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Concelho Nacional do PSD (Partido Social Democrata). Disputa entre Paulo Rangel, candidato à liderança do partido social democrata e Rui Rio, atual presidente do PSD. Centro de Congressos em Aveiro. 6 de Novembro de 2021 TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
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TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

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Rio volta a perder e não consegue destrunfar Rangel em Conselho Nacional à "moda antiga"

Rangel venceu em toda a linha e consegue a data de diretas e Congresso que queria. Rio tentou que todos os militantes votassem, retirando o trunfo das estruturas ao adversário, mas sem sucesso.

Se não gostas da disposição da mesa, muda a mesa. A frase é de uma personagem de ficção da série House of Cards, mas podia ser aplicada às muitas jogadas do Conselho Nacional do PSD deste sábado. Rio e Rangel sentaram-se à mesma mesa, para mostrar que “o PSD não é o CDS”, e tentaram chegar a um acordo sem deixarem de baralhar várias vezes o jogo. Acabaram por regressar os dois dessa pausa — que suspendeu os trabalhos em Aveiro — com a mesma data para o Congresso, uma pequena diferença (sete dias de diferença no dia das diretas) e uma divergência de fundo: Rio queria todos os militantes ativos a votar, Rangel rejeitava ao dizer que “não se mudam as regras a meio do jogo”. No fim da noite, Rangel voltou a vencer Rio dentro de portas em toda a linha.

Antes do encontro dos jogadores de cartas, o eurodeputado José Manuel Fernandes, apoiante de Rangel, deixava claro que a candidatura não aceitaria uma eleição aberta a todos: “Na minha terra, jogamos muito a sueca. Depois de começar, não se muda o trunfo, nem se junta outro baralho.” Rio tentou destrunfar Rangel, tirando-lhe a vantagem de ter o apoio de uma larga maioria das distritais e das maiores concelhias e dar mais incerteza à eleição que, na teoria, pende para o eurodeputado. Mas não conseguiu.

Rui Rio — que até vinha motivado por uma sondagem que o coloca como favorito dos portugueses contra Rangel — voltou a perder dentro de portas. Rangel ganhou em data das diretas, data do Congresso e universo eleitoral. A única data que Rio conseguiu que se concretizasse foi a que também foi proposta por Paulo Rangel (e que o eurodeputado trazia para a reunião inicialmente). A proposta de Rangel acabou por ser aprovada com 76 votos a a favor, 28 votos contra e 18 abstenções. Mesmo a proposta de Alberto João Jardim, que foi por voto secreto, foi chumbada com 68 votos contra, 47 a favor e um voto nulo. A de Rio foi igualmente chumbada: 71 votos contra e 40 votos a favor.

Rio recusa-se, no entanto, a atirar a toalha ao chão. Questionado sobre se mantém a candidatura à liderança do PSD, já no fim do Conselho Nacional foi claro: “Com certeza”.

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A mudança de datas foi constante ao longo da noite nas duas candidaturas. Rio começou por propor diretas a 20 de novembro e Congresso a 10, 11 e 12 de dezembro. Rangel — que tinha como proposta antecipar o Congresso para 17,18 e 19 de dezembro — também aproveitou para antecipar as datas, propondo diretas a 27 de novembro e Congresso a 3, 4 e 5 de dezembro. Depois de se sentarem à mesa, voltaram com novas datas. Os apresentavam agora a mesma data de Congresso (17, 18 e 19 de dezembro), mas mantinham as divergências na data das diretas: Rio queria a 20, Rangel a 27 de novembro.

Concelho Nacional do PSD (Partido Social Democrata). Sala onde Rui Rio, atual presidente do PSD e Paulo Rangel, candidato à liderança do partido, se reuniram para chegarem a um acordo. Centro de Congressos de Aveiro 6 de Novembro de 2021 TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

A sala onde Paulo Rangel e Rui Rio tentaram chegar a um acordo sobre as datas do Conselho Nacional

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Sobre todos os militantes ativos poderem votar, Rio também perdeu. A proposta incluía a possibilidade de todos poderem votar, mesmo sem quotas pagas. Rio defenderia isso perante os conselheiros e, em algo raro a meio de um Conselho Nacional, veio também defender a propostas perante os jornalistas. “Propus que todos os militantes ativos votem. Não são todos os que estão nos cadernos, mas todos os que têm a quota atrasada um ou dois anos. Mais do que isso, não. Só se pagarem. Assim, passamos de um universo de 20 mil/30 mil para um universo de 70 mil militantes. Para quem estava preocupado com legitimidade, aqui tem. Quem tem medo de eleições? Eu não tenho”.

Concelho Nacional do PSD (Partido Social Democrata). Disputa entre Paulo Rangel, candidato à liderança do partido social democrata e Rui Rio, atual presidente do PSD. Centro de Congressos em Aveiro. 6 de Novembro de 2021 TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

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Rangel rebateu isso, dentro de portas, tendo argumentado que “quando falamos no universo eleitoral e de saber quem deve votar e quem não deve votar, não devemos mudar as regras a meio do jogo“. E lançava o desafio: “Quero que me deem um exemplo num Estado democrático ou de um partido democrático em que as leis eleitorais tenham sido alteradas em pleno curso das eleições. Isso não pode ser”.

A meio da contenda, o presidente do Conselho de Jurisdição Nacional, Paulo Colaço saiu em defesa da posição de Rangel para dizer que aquele órgão, que entretanto reuniu, “entende que essa norma não pode ser violada e, portanto, a questão da votação sem pagamento por causa das quotas, não pode colher da parte da jurisdição.”

Rio de 2021 contra o Rio de sempre?

Os apoiantes de Rangel registaram que nesta jogada Rio foi até contra aquilo que sempre defendeu em matéria de abertura dos cadernos eleitorais. Rui Rio, em 2019, foi contra a ideia de abrir a votação a todos os militantes, quando membros da candidatura de Luís Montenegro o defendiam: “Aquilo que os regulamentos e estatutos dizem é que para eleger ou ser eleito é preciso ter a quota em dia, e diz isso há muitos anos, sempre foi assim”.

O presidente do PSD acrescentou ainda há dois que só apoiaria uma iniciativa desse género se as eleições fossem abertas também a simpatizantes como fez o PS em primárias. Agora voltou a dizer isso: “Primárias era o ideal”.

Mas nesta matéria o histórico de Rio no PSD — até quando foi secretário-geral do PSD liderado por Marcelo Rebelo de Sousa — sempre foi o de garantir que os militantes cumpram as suas obrigações, nomeadamente no pagamento de quotas. Mesmo como líder do PSD, Rui Rio tem sido extremamente escrupuloso no cumprimento destas regras, dando respaldo ao secretário-geral adjunto, Hugo Carneiro, para ter mão firme na hora de cobrar quotas e de equilibrar as contas do partido.

O próprio Paulo Rangel registaria esta mudança de posição de Rio no fim do Conselho Nacional: “É curioso que a pessoa que há mais de 30 anos faz campanha feroz contra abertura dos cadernos, defenda agora, por milagre, a abertura esta noite.”

As claques e a “elegância” de Rio e Rangel

Rui Rio e Paulo Rangel trocaram alguns mimos — no sentido não literal, mas mais amigável da palavra –, durante a noite. O atual presidente do PSD começou por lamentar como vão ser os próximos tempos no partido, enquanto o PS faz campanha: “Paulo Rangel vai atacar o Rio e o Rio vai atacar Rangel.”

Rio diz que esse ataque até pode ser “com elegância”, mas uma coisa é a teoria, outra é a prática: “Paulo Rangel foi à SIC, disse que o principal adversário era António Costa, e só me atacou a mim. Eu tinha ido no dia anterior à TVI e tinha feito mais ou menos a mesma coisa. Porque as coisas têm de ser assim. Nem eu vou elogiá-lo a pensar que pode vir a ser o candidato a primeiro-ministro, nem o contrário”.

Rangel estava mais otimista, mas acredita no seu bom senso e no do adversário, que apoiou há dois anos: “Numa eleição interna, se os dois adversários tiverem a estatura e o carácter, que eu creio [que neste caso] têm, não vão prejudicar o partido”. O eurodeputado quis depois marcar a diferença para o CDS e desafiou Rio: “Vamos aí sentar e conversar um pouco, para sair daqui com grande diferença para o país”. A ideia era chegar a uma data comum, mas não conseguiram. Ainda assim — com mais tática, menos tática — é raro ver dois adversários no PSD a terem este fair play em véspera de eleições.

As coisas só aqueceram noutros momentos e com outros protagonistas. Quando o eurodeputado José Manuel Fernandes estava a falar, Paulo Mota Pinto teve de intervir para travar o barulho de alguns protestos sala. O mesmo aconteceu em alguns momentos quando falou José Silvano e também Paulo Colaço. Mota Pinto chegou a ameaçar expulsar os observadores da sala. Era da parte dos observadores que vinha uma espécie de “claque”, mais audível no apoio a Rio do que a Rangel, que também tinha alguns observadores na sala.

O bailinho de Jardim (que não surtiu efeito)

“Alberto João Jardim já está em Lisboa”. Na informação e contra-informação das duas candidaturas, havia uma certeza logo na sexta-feira, o histórico do PSD e antigo líder do Governo regional iria ao Conselho Nacional, em Aveiro, para defender Rui Rio. Jardim já estaria no continente para esse efeito, o que se confirmou este sábado.

O ambiente era de guerra e o ‘general’ Jardim, começaria a intervenção no Conselho Nacional com linguagem belicista: “Quem trabalhou em formações militares, quando se tratava de fazer análise de situação, era normal perguntar: ‘Quem ganha com isto?’ E só depois é que se podia estabelecer uma estratégia em função da conclusão em que se chegasse.”

Ao seu estilo muito próprio, Alberto João Jardim começou por dizer que “toda a gente quer brincar às eleições ao mesmo tempo” e que quem ganha com isto é uma “aliança situacionista” que junta “a esquerda e alguma direita”.

Jardim definiu vários objetivos que o PSD devia ter, um deles retirar “peso às sociedades secretas e a outros lóbis”, mas identificando dois deles mais imediatos: “um deles, afastar partidos totalitários da área do poder; outro, “destruir dois colaboracionismo: colaboracionismo Costa-organizações comunistas e o colaboracionimo Marcelo-Costa”. Perante o pouco entusiasmo na sala, Jardim não se ficou: “Não venham fazer de virgens ofendidas e dizer que não se pode falar no senhor Presidente da República. Sá Carneiro enfrentou Eanes quando foi preciso. Cavaco Silva enfrentou Soares quando foi preciso.”

O antigo presidente do PSD/Madeira justificou depois o porquê do adiamento das diretas, alinhado com Rui Rio: “Só por ingenuidade ou hipocrisia se dirá que eleições internas não deixarão marcas e consequências graves”. Jardim não deixaria de deixar críticas veladas aos herdeiros do passismo, que culpou pela instabilidade interna no PSD: “As movimentações quer no PSD, quer no CDS, têm a mesma fonte, os que estiveram juntos no Governo entre 2011 e 2015.”

A proposta de Jardim — que o antigo presidente do PSD/Madeira chegou a pedir que fosse por voto secreto — acabou rejeitada com 68 votos contra, 47 a favor e um voto nulo.

Concelho Nacional do PSD (Partido Social Democrata). Disputa entre Paulo Rangel, candidato à liderança do partido social democrata e Rui Rio, atual presidente do PSD. Centro de Congressos em Aveiro. 6 de Novembro de 2021 TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

A urna onde foram colocados os votos secretos na proposta chumbada de Alberto João Jardim

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A “terceira via” na ajuda a Rio

Os apoiantes de Paulo Rangel desconfiam cada vez mais que Nuno Miguel Henriques, que se apresenta como a “terceira via”, estará de alguma forma a tentar ajudar Rio. E este Conselho Nacional deu mais força a essa argumentação. “Ele é próximo da Lina [Lopes] “, comentava um dos apoiantes de Rangel durante o Conselho Nacional para sugerir que o terceiro candidato à liderança do partido estava, de alguma forma, alinhado com Rio.

Concelho Nacional do PSD (Partido Social Democrata). Nuno Miguel Henrriques, candidato à liderança do partido, fala à imprensa, durante um curto intervalo do congresso. Centro de Congressos em Aveiro. 6 de Novembro de 2021 TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

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No púlpito, onde também discursou, Nuno Miguel Henriques, garantiu ser um candidato alternativo aos outros dois candidatos mais conhecidos, mas alinhou com as propostas de Rio. Desde logo, atacou a data de 27 de novembro, proposta por Paulo Rangel: “Foi aqui proposto a data de dia 27, mas os Autarcas Sociais Democratas têm o seu Congresso no dia 27”. Fora da reunião, aos jornalistas, Nuno Miguel Henriques diria mesmo que esta data proposta é “um pouco estranha”.

Nuno Miguel Henriques também sugeriu, embora não o tivesse dito diretamente, que a proposta de Rui Rio de abrir os votos a todos os militantes podia fazer sentido. “Temos de repensar o conceito de militante ativo. Temos de pensar o que é o verdadeiro militante, se é aquele que paga as quotas ou que participa na vida do seu partido, que participa nos órgãos concelhios, distritais, e se disponibiliza para batalhas autárquicas”, disse aos conselheiros.

Só por anunciar que era um possível candidato, Nuno Miguel Henriques já criou mais um constrangimento: abre-se a possibilidade de uma segunda volta, que, nem que seja em teoria, passa a ser uma hipótese a partir do momento que existe um mínimo de três candidatos. Isso condiciona o calendário eleitoral, já que acrescenta uma nova etapa. Tudo o que seja acrescentar mais complexidade ao calendário cria insegurança na candidatura de Rangel e favorece Rio — que é o líder em funções e tem dito que se sente legitimado para tomar qualquer decisão até ao final do mandato, em fevereiro.

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