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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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Ventura quer crescer a partir de Passos e ir além de Passos

Notas de campanha. Ventura continua a apostar, em cada discurso, numa lógica de bipolarização. Desta vez, não esqueceu a direita de Passos e o ano de 2015, que quer vingar e nunca mais repetir.

“Quando esta campanha terminar, vamos viver a crise das nossas vidas. Mais uma vez, às mãos do PS que desgovernou Portugal ao longo dos últimos anos”. Ato um. “E mais uma vez vamos arranjar desculpas para aquilo que aconteceu”. Ato dois. “Mas desta vez vai ser diferente: não iremos para o poder corrigir o que os outros fizeram e dar-lhes poder de novo quatro anos depois”. Ato três. E finalmente: “Desta vez não iremos apenas remendar o PS. Desta vez vamos remetê-los para a insignificância histórica que sempre deveriam ter tido em Portugal”.

A ideia, transmitida entre tantas outras e às vezes tão contraditórias, passou quase despercebida. Em cima do coreto de Santarém, entusiasmado pelo regresso à campanha, insuflado pela massa humana que o adorava, inspirado pelos sinais divinos que volta não volta diz receber, André Ventura arriscou adivinhar o futuro: um dia vingará Pedro Passos Coelho e a direita que caiu às mãos de António Costa.

Esta é uma síntese importante de uma parte da força e do programa político que movem o Chega. Não só porque André Ventura faz questão de falar para uma parte do passismo que ainda não ultrapassou o que aconteceu em 2015, mas também para os que não suportam a ideia de uma direita frouxa que só governa quando a esquerda entra em crise.

Ressentimento é, aliás, a força motriz de cada discurso de Ventura, que alimenta e explora o medo e a desilusão dos que foram esquecidos ou maltratados durante o caminho. Os ‘bons’ — polícias, pensionistas, antigos combatentes, professores agredidos, jovens empresários, bombeiros, funcionários públicos estagnados — contra todos os outros. Desses, mas também dos que estão cansados de lideranças “fracas” à direita, que “não dizem as verdades” e que não põem a esquerda na ordem, nem a “remetem para a irrelevância política”.

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Ventura tenta bipolarizar porque sabe que é nessa bipolarização que reside grande parte da sua força. E sabe que o momento é este, que a crise que se agudiza é terreno fértil para a bipolarização e para o ressentimento. Há uma janela de oportunidade escancarada, mas é curta e imprevisível: se é verdade que, neste momento, o tempo corre contra um Governo em dificuldades, a insatisfação de tantos e tantas vezes justa pode não vir a ser suficiente para convencer a maioria. O apego à estabilidade é um adversário para quem promete a rutura.

Daí que Ventura vá oscilando nos objetivos que definiu para as presidenciais. 1) Ficar à frente de Ana Gomes, a sua grande adversária. 2) Ter mais votos que a esquerda toda junta. 3) Forçar uma segunda volta. 4) Derrotar Marcelo Rebelo de Sousa, afinal, esse sim, o seu grande adversário. Ventura já disse tudo. Até os seus maiores apoiantes mimetizam um sentido de urgência artificial. “Ou se muda hoje [nestas eleições], ou vamos ter de aguardar 10 ou 15 anos para que apareça outro André Ventura”, dramatizou Júlio Paixão, presidente da distrital do Chega/Portalegre.

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Mas Ventura não joga o seu futuro nestas eleições. O próprio, de resto, assumiu-o no palco. “O resultado destas eleições será fundamental para o nosso futuro coletivo, para sermos a liderança da oposição que queremos ser. Jogamos muito mais do que aquilo que pensamos [a 24 de janeiro]. Jogamos a liderança do espaço político.”

Não inocentemente o candidato do Chega recorreu a uma sondagem que o dá taco a taco com Rui Rio como a figura a quem os portugueses reconhecem a liderança na oposição a António Costa.

O PSD tem 46 anos, nós conseguimos isto em dois”, fez questão de sublinhar. Muito mais do que esta eleição presidencial, Ventura quer ser Passos e ir além de Passos: substituir a direita tradicional, agregar os que deixaram de se rever nela, seduzir os que nunca se reviram, vingar a derrota e reinar. Sozinho.

E Ventura sabe que para isso tem de chocar e ir onde ninguém nem à direita e nem à esquerda algum dia se atreveu a ir. Não raras vezes, o candidato do Chega recorre ao Livro do Apocalipse para defender que “aos mornos, Deus vomita”. Ideia que recuperou, aliás, em entrevista a Manuel Luís Goucha quando disse que “Portugal teve políticos mornos durante 46 anos”.

Ventura abomina o morno. Por isso, ao terceiro dia de campanha, e depois de um em que tudo esteve suspenso, o deputado e líder do Chega foi a todas. Jerónimo, “aquele avô bêbado que a gente tem em casa”. João Ferreira, o “operário beto de Cascais”. Marisa Matias, que “não está tão bem em termos de imagem”, que parece que lhe “devem dinheiro e ninguém lhe pagou”, que “pinta os lábios como se fosse uma coisa de brincar”. Ana Gomes, “que para contrabandista falta pouco”. Ou Marcelo Rebelo de Sousa, que parecia um “esqueleto durante o debate”.

Indiferente às reações que provoca em quem o ouve (“ciganos filhos da p…”, “António Costa indiano”, “Marisa Matias ordinária”…), o líder do Chega não se retrai. Enquanto insulta os adversários, promete ser diferente deles e a voz dos que nunca foram ouvidos ou deixaram de se conseguir fazer ouvir. Os fiéis, em número crescente e extraordinariamente mobilizados num partido tão jovem, vão acreditando.

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