O procurador Rosário Teixeira não tem dúvidas de que o alegado esquema de burla qualificada construído por Luís Filipe Vieira serviu para alegadamente desviar cerca de 2,5 milhões de euros dos cofres do Benfica.
E porquê o alegado desvio? Porque o Ministério Público (MP) suspeita que esse montante terá servido para financiar o pagamento de créditos antigos de Vieira e até para comprar terrenos da Inland e de outras empresa do grupo empresarial do presidente do Benfica. Tudo com a ajuda do empresário Bruno Macedo, do seu filho Tiago Vieira e de outros membros da família do líder benfiquista.
O Observador explica os pormenores deste alegado esquema que terá prejudicado não só o Benfica mas também terá sido duplamente prejudicial para o Estado. Estão em causa a alegada prática de crimes de abuso de confiança, burla qualificada, falsificação, fraude fiscal e branqueamento de capitais.
Como os valores da mais-valia do Benfica foram parar a Vieira
No centro do esquema sob investigação no processo titulado pelo procurador Rosário Teixeira está a venda de três jogadores: dois paraguaios (Derlis González e Cláudio Caniza) e um brasileiro (César Martins), como o Observador já explicou aqui.
É precisamente na venda de três jogadores que entra o agente Bruno Macedo, igualmente detido esta quarta-feira com Luís Filipe Vieira. De acordo com os indícios recolhidos pelo MP, Macedo terá utilizado a sociedade offshore Master International FZE (registada nos Emirados Árabes Unidos) para parquear a mais-valia de cerca 1 milhão e 280 mil euros que foi gerada pela venda dos passes daqueles três jogadores.
Concentremo-nos na operação de compra do passe do jogador César Martins por parte do Benfica. A entidade vendedora dos direitos económicos chama-se Trade In é é controlada por Bruno Macedo. Os fundos de 1,3 milhões de euros transferidos pelo Benfica foram, por seu lado, parar à conta bancária da offshore tunisina STE International Consulting.
E o que aconteceu a seguir? De acordo com o MP, esses mesmos fundos terão entrado em Portugal entre julho de 2016 e julho de 2017 nas contas bancárias de duas sociedades: a Promotav e a Votion. E para que serviram os fundos? Para amortizar dívidas bancárias da Promotav mas também da OnlyProperties e a Cofibrás. A quem pertencem estas sociedades? Ao grupo empresarial Luís Filipe Vieira, segundo o MP.
Outros suspeitos, como Tiago Vieira (filho do presidente do Benfica), José Gouveia (sócio de Tiago Vieira), Nuno Durães Lopes, terão colaborado igualmente com Luís Filipe Vieira e Bruno Macedo na criação de diversos contratos que terão sido alegadamente falsificados para justificar a circulação de fundos entre Macedo e as empresas de Luís Filipe Vieira.
Dinheiro que sai do Benfica e acaba a comprar imóveis de empresas de Vieira
Outra questão prende-se com duas sociedades de Bruno Macedo chamadas International Sports Fund, Ltd e Astro Sports Management, com sede nos Estados Unidos. Foram estas sociedades que terão transferido cerca de 980 mil euros entre março de 2016 e agosto de 2017 para a conta em Portugal da Springlabynth, SA, igualmente controlada por Macedo.
Terá sido a partir desta última sociedade que terão sido investidos o valor de quase 1 milhão de euros na aquisição de diversos imóveis no Algarve, em Rio Maior e em Loures que pertenciam a diversas sociedades do grupo de Luís Filipe Vieira. Um desses imóveis viria a ser a sede social da Promotav, uma sociedade do grupo de Vieira acima referida.
Como Vieira é suspeito de ter prejudicado a SAD do Benfica para fins pessoais
Nestas operações, o presidente do Benfica terá contado com a ajuda do seu filho Tiago Vieira mas o procurador Rosário Teixeira suspeita da participação de outros membros da família de Vieira, nomeadamente da sua mulher Vanda e da sua filha Sara.
Sara Vieira, bióloga marítima que trabalha há vários anos em São Tomé e Princípe, terá igualmente património valioso em seu nome que está a ser passado a pente fino pela equipa de Paulo Silva, o inspetor tributário que costuma trabalhar com Rosário Teixeira.
Acordo entre Luís Filipe Vieira e Bruno Macedo
Em suma, o MP está concentrado num alegado acordo que terá sido realizado entre Luís Filipe Vieira e Bruno Macedo, de forma a que a Benfica SAD contratasse os serviços do agente e intermediário para que este recebesse fundos da entidade benfiquista em valores que o MP considera excessivos e indevidos.
Tudo para que uma parte significativa de tais valores, após a respetiva circulação através de várias sociedades offshore sediadas nos Estados Unidos, Tunísia ou Emirados Árabes Unidos, terminasse em contas bancárias nacionais controladas direta ou indiretamente pelo presidente do Benfica.
Ao que o Observador apurou, existem outros agentes de futebol suspeitos de terem tido acordos idênticos com Luís Filipe Vieira. Bruno Macedo não terá sido o único.
Pelo meio, o alegado esquema de burla qualificada terá igualmente prejudicado duplamente o Estado: através da arrecadação de impostos para o Fundo de Resolução mas também através do funcionamento do mecanismo de capital contingente acordado com a Lone Star aquando da venda da maioria do capital social do Novo Banco aos norte-americanos.
As perdas dos créditos de Luís Filipe Vieira já chegam aos cerca de 181 milhões de euros, o que fará do presidente do Benfica o segundo maior devedor do Novo Banco.