Fernanda Martins, de 84 anos, e Maria, de 77, ficaram as melhores amigas, tal qual um duo de adolescentes inseparáveis, no projeto de empreendedorismo social A Avó Veio Trabalhar. A chegada da pandemia não interrompeu o hábito das conversas diárias. Pelo contrário, reforçou-o, sobretudo depois de Fernanda ficar temporariamente desalojada. A Proteção Civil identificou o apartamento onde morava, no Bairro Alto, como estando em risco de colapso e a amiga Maria prontificou-se a oferecer teto. Estão a viver juntas há quatro semanas, o que significa que estão a passar o segundo confinamento na companhia uma da outra. “Eram duas pessoas que viviam sozinhas há imenso tempo, tivemos receio que pudesse dar faísca”, comenta Ângelo Campota, mentor do projeto. Mas a coisa tem corrido bem: partilham as despesas e as tarefas da casa, e fazem serões juntas. Às vezes, diz, estão até às três ou quatro da manhã a conversar.

“A Maria é como se fosse uma pessoa da minha família. Não tinha essa companhia no primeiro confinamento, embora eu seja uma pessoa muito alegre. Costumo dizer que sou uma bocadinho maluquinha”, diz a “avó” Fernanda ao Observador. A pandemia trouxe circunstâncias inesperadas e aproximou ainda mais as duas mulheres, reforçando os laços de amizade num momento de apreensão e medo generalizados. A sociedade pode estar de portas trancadas mas, agora, é mais fácil as “avós” continuarem a fazer “parvoíces” e a descobrir segredos uma da outra: Fernanda nunca diria que Maria, mais reservada, tem o hábito de andar pela casa a cantar.

Porque perdemos (e como mantemos) amigos ao longo da vida?

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