Escolhido pelo Governo para presidir ao Banco de Fomento (a instituição que vai ser fundamental na gestão dos fundos da “bazuca” europeia), o nome de Vítor Fernandes esteve sempre longe de ser consensual. Foi o Bloco de Esquerda um dos primeiros, logo em fevereiro, a apontar fragilidades na escolha. Enquanto o ministro das Finanças destacava o currículo “relevante” do gestor e o ministro da Economia salientava que o banqueiro não tinha participado nas (polémicas) decisões de crédito da Caixa, a deputada bloquista Mariana Mortágua lembrou que foi o próprio PS a apresentar, em 2019, uma proposta para o “associar aos créditos problemáticos da CGD” no relatório da segunda comissão de inquérito ao banco, em conjunto com nomes como Celeste Cardona (que foi ministra pelo CDS-PP) e Norberto Rosa.
Vítor Fernandes foi uma escolha polémica sobretudo por ter sido administrador da Caixa nos anos em que foram concedidos os créditos mais problemáticos (entre 2000 e 2008) — alguns dos quais levaram recentemente à detenção de Joe Berardo. Tal como Armando Vara, foi levado pela mão de Carlos Santos Ferreira da Caixa Geral de Depósitos para o BCP. Mas só agora, com a Operação Cartão Vermelho — em que é referido como tendo uma “relação privilegiada” com Luís Filipe Vieira —, é que a ida do gestor para o Banco de Fomento ficou em suspenso.
O próprio PS já estaria a pressionar o Governo para recuar, sobretudo depois de o Observador noticiar não só que Fernandes poderia ser alvo de uma reavaliação de idoneidade por parte do Banco de Portugal (como Pedro Siza Vieira acabou por confirmar) mas, também, que o banqueiro tinha sido alvo de buscas. O Observador noticiou, também em primeira mão, que o Novo Banco abriu uma auditoria interna logo no dia após as buscas (que foram a 7 de julho) para avaliar a conduta de todos os responsáveis ligados a este processo – ao que Vítor Fernandes reagiu dizendo que ele próprio tinha, no último sábado, recomendado diretamente a António Ramalho que uma auditoria desse tipo fosse feita.
Operação Cartão Vermelho. Vitor Fernandes e António Ramalho foram alvo de buscas judiciais
No final do dia de segunda-feira, o ministro da Economia garantiu não ter “informação suficiente” para mudar de perspetiva sobre a adequação de Vítor Fernandes para um cargo que pode ser tão importante para a economia portuguesa, nos próximos anos (e décadas). Mas para evitar que se gere “controvérsia” e para “proteger” o Banco do Fomento precisamente na altura em que a “bazuca” europeia está prestes a chegar, o Governo decidiu suspender a nomeação. Aguarda-se a conclusão do processo no Banco de Portugal e, tal como o supervisor, também o ministro da Economia pediu informação à Procuradoria-Geral da República sobre quais são, exatamente, as responsabilidades que os investigadores acreditam que Vítor Fernandes terá tido.
Há poucos meses, um dos grandes devedores do Novo Banco (Gama Leão, da Prebuild) chamou “mercenário” a Vítor Fernandes em pleno parlamento, responsabilizando-o pela queda do seu grupo industrial às mãos do credor (o Novo Banco). Porém, no que diz respeito à relação com Luís Filipe Vieira, a leitura do Ministério Público é que Fernandes teve a atitude precisamente inversa, ou seja, é descrito como alguém que poderá ter beneficiado o devedor (e prejudicado o banco e o Fundo de Resolução, ou seja os contribuintes) passando informação sensível ao empresário.
A comissão de inquérito que acabou com um direito de resposta
Formado em Administração e Gestão de Empresas pela Católica, Vítor Fernandes começou a carreira nos anos 80 na auditora Arthur Andersen – outrora uma grande consultora que foi apanhada no escândalo da norte-americana Enron (2001) e acabou por não sobreviver. Uma fonte do setor financeiro que conheceu Vítor Fernandes logo nessa altura recorda, em conversa com o Observador, que “era claramente um dos mais inteligentes e mais mexidos” – embora já nessa altura não fosse visto como alguém especialmente caloroso ou afável no trato pessoal.
Ainda no início dos anos 90, quando se tornou revisor oficial de contas encartado, saltou para a Mundial Confiança (1992) – uma seguradora da qual chegou a presidente no final da década. A Mundial Confiança, que era do Grupo Champalimaud, viria a ser comprada pela Caixa (e fundida com a Império Bonança na Fidelidade) e foi aí, em 2000, que Vítor Fernandes entrou para o grupo Caixa.
Na audição da segunda comissão parlamentar de inquérito à recapitalização do banco público, explicou que foi o então presidente executivo da Caixa, António de Sousa, quem o convidou para assumir funções como administrador e ficar responsável pela área dos seguros (acabou por ficar como vice-presidente).
Esse foi o seu primeiro pelouro, mas as responsabilidades a seu cargo foram alargadas mais tarde, nomeadamente no último mandato de Carlos Santos Ferreira, para áreas como informática, meios de pagamento, marketing e crédito à habitação. Na comissão de inquérito à Caixa, as perguntas dos deputados sobre as operações de crédito que se vieram a revelar problemáticas foram, por isso, muitas vezes escudadas em respostas como “não tive conhecimento, os meus pelouros eram fora da área de crédito e de risco“.
Não foi o único banqueiro a usar este argumento em comissões de inquérito para descartar responsabilidades em decisões tomadas pelas administrações dos bancos – Carlos Costa, ex-governador do Banco de Portugal, usou a mesma argumentação para se referir à sua passagem pela Caixa (anterior à concessão dos créditos problemáticos). Ainda assim, “as decisões tomadas por um conselho de administração são, por inerência, colegiais e responsabilizam todos, de forma solidária, independentemente dos pelouros específicos que cada um trabalha mais diretamente”, lembrou um antigo administrador bancário, em comentários ao Observador.
Vítor Fernandes disse, mesmo, não se recordar de que a Caixa estava a financiar acionistas do BCP – entre os quais Joe Berardo – até chegar a uma posição indireta de 8% no banco. “Verdadeiramente não me recordo. Penso que não existe nenhuma informação de gestão que tenha circulado na altura com a exposição indireta que a Caixa tinha ao BCP”. Também rejeitou ter conhecimento da existência de “créditos de favor” na Caixa. Embora “em teoria” tivesse assento nos conselhos de crédito, “na prática” foram raras as vezes em que o exerceu, por não ser o seu foco.
A memória que tem daqueles anos também não incluía, disse inicialmente, eventuais críticas que tenham sido feitas por Almerindo Marques — que enviou uma carta ao Banco de Portugal e ao então Presidente da República, Jorge Sampaio, a expor os riscos na concessão do crédito feita pelo banco. “Não me recordo de alguma vez o Dr. Almerindo Marques ter questionado em conselho de administração as políticas de crédito da Caixa“, afirmou.
O banqueiro sai da Caixa no final de 2007 e, a par de Armando Vara, transita para o BCP a convite de Carlos Santos Ferreira, que foi liderar o banco – foi aí que se cimentou alguma imagem de homem da confiança de Carlos Santos Ferreira – esse, sim, arguido, mas no caso Berardo. Nessa altura, o administrador financeiro do BCP era nem mais nem menos do que António Ramalho, com quem Fernandes já tinha trabalhado na Mundial Confiança.
Questionado por Mariana Mortágua sobre essa transição para o BCP, garantiu que “nunca” se reuniu com acionistas do banco antes de se mudar para lá. Também assegurou que a primeira vez que falou com Carlos Santos Ferreira sobre a ida para o BCP foi quando o gestor o convidou. “A memória que tenho é de que foi no final de 2007”, a altura em que deixou a Caixa. Vítor Fernandes contou, ainda, que foi na Mundial Confiança que conheceu Santos Ferreira, que tinha sido administrador da seguradora e, posteriormente, presidente do conselho de administração. A relação dos dois já vinha daí.
Já à pergunta do deputado do PSD Fernando Virgílio Macedo sobre a razão que terá levado Santos Ferreira a escolhê-lo para a o BCP disse: “Sou tido como uma pessoa rigorosa, não sei se é pelo meu passado de auditor ou segurador. Comandei uma área seguradora que juntou a Fidelidade Mundial, depois a Império Bonança – que no ano de 2007 teve um lucro de mais de 190 milhões de euros e, entre 2000 e 2007, teve mais de 600 milhões de euros de lucro. Não creio que alguma vez tenha dado problemas. (…) Tenho uma carreira bancária e seguradora. Acho que tinha currículo para ser convidado.”
No BCP, o gestor entrou no rescaldo da guerra pelo poder no banco, que o Observador já contou aqui. Foi, precisamente, em 2007 que o BCP passou pela maior guerra de poder vivida num banco em Portugal, depois de falhar uma oferta pública de aquisição sobre o BPI. Após essa “guerra”, o líder eleito pelos acionistas que venceram a guerra no BCP foi Carlos Santos Ferreira, então presidente da Caixa, o banco público que financiou os acionistas que, depois, o escolheram para o banco privado.
Santos Ferreira transitou para o BCP com Armando Vara – e levou consigo, também, Vítor Fernandes. Uma outra fonte do setor financeiro com quem o Observador falou, e que acompanhou a carreira do banqueiro, retrata-o como um “executante, mais um típico número 2 do que um número 1″: “O seu perfil é o de um auditor transformado em administrador bancário, primando mais pela capacidade de trabalho e de atenção ao pormenor do que pela capacidade de liderança – talvez por isso Carlos Santos Ferreira o tenha sempre querido levar com ele”.
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Na comissão de inquérito da Caixa, Cecília Meireles perguntou a Vítor Fernandes “o que tinha corrido mal” no banco público. O gestor atribuiu a culpa, essencialmente, à crise financeira. “Não sei se vou ser muito simpático, mas nós assistimos, em 2008, 2009 e 2010 à maior crise do século XXI e provavelmente a maior crise depois de 1930. Essa é uma razão para que as coisas tenham corrido mal, mas nem tudo correu mal”, afirmou.
Certo é que, no relatório final da comissão de inquérito à Caixa, acabaram por ficar poucas referências a Vítor Fernandes. Segundo o documento, no processo do “assalto ao BCP”, “apesar das coincidências e acasos referidos pelos envolvidos, não é possível afastar a relação potencial entre o financiamento na CGD da aquisição de participações sociais por decisão de quem veio a transitar diretamente para a administração do BCP (Carlos Santos Ferreira, Armando Vara e Vítor Fernandes)”.
Há uma outra referência importante, que foi alterada face ao que inicialmente foi escrito. Inicialmente, o relatório escrito pelo centrista João Almeida referia: “O vice-presidente Maldonado Gonelha, os administradores Armando Vara e Francisco Bandeira tiveram, segundo os trabalhos da comissão, intervenção direta nos créditos mais problemáticos”.
Mas os socialistas quiseram acrescentar a essa mesma frase, e assim associar à má gestão da Caixa, três nomes: Celeste Cardona, Norberto Rosa — e Vítor Fernandes. A frase acabou por figurar assim:
Para além dos administradores responsáveis pelos pelouros diretamente associados à concessão dos créditos analisados, as declarações dos restantes administradores com assento regular no CAC ouvidos nesta CPI (Celeste Cardona, Vítor Fernandes, Norberto Rosa, Rodolfo Lavrador e Carlos Costa) permitiram concluir que a sua presença era uma formalidade. Em todos os casos, os créditos mais problemáticos foram aprovados por consenso e em total sintonia com as propostas dos administradores dos pelouros, sem evidência de debate ou confronto de posições, o que frustrou os resultados de alterações introduzidas na governance da CGD”.
Tal como na polémica recente, Vítor Fernandes mostrou não ser pessoa de se ficar. Enviou um direito de resposta ao Parlamento onde sublinhou que “tal alusão e conclusão” está “factualmente errada” e voltou a repetir a justificação: “Não participava habitualmente nos conselhos alargados de crédito, uma vez que as minhas áreas de responsabilidade eram Seguros, Informática e Marketing, que nada tinham a ver com a concessão de crédito”.
“Trata-se de erros factuais relevantes e cujos possíveis impactos negativos e totalmente injustificados na minha pessoa não posso deixar de notar”, defendeu o banqueiro, que após a saída da Caixa Geral de Depósitos foi trabalhar com um velho conhecido, o ex-governador do Banco de Portugal António de Sousa, na sua sociedade gestora de fundos de capital de risco, a ECS Capital.
A ida para o Novo Banco (e, depois, a saída antecipada, para ir substituir Vítor Bento na SIBS)
Quando o BES colapsa, no verão de 2014, Vítor Fernandes estava na ECS Capital. E foi quando Vítor Bento saiu do Novo Banco, logo em setembro de 2014, que Vítor Fernandes foi convidado para fazer parte do conselho de administração presidido por Eduardo Stock da Cunha. De acordo com a informação recolhida pelo Observador, terá sido o Ministério das Finanças liderado por Maria Luís Albuquerque que terá pedido a António de Sousa para facilitar a saída de Vítor Fernandes para o Novo Banco, numa altura muito complexa da sua (então curta) existência, quando existiam grandes dúvidas sobre a sobrevivência do banco.
Curiosamente, em 2021, Vítor Fernandes voltou a ocupar um lugar importante após uma saída de Vítor Bento: Fernandes é hoje presidente (não-executivo) do conselho de administração da SIBS, a posição que tinha Bento até à saída recente do ex-presidente do BES/Novo Banco para a Associação Portuguesa de Bancos (APB). Porquê a SIBS? Embora não tenha o perfil mais mediático de Vítor Bento, Vítor Fernandes tem, pelo menos, experiência na relação com a SIBS – foi sempre ele o administrador representante dos (três) bancos em que trabalhou junto da SIBS.
Quando entrou na SIBS, uma empresa cujos acionistas são vários bancos a operar em Portugal, Vítor Fernandes já tinha saído do Novo Banco algumas semanas antes. O mandato na instituição só terminaria a 31 de dezembro de 2020, mas uma degradação da relação com Ramalho acabou por antecipar a saída a cerca de um mês do termo do exercício, o que é sempre sintomático. Este é um tema desconfortável para António Ramalho, já que além de Vítor Fernandes saíram mais duas figuras importantes na administração: José Eduardo Bettencourt e Jorge Cardoso.
Em declarações ao jornal Público, Vítor Fernandes explicou a saída com o facto “de já estar no banco desde 2014” e porque “há algum tempo” tinha percebido que “não fazia parte da equipa core [estratégica] da Lone Star e, portanto, decidi que o melhor seria não renovar”. Por seu lado, o Novo Banco descartou a ideia de que existissem divergências estratégicas na comissão executiva – reconhecendo apenas que, na linha das “melhores práticas internacionais”, entre os membros da gestão era normal haver um “profundo debate de ideias”.
Novo Banco abriu auditoria interna para analisar condutas no caso Vieira
Apesar de se conhecerem há décadas, a relação entre António Ramalho e Vítor Fernandes nunca mais tinha sido a mesma desde que o presidente do banco lhe retirou o pelouro da operação em Espanha. Isso aconteceu depois de um alegado esquema fraudulento montado por Jacobo Vidal, um quadro do Novo Banco em Espanha que terá manipulado clientes abastados do banco e, usando uma espécie de “banco paralelo”, desviou da instituição um valor na ordem dos 50 milhões a quase oito dezenas de pessoas. Segundo o jornal Público, dentro do banco a decisão de Ramalho foi lida como uma responsabilização de Vítor Fernandes pelo que tinha acontecido. Fernandes considerou-a injusta. Foi por essa altura que se terá criado um fosso entre os dois homens que, recorde-se, têm ambos ligações passadas ao Grupo Champalimaud.
Fontes do setor financeiro ouvidas pelo Observador dizem que esta é uma história ainda “mal contada“, a dos meses que levaram à saída de Vítor Fernandes do Novo Banco. Mas a realidade é que o banqueiro foi aliviado das responsabilidades na unidade espanhola, mas continuou como administrador comercial na área de empresas – e foi nessa qualidade que lidou diretamente com um outro empresário que o destratou publicamente, em pleno parlamento. Esse empresário foi João Gama Leão, fundador da Prebuild, empresa que deve mais de 300 milhões de euros ao Novo Banco – o empresário responsabilizou Vítor Fernandes pelo colapso do seu grupo e acusou o banqueiro de ter sido um “mercenário” no processo de recuperação de crédito.
“A primeira reunião que eu tenho, seis meses depois da queda do Banco Espírito Santo, foi com o tal senhor Vítor Fernandes, que foi indicado agora para presidente [do conselho de administração] do Banco de Fomento. Eu gostaria de dizer que o comportamento que esse senhor teve comigo e com um grande devedor, iria classificar como mercenário, é a palavra que eu tenho para esse senhor“, disse.
João Gama Leão. “Não fui eu que peguei num assalto do BES e o transformei num problema público”
Uma “relação privilegiada” com Vieira, segundo o Ministério Público
A fazer fé na leitura do Ministério Público, Vítor Fernandes tinha perante Vieira uma atitude totalmente oposta. O seu nome aparece no despacho de buscas do Ministério Público sobre a Operação Cartão Vermelho, em que é investigada a sua ligação ao presidente suspenso do Benfica – em causa estão créditos de 408,9 milhões de euros, que foram alvo de reestruturação após proposta de Vítor Fernandes.
O Ministério Público suspeita que Vieira tinha com Fernandes uma “relação privilegiada”. O banqueiro terá informado Vieira sobre vários negócios vantajosos que depois foram concretizados através de alegados testas de ferro. Como o Observador avançou, Luís Filipe Vieira terá tentado adquirir dívida da Imosteps (uma empresa do universo empresarial do presidente suspenso do Benfica) através de “contactos privilegiados” com Vítor Fernandes, mas o banqueiro tê-lo-á avisado de que o seu nome não poderia aparecer como comprador da sua própria dívida – essa é a suspeita em torno de Fernandes, que não é arguido neste processo nem lhe é imputado qualquer ilícito criminal.
Houve, depois, uma segunda tentativa para adquirir o crédito, feita através do amigo José António dos Santos. Vieira terá pedido ao empresário conhecido como “rei dos frangos” que subscrevesse as unidades de participação de um fundo de capital de risco que iria adquirir a dívida da Imosteps. A proposta foi aprovada pelo Novo Banco, mas travada pelo Fundo de Resolução por eventuais riscos reputacionais associados à relação conhecida entre Vieira e Santos.
Vítor Fernandes terá então, segundo acredita o Ministério Público, informado o presidente do Benfica de que a dívida da Imosteps, como não tinha sido possível vender, iria ser integrada na carteira de malparado do projeto Nata II – um pacote que acabou vendido ao fundo Davidson Kempner, em setembro de 2019. Quase um ano depois, em agosto de 2020, o fundo Portugal Reestructuring Fund, gerido por uma sociedade na qual o “rei dos frangos” tem uma participação relevante, comprou a dívida da Imosteps por 9 milhões de euros.
Foi devido a esta sucessão de eventos que, como noticiou o Observador, Vítor Fernandes foi alvo de buscas no âmbito da Operação Cartão Vermelho – o seu antigo gabinete no Novo Banco assim como o seu domicílio sido os alvos das autoridades.
Em declarações ao Observador, o banqueiro mostrou que, tal como no tema do direito de resposta na Comissão da Caixa, não é pessoa de se ficar. Considerou que está “a ser alvo de um ataque de caráter”: “Estão a dar cabo da minha carreira por nada”, afirmou, acrescentando que é “falso” que teria uma “alegada relação privilegiada com o sr. Luís Filipe Vieira”, até porque, garante, só esteve com o presidente do Benfica uma vez num evento social da Caixa Geral de Depósitos e ainda antes de transitar para a administração do Novo Banco. Tem um lugar cativo no Estádio da Luz, sim, mas ninguém lho ofereceu, notou.
“Nunca almocei, nem jantei sozinho com o sr. Vieira”, afirmou Vítor Fernandes, recordando um almoço com o presidente (auto-suspenso) do Benfica mas um almoço “no âmbito das minhas funções profissionais e quando o António Ramalho estava presente”. Além disso, alega o banqueiro, todas as decisões “envolvendo os créditos do senhor Luís Filipe Vieira foram sempre tomadas colegialmente, aprovadas em conselho de administração” e “aprovadas pela [auditora] Deloitte”.
Por todas estas razões, acredita que tem “todas as condições para tomar posse” como chairman do Banco de Fomento. “Tenho competência, idoneidade e disponibilidade”, rematou.
Banco de Portugal poderá reavaliar idoneidade de Vítor Fernandes, novo chairman do Banco de Fomento
Partidos pressionam, mas Governo não parece ter desistido de Fernandes
A suspensão da nomeação de Vítor Fernandes foi a resposta do Governo aos pedidos feitos pelos partidos nos últimos dias para que seja retirada a proposta de nomeação de Vítor Fernandes. No domingo, Catarina Martins apontou as alegadas ligações entre Vítor Fernandes e o presidente suspenso do Benfica e acusou o banqueiro de ter um percurso “sempre ligado aos sucessivos escândalos financeiros”, pelo que a sua nomeação é “inaceitável”.
A Iniciativa Liberal também defendeu no domingo, em comunicado, que Vítor Fernandes não tem condições para desempenhar as funções de chairman do Banco de Fomento, assinalando que é “uma das pessoas que Luís Filipe Vieira está impedido de contactar no âmbito das medidas de coação impostas pelo juiz de instrução” Carlos Alexandre. O Chega foi no mesmo sentido, ao lembrar as ligações a Armando Vara (quando foi administrador da Caixa Geral de Depósitos) e o “interesse público” do Banco de Fomento. Já o PAN divulgou esta segunda-feira que vai apresentar um projeto de resolução para a retirada do nome de Vítor Fernandes.