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As conclusões são do Barómetro Covid-19 Opinião Social, que se realiza quinzenalmente, e que já inquiriu 182.581 pessoas desde março

AFP via Getty Images

As conclusões são do Barómetro Covid-19 Opinião Social, que se realiza quinzenalmente, e que já inquiriu 182.581 pessoas desde março

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Portugueses não confiam na resposta do SNS. E só 10% dizem querer ser vacinados logo que haja vacina

Comportamentos dos portugueses, como o uso de máscara, melhoraram, mas há espaço para fazer melhor, diz investigadora Carla Nunes. E é preciso restabelecer a confiança nos serviços Covid e não Covid.

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‘Pouco’ ou ‘nada confiantes’ na resposta do SNS à Covid-19. Assim se encontram 40% dos portugueses, que ainda confiam menos no serviço nacional de saúde (70%) se o motivo que os levar ao hospital nada tiver a ver com a pandemia. E nem o facto de serem cada vez mais os que acreditam que é quase certo que poderão vir a contrair a doença — ainda que com sintomas leves — muda essa desconfiança. Quando a pergunta é se acha provável vir a ter Covid-19, “sim” é a resposta da esmagadora maioria (80%).

O cenário muda um pouco quando a pergunta é se pode vir a sofrer de doença grave. Nesse caso, a resposta passa a ser negativa, já que só 20% dos inquiridos acreditam que há um risco elevado de ter complicações. Apesar disso, só um quarto dos portugueses se mostra disponível para tomar uma vacina assim que ela surja no mercado. Estes são alguns dos resultados do último Barómetro Covid-19 Opinião Social que mostram também que aumenta o número daqueles que não acreditam ser adequadas as medidas do Governo para lidar com a pandemia.

Outra conclusão do inquérito online, feito de 15 em 15 dias desde março, é que os comportamentos dos portugueses estão a mudar: usa-se mais a máscara e evitam-se saídas à rua. Apesar disso, há espaço para melhorar, na opinião de Carla Nunes, diretora da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa, organismo responsável pelo inquérito.

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“Há ligeiras melhorias em todos os indicadores de comportamento, seja por opção das pessoas, seja pelas medidas que foram tomadas pelo Governo, mas ainda há espaço para melhorar. A melhoria é positiva, mas pode não ser suficiente para os números de incidência que temos hoje”, argumenta a epidemiologista.

Nos primeiros 22 dias deste mês de novembro, a média está nos 5.232 novos contágios diários e em 7 dias os novos diagnósticos positivos passaram os 6 mil casos. Em outubro, a média diária foi de 2.120 novas infeções.

Este e outros resultados do barómetro foram apresentados ao Governo na reunião com especialistas no Infarmed, que ocorreu na passada semana.

“Esta melhoria dos comportamentos não foi só pela consciência das pessoas, também foram tomadas medidas: o reforço do teletrabalho, a proibição de viajar entre concelhos, entre outras. Era bom se estas melhorias acontecessem sem medidas.”
Carla Nunes, diretora da Escola Nacional de Saúde Pública

Resposta do SNS não convence, principalmente para doentes não Covid

Este é um indicador que tem vindo a piorar: cada vez mais, os portugueses acham que o serviço nacional de saúde (SNS) não é capaz de dar resposta aos doentes, principalmente se a doença nada tiver a ver com a pandemia.

“Neste momento, as respostas de ‘pouco’ ou ‘nada confiantes’ na resposta do SNS está nos 40%. O momento em que a confiança esteve mais alta foi no verão, quando, em julho, este mesmo indicador estava nos 10%”, detalha Carla Nunes, frisando que esta pergunta só começou a ser feita no final de julho.

“O nível de confiança piorou muito e na área não Covid ainda está pior. Temos 70% de respostas de ‘pouco’ ou ‘nada confiantes’ na resposta dos serviços de saúde para doentes não Covid, quando o valor era de 35% no início de agosto. A tendência de crescimento da desconfiança é clara”, sublinha a investigadora que diz ser urgente reconquistar a confiança da população.

Em queda está também a aprovação das medidas do Governo para combater a pandemia. “Em julho, tínhamos 15% de pessoas a responder que as medidas eram ‘pouco’ ou ‘nada adequadas’. Agora, estamos nos 50%, o valor mais alto até à data.”

O questionário não permite distinguir o porquê de as medidas não serem consideradas adequadas, ou seja, se pecam por falha ou por excesso.

A perceção do risco: doente, mas pouco

Há quatro respostas possíveis quando a pergunta é sobre a perceção do risco de se ficar infetado com o vírus da Covid-19: risco elevado, moderado, baixo e sem risco. “Aquilo a que temos estado a assistir é ao crescimento dos valores do risco elevado e moderado. No verão, as percentagens eram menores”, explica Carla Nunes. Quando combinados, estes dois grupos de resposta (elevado e moderado) aproximam-se dos 80%. No início da pandemia rondavam os 60%, exemplifica a investigadora.

Apesar de o vírus estar mais estudado e de haver mais experiência no terreno a tratar doentes Covid, está mais generalizada a ideia de que se pode ficar infetado. “Faz sentido ouvirmos esta resposta quando vemos que os níveis de incidência no país são mais altos, bastante mais elevados do que em março e abril”, acrescenta a professora catedrática, frisando que estas respostas foram recolhidas na primeira quinzena de novembro, a 18.ª vez que o inquérito se realizou.

Quanto ao tipo de sintomas que se poderá vir a ter, Carla Nunes esclarece que ao longo da pandemia as respostas têm sofrido algumas oscilações. “Quase metade das respostas apontam para risco baixo/ausência de risco de se desenvolver doença severa ou ter complicações”, acrescenta. Em contrapartida, 20% dos inquiridos acreditam que há um risco elevado de ter complicações e 30% apontam um risco moderado.

Afinal, só 10% dos casos ocorrem comprovadamente nas famílias. Mais de 80% dos casos de Covid em Portugal são de origem desconhecida

“Houve um agravamento da perceção do risco de apanhar Covid, mas não de contrair doença grave”, sublinha Carla Nunes. Um dos motivos poderá estar ligado ao facto de no início da pandemia se internar mais doentes do que agora, em proporção, argumenta a investigadora. Nas unidades de cuidados intensivos, apesar de em novembro se ter visto máximos diários serem batidos, a percentagem de camas ocupadas em relação ao total de internados mantém-se estável (com uma média que ronda os 14% em novembro, quando em abril era de 19,7%).

“A única forma de aliviar as unidades de cuidados intensivos é combater a incidência. Se continuarmos a subir, a resposta do sistema de saúde rebenta. Camas ainda conseguimos esticar, mas médicos intensivistas não”, conclui a epidemiologista.

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A convicção generalizada (80%) é de que apesar de ser provável ser-se infetado, a Covid irá revelar-se com sintomas ligeiros

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Vacinas. “Não me parece que vá haver um bloqueio”

As mais reticentes em tomar uma vacina que evite a Covid-19 são as mulheres, conta Carla Nunes. “Se as mulheres são as menos disponíveis, os homens mostram não só mais confiança na segurança e eficácia de uma vacina, como também mostram mais intenção de vir a tomá-la.”

Já os mais velhos, acima dos 65 anos, são os que mostram estar mais dispostos a ser vacinados. Entre os mais novos, da faixa etária entre os 16 e os 25 anos, a disponibilidade para ser vacinado é menor, mas são os mais confiantes na sua eficácia.

“Com os dados que temos, não me parece que vá haver um bloqueio à vacinação. Estes números também mostram que a pandemia não é para jovens, segundo as respostas dos mais novos. Acreditam na eficácia da vacina, mas não pretendem tomá-la porque não se sentem em risco”, diz a investigadora, esclarecendo que a questão só começou a ser feita em outubro.

Os números mostram ainda que 25% dos portugueses está disponível para tomar a vacina assim que ela estiver no mercado, contra 10% que respondem que não pretendem, de todo, ser vacinados. A fatia mais grossa, e que representa 50% do bolo, corresponde àqueles que dizem que irão esperar algum ou muito tempo até serem vacinados.

Sobre o nível de segurança e eficácia de uma potencial vacina, Carla Nunes destaca os extremos: “10% estão muito confiantes, 10% nada confiante, uma opinião que se justifica pela fase inicial em que se encontra a investigação.”

Comportamentos: 35% dos portugueses saíram todos os dias

São os homens, os mais novos e aqueles que têm maior nível de escolaridade que menos cumprem as regras, conta Carla Nunes. As melhorias são ligeiras e ainda há espaço para os portugueses melhorarem os comportamentos que ajudam a evitar uma infeção de SARS-CoV-2.

“Esta melhoria dos comportamentos não foi só pela consciência das pessoas, também foram tomadas medidas: o reforço do teletrabalho, a proibição de viajar entre concelhos, entre outras. Era bom se estas melhorias acontecessem sem medidas”, frisa a investigadora.

À pergunta ‘com que frequência sai de casa sem ser para ir trabalhar’, 20% responderam ‘todos os dias’ e 15% ‘quase todos os dias’. Aqueles que responderam ‘nunca’ irem à rua sem ser para ir trabalhar foram 10%, mas a pergunta não detalha o motivo que levou as pessoas a sair de casa.

“O nível de confiança piorou muito e na área não Covid ainda está pior. Temos 70% de respostas de ‘pouco’ ou ‘nada confiantes’ na resposta dos serviços de saúde para doentes não Covid, quando o valor era de 35% no início de agosto. A tendência de crescimento da desconfiança é clara.”
Carla Nunes, diretora da Escola Nacional de Saúde Pública

“Não é das perguntas que mais gosto porque a saída pode ter sido para ir à farmácia, levar e buscar os filhos à escola ou ir beber um café em prol da sanidade mental — e estas últimas saídas também são importantes. A pergunta que devia ser colocada era se se saiu de casa por questões inadiáveis ou adiáveis”, defende.

Desde agosto também se pergunta aos portugueses se têm mantido a distância de dois metros de terceiros quando saem à rua — 55% diz que o faz na ‘maioria das vezes’, 25% responde ‘sempre’ e 20% ‘algumas vezes’ ou ‘nunca’. “Na primeira quinzena de agosto apenas 15% respondiam ‘sempre’, há uma melhoria, mas há espaço para mais”, insiste a diretora da Escola Nacional de Saúde Pública.

Por último, os resultados de uma das perguntas — “Usou sempre máscara quando saiu de casa?” — levantam algumas dúvidas à investigadora: 80% dos inquiridos responderam que a usam sempre, valor que era de 60% no início de setembro.

“É um valor muito confortável, mas que a mim me surpreende a não ser que as pessoas não estejam a contar com o tempo da refeição. Muita gente come e bebe um cafezinho com muita gente, daí que o ‘sempre’ me surpreenda”, conta. Os inquéritos online, explica, são respondidos pelo próprio e têm um viés de desejabilidade social, um dos tipos possíveis de enviesamento de respostas que leva alguém a não responder com a verdade.

“Isto quer dizer que respondemos o que é socialmente correto e aceite. Este aumento de 20% no uso da máscara pode estar relacionado com isso, até porque ao longo do tempo vai sendo cada vez mais criticável não usarmos máscara”, explica.

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