No PS um terço dos lugares que podem mesmo chegar a deputados são escolhidos pelo líder António Costa, os restantes são decididos pelas estruturas locais. A definição das listas, de quem entra, quem sai, quem se estreia, são negociações mais difíceis do que a composição de mesas num casamento. Fere suscetibilidades, premeia socialistas, chama independentes, faz uma gestão de equilíbrios impossíveis e o resultado final — claro está — dificilmente agrada a todos.

Os candidatos não são muito diferentes dos que avançaram há dois anos, com António Costa a privilegiar a continuidade. Por isso mesmo, muitos são os membros do seu Governo que o líder do PS foi buscar para este combate, fosse pelo peso eleitoral, pelo capital político acumulado, pela lealdade demonstrada, pela capacidade reconhecida. Todos seguem em lugares em que podem chegar ao Parlamento, mas muitos deles (sobretudo os que hoje são ministros e seguem nesta frente de combate) não aquecerão esse lugar se Costa conseguir ganhar as eleições e voltar a formar Governo.

A lista socialista é feita destas figuras, mas também de figuras de peso do partido, nomes sonantes e familiares (a lista de Setúbal tem aqui um recorde), dinâmicas a pensar no futuro do partido, a geração seguinte, peso sindical e até curiosidades, como uma cantora lírica. Aqui pode ficar a conhecer alguns dos nomes que vão fazer parte da bancada socialista nos próximos tempos e as razões para serem eles e não outros em cada um dos lugares.

Quem entra mas provavelmente segue caminho para o Conselho de Ministros

Quase metade dos membros do atual Governo estão em lugares elegíveis das listas do PS. São considerados ativos políticos importantes nesta fase para António Costa que os distribuiu, com mais ou menos ligação, pelos vários círculos eleitorais. Se entram ou não num eventual novo Governo, não se sabe, mas a escolha do líder nesta fase dá pistas. Uma coisa é certa, estes são nomes que seguramente serão eleitos deputados, mas não é garantido que será esse o cargo que desempenharão nos próximos quatro anos. Um dado a reter: há dois anos, nenhum dos ministros que António Costa foi buscar ao seu Governo para a lista de candidatos pelo PS deixou de integrar o Governo seguinte.

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Uma das surpresas nesta lista foi a manutenção de Tiago Brandão Rodrigues como cabeça de lista por Viana do Castelo seis anos depois, o mesmo período em que se mantém como ministro da Educação. Em 2015, ainda tomou posse como deputado, mas nem aqueceu o lugar, já que seguiu logo para o Governo de António Costa. Ninguém garante, no entanto, que seja também assim desta vez, pelo menos para a mesma pasta, segundo os vários socialistas contactados pelo Observador para este artigo.

No distrito, a sua escolha não foi, no entanto, vista com grande surpresa. O líder do PS dificilmente deixaria de lado um ativo eleitoral de peso no distrito. Brandão Rodrigues é de Paredes de Coura e tem casa em Caminha, a sua ligação ao território é conhecida e praticada. Sempre que pode, ruma à terra onde tem o seu grupo de amigos, fala com toda a gente, conhece grande parte pelo nome. Como ministro reabilitou 19 escolas no distrito, a ligação forte que mantém com o Alto Minho faz dele um capital eleitoral precioso que Costa não pode desperdiçar quando a luta é pela maioria absoluta.

Apenas sete ministros do atual Governo não foram parar às listas e os que foram estão todos em lugares elegíveis, sendo quase certo que dificilmente ficarão no Parlamento se o PS voltar a ganhar eleições e Costa for nomeado primeiro-ministro. É nessa situação que está, por exemplo, aquele que é considerado o seu braço direito no Governo, a ministra da Presidência Mariana Vieira da Silva. É uma figura discreta, mas de que o socialista não prescinde, reconhecendo-lhe elevadas capacidades políticas e de organização. Para Costa, se tudo isto fosse feito de escolhas, seria ela quem o substituiria no cargo no topo do Governo.

Depois há também Augusto Santos Silva que volta a entrar pelo círculo Fora da Europa, como há um ano, altura em que recuperou um dos eleitos para o PS (que não o conseguia desde 1999). Em solução vencedora, Costa não quis mexer, sobretudo numa altura onde um deputado pode fazer toda a diferença, como aconteceu em 1999 quando o PS elegeu por aquele mesmo círculo e deu a António Guterres o empate parlamentar de 115/115. Santos Silva já manifestou disponibilidade para se manter num novo Governo, desmentindo ter pressa para sair (como chegou a ser noticiado quando disse esperar ser libertado até 2026) e nunca foi dispensado dos núcleos duros da decisão dos últimos quatro governos PS.

Santos Silva é o ministro com mais tempo de funções e que passou por maior número de pastas e Costa pôs a render o capital diplomático junto dos consulados, acumulado no desempenho do cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros, nas últimas eleições, esperando agora que a influência eleitoral se mantenha.

Foi mais ao menos o mesmo que pensou com Marta Temido, que voltou a indicar para encabeçar a lista de Coimbra, numa altura em que a ministra da Saúde goza de especial popularidade. Temido segue pela primeira vez como socialista, já que nas últimas legislativas ainda não tinha o cartão de militante, sendo um dos rostos independentes na carteira de candidatos do líder do PS (já era ministra nessa altura). Já Ana Abrunhosa, a ministra da Coesão, é uma estreia nestas lides. Nunca tinha sido candidata a deputada e a sua entrada no Governo surgiu na sequência do primeiro mandato de Costa. Abrunhosa era presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro, nomeada pelo Governo de Passos Coelho, a relação com quem se seguiu foi boa e Costa assinalou-a desde logo como uma potencial ministeriável.

A aposta na descentralização que o socialista prega há vários anos já fazia prever um ministério dedicado à redução das disparidades no território nacional, nomeadamente entre litoral e interior, e Ana Abrunhosa foi a escolhida para inaugurar a pasta. Nestas legislativas antecipadas, Costa somou tudo isso, agarrou na ligação (por via do marido) de Ana Abrunhosa ao distrito de Castelo Branco e tornou-a cabeça de lista pelo distrito. Deixou de fora a deputada e anterior número um por este círculo, Hortense Martins. Uma das feridas que fica por sarar neste processo.

O ministro cabeça de lista mais evidente é, no entanto, Pedro Nuno Santos, num distrito onde o PS se bate ombro a ombro com o PSD, Aveiro. Não é o seu capital eleitoral externo que lhe dá acesso ao topo da lista, Pedro Nuno é poderoso em termos de estruturas partidárias por todo o país, que estão povoadas de pedronunistas — o que naturalmente também se reflete nos candidatos a deputados (ver mais adiante neste artigo). É o melhor colocado para o dia seguinte a António Costa no PS e a sua influência interna é grande neste momento. Está à frente de um dos dossiês mais espinhosos para o Governo, o da reestruturação da TAP, e fez respirar de alívio a frota socialista recentemente, quando Bruxelas deu aval ao seu plano e não só tirou essa pressão da campanha, como somou um argumento para combater os adversários, sobretudo o PSD. Se o PS ganhar eleições, dificilmente se manterá como deputado, já que terá seguramente guia de marcha para o Governo.

Outros ministros-candidatos são João Gomes Cravinho, da Defesa, Alexandra Leitão , da Modernização Administrativa, Graça Fonseca, da Cultura, Ana Mendes Godinho, da Segurança Social, Matos Fernandes, do Ambiente, e Maria do Céu Antunes, da Agricultura. Isto além dos 18 de secretários de Estado que também entraram nas listas em lugares de eleição certa (cujos nomes pode recordar aqui).

Há até um círculo em que sobram governantes para lugares de eleição. Em Bragança, o potencial socialista é curto e aponta a um lugar dos três mandatos disponíveis e Costa avançou por aí não um, mas dois secretários de Estado: João Alberto Sobrinho Teixeira, da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, e Berta Nunes, das Comunidades. Ambos são figuras do distrito, o primeiro foi professor e dirigiu mesmo o Instituto Politécnico de Bragança, a segunda foi a primeira mulher eleita no distrito, quando conquistou por uma curta margem (cerca de 400 votos) a Câmara de Alfândega da Fé ao PSD, em 2009. São também os dois praticamente certos num futuro Governo, a julgar pelo terceiro da lista da Bragança. É que Jorge Gomes, presidente da distrital, antigo secretário de Estado que foi o primeiro a chegar aos trágicos incêndios de Pedrógão Grande e, até aqui, cabeça de lista pelo distrito, aceitou a despromoção. A possibilidade de subir a lugar elegível por renúncia dos dois primeiros é uma possibilidade forte.

Há também um antigo governante que já tinha sido dado como reformado desta lides — chegou até a despedir-se numa reunião interna da bancada parlamentar do PS — e que volta a correr nestas legislativas e como cabeça de lista. Em Évora, Capoulas dos Santos conseguiu há dois anos o melhor resultado para o PS, que conquistou dois deputados por aquele círculo (em três), roubando ao PSD. Esteve para sair, mas a distrital e António Costa não quiseram mexer numa lista vencedora e volta a ir tal e qual, com Norberto Patinho no segundo lugar. O antigo professor do primeiro ciclo e ex-presidente da Câmara de Portel avança na expectativa de manter o lugar conquistado pelo PS em 2019.

O círculo dos apelidos sonantes e o pai que deu o lugar ao filho

Em 2019, António Costa seguiu uma linha na composição do Governo: não ter na equipa membros com ligações familiares entre si, uma decisão que nessa altura deixou, por exemplo, fora do Governo, Ana Paula Vitorino, para manter o seu marido Eduardo Cabrita. A decisão vinha na sequência de várias polémicas sobre o family gate que tinham levado a três demissões no seu Governo anterior. Mesmo assim, a sombra nunca mais largou o PS e há ligações familiares que se contam noutras frentes.

Nas listas de candidatos a deputados há uma que salta à vista. Em Setúbal há nove lugares que o PS pode conquistar e cinco dos nomes que ocupam esses nove lugares têm história mais ou menos recente no partido. Para começar, a cabeça de lista, Ana Catarina Mendes é irmã do presidente da distrital, António Mendes Mendonça que entra pela primeira vez como candidato a deputado. O também secretário de Estado dos Assuntos Fiscais nunca quis até aqui, mas desta vez aceitou e segue na lista do seu distrito, encabeçado pela líder parlamentar da última legislatura, a sua irmã. Se Costa mantiver a regra do Governo anterior e se o PS ganhar as legislativas, só um irá para o Executivo e Ana Catarina Mendes ainda não chegou a um cargo do género ainda que esteja em altas funções no partido, sempre no círculo de confiança de Costa, desde que o líder é este.

É também por Setúbal que entra João Gomes Cravinho que é filho do histórico João Cravinho e também o ministro da Defesa do Governo ainda em funções — curiosamente entra pelo lugar de Eduardo Cabrita. Experiência governativa não lhe falta, antes deste Executivo integrou os dois de José Sócrates, onde foi secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação. Entrou por Setúbal pela quota de António Costa, que em Setúbal há militantes que se queixam de ter ido mais além na sua influência nos lugares elegíveis do que no um terço que lhe pertence.

Um dos casos que causou algum desconforto foi a entrada, por aquele mesmo círculo e também pela quota de Costa, de Jorge Seguro Sanches, primo de António José Seguro. Incomodou mas não por causa desta ligação familiar, mas sim porque não é aquele o seu círculo (noutras legislativas entrou por Castelo Branco) e também porque é mais um nome da Defesa. Na verdade também houve uma esperança que pudesse entrar por aquele lugar (que em 2019 foi o de João Galamba), e também por indicação de Costa, Luís Testa que saiu de cabeça de lista de Portalegre (depois de ter deixado a distrital poir causa da limitação de mandatos) e não quis ir em segundo lugar pela sua terra. Acabou fora da lista de deputados porque Costa não o incluiu na sua quota e, em Setúbal por exemplo, preferiu Seguro Sanches.

Pelo distrito, em lugar elegível vai ainda Maria Antónia Almeida Santos, filha de António Almeida Santos e que já é deputada desde 1999, sempre ligada à área da Saúde. Não é a única que tem um apelido conhecido no meio socialista a concorrer nestas eleições. No seu caso já não é novidade sequer, mas no caso de Francisco César, é. O antigo líder parlamentar do PS na Assembleia Legislativa Regional da Madeira vem para Lisboa, como cabeça de lista pelo círculo dos Açores (ver mais abaixo). É filho de Carlos César que não é candidato a deputado e tem repetido que não está interessado em ter funções executivas o de qualquer outra ordem que não as de presidente do PS. Uma decisão que acaba por deixar o caminho mais aberto ao seu filho que tem sido confrontado com esta questão desde sempre.

Depois há também o caso curioso de Pedro Anastácio que foi notícia, em março de 2019, quando foi nomeado para adjunto do secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares. E isto porque era filho do deputado socialista Fernando Anastácio (na altura em que foi noticiada a escolha da mulher do ministro Pedro Nuno Santos como chefe de gabinete também de Duarte Cordeiro). Agora, Pedro Anastácio entra como candidato pela lista de Lisboa, no 26.º lugar que não é elegível, mas em Lisboa há sempre muitas mudanças no pós-eleições e este posto facilmente chega a deputado. O seu pai que o diga, já que foi deputado na última legislatura depois de ter concorrido pela mesma lista e exatamente no mesmo lugar: 26.º. Desta vez, Fernando Anastácio já não concorre e no sue lugar segue o seu filho que é atualmente o presidente da distrital de Lisboa da JS (ver em baixo).

Por fim, a lista de Faro. Foi uma dúvida que se foi mantendo até ao fim, mas António Costa decidiu manter como cabeça de lista a deputada Jamila Madeira, mesmo que nessa mesma lista siga também em lugar elegível o presidente da Distrital de Faro, Luís Graça, que vive com a socialista que se incompatibilizou com Marta Temido na Saúde e saiu do Governo, “surpreendida”, em 2020. Graça subiu dois lugares, passou para número três, num círculo onde o PS elegeu cinco deputados em 2019. É líder da distrital desde 2018, e estreou-se no Parlamento na legislatura que começou em 2015, tem sido uma das vozes a exigir a Marta Temido um calendário para a construção do Hospital Central do Algarve, pelo qual a região espera há 20 anos e que continua a constar no programa eleitoral do PS.

Um líder da jota que vem do gabinete do chefe e ‘seus” jovens que estão em espera

No dia em que a Comissão Política Nacional do PS se reuniu para aprovar as listas, em dezembro, o líder da JS ainda fez uma tentativa final. Miguel Costa Matos queria que o seu secretário-geral adjunto, Miguel Rodrigues, estivesse uns lugares mais acima na lista que integra, pelo Porto. Mas esse é um círculo eleitoral duro e Manuel Pizarro, quando confrontado ali mesmo com essa vontade, passou a bola a Costa: só se o líder quisesse disponibilizar algum dos lugares da sua própria quota. Mas não quis e, nessa lista, o primeiro nome da JS aparece apenas no 17.º lugar, que em 2019 foi o ligar do último a entrar pelo Porto em 2019. Mas as investidas de Costa Matos nem sempre foram mal sucedidas.

É líder da JS, tem 27 anos e tem um dos lugares mais altos que alguém no seu posto já teve na lista de Lisboa, o 7.º. Só Arons de Carvalho em 76, ficou acima, foi em 6.º, outro antigo líder da jota. Já esteve muito próximo de Costa, foi adjunto económico no seu gabinete entre 2017 e 2019, altura em que foi eleito deputado, o mais jovem de então, tinha 25 anos. Apelidado de “estalinista” por Sérgio Sousa Pinto, por não ter referido o seu nome como ex-líder da JS quando tomou posse (em 2020), é conotado com a ala mais à esquerda no PS, o que é, na verdade, característica de quem ocupa este cargo. Não pertence a nenhum grupo, nos corredores socialistas atira-se, em tom de graça, que “só se pertencer ao grupo de Vítor Escária” – hoje chefe de gabinete de Costa que, em 2017, era seu assessor económico e com quem Costa Matos trabalhava de perto. Formado no ensino privado de elite (o St Julian’s) e licenciado na Universidade de Warwick (Reino Unido), tem boa relação com o líder e neste campeonato dos elegíveis espera não ter menos do que a Jota conseguiu em 2009: 7 nomes no Parlamento (no fim já eram 8).

Por Lisboa, além do seu nome, segue também um nome de peso da Juventude Socialista, Pedro Anastácio, que é o presidente da distrital de Lisboa da JS e também adjunto de Duarte Cordeiro no Governo — um nome já referido neste texto por ser filho de outra deputado socialista — que desta vez não vai a votos — Fernando Anastácio. O lugar, que era o do seu pai, não é elegível, mas a esperança de entrar numa segunda leva é grande. Pedro é vereador na Câmara de Lisboa, foi eleito na lista de Fernando Medina e acabou por entrar depois do desaire eleitoral de 26 de setembro de 2021. Na sequência da derrota socialista na CML, foram várias as renúncias aos mandatos que foram apresentadas nos dias seguintes por candidatos que seguiam na lista de Medina na perspetiva de ter um pelouro, casos da arquiteta Inês Lobo, apontada ao urbanismo, ou Inês Ucha (presidente da Lisboa Ocidental SRU – Sociedade de Reabilitação Urbana), acabando por entrar na vereação o líder da JS de Lisboa que ia em 11º nessa mesma lista. Se chegar ao Parlamento, vai poder acumular as duas funções, já que o que tem na CML é uma vereação sem pelouro.

Já os jotas que seguramente chegam ao Parlamento logo na primeira leva de eleitos diretamente, não são muitos. Além de Costa Matos, contam-se Joana Sá Pereira, líder da distrital de Aveiro que já foi deputada e entra novamente por esse círculo eleitoral, sendo também um nome certo do pedronunismo, como quase todos os que pertencem a essa lista. Em Portalegre, Eduardo Alves é o presidente da federação distrital da Jota e conseguiu o segundo lugar de uma lista por onde o PS elege dois nomes depois da saída (não pacífica) de Luís Testa. É que o deputado que foi o cabeça de lista de Portalegre foi relegado pelo novo líder da distrital, o secretário de Estado Ricardo Pinheiro, para o segundo lugar e não aceitou. Entrou o jovem de Ponte de Sor, para representar um concelho de peso no distrito, beneficiando a Jota dessa contenda local.

A partir daí, não há garantias. Os restantes jotas que Miguel Costa Matos conseguiu pôr nas listas não têm lugar garantido, têm de esperar que o PS vença e que acima saiam eleitos para o Governo. E há nomes de peso para o líder da Jota neste grupo, como por exemplo, o seu número, secretário nacional para a organização, é um deles. José Dias vai no oitavo posto por Coimbra, não entra diretamente mas é possível que suba se houver saídas para o Governo numa lista encabeçada por Marta Temido — mas têm de sair três.

Também não há certezas de representação da jota por Faro, onde Abel Matinhos, presidente da JS-Algarve, também só conseguiu o oitavo lugar (num círculo onde o PS elegeu cinco em 2019). Há esperança, tal como em Santarém onde, nas últimas legislativas, o PS ficou a cerca de 300 votos de conseguir fazer entrar o quinto deputado. Francisco Dinis, líder da jota distrital, vai no sexto lugar. E nem mesmo a coqueluche do PS no concelho da Moita tem entrada direta. Bárbara Dias vai no 11.º lugar (numa lista onde o PS elegeu nove em 2019) e é uma figura que ganhou especial apreço local depois de ter vencido as Junta de Freguesia da Baixa da Banheira e de ter contribuído para uma reviravolta eleitoral significativa: a Moita foi um dos concelhos que o PCP perdeu para o PS em setembro passado.

Estes são os sete nomes dos jovens que entram ou estão à beira de entrar no novo grupo parlamentar do PS com o líder da JS a dizer ao Observador que na última legislatura “ter força dentro do grupo foi importante em matérias como o direito ao desligamento e a lei de bases do clima”.

Apostas novas que vêm de frentes derrotadas

Nos Açores o poder fugiu aos socialistas na últimas regionais e a luta política está menos atrativa, bem como a possibilidade de influência. Para um nome como o de Sérgio Ávila, que foi vice de Carlos César no Governo Regional e, depois disso, vice de Vasco Cordeiro, nessa mesma frente, isso significa o regresso ao Parlamento onde já esteve em 1995. É um nome forte nos Açores (da ilha Terceira) onde teve, a maior parte do tempo, a gestão das Finanças. e em 2012, com a troika instalada no país, sublinhava frequentemente o facto de os Açores não terem sido referidos no relatório feitos pela frente de ajuda externa, como aconteceu com a Madeira. Antes já tinha sido presidente da Câmara de Angra e foi também, entre 1996 e 97, diretor regional da Solidariedade e Segurança Social do primeiro governo de Carlos César.

O mau tempo político nos Açores, para o lado do PS, vai trazer ao continente também Francisco César que será pela primeira vez candidato a deputado da Assembleia da República, ele que já traz a prática de várias campanhas eleitorais, até a nível nacional. Foi diretor de campanha, juntamente com Duarte Cordeiro, de António Costa e também há outra relevância política neste nome (que pode ler mais abaixo neste mesmo texto).

Mas o verdadeiro resgatado nesta lista é Fernando Medina. O antigo presidente da Câmara de Lisboa saiu derrotado de forma inesperada das últimas autárquicas e foi recuperado por António Costa nestas legislativas antecipadas, que acabaram por acontecer apenas quatro meses depois dessa noite de má memória para o PS. Medina foi a grande novidade — embora esperada — da lista de candidato por Lisboa e segue no quinto posto.

Não estaria nesta lista se tivesse vencido as autárquicas, mas é um ativo político de que Costa não dispensa, tendo chegado mesmo a ser apontado, em 2020, como uma hipótese para integrar o Governo para substituir Mário Centeno, que já se sabia estar de saída das Finanças. Comentou a informação posta a circular pelo comentador Marques Mendes como “bizarra” e manteve-se no seu posto, onde sucedeu a António Costa. Medina é um dos nomes de quem sempre se falou como uma hipótese no PS para o pós-costismo, embora o tombo em Lisboa tenha deixado marcas no partido e nesta altura já não seja aquele de quem se fala de imediato para disputar esse tempo com Pedro Nuno Santos. Medina tem a experiência executiva de Lisboa e também de secretário de Estado (Emprego e depois Indústria) nos dois governos de José Sócrates. É um dos mais próximos de António Costa e era certo que o líder o puxaria para perto mal tivesse oportunidade.

Na lista do Porto há também um nome que salta à vista entre os candidatos a deputados. Eduardo Pinheiro surge no décimo lugar, elegível, por indicação do líder que se irritou com o que aconteceu no ano passado envolvendo este nome. Foi secretário de Estado da Mobilidade e também presidente de Câmara de Matosinhos e foi a escolha de António Costa para se candidatar à Câmara do Porto nas últimas autárquicas. Mas a escolha da direção o foi mal recebida pelas estruturas locais que ameaçavam não validar Eduardo Pinheiro que acabou por desistir antes mesmo de chegar a essa situação.  Costa não gostou do episódio e chegou a vir a público manifestar “total solidariedade” com a decisão de Pinheiro de declinar o convite para candidatar-se à presidência da Câmara do Porto. Agora recupera-o para o Parlamento, onde nunca esteve.

Pedro Nunismo em modo freeze, com Costa, mas sempre bem colocado

E o Pedronunismo? Os apoiantes indefectíveis de Pedro Nuno Santos, o representante da ala esquerda do PS e o mais assumido futuro candidato à liderança de um partido de que já se ouviu falar, estão em total pousio. A ordem é para apoiar António Costa e não dar um único flanco à possibilidade de se começar a pensar que Pedro Nuno Santos está à espera que algo corra mal para avançar. A verdade é que o ministro das Infraestruturas e da Habitação está à esquina, sabe Costa e todo o país, aliás, nos debates tem sido recorrente ouvir referências a si mesmo — o frente-a-frente Costa/Rio foi um bom exemplo disso mesmo. Mas todas as intervenções que tem feito são leais ao líder  e aos seus objetivos, contornando de forma hábil tudo o que tenha a ver com negociações pós-leitorais ou sequer se comunga da desconfiança de Costa com os parceiros da esquerda.

Pedro Nunismo em contenção no PS (por agora)

Nada diz, nada faz, mas no dia 31 de janeiro terá uma palavra a dizer. E entretanto os seus, embora em linha com a estratégia atual do PS, estão espalhados por estruturas do partido e pela lista de candidatos que o PS entregou no Tribunal Constitucional. Aliás, quem a entregou é o seu mais leal amigo político e não só, Duarte Cordeiro. Foi seu sucessor, em 2008, na liderança da JS e também, em 2019, na Secretaria de Estado dos Assuntos Parlamentares e é, mais uma vez, diretor de campanha de António Costa. É o presidente do PS-Lisboa e o candidato número quatro por esse círculo nessas legislativas. Foi colega de Pedro Nuno no ISEG, tal como Francisco César, o cabeça de lista do PS pelo Açores. É um trio certo na geração que se seguirá no PS, só falta saber quando.

Há algumas curiosidades no trio, a maior é talvez que, quando se cruzaram no ISEG, estavam em grupos diferentes, tanto que no início dos anos 2000 Duarte e Francisco concorreram um contra o outro para a associação de estudantes. Ganhou a lista de César, que fez um bloco central e na sua lista estava também Catarina Gamboa, que é hoje mulher de Pedro Nuno Santos. Ao mesmo tempo estavam todos na JS, eram amigos e em 2004 Francisco César foi até o secretário para a organização do líder Pedro Nuno. Estão todos em lugar de destaque e influência no PS atual, a marcar terreno para os tempos que se seguirem.

Não são os únicos. O Pedronunismo salta a vista em quase todos os círculos eleitorais, a começar pela lista de Aveiro, encabeçada pelo próprio. No topo da lista só mesmo Porfírio Silva, diretor do gabinete de estudos do PS, não é um fiel de Pedro Nuno. Cláudia Santos, deputada, é do grupo de Coimbra de Rocha Andrade e também amiga de Pedro Nuno Santos, é natural de Aveiro e chegou a assessora o ministro da Justiça António Costa, sendo especialista na área. Filipe Neto Brandão, vice da bancada parlamentar liderada por Ana Catarina Mendes, também é muito próximo, bem como Susana Correia e Hugo Oliveira que foi adjunto de Pedro Nuno nos Assuntos Parlamentares, tendo seguido com ele para as Infraestruturas.

Em Braga, o presidente da distrital Joaquim Barreto é também próximo do socialista, mas na lista, liderada por José Luís Carneiro (o adjunto de Costa no PS), está também Hugo Pires, um elemento mais chegado a Ana Catarina Mendes — que é o outro nome colocado na pole para uma futura corrida à liderança.

Em Lisboa, outro grande círculo, há Duarte Cordeiro, mas também João Galamba e Pedro Delgado Alves. Os quatro formavam, no Parlamento, o grupo dos jovens turcos, no tempo da troika, com posições aproximadas com alguma esquerda — por exemplo, alguns deles chegaram a assinar o manifesto do 74, ao lado de Francisco Louçã ou de João Crvinho a defender a reestruturação da dívida pública.

Em lugares altos, neste mesmo círculo, mas fora dos diretamente elegíveis está também Maria Begonha, ex-líder da JS, e Diogo Leão — os dois são um casal. E no Porto, o segundo distrito por onde o PS mais elege, Pedro Nuno Santos tem o seu apoiante de sempre, Tiago Barbosa Ribeiro e também Joana Lima e João Torres. Ainda em lugar elegível surge José Carlos Barbosa que é quadro da CP desde 2004, sendo hoje em dia diretor do departamento de manutenção e engenharia e também foi nomeado pelo ministro Pedro Nuno Santos presidente do Centro de Competências Ferroviário criado em Guifões, uma escola dedicada à ferrovia.

Em Santarém, o segundo da lista é Hugo Costa outro socialista da linha de Pedro Nuno Santos que chegou a deputado na última legislatura, sendo coordenador da comissão parlamentar de economia. O mesmo para Marina Gonçalves, também eleita deputada em 2019, depois de ter sido chefe de gabinete de Pedro Nuno, chegando durante a última legislatura a secretária de Estado da Habitação, no Ministério do antigo chefe. Segue como candidata, sendo número dois por Viana do Castelo, logo atrás de Tiago Brandão Rodrigues.

E em Viseu, Pedro Nuno Santos conta com um dos seus mais próximos, o secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Rebelo. Em 2019 esteve envolto numa polémica por ter acumulado, durante dois anos, funções governativas com a gerência de uma empresa familiar de produção de mirtilos. O processo por incompatibilidade foi, no entanto, arquivado pelo Tribunal Constitucional.

UGT volta à bancada

Ana Paulo Bernardo aparece bem destacada, no sexto lugar, pela lista do Porto. É membro da Comissão Nacional do PS e é também secretária-geral adjunta da UGT. O mesmo com Sérgio Monte, que é outra estreia como deputado (avança em lugar elegível pela lista de Lisboa, o 8º) e é também secretário-geral adjunto da central. Ao contrário do que aconteceu em 2019, a Tendência Socialista da UGT tem dois lugares na lista de candidatos do PS, escolhidos pelo secretário-geral numa altura em que a central está em pleno processo de transição.

Em 2022 toma posse, depois do congresso da UGT, o novo secretário-geral Mário Mourão que sucede a Carlos Silva, o homem que durante todo o tempo destes dois últimos governos socialistas fez frente e manteve uma relação sempre tensa com António Costa. Carlos Silva apoiara António José Seguro na luta interna de 2014 no PS e foi sempre crítico do Governo e até de algumas promessas falhadas e propostas para a função pública. Mas sobretudo da incapacidade de António Costa de se aproximar do movimento sindical No final do ano, as eleições à liderança da tendência sindical socialista da UGT, tiveram (de forma inédita) dois candidatos: José Abraão, da Federação dos Sindicatos da Administração Pública (FESAP), e Mário Mourão, presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Setor Financeiro (SBN). O último com a promessa de fazer essa reaproximação da central ao partido.

Ganhou Mourão e isso coloca-o como sucessor de Carlos Silva. Foi precisamente nesta mudança de ciclo que a UGT voltou a ter representação nas listas. Carlos Silva chegou mesmo a apontar o dedo ao PS de Costa quando este não apontou ninguém da central (nem mesmo Rui Riso que tinha estado na legislatura anterior) para a lista de candidatos a deputados em 2019. Com a sua saída certa, Costa volta a esta frente.

Certo é que os tempos da geringonça e de negociações permanentes (e necessárias) à esquerda também desaceleraram o papel das centrais sindicais e agora, num novo momento político, Costa terá encontrado razões para reativar essa frente. Sobretudo numa altura em que existem condições para manter uma melhor relação com os socialistas da UGT.

Da “máquina de combate” à cantora lírica

Jorge Coelho, pai político de João Azevedo, chegou a classificá-lo como “máquina de combate” e o atual homem do PS em Viseu vai transformando isso em votos. Conseguiu, nas últimas autárquicas o melhor resultado do partido na Câmara, o olho do antigo cavaquistão a que, ainda nas últimas legislativas, o seu mentor Coelho decretava o fim. No distrito mesmo quem desconfia da sua estratégia de “gestor de equívocos” para nunca ferir lados no partido, mantendo-se sempre à tona, reconhece que o antigo autarca de Mangualde “fez a ressurreição do PS em Viseu”. Costa apostou nele para essa mobilização que, por ali, ainda está fresca, tendo em conta que as autárquicas foram há apenas quatro meses.

O perfil oposto a esta máquina de guerra do aparelho que se diz sempre “pronto para combate” é a de Elisabete Matos, cantora lírica que António Costa foi buscar para integrar a lista de candidatos pelo Porto. Natural de Guimarães, esta independente é também a diretora do Teatro Nacional de São Carlos.

Artigo atualizado com correção do lugar de Miguel Rodrigues, da JS, na lista de candidatos pelos círculo do Porto.