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Ryan Wesley Routh, de 58 anos, é o suspeito de uma tentativa de assassinato de Trump

AFPTV/AFP via Getty Images

Ryan Wesley Routh, de 58 anos, é o suspeito de uma tentativa de assassinato de Trump

AFPTV/AFP via Getty Images

Um pai "amoroso", "trabalhador" e disposto a morrer pela Ucrânia. Quem é Ryan Wesley Routh, o suspeito de tentar assassinar Trump?

O voto em Trump nas presidenciais de 2016 (e a desilusão que se seguiu), o apoio à Ucrânia, o desejo de lutar contra as tropas russas e os problemas com a justiça. A história de Ryan Wesley Routh.

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Um pai “amoroso e atencioso”, um homem “honesto e trabalhador”. A descrição foi feita por Oran Routh, filho de Ryan Wesley Routh, instantes após o pai ter sido detido por suspeitas de uma alegada tentativa de assassinato de Donald Trump quando o candidato republicano jogava golfe em West Palm Beach, na Florida. Apesar de recentemente estarem mais afastados, devido a um “desentendimento” sobre o qual evita falar, o filho defendeu que o pai não é uma pessoa violenta e disse não acreditar que visasse o ex-Presidente norte-americano.

“Isso é de loucos. Eu conheço o meu pai e adoro-o, mas isso não é nada parecido com ele”, afirmou Oran Routh após ter sido contactado este domingo pelo Daily Mail. Foi nesse momento que teve conhecimento das suspeitas que recaíam sobre o pai, que pensava que estava no Havai, onde vive desde 2018, ao invés da Florida. O homem foi, esta segunda-feira, acusado por posse ilegal de arma e de apagar o número de série.

É um trabalhador esforçado e um ótimo pai. É um homem porreiro e simpático, que trabalhou toda a vida”, salientou, garantindo não ter conhecimento de que o pai tivesse uma arma.

Ryan Wesley Routh, de 58 anos, passou a maior parte da sua vida na Carolina do Norte, antes de se mudar para Kaaawa, na ilha de Oahu, no Havai. Em 2018 fundou uma empresa de construção, a Camp Box Honolulu, que constrói barracões e pequenas casas acessíveis para a comunidade de sem-abrigos. Licenciou-se em 1998 na Universidade Estadual Técnica e Agrícola da Carolina do Norte e, nas redes sociais, descreve-se como uma pessoa “enérgica” e “incansável”, que está “constantemente focada em contribuir o mais possível para a comunidade”.

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FBI investiga o que “parece ser (mais) uma tentativa de assassinato” e Biden ordena reforço de proteção a Donald Trump

Foi apoiante de Trump, mas ficou “muito desapontado”

Ryan Wesley Routh votou em Donald Trump nas eleições presidenciais de 2016, tendo “ajudado” o republicano a vencer a corrida à Casa Branca. Porém, quatro anos depois, retirou esse apoio e mostrou estar desiludido: “Eu e o mundo esperávamos que o Presidente Trump fosse diferente e melhor do que o candidato, mas todos ficámos muito desapontados e parece que está a piorar e a deteriorar-se”, escreveu na sua conta na rede social X, que entretanto foi suspensa, em junho de 2020. “Ficarei feliz quando se for embora”, acrescentou, de acordo com a CBS News.

Atualmente, de acordo com as declarações do filho, o suspeito não gosta de Trump, tal como “qualquer pessoa razoável”. As mudanças na sua visão do cenário político foram, desde logo, visíveis quando em março deste ano se registou como eleitor não afiliado e votou nas eleições primárias dos democratas na Carolina do Norte para que Joe Biden (entretanto substituído por Kamala Harris) fosse o candidato do partido às presidenciais norte-americanas. Terá também doado mais de 100 dólares à ActBlue, organização sem fins lucrativos que arrecada donativos para o Partido Democrata.

Por outro lado, Ryan Wesley Routh pediu aos republicanos Nikki Haley e Vivek Ramaswamy para que não desistissem de tentar ser os escolhidos do partido para a corrida à Casa Branca. “Não podes desistir. Porquê? Tens de permanecer na corrida até ao fim. Tens de lutar. Tens de continuar a fazer discursos e a insistir até ao dia das eleições, independentemente dos resultados. Não desistas. Junta-te à Nikki [Haley] e continua a trabalhar”, escreveu, segundo o New York Post, numa mensagem dirigida a Ramaswamy. Os apelos foram em vão, uma vez que Trump foi escolhido como candidato do Partido Republicano.

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As autoridades junto ao Trump International Golf Club, onde Trump jogava este domingo golfe

Getty Images

As críticas subiram de tom já em abril, após serem conhecidos os representantes de cada partido. Numa publicação em que identificou a conta presidencial de Biden, Ryan Wesley Routh disse que a campanha eleitoral do Presidente norte-americano deveria ser rotulada de “KADAF: Keep America Democratic And Free [“Manter a América democrática e livre”, em português]”, enquanto a de Trump deveria chamar-se “MASA… Make Americans Slaves Again [“Tornar os americanos novamente escravos”]”. “A democracia está nas urnas e não podemos perder”, alertou o suspeito, ecoando um lema utilizado por Kamala Harris, que tem dito estar a lutar pela democracia norte-americana.

Através das redes sociais, em contas que desde este domingo estão suspensas, Routh tinha comentado a primeira tentativa de assassinato de Trump, no dia 13 de julho num comício na Pensilvânia, para afirmar que Biden e Kamala deveriam visitar as “pessoas feridas no hospital” e “assistir ao funeral do bombeiro assassinado”. “Trump nunca fará nada por eles”, disse.

Já este domingo, Ryan Wesley Routh levou a cabo o que o FBI investiga como uma segunda tentativa de assassinato de Trump. Armado e escondido em arbustos, a metros de onde o antigo Presidente norte-americano jogava golfe, foi avistado por membros do Serviço Secreto. Fugiu num Nissan Preto, mas foi encontrado pelas autoridades e detido. Para trás, junto aos arbustos, deixou a arma, uma mira, duas mochilas com azulejos (para aumentar o colete à prova de bala) e uma câmara GoPro.

As autoridades adiantaram à televisão local WPTV que o suspeito estava calmo e não demonstrou emoção, nem sequer questionou a detenção.

epa11606882 Palm Beach Sheriff officers guard the rear entrance of the Trump International Golf Club in West Palm Beach, Florida, USA on 15 September 2024, where gunshots were reported. According to the FBI, they are following an investigation of what appears to be an attempted assassination of Former President Donald Trump. Palm Beach County Sheriff Ric Bradshaw said the US Secret Service agents found a man pointing an AK-style rifle with a scope into the club as Trump was on the course.  EPA/CRISTOBAL HERRERA-ULASHKEVICH

Esta não é a primeira vez que Ryan Wesley Routh está na mira da justiça

CRISTOBAL HERRERA-ULASHKEVICH/EPA

O filho fala apenas em “multas de trânsito”, mas os problemas com a justiça são mais (e mais antigos)

O filho disse que só tinha conhecimento de algumas “multas de trânsito” do pai, mas os primeiros problemas de Ryan Wesley Routh com a justiça norte-americana remontam à década de 1990. Em 1998, escreve a CNN, o Estado norte-americano acusou o suspeito da emissão de cheques sem cobertura, mas o caso foi arquivado. Quatro anos depois, voltou a estar na mira da justiça: em abril declarou-se culpado de posse de arma de destruição maciça. Ainda assim, não são conhecidos publicamente mais detalhes sobre a acusação.

Já em dezembro, também de 2002, esteve barricado, durante três horas e com uma arma em sua posse, dentro de um estabelecimento comercial depois de ter sido mandado parar numa operação policial. Foi detido e, indica o The Washington Post, declarou-se culpado de condução sem carta e registo, de resistência à autoridade e de posse de arma de fogo oculta. Neste caso, a acusação de posse de arma de destruição maciça acabou por cair.

Ao todo, Ryan Wesley Routh contará com oito detenções por delitos “menores” no seu cadastro. Os problemas com a justiça, que começam no final dos anos 1990, contrastam com o início da década. Nessa altura, com 25 anos, foi notícia no jornal News & Record por ter ajudado a proteger uma mulher de um suposto violador, foi apelidado de “super cidadão” e galardoado com um “Law Enforcement Óscar” por parte da associação policial International Union of Police Association. “Combater o crime compensa” era o título do artigo.

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Ryan Wesley Routh vive Kaaawa, na ilha de Oahu, no Havai desde 2018

AFP via Getty Images

O apoio incondicional à Ucrânia: “Morrerei por vocês”

Ryan Wesley Routh tem apoiado incondicionalmente a Ucrânia desde que a invasão russa começou, há mais de dois anos. Nas semanas seguintes ao início do conflito, o suspeito mostrou estar disposto para se “oferecer como voluntário, lutar e morrer” pelos ucranianos. “Estou a ir do Havai para a Ucrânia para lutar pelos vossos filhos e famílias e pela democracia. Irei e morrerei por vocês”, escreveu na rede social X em 2022. Contudo, nem tudo correu como planeado.

“O meu objetivo inicial era vir combater, mas tenho 56 anos, por isso, inicialmente, disseram-me que não tinha experiência militar e que não era o candidato ideal. Disseram-me: ‘Neste momento, não’. O plano B era vir para Kiev e promover a vinda de mais pessoas para cá”, contou em entrevista ao Newsweek da Roménia, que está disponível online e em que surge com uma camisola que imita o padrão da bandeira norte-americana.

Durante a conversa, que tem pouco mais de 10 minutos, Ryan Wesley Routh não tem dúvidas de que, ao contrário de outros conflitos, que descreve como sendo “cinzentos”, o da Ucrânia é “definitivamente preto e branco”. É sobre o “bem versus o mal”, afirmou, acrescentando que é importante que os seres humanos “trabalhem juntos” e apelando a que apoiem o exército ucraniano.

Com o objetivo de ajudar os militares ucranianos e financiar a estadia do suspeito na Ucrânia, a sua noiva, Kathleen Shaffe, criou uma página de GoFundMe. Ryan Wesley Routh era descrito com um homem que “colocou a sua vida em suspenso e viajou para Kiev em abril [de 2022] para apoiar o povo da Ucrânia”. Na capital ucraniana planeava ficar “pelo menos 90 dias”, num “albergue com uma unidade militar”. Foram angariados 1.865 dólares de um total de 2.500 dólares pretendidos para pagar equipamentos táticos, alojamento ou bandeiras para os voluntários.

"Sei que o discurso não está a funcionar, mas temos de nos manter fiéis a ele."
Oran Routh, filho de Ryan Wesley Routh

Menos de um ano depois, em 2023, de acordo com o The Washington Post, Routh terá escrito um livro, com fotografias de decapitações, crianças mortas e cadáveres, sobre a “guerra invencível” da Ucrânia e a “falha fatal da democracia”. Num capítulo em particular, focado no Irão, o suspeito escreveu que tem de “assumir parte da culpa” por eleger um Presidente “sem cérebro”, naquela que é considerada uma referência a Donald Trump. “És livre de assassinar Trump, assim como a mim, por esse erro de julgamento”, declarou aos leitores.

A guerra na Ucrânia foi um dos temas que marcou o debate presidencial entre Trump e Kamala Harris, com o candidato republicano a dizer apenas que desejava que o conflito “terminasse” — evitando afirmar que queria uma vitória do país liderado por Volodymyr Zelensky. Dias depois, Oran Routh, filho de Ryan Wesley Routh, criticou o ex-Presidente dos EUA por estar “sentado atrás da secretária, sem fazer nada”. “O meu pai foi lá e viu pessoas a lutar e a morrer”, recordou.

Questionado, pelo The Guardian, sobre o que diria ao pai se entretanto (e após a detenção) falasse com ele, Oran Routh respondeu da seguinte forma: “Sei que o discurso não está a funcionar, mas temos de nos manter fiéis a ele.”

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