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O candidato à presidência do Sport Lisboa Benfica, Luis Filipe Vieira, à chegada para exercer o seu direito de voto para as eleições do clube, no Estádio da Luz, em Lisboa, 28 de outubro de 2020. ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA
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Luís Filipe Vieira é o primeiro presidente do Benfica a ser detido em exercício de funções

ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

Luís Filipe Vieira é o primeiro presidente do Benfica a ser detido em exercício de funções

ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

Os detalhes da investigação: Vieira suspeito de ter desviado 2,5 milhões do Benfica para pagar créditos e terrenos das suas empresas

Terão sido desviados 2,5 milhões de euros do Benfica para pagar créditos e terrenos de Vieira. Conheça os pormenores do esquema que terá prejudicado o Estado (em dose dupla), o Benfica e o Novo Banco.

O procurador Rosário Teixeira não tem dúvidas de que o alegado esquema de burla qualificada construído por Luís Filipe Vieira serviu para alegadamente desviar cerca de 2,5 milhões de euros dos cofres do Benfica.

E porquê o alegado desvio? Porque o Ministério Público (MP) suspeita que esse montante terá servido para financiar o pagamento de créditos antigos de Vieira e até para comprar terrenos da Inland e de outras empresa do grupo empresarial do presidente do Benfica. Tudo com a ajuda do empresário Bruno Macedo, do seu filho Tiago Vieira e de outros membros da família do líder benfiquista.

O Observador explica os pormenores deste alegado esquema que terá prejudicado não só o Benfica mas também terá sido duplamente prejudicial para o Estado. Estão em causa a alegada prática de crimes de abuso de confiança, burla qualificada, falsificação, fraude fiscal e branqueamento de capitais.

Como Derlis González, Cláudio Correa e César terão servido para Vieira e Bruno Macedo desviarem 2,5 milhões de euros do Benfica

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Como os valores da mais-valia do Benfica foram parar a Vieira

No centro do esquema sob investigação no processo titulado pelo procurador Rosário Teixeira está a venda de três jogadores: dois paraguaios (Derlis González e Cláudio Caniza) e um brasileiro (César Martins), como o Observador já explicou aqui.

É precisamente na venda de três jogadores que entra o agente Bruno Macedo, igualmente detido esta quarta-feira com Luís Filipe Vieira. De acordo com os indícios recolhidos pelo MP, Macedo terá utilizado a sociedade offshore Master International FZE (registada nos Emirados Árabes Unidos) para parquear a mais-valia de cerca 1 milhão e 280 mil euros que foi gerada pela venda dos passes daqueles três jogadores.

Concentremo-nos na operação de compra do passe do jogador César Martins por parte do Benfica. A entidade vendedora dos direitos económicos chama-se Trade In é é controlada por Bruno Macedo. Os fundos de 1,3 milhões de euros transferidos pelo Benfica foram, por seu lado, parar à conta bancária da offshore tunisina STE International Consulting.

A Benfica pagou 1,3 milhões de euros pela compra do passe do jogador César Martins. Esses fundos foram transferidos para uma sociedade offshore tunisina, circularam por outras sociedades e regressaram a Portugal para amortizar dívidas bancárias de empresas do grupo de Luís Filipe Vieira.

E o que aconteceu a seguir? De acordo com o MP, esses mesmos fundos terão entrado em Portugal entre julho de 2016 e julho de 2017 nas contas bancárias de duas sociedades: a Promotav e a Votion. E para que serviram os fundos? Para amortizar dívidas bancárias da Promotav mas também da OnlyProperties e a Cofibrás. A quem pertencem estas sociedades? Ao grupo empresarial Luís Filipe Vieira, segundo o MP.

Outros suspeitos, como Tiago Vieira (filho do presidente do Benfica), José Gouveia (sócio de Tiago Vieira), Nuno Durães Lopes, terão colaborado igualmente com Luís Filipe Vieira e Bruno Macedo na criação de diversos contratos que terão sido alegadamente falsificados para justificar a circulação de fundos entre Macedo e as empresas de Luís Filipe Vieira.

Dinheiro que sai do Benfica e acaba a comprar imóveis de empresas de Vieira

Outra questão prende-se com duas sociedades de Bruno Macedo chamadas International Sports Fund, Ltd e Astro Sports Management, com sede nos Estados Unidos. Foram estas sociedades que terão transferido cerca de 980 mil euros entre março de 2016 e agosto de 2017 para a conta em Portugal da Springlabynth, SA, igualmente controlada por Macedo.

Terá sido a partir desta última sociedade que terão sido investidos o valor de quase 1 milhão de euros na aquisição de diversos imóveis no Algarve, em Rio Maior e em Loures que pertenciam a diversas sociedades do grupo de Luís Filipe Vieira. Um desses imóveis viria a ser a sede social da Promotav, uma sociedade do grupo de Vieira acima referida.

Como Vieira é suspeito de ter prejudicado a SAD do Benfica para fins pessoais

Nestas operações, o presidente do Benfica terá contado com a ajuda do seu filho Tiago Vieira mas o procurador Rosário Teixeira suspeita da participação de outros membros da família de Vieira, nomeadamente da sua mulher Vanda e da sua filha Sara.

Sara Vieira, bióloga marítima que trabalha há vários anos em São Tomé e Princípe, terá igualmente património valioso em seu nome que está a ser passado a pente fino pela equipa de Paulo Silva, o inspetor tributário que costuma trabalhar com Rosário Teixeira.

Acordo entre Luís Filipe Vieira e Bruno Macedo

Em suma, o MP está concentrado num alegado acordo que terá sido realizado entre Luís Filipe Vieira e Bruno Macedo, de forma a que a Benfica SAD contratasse os serviços do agente e intermediário para que este recebesse fundos da entidade benfiquista em valores que o MP considera excessivos e indevidos.

Tudo para que uma parte significativa de tais valores, após a respetiva circulação através de várias sociedades offshore sediadas nos Estados Unidos, Tunísia ou Emirados Árabes Unidos, terminasse em contas bancárias nacionais controladas direta ou indiretamente pelo presidente do Benfica.

O alegado esquema de burla qualificada imputado a Vieira terá prejudicado duplamente o Estado: através da arrecadação de impostos para o Fundo de Resolução mas também através do mecanismo de capital contingente que financia as perdas (de 181 milhões) geradas pelos créditos do grupo de Luís Filipe Vieira.

Ao que o Observador apurou, existem outros agentes de futebol suspeitos de terem tido acordos idênticos com Luís Filipe Vieira. Bruno Macedo não terá sido o único.

Pelo meio, o alegado esquema de burla qualificada terá igualmente prejudicado duplamente o Estado: através da arrecadação de impostos para o Fundo de Resolução mas também através do funcionamento do mecanismo de capital contingente acordado com a Lone Star aquando da venda da maioria do capital social do Novo Banco aos norte-americanos.

As perdas dos créditos de Luís Filipe Vieira já chegam aos cerca de 181 milhões de euros, o que fará do presidente do Benfica o segundo maior devedor do Novo Banco.

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