Índice
Índice
2 de março de 2022. Uma semana depois de Vladimir Putin ter ordenado às suas tropas que invadissem todo o território da Ucrânia, chegava a primeira grande vitória: a tomada de Kherson. Parecia ser o início de uma guerra que o Kremlin perspetivava como fácil e esta conquista simbolizava-o, uma vez que a cidade de 250 mil habitantes estava fora das autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Lugansk — em que uma guerra civil irrompera oito anos antes. Desde então, a região tem sido governada por uma administração pró-russa e foi mesmo marcado um referendo para a anexação na Federação Russa, mas este nunca chegou a ser realizado.
Até o final do mês passado, a Ucrânia parecia mais focada em conter os avanços russos na região de Donbass, mas agora mudou a estratégia e anunciou mesmo uma contra-ofensiva em Kherson (no flanco sul), almejando retomar o seu controlo. Inicialmente envolta em grande secretismo, a operação corria de feição às tropas leais a Kiev, registando-se algumas vitórias em territórios nos arredores da cidade. Mas nada fazia prever que se trataria, afinal, de um golpe de contra-informação para desencadear outra operação ofensiva noutro local: Kharkiv, no norte.
Com estas operações, a Ucrânia demonstrou, pela primeira desde o início da guerra, que também conseguia adotar postura de contra-ataque com sucesso, isto numa altura em que algumas debilidades das tropas de Moscovo começam a ficar a nu. Os últimos dias têm trazido “boas notícias”, considera Peter Dickinson, analista do think tank Atlantic Center e editor da revista UkraineAlert. “O desempenho nos últimos dias é extremamente positivo e encorajador”, disse ao Observador a partir de Kiev.
Ukrainian forces entered the key Russian military stronghold of Izium on Saturday, continuing their rapid advance across the northeast and igniting a dramatic new phase in the war.
"Izium was liberated today," the city’s mayor said in an interview. https://t.co/zJLzsTagez pic.twitter.com/il1xXXPG46
— The New York Times (@nytimes) September 10, 2022
Velikiy Burluk, Balakiya, Dnipro, Lyman, Kupiansk e Izyum. A lista de cidades que a Ucrânia está a conseguir retomar o controlo é extensa. Quinta-feira falava-se em 30 locais. Em quilómetros, desde o inicio de setembro, são já 3.000 quilómetros quadrados reconquistados.
A própria Rússia já admitiu a retirada de tropas em quase toda a região de Kharkiv, mesmo sob a alegação que o objetivo era o de “reagrupar” as suas forças e não poupando críticas ao que dizem ser “encenações” e “movimentos de distração” do lado de Kiev.
Os ventos sopram a favor da Ucrânia nesta fase da ofensiva, ao passo que este talvez seja o momento mais complicado para a Rússia. 200 dias depois de Vladimir Putin ter ordenado a invasão, será este o ponto de viragem, estando a desenhar-se uma vitória ucraniana no horizonte?
Como a Ucrânia enganou russos (e não só) com um golpe de contrainformação para recuperar território
Ucrânia vai libertando territórios, russos fogem “apressadamente”
A contra-ofensiva em redor de Kharkiv está a despertar a atenção de todo o mundo pela eficácia e pela velocidade com que está a ser feita. De acordo com o relatório do Instituto para o Estudo da Guerra, as forças ucranianas conseguiram, em apenas cinco dias, “penetrar as linhas russas numa profundidade de 70 quilómetros em alguns locais e capturar mais de três mil quilómetros quadrados”.
Se se comparar com os sucessos das tropas afetas à Rússia, os números ainda impressionam mais. Desde 6 de setembro, as tropas da Ucrânia conseguiram reconquistar “mais território do que as forças russas em todas as suas operações desde abril”, lê-se no relatório. Ou seja, Kiev teve mais avanços em apenas cinco dias do que Moscovo em cinco meses.
O avanço foi tão surpreendente, que, de acordo com o conselheiro ucraniano do ministério do Interior, Anton Gerashchenko, “os soldados russos fogem tão rápido que deixaram” cerca de metade do “seu equipamento” militar nas regiões agora reconquistadas pela Ucrânia.
Today our military accepted first lend lease supplies from Russia in Izyum (that's a joke, of course. I will mark my jokes for some time now).
Russian soldiers fled so fast they left half of their equipment. pic.twitter.com/6WeHs1LZ3A
— Anton Gerashchenko (@Gerashchenko_en) September 11, 2022
“A contra-ofensiva ucraniana em Kharkiv está a derrotar e obrigar à retirada das forças russas, colapsando o eixo norte de Donbass”, refere o documento publicado este domingo pelo Instituto para o Estudo da Guerra, que diz ainda que as “forças russas não estão a conduzir uma retirada controlada e estão a fugir apressadamente para escapar ao cerco em redor de Izyum”.
Até a própria Ucrânia está “surpreendida” como a maneira “ineficaz” com que os russos se retiraram. Ao The Guardian, Serhiy Kuzan, especialista militar no Centro Ucraniano de Segurança e Cooperação, indica que as tropas de Moscovo “estavam tão confiantes que nem prepararam a defesa”, o que originou uma fuga precipitada. “A retirada faz parte da arte da guerra. Mas quando [as tropas ucranianas] se retiravam, havia a garantia de que os russos sofriam perdas à medida que avançavam”, compara.
Os próximos dias deverão continuar a trazer boas notícias para o lado ucraniano, se se confirmar a tomada completa de Izyum, uma cidade estrategicamente importante. “As forças de Kiev deverão reconquistar completamente a cidade de Izyum nas próximas 48 horas”, antevê o relatório, algo que seria “a conquista mais significativa da Ucrânia desde a vitória na batalha de Kiev em março”.
O motivo daquela cidade ser tão importante? O documento esclarece que a tomada de Izyum “eliminaria o avanço russo no noroeste da região de Donetsk na autoestrada E40 que as forças russas usam para controlar as posições ucranianas entre Slovyansk e Kramatorsk”. “O cerco bem sucedido às tropas de Moscovo resultaria na morte ou na captura de soldados”, lê-se, algo que levaria a uma diminuição “no número de soldados russos no terreno” e também seria um golpe para “a moral” das forças afetas ao Kremlin — que se poderia estender a outras partes do país.
Descontentamento com a ofensiva cresce na Rússia
O Ministério da Defesa russo tem, por sua vez, insistido na narrativa que esta retirada foi estratégica. No entanto, os programas da televisão estatal, em que propagandistas do Kremlin discutem o atual estado da ofensiva, mostram o contrário. “É muito problemática [a retirada], toda a gente está muito stressada. Nós esperamos e acreditamos que não haja pânico, nem o vamos permitir. Desejamos sucesso às nossa tropas”, confessou a apresentadora do talk show, Olga Skabeyeva.
Watch this roundup of clips, featuring panicked Kremlin propagandists on several state TV programs, discussing impressive gains by Ukraine's Armed Forces in reclaiming control over Ukrainian territory. More in my article ⤵️https://t.co/WKx3JVtvkn pic.twitter.com/8CYDRpB85X
— Julia Davis (@JuliaDavisNews) September 9, 2022
“Os propagandistas do Kremlin aparentaram estar desorganizados nas suas narrativas, alguns confirmando as libertações de cercas cidades enquanto outros o negam”, lê-se no relatório para o Instituto da Guerra, que acrescenta que os “comentadores são incapazes de apoiar as narrativas” de que os avanços ucranianos “não são significativos para o eixo de Donbass”. “Estes programas podem revelar o real progresso da ‘operação militar especial’ russa ao público russo que confia nos media estatal.”
Além disso, este domingo surgiu uma crítica inesperada que parece dar credibilidade aos rumores de que existe mal-estar no Kremlin com o atual desempenho da operação militar. Ramzan Kadyrov, o controverso líder checheno que sempre foi um dos mais importantes aliados de Putin, criticou a “estratégia” que a Rússia tem seguido na guerra e pediu “mudanças imediatas” no Ministério da Defesa.
“Se não houver mudanças na forma como a operação especial está a ser conduzida… Serei obrigado a contactar a liderança do país”, sinalizou Ramzan Kadyrov, num recado dirigido a Vladimir Putin. “Se a Rússia quisesse, podia ter dado ordem para não recuar… Portanto tem de se explicar por motivo é que não o fizeram. Sinto que as pessoas não estavam preparadas para isto.”
De que forma é que Moscovo reagirá a esta contra-ofensiva no norte permanece uma incógnita. Para Peter Dickinson, “ainda não é claro” o que a Rússia fará a seguir para reconquistar os territórios recentemente perdidos. Ainda assim, o especialista aponta que o Kremlin terá dificuldades em reagir aos avanços ucranianos, por causa da “falta de equipamento militar”: “Até tem de recorrer à Coreia do Norte para comprar foguetes de artilharia e ao Irão para adquirir drones”.
Sem alternativas, Putin compra material militar à Coreia do Norte
“Não parece que neste momento a Rússia tenha capacidade para lançar uma grande contra-ofensiva”, vaticina Peter Dickinson, acrescentando que o Ocidente muitas vezes “sobrevaloriza” as capacidades militares que Moscovo muitas vezes quer fazer transparecer. “Na Ucrânia, costuma dizer-se que um dos maiores aliados é a corrupção nas forças militares russas”, nota.
Porém, o analista ressalva que ainda existem “riscos” para as tropas ucranianas. “Não quero traçar um cenário em que não há riscos para o lado de Kiev. A Rússia continua a ter uma grande capacidade militar e tem uma grande capacidade de ataque aéreo, que ainda não desempenhou um grande papel nesta guerra”, esclarece, prevendo que os próximos meses continuarão a ser “difíceis”.
Kherson: a operação de bandeira falsa que também regista avanços (e que enganou os russos)
As tropas ucranianas anunciaram uma contra-ofensiva em Kherson, antes de avançaram com a operação no norte, esta última que está a conseguir ganhos importantes a Kiev. Ainda assim, a operação no sul também não está a correr propriamente mal. Com uma estratégia baseada em ataques surpresa e com o objetivo de obrigar os russos a render-se, Peter Dickinson rejeita, para já, que Kiev desencadeie uma “grande e tradicional batalha” nos territórios meridionais.
“Os russos têm cerca de 25 mil soldados na margem ocidental do rio Dnipro”, explica, referindo que isso leva a que as tropas ucranianas redobrem os cuidados no teatro das operações. Em vez de uma grande ofensiva, a Ucrânia está “taticamente a tentar isolar” a cidade de Kherson. Para tal, o analista sublinha que o objetivo de Kiev é “cortar as cadeias de abastecimento da Rússia e destruir pontes”. No último fim de semana, as tropas ucranianas conseguiram deitar abaixo parte da ponte Antonovsky, fundamental para os russos se reforçarem com mantimentos e armas.
Antonivsky bridge, view from a pontoon crossing.
Ukrainian Army hit the bridge again, local media report. pic.twitter.com/Btn1HORgrb
— Anton Gerashchenko (@Gerashchenko_en) September 4, 2022
Caso a estratégia resulte, o analista do think tank Atlantic Center prevê que os soldados russos sejam “capturados” e “feitos prisioneiros de guerra”. “É o objetivo de Kiev capturar o máximo de soldados possível”, prossegue o especialista, acrescentando que isso causará baixas importantes no exército russo, além de dar uma importante moeda de troca à Ucrânia para uma futura troca de prisioneiros.
Se no norte os êxitos se somam diariamente, em Kherson a história parece ser diferente. Alan Cafruny, professor de Relações Internacionais na Universidade de Hamilton, em Nova Iorque, sublinha ao Observador que “a destruição de pontes sobre o rio Dnipro permitiu cortar parcialmente as conexões entre as forças russas e as suas linhas de abastecimento, mas foi recuperado muito pouco território”.
Além disso, de acordo com o professor universitário, Kiev tem duas frentes ativas em Donetsk e agora em Kharkiv. “São as batalhas principais da Ucrânia”, reconhece, apontando que o país, em função disso, pode apenas “mobilizar algumas companhias de infantaria” para Kherson. Alan Cafruny não acredita numa reconquista ucraniana tão cedo, antevendo a criação de novas “frentes estáticas”, ou seja, uma situação de impasse entre as tropas ucranianas e as russas no sul. “Será mais um cenário de uma guerra de desgaste.”
Por seu turno, Peter Dickinson é mais otimista e aponta que as “perspetivas são encorajadoras” para a Ucrânia — “muito melhor do que a maioria das pessoas pensam” —, salientando que Kiev vai receber mais armamento do Ocidente, o que vai permitir responder de forma mais musculada às forças russas. Mesmo que Kherson seja reconquistada, a guerra no sul da Ucrânia (incluindo cidades como Mariupol ou Berdyansk) “está durar para os próximos meses”.
Peter Dickinson explica que a Rússia enviou tropas para o sul: “Estão a trazer mais e mais soldados”. Os russos vão “obviamente dar luta”, garante, já que “precisam daquele território” para segurar toda a região e a Crimeia. O relatório do Instituto para o Estudo da Guerra assinala também que as forças russas — após o anúncio da contra-ofensiva em Kherson — “enfraqueceram o eixo do norte” e colocaram mais soldados no sul, o que torna mais difícil para Kiev conquistar a região em redor de Kherson.
Por que motivo é que a Ucrânia está desencadear agora estas contra-ofensivas?
A Ucrânia apenas adotou uma posição mais ofensiva seis meses depois da invasão ter começado, sendo que até então focava-se na defesa do território. Uma das razões para o timing destas contra-ofensivas prende-se com a ajuda do Ocidente, nomeadamente o armamento que Kiev foi recebendo nos últimos meses. “A Ucrânia está a renovar o arsenal com as entregas de armas dos parceiros”, sustenta Peter Dickinson, que frisa que a Rússia tem tido mais dificuldades em fazê-lo devido às sanções impostas pelos Estados Unidos e pela União Europeia.
Outro dos fatores a ter em conta é que a Ucrânia está a conseguir “treinar os soldados” de forma eficaz, aumentando a presença militar no terreno. “Muitos recrutas foram treinados nos últimos meses e podem deslocar-se para certas partes da Ucrânia somente agora”, diz Peter Dickinson.
A Ucrânia também “precisa de agir”, sugere o analista, que fundamenta que a Rússia está a tentar “anexar artificialmente” os territórios que ocupou. Ora, isso faz com que a resposta ucraniana tenha de ser célere, uma vez que “mudaria a situação geopolítica” de oblasts como Kherson, Donetsk ou Lugansk. Com a integração das regiões na Federação Russa, Moscovo pode argumentar que uma ofensiva ucraniana é um “ataque ao território russo” — esta que é a doutrina que o Kremlin usa para justificar “a utilização de armas nucleares”.
Mesmo sem o reconhecimento por parte das Nações Unidas ou de outros países, a realização de um referendo é “um jogo perigoso“, que pode levar a Rússia a mudar as regras a qualquer momento. Caso os territórios fossem integrados na Rússia, Peter Dickinson é também da opinião que Moscovo teria mais soldados à disposição, forçando-os a lutar nas Forças Armadas Russas.
O referendo convocado pela Rússia foi adiado — a primeira vez para 4 de novembro, agora indefinidamente — devido aos avanços da contra-ofensiva. Na ótica de Peter Dickinson, essa foi a “primeira grande vitória” para a Ucrânia. “Foi um grande passo para Kiev”, que evita, deste modo, “a anexação de forma perpétua” dos territórios que agora ainda podem caracterizados como temporariamente ocupados pela Rússia.
Mas não foram apenas as armas do Ocidente e a pressa de evitar a anexação de territórios que pesaram no desencadear destas operações ofensivas — a Ucrânia também quis passar uma mensagem aos parceiros que têm contribuído para a sua defesa. O regime do Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, pretendeu, de acordo com Alan Cafruny, “enviar um sinal positivo à NATO, numa altura em que os preços da energia aumentaram exponencialmente e o apoio à guerra está a começar a diminuir, especialmente na Europa Ocidental”.
A Ucrânia receava que, por conta das dificuldades como a inflação ou aumento do preço de gás, o apoio à guerra começasse a esmorecer — e que tal significasse menos armas. “O perigo é que o inverno está a chegar. As pessoas podem ficar cansadas. A Rússia vai usar a chantagem energética e isso pode levar a que se repensem certas prioridades”, afirma Peter Dickinson.
Segundo o analista, a “Ucrânia precisa de mostrar que pode parar a Rússia, que pode forçar as tropas russas a recuar, que as pode pressionar. Não se podia esperar até novembro e dezembro. Tinha de se mostrar agora que há uma razão para continuar a apoiar a causa ucraniana e enviar mais armas”.
Peter Dickinson traça um paralelismo com o que aconteceu na primeira semana de guerra, em que a queda de Kiev e a do regime de Zelensky parecia iminente. Na altura, “o Ocidente estava relutante na decisão de enviar armas para Ucrânia. A maioria dos parceiros estavam à espera e acreditava que a resistência ucraniana durava uma ou duas semanas”. Mas quando “a Ucrânia começou a defender-se e a derrotar a Rússia” nos arredores da capital, tudo mudou “de um momento para o outro”. “Os Estados Unidos, o Reino Unido, França e até a Alemanha começaram a fornecer mais armas. Entenderam que a Ucrânia podia ganhar no campo de batalha.”
O Presidente da Ucrânia admitiu implicitamente esta estratégia ao dizer que acreditava que o “inverno podia ser o ponto de viragem da guerra e poderá levar a uma rápida desocupação da Ucrânia”. Num discurso conferência de Yalta este sábado, Volodymyr Zelensky notou que os russos “estão a fugir”. Ainda assim, se as tropas ucranianas tivessem armamento “mais forte”, a Ucrânia podia ser “desocupada mais rapidamente”.
“Precisamos de armas, munições, apoio político e financeiro. Precisamos de preservar a unidade dos nossos parceiros e a sua disponibilidade para ajudar. Para ajudar sem que o tenhamos que o dizer”, vincou o chefe de Estado ucraniano durante a conferência.
Nos próximos tempos, Peter Dickinson acredita que o Ocidente vai continuar a apoiar a Ucrânia. “Países como a Polónia, a República Checa, a Eslováquia e os Bálticos farão tudo para que isso aconteça. Eles sabem que são os próximos se Kiev cair”. O apoio britânico, com a nova primeira-ministra, também se deverá manter: “Liz Truss quer mostrar que é forte”.
Apesar de reconhecer que em “alguns países vai haver pressão” para que termine a solidariedade à causa ucraniana, Peter Dickinson reforça que tal não vai influenciar o apoio quer em termos de armamento, quer em termos políticos. “Eu penso que a Rússia interpretou mal a situação e cometeu um erro de cálculo. Eles pensaram que a Europa se ia dividir, mas não penso que vá acontecer”, remata o analista.