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NUNO VEIGA/LUSA

NUNO VEIGA/LUSA

Provas digitais. Faltam computadores, a internet nem sempre funciona e nem há tomadas para utilizar durante os exames

Provas de aferição e provas finais são realizadas em formato digital. Governo passou responsabilidade da compra de computadores às escolas e diretores querem regresso do papel.

Falta pouco mais de um mês para começarem as provas de aferição — dos 2.º, 5.º e 8.º anos — e das provas finais dos alunos do 9.º ano, mas nem todas as escolas têm computadores suficientes para garantir que estes testes finais são feitos de forma digital. Os diretores das escolas consideram que a verba de 6,5 milhões de euros disponibilizada pelo Ministério da Educação para comprar computadores para quem ainda não tem um chegou tarde e coloca uma enorme pressão sobre as escolas. E pedem que o novo Governo reverta a decisão e decida pela continuidade das provas em papel, pelo menos este ano. Além disso, “os computadores que estão avariados vão continuar avariados”, explica ao Observador o presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (Andaep), Filinto Lima.

Entre muitas queixas a propósito da fase de avaliações que começa no início de maio, o ministério ainda liderado por João Costa anunciou, como noticiou esta segunda-feira o Jornal de Notícias, uma verba de mais de seis milhões de euros. O problema, adianta Filinto Lima ao Observador, é que terão de ser as escolas a abrir concursos para a compra dos equipamentos, ou a fazer ajustes diretos, como acontece com todos os processos de aquisição públicos. “O processo agora passou para nós, mas as escolas ainda não têm verbas nenhumas. É uma grande responsabilidade que estão a pôr nas costas dos diretores. Querem que tenhamos uma varinha mágica e que façamos, no período de alguns dias, aquilo que a tutela não fez durante muito tempo — muitos meses, ou até anos”, sublinhou o presidente da Andaep.

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No início do mês, cada escola fez um levantamento do número de alunos que ainda não têm computador para realizar as provas digitais. O Observador tentou saber junto do Ministério da Educação quantos computadores estão em falta, a nível nacional, mas não foi enviada qualquer resposta até à publicação deste artigo.

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"O processo agora passou para nós, mas as escolas ainda não têm verbas nenhumas. É uma grande responsabilidade que estão a pôr nas costas dos diretores. Querem que tenhamos uma varinha mágica e que façamos, no espaço de alguns dias, aquilo que a tutela não fez durante muito tempo -- muitos meses, ou até anos"
Filinto Lima, Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas

O receio das escolas, neste momento, é que o processo de compra, cujas indicações chegaram aos diretores ao final da manhã desta segunda-feira, não fique concluído em tempo útil. É que existe ainda outro fator que pode condicionar a aquisição dos computadores: a disponibilidade do mercado. “Não sabemos se o mercado está preparado para disponibilizar milhares de computadores em tão pouco tempo. Temos de perceber se o mercado está preparado. Não sabemos se teremos tempo para operacionalizar esta grande empreitada”, explicou Filinto Lima, classificando este processo como “uma imprudência”. “Estão a criar muita pressão sobre as escolas, o que é muito injusto.”

Falta de computadores não é o único problema. Internet nem sempre funciona

O cenário, referem os diretores das escolas, é semelhante a nível nacional, mas há sempre situações mais dramáticas. Numa das escolas do concelho de Loures, por exemplo, há 150 alunos a frequentar o 9.º ano — a prova final neste ano é obrigatória para concluírem o ciclo de estudos — e, segundo o levantamento feito pela direção, existem apenas 53 computadores operacionais.

Ao Observador, a professora coordenadora da provas de aferição desta escola, que preferiu manter o anonimato, explica que ainda não sabem o que vai acontecer. Depois de muita insistência, a tutela garantiu que chegariam computadores a tempo das provas. “Mas em que condições? Não sabemos se no dia das provas esses computadores vão estar operacionais. E a pergunta continua a ser a mesma: se os alunos não conseguirem fazer a prova, de quem é a responsabilidade?”, questiona esta professora.

"Dentro do país, não há uma homogeneidade, há escolas onde é perfeitamente exequível a realização de provas digitais e outras onde isso não é possível"
Mariana Carvalho, presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais

Mas os problemas também não ficam só pela falta de computadores. O kit distribuído aos alunos é composto por uma mochila, um computador, uns auriculares e um hotspot para aceder à internet. Esta professora do concelho de Loures explica ainda que “há sempre um problema diferente”, que passa muitas vezes pela falta de internet. “A uns falta internet; outros ainda não receberam a internet; com outros, o cartão não funciona”, exemplifica.

A nível nacional, refere ainda Filinto Lima, o problema do acesso à internet é permanente: “É preciso comprar computadores, sim, mas também é preciso construir a casa pelos alicerces. E os alicerces são a internet dos meios digitais. Nas escolas, a internet vai abaixo frequentemente.”

E até a questão das tomadas poderá ser um problema, acrescenta Mariana Carvalho, presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), que avisa que muitas escolas não têm sequer tomadas suficientes para garantir que os alunos podem carregar os computadores durante as provas. “Dentro do país, não há uma homogeneidade, há escolas onde é perfeitamente exequível a realização de provas digitais e outras onde isso não é possível”, sublinha.

O último problema apontado — por diretores, pais e professores — é a falta de técnicos de informática nas escolas. Os problemas informáticos são, na maioria das vezes, resolvidos pelos professores de informática. “Temos os professores de Tecnologias de Informação e Comunicação que, de acordo com a sua boa vontade, dão uma grande ajuda, mas são professores, não são técnicos de informática. A função deles é dar aulas, não é arranjar computadores”, avisa Filinto Lima.

Desafio do próximo Ministério da Educação: decidir se provas continuam em formato digital ou se voltam ao papel

Para já, o modelo das provas de aferição continua no mesmo formato, mas a esperança de pais, diretores e professores é que o próximo responsável pelo Ministério da Educação — que deverá ser conhecido esta quinta-feira — possa reverter o processo que o ministério de João Costa começou. “O futuro ministro da Educação tem esta batata quente na mão, que é a tomar uma decisão definitiva e dizer às escolas, sem qualquer espécie de dúvida, se mantém as provas em formato digital, que é o que está, ou se este ano optará pela via tradicional, que é o papel e a esferográfica e é o que já conhecemos”, entende Filinto Lima, que tem recebido diversas queixas dos diretores das escolas, a nível nacional, sobre a digitalização das provas de aferição e das provas finais.

"O futuro ministro da Educação tem esta batata quente na mão, que é a tomar uma decisão definitiva e dizer às escolas, sem qualquer espécie de dúvida, se mantém as provas em formato digital, que é o que está, ou se este ano optará pela via tradicional, que é o papel e a esferográfica e é o que já conhecemos"
Filinto Lima, Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas

Os diretores das escolas esperam, por isso, que o método ainda possa ser alterado e que o processo de aquisição de computadores para todos os alunos possa ser feito com tempo. Reverter a decisão tomada pela atual tutela seria também uma foram de “não ferir a equidade, uma vez que há alunos que têm computadores desde o início do ano e outros não”.

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