanco de Covid-19 é da maior importância. É absolutamente fundamental, porque ninguém conhece esta doença. Sabemos tão pouco sobre o vírus, tão pouco como ele interage com o hospedeiro humano e sobre a resposta imunológica das pessoas, que qualquer estudo que consigamos fazer com acesso a amostras é inovador e importante”, explica ao Observador Sérgio Dias, um dos diretores do biobanco do iMM, fundado em 2012 e onde já estão armazenadas mais de 300 mil amostras de diferentes patologias.

Um biobanco de Covid-19 irá permitir responder a uma série de perguntas sobre o SARS-CoV-2, que já fez mais de 17 mil infetados em Portugal. Entre elas “perceber os mecanismos que o vírus utiliza para entrar nas células humanas, que ainda não são conhecidos, e perceber a resposta imunológica dos diferentes grupos de pacientes”. Porque nem todos são iguais.

Para isso, serão recolhidas amostras de sangue de vários tipos de doentes, desde os assintomáticos — pessoas que tiveram o vírus, mas nem manifestaram sintomas, nem nunca desenvolveram a doença, apesar de a poderem ter transmitido — a pacientes que estiveram internados nos cuidados intensivos, passando pelos que tiveram apenas sintomas leves aos que apresentaram sintomas mais graves mas não foram internados em UCI. O objetivo é perceber detalhadamente a resposta imunológica de cada grupo que esteve exposto ao vírus.

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“A diferente resposta imunológica destes diferentes grupos de pacientes é absolutamente desconhecida, ninguém faz a mínima ideia porque é que isto acontece”, indica Sérgio Dias, referindo que terão de ter acesso também a amostras de pessoas que não tiveram contacto com o vírus para poderem fazer uma comparação.

"Sabemos tão pouco sobre o vírus, tão pouco como ele interage com o hospedeiro humano e a resposta imunológica das pessoas, que qualquer estudo que consigamos fazer com acesso a amostras é inovador e importante"
Sérgio Dias, investigador e um dos diretores do biobanco do iMM

O investigador do iMM destaca também a necessidade de perceber o que distingue os doentes que tiveram “um percurso clínico péssimo” daqueles que nunca desenvolveram quaisquer sintomas do novo coronavírus. “Uns vão ter um determinado padrão de resposta imunológico e os outros não vão ter ou vão ter um diferente”, explica.

Uma vez feito este perfil imunológico dos vários doentes com Covid-19 será possível identificar um padrão imunológico, ou seja, as proteínas, anticorpos ou outros elementos comuns a todos os doentes. É este padrão que poderá será posteriormente utilizado nos testes serológicos, que têm como objetivo perceber quais as pessoas que contactaram com o vírus e ganharam imunidade.

O Presidente da República já realizou este teste, mas na opinião do investigador do iMM não só foi “um bocadinho cedo demais” como de pouco serviu: “O que o Presidente da República fez foi medir foram padrões de anticorpos presentes ou não no sangue dele. Ora, ele não tendo estado exposto ao vírus — quase de certeza que não esteve, porque teve [testes] negativos — o que quer que fosse que fosse medir, não seria muito conclusivo.”

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“Nos testes serológicos procuram-se determinados padrões de resposta imunitária — anticorpos, células, etc — que nos vão permitir dizer se aquele grupo de pessoas está imune, se vai resistir a uma outra infeção do vírus. Ora, para chegarmos a esse ponto, em que sabemos o que vamos medir, temos que previamente testar nestes grupos todos de doentes o que é que se está a passar, porque neste momento não sabemos. Vamos criar um biobanco exatamente para permitir que investigadores tenham acesso a estas amostras para conseguir concluir de que forma é que o vírus se comporta e de que forma é que as pessoas criam, ou não, uma resposta imunitária contra ele.”

Algo que será feito nos próximos meses, até porque o iMM já se candidatou a um apoio da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) exclusivamente para financiar projetos de implementação rápida ligados à Covid-19 (e já tem o apoio da FLAD – Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento). A duração dos projetos é essencial: têm de ser realizados num intervalo máximo de três meses. “Nós pretendemos, durante este intervalo de tempo relativamente curto, dar respostas”, diz o investigador. “Isto é um objetivo muito concreto e muito mais rápido do que se possa pensar.” Sérgio Dias tem “quase a certeza” de que irá receber financiamentos por parte de outras entidades.

200 amostras em três meses

Enquanto aguarda apoios, o iMM começou, no início da semana passada, a recolher amostras de sangue de doentes internados no hospital de Santa Maria, em Lisboa. Calculando o número de admissões de pacientes nesta unidade hospitalar, o investigador conta ter acesso a cerca de 200 amostras num “intervalo de dois, três meses”.

O biobanco de Covid-19 irá ter amostras de doentes do hospital de Santa Maria, em Lisboa

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

A ideia de criar um biobanco de Covid-19 para estudar a resposta imunológica dos doentes partiu de dois investigadores do iMM, os imunologistas Luís Graça e Ana Espada de Sousa. Foram eles que entraram em contacto com Sérgio Dias e com João Eurico da Fonseca, ex-diretor e fundador do biobanco do iMM. É lá que serão guardadas e processadas as amostras biológicas dos doentes.

Coube a duas médicas do hospital de Santa Maria, Catarina Mota e Susana Fernandes, fazer “toda a ligação com as enfermarias Covid-19”. São as especialistas que acompanham os vários doentes e que recolhem as amostras, por vezes “a vários timepoints”, isto é, várias vezes ao longo de todo o percurso clínico.

“Por exemplo, uma pessoa é admitida hoje e o percurso clínico corre muito bem, então tira-se uma amostra no final antes da pessoa ir para casa. Mas se uma pessoa é admitida hoje e o curso clínico não corre tão bem, e tem de ir para os cuidados intensivos e ser ventilado, então tira-se uma amostra nesse momento. Isso vai-nos permitir perceber, em termos de resposta imunológica, o que é que as pessoas estão a desenvolver ou não em resposta a este vírus”.

Uma vez recolhidas as amostras, são depois enviadas para o biobanco de Covid-19, onde são tratadas e guardadas. “[As amostras de sangue] são separadas em células, soro e plasma, para medirmos diferentes componentes da resposta imunológica. Medimos as células, os anticorpos e outras proteínas que se produzem nesses diferentes componentes.”

Além de uma equipa dedicada ao tratamento destas amostras e à inserção da informação clínica dos doentes, o iMM conta ainda com a colaboração diversos voluntários — estudantes, pós-doutorados e outros investigadores —, caso seja preciso aumentar a capacidade de processamento e armazenamento das amostras.

Todo um circuito que acontece a escassos metros de distância. Aliás, de acordo com Sérgio Dias, “a razão” pela qual este projeto nasceu foi precisamente pelo facto de o iMM, o biobanco e o hospital de Santa Maria estarem todos no Centro Académico de Lisboa.

O iMM, o biobanco e o hospital de Santa Maria fazem parte do Centro Académico de Lisboa

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Isto não seria possível ser feito, por exemplo, no hospital Curry Cabral. Porque lá não há um centro de investigação, não há um biobanco e o transporte das amostras seria muito mais complicado. A logística [e o transporte] deste tipo de amostras, que ainda por cima é super infeccioso, seria muito mais complexa”.

Apesar de as amostras estarem no biobanco do iMM, não serão apenas os investigadores deste instituto que terão acesso a esta coleção. O objetivo é abrir a coleção à “comunidade científica alargada, mediante a submissão de projetos e depois a aprovação por parte das nossas comissões ética e científica”, explica Sérgio Dias.

Primeiras respostas chegarão dentro de três a quatro meses

Mas se os primeiros casos de infetados em Portugal surgiram a 2 de março, a recolha destas amostras não deveria ter começado a ser feita mais cedo? O investigador do iMM é da opinião de que tudo se desenrolou bastante depressa, tendo em conta o que é necessário fazer para se pôr em prática um projeto destes.

Na verdade acho que fomos muito rápidos. Conseguir reagir em duas, três semanas, não é assim tão simples. Tivemos que escrever o projeto, tivemos que submeter às comissões de ética do hospital para serem aprovadas. Tivemos de criar o circuito médico de recolha das amostras, o espaço no biobanco e os procedimentos adequados para o armazenamento. Parece fácil, mas não é tão simples quanto parece”, explica Sérgio Dias, acrescentando que, no início, ainda não se sabia se o hospital de Santa Maria iria receber doentes com Covid-19, além de que foi necessário ver como ia evoluir a epidemia.

O investigador não se quer comprometer com uma data para apresentar as conclusões do projeto, mas acredita que, dentro de três a quatro meses, terá “de certeza” a coleção de amostras criada e já terá algumas respostas relativamente à resposta imunológica dos doentes com Covid-19.

De acordo com Sérgio Dias, a coleção de amostras biológicas estará criada dentro de três a quatro meses

E ainda que atualmente este biobanco de Covid-19 esteja ligado ao iMM e a amostras de doentes do hospital de Santa Maria, Sérgio Dias não descarta a hipótese de “colaborar” com outros institutos, hospitais e universidades do país para a criação de um repositório a nível nacional. Mas tudo isto, a concretizar-se, só acontecerá numa fase posterior, até porque o investigador não sabe dizer ao certo se estão a ser criados outros repositórios.

“Com a experiência que temos e como vamos dar o pontapé de saída para fazer esta coleção, nós gostaríamos de contactar outras instituições para um esforço colaborativo geral. E o que podemos fazer, como já fazemos para outras patologias, é partilhar a nossa experiência com esses colegas de outros sítios para podermos fazer um esforço global, digamos assim, alargado para o resto do país”, explica Sérgio Dias. “Nós gostaríamos que isso acontecesse. Agora se acontece ou não, é mais difícil de prever.”

Independentemente do panorama nacional, lá fora já outros países estão a desenvolver os seus próprios repositórios com amostras biológicas de doentes com Covid-19: “Nós temos conhecimento de redes de biobancos com os quais interagimos e trocamos alguma informação ao nível dos procedimentos para saber como é que as outras pessoas estão a fazer, que é para fazermos bem.”

Mas tendo em conta que há outros países a recolherem amostras e já existe esta partilha de informação — pelo menos a nível de procedimentos —, era mesmo necessário Portugal ter um biobanco (ou até vários)? “É essencial”, garante o investigador do iMM. Isto porque as variações entre países, não só no que toca aos números de casos como à gravidade dos mesmos, “claramente não têm apenas que ver com o Serviço Nacional de Saúde ou com a capacidade médica [do país] ser maior ou menor.”

"A população portuguesa, no seu todo, pode ter uma determinada característica ou características imunológicas diferentes das dos outros países"
Sérgio Dias, investigador e um dos diretores do biobanco do iMM

Ainda não se sabe o motivo pelo qual isso acontece, mas uma das hipóteses em cima da mesa é precisamente a resposta imunológica das populações: “A população portuguesa, no seu todo, pode ter uma determinada característica ou características imunológicas diferentes da dos outros países — por exemplo, de Espanha, de França. E interessa-nos desde logo perceber o que é que é original numa determinada população versus a outra, para conseguirmos explicar porque é que temos uma maior ou menor mortalidade, uma maior ou menor taxa de infeção, etc.”. Daí ser tão importante estudar especificamente a população portuguesa.

Sérgio Dias recorda também o exemplo da República Checa que, não sendo um país rico, aplicou as medidas de saúde pública semelhantes à de restantes países da Europa, mas a evolução da epidemia nada teve a ver com os países à volta. “Nós queremos acreditar que há uma componente imunitária envolvida nisto. Agora podemos chegar ao final destes estudos todos e concluir que não há.”

Mas tarde até será possível comparar os vários estudos feitos a cada população. “A ciência é 100% global. Nós nunca faremos um estudo que tenha importância [apenas] para nós. Não só iremos partilhar com outros colegas cientistas como a análise comum do mesmo problema é sempre uma coisa que acontece na ciência.”

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