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Num universo de 53 países, Portugal é o que apresenta a segunda visão mais negativa sobre a Rússia, revela um estudo realizado pela organização Aliança das Democracias, em conjunto com a empresa de marketing Latana e que foi publicado esta segunda-feira. Um total de 83% dos inquiridos portugueses demonstram um posicionamento negativo face a Moscovo, sendo que neste parâmetro Portugal é apenas superado pela Polónia (87%) e está atrás da Ucrânia (80%).
Realizado entre 30 de março e 10 de maio deste ano — portanto, já após a invasão russa da Ucrânia —, o estudo mostra uma opinião negativa unânime em todos os países da Europa face à Rússia. Em média, 60% dos europeus não veem com bons olhos Moscovo. O top 3 é composto por Polónia, Portugal e Ucrânia, havendo outros territórios com percentagens elevadas, tais como a Dinamarca (79%), a Irlanda (77%), a Suécia (77%) e Espanha (66%).
Em termos mundiais, a opinião sobre a Rússia também é globalmente negativa em todos os continentes. Na América do Norte, 71% dos canadianos, 70% dos norte-americanos revelam uma opinião negativa sobre o país transcontinental (no México, apenas 43% dos inquiridos alinham por essa opinião). Já na América Latina, 71% dos inquiridos brasileiros têm uma opinião desfavorável sobre a Rússia, assim como 58% dos chilenos, 55% dos argentinos e 51% dos venezuelanos — um dado relevante, neste último caso, tendo em conta o alinhamento do governo do Presidente Nicolás Maduro com o seu homólogo russo, Vladimir Putin.
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Na Ásia, destaca-se o posicionamento da Coreia do Sul — 73% dos participantes no estudo admitem ter uma visão negativa sobre a Rússia — e do Japão (72%). Já no continente africano, o Quénia (55%), a África do Sul (49%) e a Nigéria (39%) têm uma imagem negativa da Rússia. Na Oceânia, o único país presente no estudo é a Austrália — e 67% dos inquiridos opinam desfavoravelmente sobre Moscovo.
Em sentido inverso, a Rússia ainda mantém uma imagem positiva em alguns países, principalmente na Ásia, conclui o trabalho da organização Aliança das Democracias. Na China, 59% dos inquiridos são favoráveis a Moscovo (contra 10% com uma opinião negativa). Seguem-se a Índia (56%), o Paquistão (48%), o Vietname (46%) e a Argélia (43%) com uma visão positiva russa.
Em Portugal, apenas 4% dos 1036 inquiridos demonstraram uma opinião positiva sobre a Rússia.
48% dos inquiridos portugueses a favor das sanções contra a Rússia
Outro indicador analisado no estudo é a opinião da população de 53 países no que concerne às relações económicas com a Rússia após a invasão à Ucrânia. Em Portugal, 48% dos inquiridos estão a favor da implementação das sanções, enquanto 21% se manifestam contra a aplicação destas medidas.
Tal como na opinião sobre o país, a Polónia continua a demonstrar uma forte oposição à Rússia, liderando o ranking dos países que mais apoiam uma política sancionatória contra Moscovo: 76% dos inquiridos apoiam um corte nas relações económicas com a Rússia, contra 8% que favorecem a sua manutenção. Na Ucrânia, 74% daqueles que participaram no estudo estão a favor das sanções, ao passo que 11% não as apoiam.
Num momento em que a União Europeia (UE) se prepara para aprovar o sexto pacote de sanções contra a Rússia, o estudo vem mostrar alguma discordância entre os Estados-membros. Se os inquiridos de países como a Polónia, a Dinamarca, a Suécia, a Irlanda ou a Alemanha se posicionam a favor do corte das relações económicas com a Rússia, há duas exceções no panorama europeu: a Grécia e a Hungria.
Um total de 56% dos inquiridos gregos não são favoráveis a uma política sancionatória contra Moscovo, enquanto 22% apoiam-na. Na Hungria, os números são idênticos: 55% estão contra o corte das relações económicas com a Rússia, enquanto 24% são a favor — o que parece sustentar a opinião do Presidente húngaro, Viktor Orbán, que tem levantado vários obstáculos à implementação sexto pacote de sanções. Apesar de na parte económica destoarem dos restantes Estados-membros, os inquiridos dos dois países manifestam, ainda assim, uma visão desfavorável sobre a Rússia.
No resto do mundo, o Reino Unido, a Austrália e os Estados Unidos são os que mais apoiam as sanções contra a Rússia. Um total de 70% dos inquiridos britânicos, 63% dos australianos e 60% dos norte-americanos estão a favor do corte de relações económicas com a Rússia.
Por sua vez, a China continua a aparentar ser a maior aliada da Rússia neste momento — 71% dos inquiridos chineses estão a favor da manutenção das relações económicas e apenas 9% consideram que se deve aplicar sanções. Seguem-se a Indonésia (60%), o Vietname (56%) e a Argélia (48%) como países mais desfavoráveis a uma política sancionatória contra a Rússia.
Entre as 20 economias mais fortes do mundo (G20), há algumas que, segundo o estudo, não apoiam o isolamento económico da Rússia. Uma delas é, além da China, a Turquia (pertencente à NATO): 49% dos inquiridos são desfavoráveis às sanções, em comparação com os 23% que defendem o contrário. Também a Indonésia, a África do Sul e a Arábia Saudita têm um posicionamento pouco favorável à implementação de mais sanções.
Se, por um lado, têm uma opinião favorável sobre a Rússia, por outro lado, os inquiridos indianos mantêm um posicionamento ambíguo no que diz respeito às sanções — 44% defendem o corte económico, enquanto 35% estão contra.
52% dos portugueses consideram que “se fez pouco” para ajudar a Ucrânia
Relativamente à ajuda prestada a Kiev, na sequência da invasão russa, 52% dos inquiridos portugueses acreditam que a NATO, a UE e a Organização das Nações Unidas (ONU) fizeram “pouco” para auxiliar a Ucrânia. Em contrapartida, um total de 40% vêem como suficiente a ação das organizações internacionais, ao passo que 8% reconhecem que já se fez demais para ajudar o país.
Já na Ucrânia, 66% dos inquiridos consideram que o mundo não se empenhou como devia na proteção do país, ao passo que 28% acreditam que se fez o suficiente. Há, no entanto, um país em que prevalece uma opinião mais forte de que se fez “pouco” para a ajudar Kiev — e curiosamente não é europeu: o Chile. Um total de 70% dos chilenos insurgem-se contra a ajuda prestada à Ucrânia, sendo que somente 25% afirmam que o total de ajuda prestado à Ucrânia é satisfatório.
Também os inquiridos do Peru e da Argentina, dois países da América do Sul, revelam um ponto de vista parecido aos dos seus vizinhos chilenos — um total de 65% peruanos e argentinos admitem que a ajuda à Ucrânia é insuficiente, enquanto aproximadamente 30% são da opinião de que o auxílio prestado é satisfatório. Estas percentagens são idênticas àquelas reportadas no Brasil e na Venezuela.
Na Europa, o país cujos inquiridos mais reclamam sobre os apoios à Ucrânia é a Polónia. São 61% aqueles que dizem que a ajuda é pouca, contra 36% que defendem que é suficiente. Atrás da Polónia, no continente europeu, estão a Irlanda e Portugal.
Destaque ainda para Israel, que é o quinto país que considera que a ajuda à Ucrânia é insuficiente, bem como para os Estados Unidos. Apesar de 47% dos inquiridos serem da opinião de que os apoios a Kiev não são na escala desejável, 42% dos inquiridos norte-americanos consideram que já são suficientes. Há ainda 11% que referem que o auxílio prestado à Ucrânia é demasiado.
Por seu turno, a China é o país que mais expressa a opinião de que a ajuda prestada à Ucrânia é suficiente — 50% estão de acordo com a premissa, ao passo que 34% consideram que já se ajudou demasiado. Além disso, um total 16% dos inquiridos reconheceram ser “pouco” o apoio prestado aos ucranianos.
Na União Europeia, vários países também veem como satisfatório o apoio que já foi dado às autoridades ucranianas. Um total de 64% dos húngaros concedem esse posição, enquanto 18% consideram que a ajuda já é demasiada. Os inquiridos alemães (54%), franceses (52%) e austríacos (48%) também veem como satisfatório o auxílio que foi dado à Ucrânia.
Portugueses também têm uma visão negativa sobre a China
O estudo também averiguou se os inquiridos tinham uma opinião positiva sobre a China. Em Portugal, essa tendência verifica-se: um total dos 47% daqueles que responderam ao estudo têm um ponto de vista negativo sobre o país asiático, enquanto 16% têm uma visão positiva.
As opiniões estão, de resto, mais divididas em relação a Pequim que em relação a Moscovo. Em África, no Médio Oriente e na América Latina, as opiniões sobre a China são geralmente positivas. Três exemplos que ilustram a tendência: em Marrocos, 55% dos inquiridos veem com bons olhos a China, na Arábia Saudita essa percentagem é de 47%, enquanto no México é de 51%.
São os vizinhos marítimos da China que revelam uma maior animosidade relativamente ao país. Um total de 75% dos sul-coreanos e 65% dos japoneses têm uma visão negativa sobre Pequim. Grosso modo, os países europeus também não revelam uma opinião positiva sobre o país, principalmente a Suécia (57% de opiniões negativas), a Áustria (56%) e a Alemanha (55%).
Na América do Norte, as opiniões desfavoráveis sobre a China mantêm-se em linha com as que foram expressas em relação à Rússia. Numa altura em que as tensões entre Pequim e Washington se agravam, um total de 53% dos inquiridos norte-americanos tem uma visão negativa sobre o país, sendo que no Canadá a tendência é idêntica (52%).
E se a China invadisse Taiwan? Maioria dos portugueses apoiariam sanções
Na hipótese de a China invadir a ilha de Taiwan, à semelhança daquilo que o Kremlin fez na Ucrânia, a maioria dos países europeus estava disposta a aplicar uma política sancionatória a Pequim, indica o estudo. Portugal seria um deles: mais de metade (51%) dos inquiridos apoiaria aplicar sanções à China, contra 18% que se opunham.
Na Europa, são os inquiridos britânicos, dinamarqueses (60%) e suecos (54%) aqueles que mais alinhariam na ideia de aplicar sanções à China. Em sentido inverso, estariam três países da UE (que poderiam pôr em risco a unanimidade de Bruxelas no que diz respeito à possibilidade de Pequim ser sancionado). A Grécia e a Hungria são dos países do mundo que menos defendem a aplicação de sanções: 50% não consideram que se devesse ser levado a cabo um corte das relações económicas com a China, caso Taiwan fosse invadido. Também a Roménia se posiciona neste espetro: 35% estariam em desacordo com a política sancionatória, contra 31% que a apoiariam.
A Coreia do Sul e o Japão também estariam disponíveis para aplicar sanções, tendo em conta o resultado do estudo — apesar do forte impacto que isso teria nas respetivas economias. Um total de 49% dos inquiridos sul-coreanos e 56% dos inquiridos japoneses defendem o isolamento chinês, se Pequim invadir Taiwan.
Na visita à Ásia, Joe Biden afirmou que os EUA apoiaram militarmente Taiwan caso a China invadisse a ilha, aplicando também sanções económicas. A maioria dos inquiridos norte-americanos parecem concordar com a posição do Presidente norte-americano: 54% dos inquiridos defende o corte de relações económicas, contra 16% que preferiam mantê-las.
Em contrapartida, a Rússia seria o país que mais apoiaria a manutenção dos laços económicos com a China, se Pequim invadisse Taiwan. Apenas 7% dos inquiridos russos estariam de acordo com a aplicação de sanções, em comparação com os 60% que se posicionariam contra a medida.