Se as crianças e os jovens aí de casa são daqueles que torcem o nariz à leitura, encarando-a mais como uma obrigação do que como um passatempo, temos boas notícias para si: é que as férias de verão ainda vão a meio, o que significa que ainda dispõe de muito tempo para os incentivar a ler mais.
Verão é sinónimo de férias, diversão, poucas preocupações e, claro, de mais tempo para atividades de lazer. Como tal, é o momento ideal para estimular a leitura entre os mais novos, de forma que o hábito se instale e permaneça para o resto da vida. Essa é também a convicção de Marta Madureira, ilustradora e docente, segundo a qual, o cultivo do gosto pela leitura “é algo que tem de acontecer o ano todo”, mas “durante as férias de verão, pelo facto de todos, pais e filhos, estarem menos ocupados, acaba por abrir-se um espaço maior”. Com efeito, esta é mesmo uma boa altura para que as crianças associem a leitura a uma atividade divertida para passar o tempo.
Mãe de uma rapariga e de um rapaz, com 10 e 5 anos, respetivamente, Marta Madureira assume que mesmo durante o verão pode ser difícil estimular a leitura, pois “na praia querem estar dentro de água o tempo todo”. Ainda assim, lembra que basta que se leve um livro no saco, para “o tempo em que estão na toalha”. Ou, então, que se aproveite o facto de “estarem todos com mais tempo disponível”, para juntos pegarem num livro e o folhearem lado a lado.
Competir com a tecnologia
Mas como é que os pais podem fomentar a leitura e torná-la uma atividade mais interessante? A ilustradora admite que “não é fácil, sobretudo nos dias de hoje, em que há uma concorrência bastante desleal com as novas tecnologias”, o que “faz com que a leitura seja, muitas vezes, menos aliciante”. Como possível consequência deste fenómeno, observa que “por um lado, as crianças estão com uma capacidade de concentração mais reduzida, além de que são alvo de estímulos que nós, pais, não tínhamos na idade deles, e mais facilmente encontraríamos no livro um espaço de brincadeira e de passar tempo livre”.
Mesmo assim, deixa claro que “há que insistir”. Partilhando algumas das estratégias que usa com os próprios filhos, explica que a leitura sempre fez parte das rotinas da família: “Desde pequenos, tentei estimular sempre a leitura, e eles adoram o final do dia, quando se vão deitar, para termos aquele momento de leitura do texto e da imagem simultaneamente.”
É precisamente na forma como se apresenta a história à criança, nomeadamente, quando esta ainda não lê sozinha, que pode residir parte do sucesso, revela: “A forma como lhes lemos, a entoação que damos às palavras, tudo isso influencia muito a forma como eles se envolvem, ajudando a que possam transpor-se para dentro da história.”
Cedências e compromissos
Depois de plantar a semente, há que ir cuidando para que a planta cresça viçosa. Que é o mesmo que dizer que, depois de incutir o gosto pela leitura, “temos de ir estando sempre atentos” para que o hábito não desapareça. A ilustradora refere que a filha, que já lê sozinha, “gosta efetivamente de ler” e de ser ela a escolher as suas próprias leituras. Para a também cofundadora da editora Tcharan, acolher as preferências dos mais novos é exatamente uma das estratégias para se incentivar o gosto pela leitura. “Se ela for fazendo isso, acredito que, à medida que vai crescendo, irá conseguindo manter o gosto pela leitura, que é o mais importante”. Nas suas palavras, se tal acontecer, vai ajudar a que “escreva bem e sem erros, por exemplo”. Como tal, “é importante deixá-los sentir que participam na escolha e que não há só imposição”, defende, reforçando que “se apenas impusermos a leitura, sem cedências, acabamos por estar a impor coisas que só nós achamos interessantes e que a eles não dizem nada, pois as gerações vão mudando e os interesses também”.
A diretora do Mestrado em Ilustração e Animação no Instituto Politécnico do Cávado e do Ave reforça que, desde que começou a dar aulas, “os alunos mudaram imenso e os estímulos e interesses que hoje têm são completamente diferentes, pelo que temos de nos adaptar a essa realidade”. Uma das formas de o conseguir é, precisamente, através do estabelecimento de compromissos, destaca.
A ilustração como atrativo
Marta Madureira não tem dúvidas que “a ilustração é uma boa forma de criar leitores, pois o primeiro contacto que as crianças mais pequenas têm com a história é através da ilustração”.
Tendo integrado o júri da fase de ilustração do Prémio de Literatura Infantil Pingo Doce, recorda que em todas as obras vencedoras das várias edições deste concurso, “as ilustrações têm um papel muito importante, no sentido em que o facto de serem ilustrações abertas permite que os mais novos se vão questionando ao longo do livro”. “A questão é que as crianças olham muito para a imagem e sabem muito da narrativa através da imagem, e isso pode ser um ponto-chave”, salienta, chamando a atenção para a importância de os pais estimularem a leitura dupla do texto e da imagem, criando “quase uma espécie de diálogo”. No fundo, defende que “esta leitura mais ativa faz com que eles se envolvam mais e percebam melhor o potencial da narrativa visual e literária”, sintetiza.
Se precisa de inspiração sobre os livros que pode propor, já este verão, às crianças que o rodeiam, espreite a nossa infografia e deixe-se cativar pelas várias sugestões. E, já sabe… envolva-os no momento da leitura, adote diversos tons de voz para cada personagem da história e faça do momento um acontecimento. Vai ver que valerá a pena.