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Se, a matemática, Portugal ainda cresce (apesar de cair 20 pontos), nos outros dois domínios a OCDE considera que não há variação na tendência e a curva é "em forma de corcunda"

Photothek via Getty Images

Se, a matemática, Portugal ainda cresce (apesar de cair 20 pontos), nos outros dois domínios a OCDE considera que não há variação na tendência e a curva é "em forma de corcunda"

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Portugal já não é o caso de "sucesso" e cai em todos os domínios, em linha com a OCDE. O PISA explicado em 13 gráficos

Os alunos de 15 anos têm piores resultados a leitura, ciências e matemática. Percentagem de bons alunos diminui e de maus alunos aumenta, mostra a edição do PISA de 2022.

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A queda é sentida em todo o lado. Os resultados do PISA não são bons para Portugal, mas em jeito de prémio de consolação, não são bons para praticamente ninguém. Os alunos de 15 anos pioraram em todos os domínios analisados, leitura, ciências e matemática, mas mantendo-se os valores portugueses dentro da média da OCDE (sem uma variação estatística significativa). No entanto, para quem na última edição tinha sido retratado como o único caso de sucesso entre os Estados-membros da OCDE, ter passado a ter uma trajetória negativa a dois dos três domínios é um recuo considerável.

Estas são algumas das conclusões que se podem encontrar no PISA 2022, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos da OCDE, que é feito de três em três anos a alunos de 15 anos, e que este ano se focou, pela terceira vez, na competência da matemática. Os resultados foram divulgados nesta terça-feira.

Em 13 gráficos, divididos por quatro pontos, o Observador explica-lhe o essencial do relatório para perceber em que patamar estão os alunos portugueses, comparados com os do resto da OCDE e com os resultados nacionais do passado.

A trajetória de 22 anos

A curva de Portugal não é diferente da da média da OCDE. Depois de ter seguido em sentido ascendente, inverteu-se e apresenta agora uma queda. A pandemia e o ensino à distância explicam parte dos resultados, mas o relatório diz que é preciso perceber melhor o que se está a passar.

No último PISA, edição de 2018, Portugal era a exceção. Era considerado o único Estado-membro com uma trajetória de crescimento consistente desde o ano 2000, quando começaram os relatórios da OCDE, e apresentava melhorias significativas nos três domínios avaliados — leitura, ciências e matemática. Apesar de haver uma queda em relação a 2015, essa descida não era considerada estatisticamente relevante pela OCDE.

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Na edição de 2022 — que devia ter sido feita em 2021 e foi adiada devido à pandemia de Covid-19 — “sucesso” já não é o adjetivo usado para descrever Portugal. A trajetória a matemática é descrita como “positiva, mas a achatar”, a mesma forma usada para descrever o caminho de outros sete países (Brasil, Colômbia, Israel, Itália, Montenegro, Peru e Qatar). Melhor do que este cenário seria ter uma trajetória “consistentemente positiva”, o que apenas é conseguido por Macau e pela Turquia. Todos os restantes estão piores do que Portugal.

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A situação piora a leitura e ciências. Se, a matemática, a OCDE avalia a prestação dos alunos portugueses como um crescimento — apesar da perda de 20 pontos face ao resultado de 2018 —, nos outros dois domínios a organização considera que não há variação na tendência e a curva é “em forma de corcunda”, ou seja, mais negativa do que positiva nos últimos anos analisados.

[Já saiu: pode ouvir aqui o quinto episódio  da série em podcast “O Encantador de Ricos”, que conta a história de Pedro Caldeira e de como o maior corretor da Bolsa portuguesa seduziu a alta sociedade. Pode ainda ouvir o primeiro episódio aqui, o segundo episódio aqui, o terceiro episódio aqui e o quarto episódio aqui.]

Com boa parte dos sistemas educativos a falhar na apresentação de resultados, a OCDE considera neste relatório que, na década de 2012-22, a tendência foi, em média, negativa nos três domínios. Há exceções: Colômbia, Macau, Peru e Qatar têm melhorado em tudo.

Leitura, ciências e matemática. O que aconteceu em cada uma?

A queda é generalizada. Os alunos de 15 anos têm piores resultados em todos os domínios. Apesar disso, Portugal não está sozinho na viagem para baixo e a média da OCDE está em queda a leitura, ciências e matemática.

Leitura, 477 pontos. A queda é de 15 pontos quando se olha para a edição anterior (492 valores), e que não está muito distante da de 11 pontos sofrida pela média da OCDE. Aliás, no relatório considera-se que o resultado dos alunos portugueses está dentro da média da OCDE, por não haver uma diferença estatisticamente significativa. Singapura (543), Irlanda e Japão (ambos com 516 valores) são os países que têm melhor classificação.

Ciência, 484 pontos. Tal como a leitura, também neste domínio os estudantes portugueses têm resultados dentro da média da OCDE. A queda também se repete (8 pontos em Portugal, o dobro dos 4 pontos perdidos na média da OCDE), com o valor a descer de 492 para 484. Singapura (561), Japão (547) e Macau (543)  estão nos três lugares cimeiros.

Matemática, 472 pontos. São menos 20 pontos do que em 2018 — nessa edição do PISA, Portugal alcançava 492 pontos a matemática (o mesmo valor que nos outros dois domínios analisados). A média da OCDE cai 17 pontos no mesmo período e, tal como a leitura e ciências, não é considerada uma diferença relevante, ficando o país dentro da média da organização. Singapura (575), Macau (552) e Taiwan (547) têm as pontuações mais altas.

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Rapazes e raparigas: que diferenças?

O padrão em Portugal é igual ao da média da OCDE. Os rapazes têm melhores resultados a matemática, as raparigas destacam-se bastante na leitura. A ciências os resultados são muito semelhantes, em todos os níveis de proficiência.

Leitura. As raparigas têm resultados bastante superiores aos dos rapazes, com uma diferença de 21 pontos, em linha com a média da OCDE, onde a diferença é de 24. Em Portugal, elas chegam aos 487 pontos (valor de nível 3), enquanto eles ficam pelos 466, não passando do nível 2. Esmiuçando os níveis de proficiência (do 1 ao 6), as raparigas continuam a ter melhores resultados quando se olha apenas para os bons alunos (top performers, níveis 5 e 6). Entre elas, 5,3% atingem os dois níveis mais elevados, enquanto entre eles o valor é de 4,2%. A percentagem de rapazes só é superior à das raparigas quando se analisa o grupo com piores desempenhos (low achievers, níveis 1a e 1b): entre eles, 27,3% têm conhecimentos abaixo do básico. Entre elas, o valor é de 18,9%.

Ciências. Neste domínio, o resultado médio conseguido pelas alunas e alunos portugueses coloca ambos os géneros no nível 3. Ao contrário de leitura e matemática, não há diferenças evidentes. As raparigas alcançam 485 pontos e os rapazes 484, em linha com a média da OCDE (485 pontos para ambos). As maiores diferenças encontram-se quando se olha para cada um dos níveis de proficiência isoladamente. Entre os bons alunos, estão 5,5% dos rapazes e 4,3% das raparigas. Entre os que têm piores resultados, estão 20,4% das raparigas e 23,2% dos rapazes.

Matemática. A diferença é de 11 pontos, o que é estatisticamente significativo, e são os rapazes que melhor se saem nos testes de matemática. Eles alcançam 477 pontos, elas 467 — um fosso entre os géneros que se tem mantido constante, relatório após relatório, com ambos os géneros a ficarem pelo nível 2. Quando se olha para cada um dos níveis de proficiência, o padrão mantém-se, mas mais esbatido: entre os rapazes há 8,2% de top performers, entre as raparigas há 5,1%. Entre os low achievers, onde se encontram praticamente 3 em cada 10 alunos, seja do sexo masculino ou feminino, estão 28,9% dos rapazes e 30,6% das raparigas.

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Quem está abaixo do nível 2 e quem está acima do nível 5?

Nem a leitura, nem a ciências, nem a matemática: 90% dos alunos não são top performers em nenhum dos domínios analisados. Em contrapartida, 1,7% dos estudantes com 15 anos são excelentes a todos.

No PISA, os alunos são colocados em seis níveis diferentes consoante o seu nível de conhecimento. Em baixo, estão os low achievers (níveis 1a e 1b), em cima estão os top performers (níveis 5 e 6). O padrão é igual em toda a OCDE: a base da pirâmide é bastante mais larga do que o topo.

Em Portugal, 90% dos estudantes não são top performers em nenhum dos domínios analisados, enquanto que 1,7% são excelentes a todos. Entre aqueles que são excelentes apenas em um domínio, 2,6% são apenas a matemática, 1,8% a leitura e 1,3% a ciências.

Leitura. Uma percentagem baixa dos alunos portugueses (4,7%), mais pequena do que no último PISA, chega aos níveis mais elevados de proficiência a leitura. Compreendem textos extensos, mesmo os que exigem leitura demorada, e conseguem chegar à informação relevante, mesmo que esta não seja evidente. Lidam com conceitos abstratos e distinguem opiniões de factos, além de serem capazes de desenvolver raciocínios de causa-efeito. Em contrapartida, uma fatia significativa (23%), e que aumentou, pertence ao grupo de low performers.

Ciências. Há 4,9% de alunos que chegam aos níveis mais altos de proficiência conseguindo, de forma criativa e autónoma, usar os conhecimentos de ciências numa grande variedade de situações. Em contrapartida, 21,8%, os que estão nos níveis mais baixos, apenas conseguem usar conhecimentos elementares do dia a dia para explicar, e reconhecer, fenómenos científicos simples. Embora os bons alunos tenham diminuído e os maus alunos aumentado, a OCDE considera que a variação estatística não é significativa. Em qualquer dos casos, Portugal está abaixo da média da OCDE: 21,8% versus 24,5% de low achievers e 4,9% versus 7,5% de top performers.

Matemática. No topo estão 6,7% dos alunos, aqueles que chegam aos níveis de proficiência 5 e 6. Em baixo, estão 29,7%. Se os primeiros conseguem resolver problemas complexos, abstratos e ter flexibilidade e pensamento criativo na forma de encontrar soluções, os outros não têm sequer os conhecimentos considerados básicos para ter uma cidadania ativa. Neste domínio, o valor de alunos excelentes caiu 4,9 pontos percentuais, enquanto que os que têm piores resultados académicos subiram 6,4. O padrão é semelhante ao da média da OCDE.

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