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Sabe qual é a moeda que mais sobe em 2015?

A reta final de 2014 foi um pesadelo para Vladimir Putin, com a queda do preço do petróleo a atirar a economia russa para a recessão. Mas, depois da tempestade, parece estar a chegar (alguma) bonança.

Recorda-se dos apuros em que estava Vladimir Putin no final de 2014, com o preço do petróleo em queda livre, a economia russa a derrapar para a recessão e a moeda – o rublo – em mínimos históricos? Apuros que levaram o Observador a perguntar se estávamos perante um xeque-mate ao presidente russo? Menos de meio ano depois, por sinal, o cenário inverteu-se e, nestes primeiros meses de 2015, o rublo russo é a moeda que mais sobe em todo o mundo face ao dólar. O que explica que, depois da tempestade, alguns economistas estejam já a falar de bonança?

O rublo russo ganha mais de 15% face ao dólar em 2015 e mais de 32% face ao euro, com a moeda única penalizada, por seu lado, pelos estímulos do BCE. Em 2014, passou de ser possível comprar 33 rublos com um dólar para serem necessários mais de 60 rublos para comprar o mesmo dólar, uma desvalorização de mais de 45% da divisa russa naquele ano. Ao final da tarde desta segunda-feira, 52,5 rublos compravam um dólar. O desempenho da moeda, cuja queda livre o banco central teve de conter com várias subidas da taxa de juro, é visto como um espelho da saúde da economia russa. E, a julgar por esse indicador, o pior dos receios já terá passado.

Ponto de viragem na moeda russa foi no final de janeiro

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A divisa russa sobe quase 25% desde o final de janeiro. Nessa altura, um dólar comprava quase 70 rublos. Agora compra cerca de 52. Em agosto, contudo, comprava só 37 rublos. Fonte: Bloomberg

O momento de viragem parece ter sido o final de janeiro de 2015, altura em que o valor do rublo caiu para um mínimo histórico em quase 70 rublos por dólar. Desde então, a moeda recuperou quase 25% do seu valor face ao dólar e os analistas continuam a ver potencial para que a recuperação continue. Não só para o rublo mas, também, para a bolsa de Moscovo, que já ganha 20,2% desde o início do ano (em rublos). O que explica, então, que os especialistas estejam a mudar de opinião sobre o potencial da economia russa?

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A governadora do banco central russo, Elvira Nabiullina, elencou recentemente os principais fatores que, na sua opinião, estão a levar à apreciação do rublo. Em primeiro lugar, claro, a estabilização dos preços do petróleo na região dos 55 dólares por barril. A elevada dependência da economia russa das receitas com a venda de petróleo tinha sido o principal motivo para o rombo sofrido pelo rublo no final de 2014: é que a cotação do crude afundou-se quase 40% nos últimos três meses do ano transato. Nesta fase, o discurso do cartel da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), pelo menos da Arábia Saudita, é que “deverá continuar a aumentar a procura por vários tipos de energia, incluindo o petróleo”. A declaração do ministro saudita Ali al-Naimi vai ao encontro da estabilização que se tem sentido no mercado.

Petróleo estabiliza na casa dos 50 dólares

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A cotação do petróleo Brent desceu 39,44% entre o final de setembro de 2014 e o final do ano. Desde então, tem estabilizado na casa dos 50 dólares por barril. Fonte: Bloomberg

Para a governadora do banco central russo, contudo, há outros fatores em jogo. Elvira Nabiullina apontou para a redução dos pagamentos externos por parte das empresas russas nos próximos meses, ou seja, existe uma menor pressão nesta altura relacionada com a venda de rublos (por parte das empresas) para comprar dólares e reembolsar empréstimos e pagar fornecimentos em dólares. Algum efeito estará, também, associado ao facto de ser época de pagamento de obrigações fiscais, pelo que a procura por rublos estará a aumentar porque as empresas têm de converter dólares e outras moedas para pagar os impostos. Elvira Nabiullina referiu, ainda, por último, as sucessivas subidas das taxas de juro para travar a inflação e conter a “hemorragia” na cotação do rublo.

Os especialistas no mercado cambial acrescentam, contudo, mais dois motivos que estarão a ser determinantes. Em primeiro, o facto de a economia russa ter, apesar de tudo, crescido 0,4% no quarto trimestre, contrariando as expectativas de uma contração do produto interno bruto (PIB). Apesar de continuar a esperar-se uma contração na ordem dos 3,5% na economia russa em 2015, os últimos indicadores económicos têm saído menos negativos do que se previa e a escalada da inflação parece estar contida. Assim, nos mercados, os investidores estão a detetar um fundo e a fechar as posições que tinham a apostar na queda da moeda e das ações, através do short selling.

“Tem sido doloroso, o mercado está a ser espremido e não acredito que vá terminar em breve”, afirmou Luís Costa, analista especializado em mercados emergentes do Citigroup em Londres, citado pela Bloomberg. O mercado estará “espremido” porque a maré virou e está a crescer a quantidade de investidores que passou, agora, para o lado dos compradores o mais rapidamente possível. Isto porque, para quem tem uma posição curta, ou seja, a apostar na queda de uma ação, de uma moeda ou de qualquer outro ativo mobiliário, quanto mais o preço recupera menor é o lucro da operação. Veja o Explica-me acima para perceber, sucintamente, como funciona o short selling, ou a venda a descoberto.

Os analistas Inna Mufteeva e Nordine Naam, do banco francês Natixis, dizem em nota de análise enviada aos clientes na quinta-feira que “na ausência de grandes riscos financeiros (como uma nova queda do crude ou uma subida rápida das taxas de juro dos EUA) ou um aumento das tensões políticas, as pressões negativas sobre a divisa russa devem continuar a ser limitadas, abrindo caminho a uma estabilização ou, mesmo, uma continuação da apreciação do rublo russo nos próximos meses“.

Uma equipa de analistas do também francês Société Générale está menos otimista. “A economia russa vai ter uma aterragem brusca em 2015 – nós prevemos uma queda de 3,5% do PIB – com as rubricas do consumo e do investimento penalizadas pelo fator cambial, pelas taxas de juro elevadas [o reverso da medalha das subidas promovidas pelo banco central para conter a queda do rublo e a subida da inflação] e pela descida dos preços do petróleo”, escreve o banco em nota de análise emitida esta segunda-feira. É que, apesar da estabilização, poucos acreditam que os preços do petróleo irão recuperar em breve, pela que não se espera qualquer “bolsa de oxigénio” orçamental a Vladimir Putin a este nível.

"A economia russa vai ter uma aterragem brusca em 2015 – nós prevemos uma queda de 3,5% do PIB – com as rubricas do consumo e do investimento penalizadas pelo fator cambial, pelas taxas de juro elevadas e pela descida dos preços do petróleo".
Société Générale, em nota de análise enviada aos clientes

O caminho em frente não parece fácil, especialmente dada a capacidade limitada do governo para suportar o crescimento”, já que o défice orçamental rondará os 3,6% do PIB neste ano, acrescenta a equipa de analistas do Société Générale, liderada pelo estratego Benoît Anne. Apesar da melhoria da perceção de risco por parte dos investidores – uma melhoria que tem de ser vista à luz da queda livre que se vivia no final de 2014 – o Kremlin não terá um ano fácil para governar, sobretudo se não fugir à regra auto imposta, em 2013, que liga os gastos orçamentais ao preço do petróleo. E não se pode esquecer que as sanções económicas continuam e podem, mesmo, ser ampliadas pelo Reino Unido e pelos EUA.

Não se pode dizer, portanto, que “depois da tempestade, vem a bonança”, diz o Société Générale. No máximo, estaremos a falar de um final para a tempestade. O banco francês acredita que o ponto mais baixo para a atividade económica será no segundo trimestre de 2015, precisamente o momento em que nos encontramos, admitindo-se que no quarto trimestre a atividade económica já só esteja a contrair-se a uma taxa anual de 2%, potencialmente graças a alguma recuperação nos preços do petróleo até essa altura.

Como é habitual, os investidores (de ações mas, também, de divisas) estão a procurar antecipar o ponto de inflexão e, assim, os últimos desenvolvimentos no mercado podem ser uma indicação de que a recuperação na economia estará ao virar da esquina. Será nisso que acreditam os investidores que estão a apostar na recuperação ou, meramente, a fechar as posições curtas. Segundo a Bloomberg, pelo menos metade dos fundos da JPMorgan de mercados emergentes têm tido uma exposição menor à Rússia do que os principais índices determinam, mas a tendência está a inverter-se e muitos estão a comprar ativos russos para, pelo menos, alinhar a sua exposição com a receita dos índices. Em parte, também, porque tem sido menos negativo o fluxo de notícias em torno do conflito armado na Ucrânia – o fator que, salientam os analistas, continuará a ser determinante para a prestação da economia russa, a par da evolução do preço do petróleo.

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