895kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

Tank driving training of Slovak servicemen and women
i

Várias nações europeias possuem Leopard-2 na Europa

dpa/picture alliance via Getty I

Várias nações europeias possuem Leopard-2 na Europa

dpa/picture alliance via Getty I

"Tecnicamente superiores" aos russos, mas com um "problema de fundo": as vantagens e inconvenientes dos tanques Leopard-2

Os alemães Leopard-2 são dos mais avançados do mundo, mas problemas relacionados com a manutenção e quantidade podem não ser panaceia para guerra da Ucrânia. A resposta russa? Mais tanques soviéticos.

    Índice

    Índice

#Freetheleopards, ou, em português, #soltemosleopardos. Esta hashtag tem circulado no Twitter como forma de pressionar as autoridades alemãs para que estas forneçam os tanques Leopard-2 à Ucrânia (ou que deem pelo menos a autorização para que outros países o façam). O chanceler alemão, Olaf Scholz, tinha muitas dúvidas, mas várias vozes — até dos parceiros governamentais da coligação que governa a Alemanha — apelam a que seja dada a luz verde tão esperada por Kiev. Cedeu esta terça-feira, segundo uma notícia do Der Spiegel.

A Ucrânia insistiu para que Berlim cedesse. Antevendo uma contraofensiva na primavera com o objetivo de recuperar território perdido, e nunca colocando de parte um possível ataque russo, o Presidente ucraniano usou várias plataformas para reiterar o pedido dos Leopard-2 a Olaf Scholz. Em declarações ao Observador, António José Telo, professor catedrático de História na Academia Militar e especialista na área da Defesa e nas Relações Internacionais, considera que os tanques poderiam representar um verdadeiro “pulo” naquilo que são as capacidades ofensivas de Kiev.

Não é foi Kiev que exerce pressão sobre o executivo de Scholz. Na cena política alemã, os liberais alemães e os Verdes já se tinham posicionado a favor do envio dos tanques. Aliás, a ministra dos Negócios Estrangeiros, Annalena Baerbock, tinha sugerido, numa entrevista ao canal francês LCI transmitida no domingo, que a Alemanha daria o OK para que a Polónia enviasse os Leopard-2 para a Ucrânia.

Internacionalmente, a Polónia liderou uma espécie de coligação para tentar levar a Alemanha a ceder nas reservas ao envio destas capacidades bélicas para a Ucrânia. Em jeito de ultimato, os dirigentes políticos de Varsóvia chegaram a ameaçar avançar sem a autorização alemã, apesar do imbróglio judicial e diplomático que isso representaria. As três repúblicas Bálticas — Estónia, Letónia e Lituânia — juntam-se aos apelos, assim como a Finlândia e a Dinamarca. Até Portugal, segundo o Presidente ucraniano, terá manifestado intenções de enviar Leopard-2 para a Ucrânia, informação que nunca foi confirmada pelo Ministério da Defesa Nacional.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Chegou, esta terça-feira, ao fim a resistência alemã. Em declarações ao Observador há duas semanas, Liana Fix, cientista política alemã e membro do think tank Council on Foreign Relations, já antecipava que seria uma “questão de tempo” até que o “governo alemão concord[asse] em entregar os Leopard-2”. Como é que agora será concretizado o envio de tanques? Que diferença é que farão no terreno? Haverá entraves? Como é que a Rússia reagirá?

Quem estaria disposto a entregar tanques?

Várias nações europeias possuem Leopard-2 na Europa, uma situação que não é habitual. Como lembra o major-general José Arnaut Moreira ao programa Domínio da Guerra da Rádio Observador, os países com uma “indústria de defesa forte” idealizaram e depois produziram os seus próprios tanques durante a Guerra Fria. Os britânicos optaram pelo Challanger-2, os franceses pelo Leclerc, os italianos pelo Ariete e os alemães pelo Leopard-2.

A soldier in a German Leopard 2 Main Battle Tank holds an

Leopard-2 na Grécia

LightRocket via Getty Images

Apenas os Leopard-2 foram “exportados” para outros países, havendo, por conseguinte, uma “difusão” destes tanques “nos exércitos europeus”. “É por isso que está distribuído por mais de 13 países”, explica José Arnaut Moreira. Em termos logísticos, a opção é a mais conveniente, quer no que diz respeito a peças e munições disponíveis quer no que concerne ao treino que eventualmente terá de ser fornecido a militares ucranianos. Aliás, a nota que o Ministério da Defesa Nacional divulgou na sexta-feira dava conta de que Portugal estaria disponível para treinar as forças de Kiev.

“Ministra alemã cai (também) por causa do caso Leopard”

“Todos os 13 países podem dar um contributo, ainda que não muito significativo”, indica o major-general, definindo os Leopard-2 como o “denominador comum” entre os exércitos europeus. Desde a Grécia a Portugal, no gráfico em baixo é possível verificar o número de tanques de que cada país dispõe no seu arsenal.

Até ao momento, a Polónia e a Finlândia manifestaram-se dispostas a enviar os Leopard-2 para território ucraniano. Também a Eslováquia e a República Checa estão a pensar fazê-lo, pese embora o reduzido número que possuem atualmente no seu arsenal. A Dinamarca e a Noruega também acompanham a vontade daqueles quatros países, mas necessitam do aval alemão para tomarem uma decisão definitiva. O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, também referiu que Portugal e Espanha estariam disponíveis para enviar os tanques, mas Lisboa e Madrid nunca o oficializaram.

Os entraves que podem vir a surgir

Caso se consiga formar uma frente unida de países dispostos a enviar tanques para a Ucrânia, há, para começar, um entrave inicial: os militares ucranianos não estão habilitados, nem treinados, para os manusear. É necessário, portanto, que recebam formação para que os consigam utilizar, o que significa que o uso no terreno poderá demorar ainda alguns meses.

Antes disso, porém, é necessário avaliar em que condições se encontram atualmente os Leopard-2, antes de serem enviados para a Ucrânia. Num tom irónico, o porta-voz do Kremlin, Dymtry Peskov, assinalou que os tanques podem “criar problemas” às autoridades ucranianas. À exceção da Polónia, que já avançou que vai enviar 14 carros de combates, nenhum país adiantou quantos carros de combate estaria disposto a (ou em condições de) abdicar — nem deu detalhes sobre os mesmos.

António José Telo refere que este é mesmo o “problema de fundo”. “As condições dos tanques em muitos países europeus não são as melhores”, nota o especialista, que exemplifica com os noruegueses, que “teriam de passar por um período de revisão técnica”, de modo a recuperá-los e a proceder a melhorias e/ou a atualizações de certos componentes tecnológicos e mecânicos.

"As condições dos tanques em muitos países europeus não são as melhores"
António José Telo, professor catedrático de História na Academia Militar e especialista na área da Defesa e nas Relações Internacionais

Isto ainda dá azo a outro obstáculo. É que essa recuperação teria de idealmente ser feita no país de fabrico, ou seja, na Alemanha. Não se trata, por conseguinte, de dar somente uma autorização para o envio de carros de combate — as autoridades germânicas também teriam de recuperar alguns dos tanques e modernizá-los. Embora António José Telo sublinhe que existem “alternativas”, essas seriam “mais demoradas” — e levaria ainda mais tempo a que estes equipamentos chegassem à Ucrânia.

“A maior parte dos países não tem capacidade para isso, pelo menos em tempo útil, portanto implicaria um empenhamento da Alemanha”, concretiza António José Telo, que refere que os tanques portugueses também poderiam ter de passar por esse processo na eventualidade de o Governo se decidir pelo seu envio.

As vantagens dos Leopard-2

À parte todos estes problemas logísticos e de transporte que possam vir a emergir, o facto é que os Leopard-2 fariam a diferença no terreno, sendo considerados um dos mais robustos na indústria militar. Com um peso na ordem das 62,5 toneladas, os tanques podem atingir velocidades na ordem dos 70 quilómetros por hora e, em andamento, podem atingir alvos que se encontrem a uma distância de até quatro quilómetros. Conseguem, inclusive, transpor obstáculos com mais de um metro de altura.

Existem já várias versões destes tanques com ligeiras modificações e melhorias relativamente à versão original desenvolvida nos anos 70 — desde os Leopard A6 (que são os que Portugal possui) até aos PL, que são exclusivos da Polónia.

Defence Minister Lambrecht Visits Bundeswehr Tank Brigade As Germany Considers Deploying More Troops To Lithuania

Um Leopard A6 (à esquerda), um Leopard 2PL (à direita)

Getty Images

Em todas as adaptações existentes, o certo é que estes tanques, caso sejam empregues na guerra da Ucrânia, seriam dos primeiros do Ocidente a estar no terreno — a par dos britânicos Challanger-2. Até ao momento, durante o conflito, a Rússia e a Ucrânia têm usado carros de combate da época soviética (como os T-72 ou os T-90), inferiores em termos tecnológicos e menos capazes em comparação com os Leopard-2.

Segundo António José Telo, os Leopard-2 seriam “tecnicamente superiores” a tudo o que a Rússia tem empenhado na Ucrânia. Em consequência, o especialista na área da Defesa considera que os tanques de fabrico alemão representariam um “pulo importante”, que poderia dar uma vantagem para o lado ucraniano na evolução do conflito — ainda que o peso dos números penda para o lado russo, que tem à sua disposição (segundo números apontados por especialistas militares), largas dezenas de tanques soviéticos — seriam cerca de 11 mil, no início da guerra, e a Ucrânia garante já ter abatido ou capturado cerca de 3 mil.

Mas nem são tanto as configurações técnicas ou a inovação na linha da frente na Ucrânia o mais importante para fazer face a uma ofensiva russa. Tal como o major-general Arnaut Moreira salientou ao Observador, vários países possuem munições e peças dos Leopard-2. Ora, esta “difusão” acaba por ser benéfica, já que permite transformar estes tanques numa solução padrão, tornando mais fácil o treino e a sua eventual reparação.

A resposta da Rússia

Os apelos da Ucrânia à Alemanha e o posicionamento de vários países levam a que a Rússia já tenha reagido ao possível envio de tanques. O vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, Dmitri Medvedev, disparou que os carros de combate vão “arder”, tal como todo o armamento ocidental. O porta-voz do Kremlin, Dmytro Peskov, desvalorizou o fornecimento e sublinhou que “não vão mudar nada no terreno”, atirando que o povo ucraniano vai ser quem “sofre” com as entregas. Além disso, o responsável pela comunicação da presidência russa sinalizou que, com estas movimentações, umas eventuais negociações de paz entre Kiev e Moscovo estão cada vez mais distantes.

epa10376492 Kremlin spokesman Dmitry Peskov attends a news conference of Russian President Vladimir Putin following a meeting of the State Council on implementing the youth policy in current conditions, at the Kremlin in Moscow, Russia 22 December 2022.  EPA/VALERIY SHARIFULIN/SPUTNIK/KREMLIN POOL MANDATORY CREDIT
"Tanques do Ocidente não vão mudar nada no terreno"
Dymtry Peskov, porta-voz do Kremlin

Em termos diplomáticos, a resposta da Rússia consiste na condenação inequívoca e na desvalorização do papel dos tanques no terreno. Contudo, por muito que tentem negar, as forças leais a Moscovo terão mesmo mais um desafio a enfrentar no campo de batalha. 

Em resposta ao poderio do Ocidente, a Rússia deverá responder com “quantidade”, antevê António José Telo. Dito doutro modo, Moscovo vai retaliar ao enviar mais carros de combates. Estima-se que, em 2021, o arsenal russo fosse composto por cerca de 11 mil tanques, na sua maioria peças de produção da época da União Soviética. As autoridades ucranianas referem que, desde o início do conflito, destruíram 3.150. Isto significa que, numa contagem por alto, a Rússia possui ainda 7.850, descontando-se, nesta contabilização, quaisquer novos equipamentos que tenham sido recuperados ou fabricados (o que, a ter acontecido, nunca conseguiria suplantar o ritmo a que estes equipamentos são inutilizados ou danificados no campo de batalha).

“As quantidades são significativas”, aponta António José Telo, que diz que é por isso que a Ucrânia “não está a exagerar”, quando pede cerca de 300 tanques ao Ocidente. “A ameaça que enfrenta é elevada.” Por exemplo, ainda esta segunda-feira, o diretor do gabinete presidencial ucraniano, Andriy Yermak, frisou que a Ucrânia necessita de “centenas de tanques e não de 10 ou 20” para fazer frente à agressão russa.

epa09187368 Russian T-72B3M tanks take part in the Victory Day military parade in the Red Square in Moscow, Russia, 09 May 2021. The Victory Day military parade annually takes place 09 May 2021 in the Red Square to mark the victory of the Soviet Union over the Nazi Germany in the World War II.  EPA/MAXIM SHIPENKOV

O tanque soviético T-72B3M

MAXIM SHIPENKOV/EPA

Esta não é a única forma de a Rússia responder aos tanques do Ocidente. O professor catedrático de História na Academia Militar fala ainda de um carro de combate que pode ser comparado ao Leopard-2 ou ao Challanger-2: o T-14 Armata, o mais avançado que Moscovo possui.

Um relatório do Ministério da Defesa britânico da passada quinta-feira mostra que a Rússia estava a “considerar colocar um pequeno número dos T-14 Armata no terreno”. “Em dezembro de 2022, imagens de satélites revelavam os T-14 numa área onde realizam treinos no sul da Rússia. O local está associado ao início das atividades antes da operação da Ucrânia”, alega Londres.

Russia Holds 75th Anniversary Victory Parade Over The Nazis In WWII

Os tanques T-14 Armata

Host Photo Agency via Getty Imag

Embora vários meios de comunicação russo noticiassem essa possibilidade, o Ministério da Defesa britânico considera que essa decisão seria de “alto risco”, visto que os T-14 Armata ainda estão em “fase de desenvolvimento”. “Há ainda um desafio adicional para a Rússia que passa por ajustar a sua cadeia logística para aguentarem os T-14 porque estes são maiores e mais pesados do que os restantes tanques.”

Com menos de 20 tanques T-14 Armata no seu arsenal, o uso no terreno seria apenas para “motivos propagandísticos”, não se esperando grande eficácia na sua utilização. “É o que se pode chamar tanque de parada”, comenta António José Telo, que lembra que, em cerimónias militares, este carro de combate é mostrado como uma espécie de joia da coroa. Mas não passa disso, já que nunca foi utilizado no terreno, ao contrário dos Leopard-2 ou dos Challanger-2.

Especial atualizado às 18h40 com a informação de que a Alemanha enviará tanques para a Ucrânia

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça até artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.