Rui Paulo Sousa, deputado do Chega, reconhece que as convulsões internas que vão abalando o partido provocam danos reputacionais. Ainda assim, o também presidente da Comissão de Ética do Chega reduz os contestários a um grupo de meia dúzia de pessoas, “espalhadas por algumas estruturas distritais ou concelhias”. “Não passa disso”, assegura.
Em entrevista ao Observador, no programa “Vichyssoise”, em vésperas de um Conselho Nacional que vai votar uma moção de confiança à presidência de André Ventura, Rui Paulo Sousa mostra-se confiante numa votação expressiva e lamenta que os opositores internos, com Nuno Afonso à cabeça, faltem à chamada. “Sabe que vai perder e acho que não quer passar a vergonha”, provoca.
O deputado desvaloriza ainda todo o episódio em torno de Gabriel Mithá Ribeiro, desmente que tenham existido agressões entre deputados do Chega e assegura que há um clima de enorme união na cúpula do partido.
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O Conselho Nacional do Chega decorre este fim de semana. Primeiro, foi anunciado que os militantes de base apenas podiam participar e não tinham direito a voto. Depois, André Ventura propôs que todos pudessem votar na moção de confiança à liderança. O presidente do partido está com receio de ter perdido o apoio dos conselheiros e de ter um resultado aquém do esperado?
Não. Inicialmente estava previsto apenas votarem os conselheiros porque é o que está nos estatutos. Houve muitos militantes de base a perguntar se podiam votar e isso soma-se ao facto de o presidente ter preferido uma base muito mais alargada na votação.
Este Conselho Nacional acaba por estar assombrado por alguma turbulência interna. Isto não traz danos reputacionais ao partido?
Preferíamos que não houvesse toda esta briga interna. Obviamente que, em democracia, é saudável haver outras correntes ou quem não concorde com as nossas opções. Isso é normal e aceitável. O problema é que os nossos “adversários internos” acabam por nunca querer participar. Já tivemos a informação que o suposto principal adversário, Nuno Afonso, nem sequer vai estar presente. Para quem andou sempre a dizer que queria ter uma voz ativa…
E Nuno Afonso não vai estar presente porquê?
Porque sabe que vai perder e acho que não quer passar a vergonha de ter uma votação aprovada por 90% e ter só 1 ou 2% de contra ou em branco.
“Oposição interna está cingida a meia dúzia de pessoas”
Atribuiu a responsabilidade destas crises internas à oposição, mas André Ventura não tem responsabilidades? Tem feito uma boa gestão da vida interna do partido?
Na medida do possível. O partido tem três anos, construído praticamente do nada. De um deputado passámos para 12. As estruturas estão a ser criadas, não existiam. O partido tinha a subvenção de um deputado, sem grandes meios financeiros e a maior parte das pessoas não estava na política. Não houve tempo de criar as estruturas e isso provoca um pouco de instabilidade no partido. Não podemos estar a comparar com um partido que tem 20, 30 ou 40 anos de existência com um partido que tem três.
Falou numa vitória com mais de 90%. Isso é aquilo que considera um bom resultado para este Conselho Nacional?
Esperamos cerca de mil militantes e tendo um resultado na ordem dos 90% penso que é um excelente resultado. Podemos dizer que qualquer resultado positivo é um bom resultado. Mas o que esperamos é ter um resultado elevado. Qualquer número acima de 70% é bom, mas não é um excelente resultado.
Reconhece que está a ser construída uma oposição interna a André Ventura?
Não a nível no grupo parlamentar, direção nacional ou estruturas nacionais. Se existe alguma oposição interna está cingida a meia dúzia das pessoas espalhadas por algumas estruturas distritais ou concelhias, não passa disso.
“Neste momento não serão mais de 12 os militantes suspensos”
As sucessivas suspensões de militantes não dão razão a quem fala de falta de democracia interna?
O objetivo da comissão de ética foi bem explicado desde o início. Não tem a ver com impedir opiniões políticas dos militantes, mas sim que ofendam outros militantes. Quando ofendem outro militante colocando em causa a honra, não aceitamos. É um cartão amarelo que se está a dar ao militante.
E quantos é que têm esse cartão amarelo neste momento?
É preciso não esquecer que isto é ao longo de um determinado tempo. As suspensões variam entre 30 e 180 dias. Neste momento não serão mais de 10, 12 os militantes suspensos.
Quantos já foram expulsos?
A expulsão só é feita pelo conselho de jurisdição. Comissão de Ética não tem poder de expulsão.
Mas tem noção desse número?
Expulsos penso que não passará dos 10. Fala-se muito, mas os números reais face ao total de militantes são percentagens baixíssimas.
Desde a fundação do partido tem noção de quantos militantes já estiveram suspensos pelo menos uma vez?
Cerca de 80, 90 no total.
“Mithá Ribeiro? As agressões de que se falam são muito exageradas”
Depois de vários casos de autarcas que deixaram o partido, o caso de Gabriel Mithá Ribeiro foi o primeiro dentro do núcleo do Parlamento. Houve uma preocupação acrescida em manter uma imagem de união por se tratar do grupo parlamentar?
A união existe. Houve esse episódio, que já está esclarecido e que teve mais a ver com mal entendidos do que propriamente com divergência de fundo, concreta. As agressões de que se falam são muito exageradas. Estamos a falar de uma divergência.
O que é que aconteceu exatamente? Há essa versão das agressões e, até ao momento, não houve um desmentido cabal da existência dessas agressões.
Não estava presente. Nem eu, nem o líder do partido ou Pedro Pinto, líder parlamentar. Tivemos conhecimento que houve uma troca de palavras, de ambos os deputados. Não houve agressões físicas, nem nada parecido. As pessoas acabam por usar isso, especialmente os nossos adversários internos, para criar um caso.
Mas foi Gabril Mithá Ribeirto quem se queixou.
Sim, mas a queixa dele inicialmente não teve a ver com agressão nenhuma, mas com o gabinete de estudos. Foi essa a base de toda a discussão inicial. Só mais tarde surgiu a suposta agressão.
Gabriel Mithá Ribeiro vai sair ou não da direção?
Ele apresentou a demissão de vice-presidente, que tinha sido pedida uns meses antes. Não está na direção do partido porque saiu. Não quer dizer que não possa voltar no futuro.
“Ninguém é expulso apenas por ser contra a liderança”
Dizia que as pessoas que são suspensas ou expulsas maioritariamente por questões de ofensas, mas o partido expulsou um ex-vice-presidente alegadamente porque fez um post das redes sociais que ia contra a direção de André Ventura. Aqui é uma questão de liberdade de expressão?
As expulsões não são concretamente sobre um post, no processo analisam-se mais dados. Falamos de publicações em grupos de WhatsApp, em diversas publicações, a ofender diretamente determinada pessoa e a pôr em causa a própria honra. O José Dias, de quem estamos a falar, foi membro da direção nacional e vice-presidente do partido. Nunca o ouvi fazer determinadas críticas e podia tê-lo feito.
Mas pode ter mudado de opinião, é legítimo que o faça.
Diria que mudou de opinião, como muitos outros, a partir do momento em que deixou de ter determinados cargos.
Pode garantir que ninguém é expulso por ter uma opinião contra a liderança de André Ventura?
Ninguém é expulso apenas por ser contra a liderança ou por ter uma opinião diferente sobre os rumos do partido.
Esta semana conhecemos mais um capítulo de uma troca de argumentos muito particular entre André Ventura e Augusto Santos Silva. Alimentar esta divergência não é, de alguma forma, a uma eventual candidatura presidencial de Augusto Santos Silva e de, forma paralela, isto também não interessa ao Chega? Uma mão lava a outra?
Não posso falar em nome do presidente da Assembleia da República, mas é óbvio que possivelmente tira algum partido desta “luta” com o Chega. Se é para alimentar a candidatura ou não, só ele saberá. Quando ao André Ventura há que ver que o comportamento do líder do partido é sempre o mesmo, não mudou absolutamente nada. As intervenções que faz hoje são exatamente as mesmas que fazia desde que é deputado único, não houve qualquer alteração.
Vamos entrar agora no segundo segmento do nosso programa, o “Carne ou Peixe”, onde só pode escolher uma de duas opções. A quem preferia confiar os seus animais de estimação: Pedro Nuno Santos ou Fernando Medina?
Fernando Medina.
Foi empresário agrícola. A quem dava umas lições de como plantar espargos, a sua especialidade: João Cotrim Figueiredo ou Luís Montenegro?
Luís Montenegro.
Num cenário de Presidenciais em que só há dois candidatos à direita, em quem preferia votar: Paulo Portas ou Luís Marques Mendes?
Obviamente só votaria num único candidato: André Ventura.
Quem levava a ver uma tourada: Cristina Rodrigues ou Nuno Afonso?
Cristina Rodrigues, sem qualquer dúvida.