O grupo de alunos da Universidade de Verão do PSD que ficou de fazer o brinde a Paulo Rangel chamou-o de “primeiro-ministro em exercício”, mas o ministro dos Negócios Estrangeiros lembrou que era uma questão técnica, que duraria apenas mais algumas horas. “Acaba amanhã. Deixo de ser amanhã. É o síndrome da Cinderela, em que me transformarei numa abóbora — laranja, naturalmente”. Apesar de explicar que era uma mera formalidade, Rangel falou como se fosse o chefe do Governo e convidou o PS a negociar o Orçamento, a quem aplicou a máxima que defende para a imigração: “Não há portas escancaradas, mas também não há portas fechadas”.

Antes disso, fazendo jus a outro “Cinderela”, o pugilista James Walter Braddock (conhecido como “Cinderella Man”), o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros fez do PS saco de boxe. Rangel acusou o líder do PS de não dizer “se considera positivo ou negativo o suplemento para pensionistas” e desafiou: “O PS é a favor ou contra o suplemento aos pensionistas? O líder do PS, tem de dizer”. Acrescenta ainda que tem visto “muitos PS’s incomodados”.

Rangel acrescentou ainda, na mesma sessão, que relativamente ao IRS jovem não vê “o PS entusiasmado”. Aproveitando uma parte da intervenção sobre Camões, numa exposição camoniana de 17 minutos, aproveitou o balanço para acusar o PS de ser um “velho do Restelo“. O governante desafiou, também neste ponto, o “PS a explicar se é a favor ou contra”: Não basta só dizer mal”. E fez novo desafio, dentro das “referências literárias”: “Pedro Nuno Santos tem de deixar estas dúvidas de Hamlet.”

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No ataque ao PS, o governante rejeitou as críticas de que o Governo não toma medidas reformistas. Na mesma linha do que disse Luís Montenegro na Festa do Pontal, Rangel disse que as medidas para “professores, polícias, militares, na saúde” são estruturais. Além disso não reconheceu autoridade ao PS, que “estava instalado há oito anos” e “não fez uma única reforma”. E acrescentou: “Não são esses senhores que nos vêm dizer a nós que não somos reformistas.”

O ministro dos Negócios Estrangeiros acusa também o Chega de confundir temas que não estão relacionados entre si, numa alusão ao facto de o partido de Ventura relacionar um referendo sobre a imigração com o Orçamento do Estado. A única semelhança, explica, é que defende para a imigração o mesmo que para o Orçamento: “Não há portas escancaradas nem há portas fechadas.”

Para o Chega, Rangel deixou uma mensagem: “A única forma de combater os populistas é governar com eficácia e eficiência”.

Rangel prevê anúncio de novo comissário antes do fim de semana

Durante a intervenção em Castelo de Vide, Rangel nada disse sobre o novo comissário europeu. No entanto, horas antes, em declarações ao jornal Público disse que, “como é evidente, o nome do candidato a comissário, ou comissária, indicado por Portugal vai ser divulgado publicamente até ao dia 30 de Agosto e pelos canais institucionais”. Como o Observador noticiou, o novo comissário é o “convidado-surpresa” que vai discursar no próximo sábado na Universidade de Verão do PSD.

Novo comissário vai ser surpresa revelada no Alentejo. Montenegro inclinado a escolher mulher

Começaram, nos últimos dias, a surgir dúvidas no PSD sobre o momento escolhido para a divulgação do nome do comissário. O plano inicial — que passaria pela divulgação do nome do comissário na Universidade de Verão — começou a perder força por duas razões: o facto de a intervenção estar prevista para a mesma hora do clássico Sporting-FC Porto (a hora do jogo só foi fechada depois de a agenda ser divulgada) e por haver a sensação de que, depois de o nome seguir para Bruxelas, na sexta-feira, dia 30, seria difícil aguentar o segredo até à hora da intervenção na Universidade de Verão que, para já, se mantém nos planos.

Rangel recorre à data-limite imposta por Von der Leyen, como se fosse uma regra inultrapassável, mas diz que vai ser indicado “o” nome do “comissário” ou “comissária” no singular. Ora, se a indicação de Von der Leyen fosse seguida à risca, o Governo teria de indicar dois nomes, um homem e uma mulher, e não apenas um, como sugere Rangel.

Ao que o Observador apurou, o Governo ainda não decidiu o tempo e modo com que fará o anúncio. Será, provavelmente, mais próximo do fim da semana. Haverá também uma diferença entre o momento de comunicação a Bruxelas e o momento de anúncio público, que pode ocorrer a qualquer momento, mas é pouco provável que seja antes de quinta-feira.